quinta-feira, 24 de setembro de 2020

HOMILIA PARA O DIA 27 DE SETEMBRO DE 2020 - 26º COMUM - ANO A

 

MOSTRAI-NOS Ó SENHOR VOSSOS CAMINHOS

Estamos entrando num período eleitoral e neste tempo, pipocam nas redes sociais propagandas de todos os tipos e de distintos candidatos. A nossa reação normal é fazer julgamentos ou mais comumente logo encaminhar para os nossos contatos.  Em ambos os casos é normal a reação com as seguintes palavras: Em tempo de política todos se lembram da gente; ou este ou aquele candidato não é uma pessoa de palavra, não se pode confiar no que ele promete!  Ora, é sobre “ser uma pessoa de coerência” que trata a liturgia da Palavra deste domingo.

O povo de Israel passava por uma dura provação vivendo no exílio. O profeta Ezequiel insiste com eles para que não tenham medo de se comprometer, sem meias palavras, sem desculpas, sem promessas vazias, mas aceitando com determinação e coerência aquilo que expressam com a boca. Expulsos da sua terra e das suas cidades, com sua religião colocada a prova, a comunidade estava tentada a encontrar culpados e a responsabilizar alguém por sua desgraça, mas Ezequiel é muito claro: Não se trata de encontrar culpados, antes cada pessoa é responsável por uma parte daquilo que acontece com todos. À medida que cada um assume a sua parte e se empenha em modificar o seu estilo de vida a comunidade inteira pode tomar outro rumo.

A mesma coisa se percebe no evangelho no diálogo do pai com os dois filhos. Na prática aquele que parecia irresponsável é o que cumpre a vontade do pai. Isso reforça o pedido do profeta, é necessário ser uma pessoa coerente, ou seja, que cumpre aquilo que diz! É extraordinária a conversa de Jesus com seus interlocutores: “Qual dos dois fez a vontade do pai?' Os sumos sacerdotes e os anciãos do povo responderam: 'O primeiro.' Então Jesus lhes disse: 'Em verdade vos digo, que os publicanos e as prostitutas vos precedem no Reino de Deus. Porque João veio até vós, num caminho de justiça, e vós não acreditastes nele. Ao contrário, os publicanos e as prostitutas creram nele. Vós, porém, mesmo vendo isso, não vos arrependestes para crer nele”. O elogio de Jesus não é para a condição de pecado destes últimos, mas pela aceitação da conversão. A repreensão que Jesus dá aos sacerdotes e sábios do seu tempo pode ser aplicada também a nós. Muitas vezes merecemos o título que o Papa Francisco muito bem aplicou: “Cristãos papagaios” que falam muito, rezam bastante, se dirigem insistentemente clamando “Senhor, Senhor”, mas não vivem aquilo que supostamente acreditam. A pergunta que precisa ser respondida por cada cristão contemporâneo poderia ser mais ou menos assim: O jeito como pratico a religião me aproxima do jeito de ser de Jesus, ou até mais simples um pouco: As minhas orações me fazem agir semelhante a qual dos dois filhos da parábola? Certamente nos assemelhamos muitas vezes ora ao primeiro, ora ao segundo filho do Evangelho, alternamos, em nosso dia a dia, momentos de fraqueza e fragilidade com momentos de coerência e de responsabilidade.

Talvez seja pedir muito, entretanto, a exortação de São Paulo aos filipenses parece ter sido escrita para cada um de nós: “Nada façais por competição ou vanglória, mas, com humildade, cada um julgue que o outro é mais importante, e não cuide somente do que é seu, mas também do que é do outro. Tende entre vós o mesmo sentimento
que existe em Cristo Jesus. Jesus Cristo, existindo em condição divina, não fez do ser igual a Deus uma usurpação, mas ele esvaziou-se a si mesmo”.

Cultivar os mesmos sentimentos de Jesus implica em não se considerar melhor que os outros, mais perfeitos, menos pecadores, nem precisa se fazer notar pelas muitas orações, por nossas roupas ou adereços que ostentem o título de cristão que frequentemente fazemos questão de apresentar em praça pública. O pedido de São Paulo para nos colocar na estrada da humildade não é outro senão aquele que rezamos no salmo:

Mostrai-me, ó Senhor, vossos caminhos,*
e fazei-me conhecer a vossa estrada!
Vossa verdade me oriente e me conduza,
porque sois o Deus da minha salvação;*
em vós espero, ó Senhor, todos os dias!

 

 

 

 

quinta-feira, 17 de setembro de 2020

HOMILIA PARA O DIA 20 DE SETEMBRO DE 2020 - 25º DOMINGO COMUM - ANO A

 

A LÓGICA DE DEUS

Se tem uma coisa que estamos acostumados são disputas familiares entre os irmãos com argumentos do tipo: “Ele é um rapa de tacho... A mãe gosta dele e não gosta de mim... O pai tem seu filho preferido...” Quer ver quando é filho único a especialidade dele é jogar o pai contra a mãe  e vice-versa, sempre com argumentos de preferência em relação a todas as suas vontades. Na verdade, salvo raras exceções, os pais sempre tratam os filhos com justiça e equidade, não necessariamente com igualdade, mas cuidam deles segundo as suas necessidades.

Dito isto é muito fácil compreender a Palavra de Deus deste domingo.  A começar pela primeira leitura: “Meus pensamentos não são como os vossos pensamentos e vossos caminhos não são como os meus caminhos, diz o Senhor. Estão meus caminhos tão acima dos vossos caminhos e meus pensamentos acima dos vossos pensamentos, quanto está o céu acima da terra”. O profeta faz um convite a refletir sobre a ideia que nós fazemos de Deus, a qual quase sempre é feita segundo nosso juízo e vontade, ou seja, gostaríamos de um Deus  que fizesse todas as coisas na  hora e do jeito que nós queremos. Um Deus que funcione dentro dos nossos esquemas mentais.  Para que isso aconteça criamos todo tipo de negociação e arranjos pensando com isso diminuir a distância entre nossas vontades e a equidade necessária entre as pessoas, como aquela que estabelecem os pais na relação com os filhos.

A parábola de misericórdia contada no Evangelho deste domingo é igualmente um desafio em relação aos nossos esquemas de meritocracia a que estamos habituados ou gostaríamos que fosse praticado também na relação com Deus: “Estes últimos trabalharam uma hora só, e tu os igualaste a nós, que suportamos o cansaço e o calor o dia inteiro”. Quer ver quando se trata de ser atendido nas demandas que apresentamos a Deus. “Eu não entendo porque eu rezo tanto e Deus parece que não me ouve... fulano nunca vem pra Igreja e pra ele tudo dá certo”. Na volta da pandemia então é que se poderá perceber ainda mais as queixas em relação ao acolhimento daqueles que supostamente são menos merecedores dos serviços da Igreja. Fulano nem fez o curso de batismo e já pode batizar, beltrano nunca participou da catequese online e vai fazer a primeira comunhão, aquele outro nunca mais veio a missa e agora já aparece pra se casar... e assim por diante. Como gostaríamos que as coisas de Deus fossem medidas segundo nossos interesses e juízos. Tal como em uma família não são as qualidades que tornam um filho mais merecedor que o outro, mas as necessidades fazem com que os pais tratem a todos de acordo com aquilo que precisam. Essa é também a lógica de Deus: “Quando chegou a tarde, o patrão disse ao administrador: `Chama os trabalhadores e paga-lhes uma diária a todos, começando pelos últimos até os primeiros”. Entrar na dinâmica do Reino implica perceber as diferentes necessidades de cada pessoa e deixar Deus agir segundo a sua misericórdia.

Afinal é isso que rezamos no Salmo:

Misericórdia e piedade é o Senhor,
ele é amor, é paciência, é compaixão.
O Senhor é muito bom para com todos,
sua ternura abraça toda criatura.

 

 

quinta-feira, 10 de setembro de 2020

HOMILIA PARA O DIA 13 DE SETEMBRO DE 2020 - 24º COMUM - ANO A

 

CERCAR-SE DE CARINHO E COMPAIXÃO

Não é difícil perceber como todas as nossas forças, capacidades, sabedoria, recursos econômicos, e mil outras formas de se considerar capaz para resolver todos os problemas e superar todas as provações e provocações que a vida nos oferece caem por terra.  Por conta da nossa suposta onipotência vamos criando soluções que nada solucionam ou como se diz popularmente “estamos enxugando gelo”, e as alternativas que parecem estar ao alcance da mão nunca chegam. É nestes momentos que a palavra de São Paulo, na segunda leitura deste domingo, parece ter sido escrito para o nosso tempo: “Ninguém dentre nós vive para si mesmo ou morre para si mesmo. Se estamos vivos, é para o Senhor que vivemos; se morremos, é para o Senhor que morremos. Portanto, vivos ou mortos, pertencemos ao Senhor”.

A mensagem que Paulo deixa para todos se resume em poucas palavras: “a única coisa importante e decisiva é Jesus Cristo, sua palavra, seu ensinamento, seu jeito de ver e fazer as coisas, é a Ele que pertencemos”.

Internalizar essa verdade e viver para Cristo é um processo que a gente vai fazendo ao longo da vida, não é uma solução que encontramos num passe de mágica. Viver com menor sofrimento as debilidades que a vida nos apronta ou que nós aprontamos para a vida implica sabedoria que o autor da primeira leitura foi muito feliz ao nos dizer: “O rancor e a raiva são coisas detestáveis... Se alguém guarda raiva... Se não tem compaixão, como poderá pedir perdão dos seus pecados?” Quanto mais dificuldades colocamos para perdoar, maiores serão os sofrimentos aos quais nós mesmos estamos sujeitos. E isso fica obvio no texto do Evangelho.

Senhor, quantas vezes devo perdoar, se meu irmão pecar contra mim? Até sete vezes?'... Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete”.  E na sequência conta a parábola de alguém que foi perdoado e não soube perdoar.  O texto do evangelho deixa muito claras duas atitudes fundamentais para quem se reconhece e percebe que não é o dono nem de si mesmo: perdoar e reconciliar. Não há outra coisa capaz de nos conduzir para soluções duradouras e felizes.  Agir nas relações humanas com o coração de Deus é uma condição sem a qual não vamos a lugar nenhum. É isso que rezamos no salmo sugerido para esse domingo:

O Senhor é bondoso, compassivo e carinhoso.


1Bendize, ó minha alma, ao Senhor,
e todo o meu ser, seu santo nome!
2Bendize, ó minha alma, ao Senhor,*
não te esqueças de nenhum de seus favores!

3Pois ele te perdoa toda culpa,*
e cura toda a tua enfermidade;
4da sepultura ele salva a tua vida*
e te cerca de carinho e compaixão.

9Não fica sempre repetindo as suas queixas,*
nem guarda eternamente o seu rancor.
10Não nos trata como exigem nossas faltas,*
nem nos pune em proporção às nossas culpas.

11Quanto os céus por sobre a terra se elevam,*
tanto é grande o seu amor aos que o temem;
12quanto dista o nascente do poente,*
tanto afasta para longe nossos crimes.

 

 

 

quinta-feira, 3 de setembro de 2020

HOMILIA PARA O DIA 06 DE SETEMBRO DE 2020 - 23 º COMUM - ANO A

 

NÃO FIQUEM DEVENDO NADA A NINGUÉM

A última frase da carta de São Paulo proclamada na liturgia deste domingo diz assim: “O amor não faz nenhum mal contra o próximo. Portanto, o amor é o cumprimento perfeito da Lei”. Ele faz esta afirmação depois de recordar os mandamentos que traduzidos para a atualidade significa preocupar-se com o bem estar de todos.

Uma das exigências contemporâneas consiste em superar a indiferença e cuidar do próximo. Tanto a primeira leitura quanto o evangelho apresentam uma maneira de prestar atenção e de cuidar das pessoas.

Ao sugerir a correção fraterna como um caminho necessário os dois textos permitem entender que se trata de ganhar as pessoas para a vida e não ganhar das pessoas.

Amar e cuidar implica na capacidade de incluir, recuperar, procurar e buscar. O êxito desta tarefa nunca é uma atitude solitária, antes conta sempre com a participação da comunidade que abre espaço e se abre para o perdão e a vida fraterna como se canta no salmo:

 Vinde adoremos e prostremo-nos por terra,
e ajoelhemos ante o Deus que nos criou!
Porque ele é o nosso Deus, nosso Pastor,
e nós somos o seu povo e seu rebanho,
as ovelhas que conduz com sua mão”.

A figura descrita na primeira leitura não se trata de uma pessoa que está vigiando a vida alheia. Pelo contrário, o profeta, faz uma analogia com a responsabilidade das forças de segurança numa cidade cuja finalidade é perceber e vigiar para que nada ali aconteça em dissonância com os projetos de Deus e com o aviltamento da dignidade das pessoas. Ou seja, diante do sofrimento e das ameaças contra a vida aquele que ama não pode ficar indiferente.

Na mesma direção Jesus insiste no Evangelho na missão que todos temos para estabelecer um diálogo fraterno e acolhedor que não condene o pecador, mas que facilite sua reinserção na sociedade por meio do amor misericordioso e compassivo. É nisto que se resumem todos os mandamentos e que São Paulo afirma ser a única dívida realmente importante e que devemos tratar de saldá-la sem demora: Não fiqueis devendo nada a ninguém, a não ser o amor mútuo, - pois quem ama o próximo está cumprindo a Lei”.

Peçamos a graça de transformar nossas famílias, nossas comunidades, e todas as nossas relações em oportunidades para que se possam ver as marcas do amor. De tal modo que todos proclamem: “Vejam como eles se amam”.

Reunidos fisicamente, ou pelas redes sociais somos alimentados pela Palavra, pela Eucaristia e pela Oração comunitária e solidária. Juntos vamos construindo um lugar onde as pessoas seguem Jesus Cristo superam seus erros e fraquezas ganhando sempre mais irmãos ao longo do caminho e de cada circunstância. Então sim podemos cantar de novo:

Vinde, exultemos de alegria no Senhor,
aclamemos o Rochedo que nos salva!
Ao seu encontro caminhemos com louvores,
e com cantos de alegria o celebremos”.