segunda-feira, 24 de outubro de 2022

HOMILIA PARA O DIA 13 DE NOVEMBRO DE 2022 - 33º COMUM - DIA MUNDIAL DOS POBRES - ANO C

 

O SENHOR VIRÁ JULGAR A TERRA INTEIRA

Na segunda leitura desse domingo continuamos ouvindo trechos da carta de São Paulo aos Tessalonicenses. Nos versículos proclamados hoje, Paulo faz um apelo para que não nos instalemos no comodismo, na preguiça e indiferença em relação aos grandes problemas do mundo. Paulo sugere que demos a nossa contribuição na construção do Reino.

Nesse contexto o Papa Francisco nos propõe para esse domingo o Dia Mundial dos Pobres, e começa sua mensagem com uma constatação conhecida por todos: “Há alguns meses o mundo saiu da tempestade da pandemia, mostrando sinais de recuperação econômica que parecia trazer alívio para os milhões de empobrecidos que tinham também perdido o emprego. Abria-se no céu um sinal de esperança, mas eis que uma nova catástrofe surge no horizonte impondo ao mundo um cenário diferente. A guerra na Ucrânia veio somar com as guerras regionais que produziram morte e destruição. No caso da Ucrânia o quadro é muito mais complexo por ser o resultado da intervenção de uma superpotência que pretende impor sua vontade contra o princípio da autodeterminação dos povos. Vemos se repetir cenas trágicas e ameaças recíprocas que abafam a voz daqueles que imploram a paz. Nesse contexto, afirma Francisco, está o Dia Mundial dos Pobres e nos convida a manter fixo o olhar em Jesus que se fez pobre por todos e que na sua pobreza não se fechou a ninguém, antes foi ao encontro de todos, sobretudo dos marginalizados e desprovidos do necessário”. Isso significa que para os cristãos contemporâneos manter os olhos fixos em Jesus implica compreender que a nossa missão é ser sinal de um mundo novo e trabalhar para que esse mundo se torne realidade.

O Evangelho aponta para todos um caminho a ser percorrido até a segunda vinda de Jesus. Nada de ficar de braços cruzados esperando que as coisas aconteçam como se estivessem caindo do céu. Todos somos chamados a nos comprometer na transformação do mundo fazendo desaparecer a velha realidade. O que precisa ficar claro no texto do Evangelho não é a obsessão sobre o fim do mundo, mas o percurso que podemos percorrer até chegar a plenitude da história. Não tenhamos medo Deus caminha ao nosso lado não sejamos medrosos e indiferentes.

Ontem como hoje a Palavra de Deus continua a ser o anúncio que Deus nunca abandonou o seu povo. Esta é também a mensagem do profeta que ouvimos na primeira leitura: “Eis que virá o dia, abrasador como fornalha, em que todos os soberbos e ímpios serão como palha; e esse dia vindouro haverá de queimá-los, diz o Senhor dos exércitos, tal que não lhes deixará raiz nem ramo. Para vós, que temeis o meu nome, nascerá o sol da justiça, trazendo salvação em suas asas”.

Sem excluir ninguém, sem deixar marginalizados os muitos empobrecidos da sociedade contemporânea não tenhamos medo, caminhemos juntos. Deus nos conduz para um novo céu e uma nova terra. Olhar o horizonte com confiança significa deixar brotar a esperança que dá coragem para enfrentar as adversidades da vida.

Rezemos confiantes com o salmista:

Exultem na presença do Senhor, pois ele vem, vem julgar a terra inteira. Julgará o universo com justiça e as nações com equidade.

 

 

.

HOMILIA PARA O DIA 06 DE NOVEMBRO DE 2022 - 32º DOMINGO COMUM - ANO C

 

PROTEGEI-NOS Ó SENHOR À SOMBRA DAS VOSSAS ASAS

Se tem um assunto que está na pauta das preocupações cotidianas é o que diz respeito ao futuro da vida e da existência humana e sem delongas o tema entra nas rodas de conversa com bastante frequência. Como se isso não bastasse tem-se disponível uma farta literatura sobre o tema. Uma simples visita ao cemitério vai nos colocar em sintonia com inúmeras expressões gravadas na lápide das sepulturas as quais indicam a crença da pessoa que repousa naquele espaço sagrado. Pois a Palavra Deus sugerida para esse domingo traz, mais uma vez a questão do horizonte da nossa vida.

O texto dos Macabeus, escrito num tempo de grande perseguição e de ameaça às tradições de Israel, não tem a compreensão da ressurreição que nos é dada a partir de Jesus Cristo e da sua ressurreição. Mas os sete irmãos e a mãe deixam muito claro que suas vidas estão nas mãos de Deus e que nenhum tormento, nem tampouco qualquer vontade humana pode colocar fim na vida daqueles que acreditam e no Deus dos seus antepassados depositam sua confiança: “Vale a pena morrermos nas mãos dos homens, quando temos a esperança em Deus de que Ele nos ressuscitará; mas tu, ó rei, não ressuscitarás para a vida”.

O diálogo que se desenvolve entre Jesus e um grupo de judeus que não acreditavam na ressurreição confirma a esperança que outros povos e culturas já cultivavam mesmo sem ter clareza de como essa realidade poderia ser compreendida.

Os próprios saduceus, que não acreditavam na ressurreição, manifestam na pergunta que fazem a Jesus sua preocupação com a continuação da nossa breve existência terrena. Preocupados com a continuação dessa vida limitada estão preocupados com a manutenção das regras, normas e costumes das relações humanas na terra. Apresentando o suposto caso de uma mulher que se casou com sete irmãos cumprindo rigorosamente a lei cujo objetivo era garantir a descendência ao marido, eles perguntam: “De qual destes ela será esposa na ressurreição, uma vez que os sete a tiveram por mulher? ”.

Jesus esclarece e confirma a verdade da continuação da vida depois da morte, mas deixa absolutamente claro que não se trata de uma mera continuação desta vida com todas as fragilidades bem como a finitude da existência terrena: “Os filhos deste mundo casam-se e dão-se em casamento. Mas aqueles que forem dignos de tomar parte na vida futura e na ressurreição dos mortos, nem se casam nem se dão em casamento. Na verdade, já nem podem morrer, pois são como os Anjos, e, porque nasceram da ressurreição, são filhos de Deus”.

Para os saduceus de outrora, como para cada um de nós a realidade sobre a ressurreição e a vitória da vida em Deus não tem comparação e não pode ser sequer imaginada à luz das categorias da existência terrena. Enquanto aqui estamos sujeitos a todas as fragilidades do mundo, na outra vida no horizonte de Deus nossa existência será absoluta.

Nessa mesma perspectiva São Paulo nos convida a estreitar o diálogo e a comunhão com Deus na firme esperança da segunda vinda de Cristo e da vida nova que Deus nos preparou: “o Senhor é fiel: Ele vos dará firmeza e vos guardará do Maligno. Quanto a vós, confiamos inteiramente no Senhor que cumpris e cumprireis o que vos mandamos. O Senhor dirija os vossos corações, para que amem a Deus e aguardem a Cristo com perseverança”.

Em outras palavras a certeza da ressurreição é uma realidade que ultrapassa em tudo a frágil existência terrena, ter nossos pés no chão e nosso olhar no horizonte de Deus é que nos encoraja a enfrentar todas as forças da morte que permeiam o cotidiano e diminuem a qualidade da vida terrena.

O novo céu e a nova terra começam com atitudes aqui e agora conforme cantamos na liturgia: “Os olhos jamais contemplaram, ninguém pode explicar o que Deus tem preparado para aquele que em vida o amar”.  É assim que rezamos no salmo desse domingo: “ Senhor, ficarei saciado, quando surgir a vossa glória. Firmai os meus passos nas vossas veredas, para que não vacilem os meus pés. Protegei-me à sombra das vossas asas, Senhor, mereça eu contemplar a vossa face e ao despertar saciar-me com a vossa imagem”.

HOMILIA PARA O DIA 30 DE OUTUBRO DE 2022 - 31º COMUM - ANO C

 

O SENHOR É AMIGO DA VIDA

Não é raro que as pessoas tenham atitudes de soberba e prepotência em relação a si mesmas e até com às demais pessoas com quem se relaciona. Muitas vezes nós mesmos nos damos conta que nossas atitudes não correspondem ao bem que gostaríamos de realizar. E quando isso acontece, independentemente de qualquer doutrina ou religião é a própria consciência quem acusa e provoca transformações e novas atitudes que facilitem uma melhor compreensão da vida. São situações como estas que estão contempladas na Palavra de Deus sugerida para a leitura desse domingo.

O Livro da Sabedoria convida os judeus de outrora a retomarem os ensinamentos e doutrinas que aprenderam dos seus antepassados e sobretudo a perceber que Deus é a única e verdadeira fonte de onde vem toda a sabedoria e felicidade: “Senhor, o mundo inteiro, diante de ti, é como um grão de areia na balança, uma gota de orvalho da manhã que cai sobre a terra. Entretanto, de todos tens compaixão, porque tudo podes. Fechas os olhos aos pecados dos homens, para que se arrependam

Não é difícil para entender três coisas que nos levam reconhecer o jeito de ser de Deus. Ele ama indistintamente, se preocupa, corrige, perdoa e convida para voltar ao bom caminho. A lógica de Deus é fundamentada no perdão e tem origem na sua grandeza.

No Evangelho, mais uma vez Jesus se confronta com os justos, ou que se acham melhores que os outros e com o pecado e o pecador. Zaqueu, que acaba sendo o personagem central do encontro desse domingo tem todos os adjetivos e qualidades de uma pessoa que não merecia a confiança dos judeus perfeitos de outrora: “Jesus tinha entrado em Jericó e estava atravessando a cidade. Havia ali um homem chamado Zaqueu, que era chefe dos cobradores de impostos e muito rico”. Além disso tinha baixa estatura e facilmente se aproveitava da sua condição para explorar os outros se beneficiando da sua profissão para acumular ainda mais riqueza. Apesar disso tudo Zaqueu não se conformava com a sua condição e ouvindo falar de Jesus sentiu-se provocado pelas informações que recebia: “Zaqueu procurava ver quem era Jesus, mas não conseguia, por causa da multidão, pois era muito baixo. Então ele correu à frente e subiu numa figueira para ver Jesus, que devia passar por ali”.

No contexto da caminhada, os seguidores esperavam que Jesus aproveitasse da ocasião para desqualificar ainda mais esse corrupto e aproveitador. Mas Jesus surpreende a todos, e agindo com a lógica de Deus declara: “Zaqueu, desce depressa! Hoje eu devo ficar na tua casa”Aqueles que se julgavam puros começaram a questionar, mais uma vez a atitude de Jesus: “Ao ver isso, todos começaram a murmurar, dizendo: “Ele foi hospedar-se na casa de um pecador!”

O desfecho desse encontro não poderia terminar de outra maneira: “Senhor, eu dou a metade dos meus bens aos pobres, e se defraudei alguém, vou devolver quatro vezes mais”. A atitude de Zaqueu não só desmascara a falsa pureza de alguns como supera em muito tudo o que previa a lei judaica.

Da parte de Jesus se confirma a prática de Deus: “Hoje a salvação entrou nesta casa, porque também este homem é um filho de Abraão. Com efeito, o Filho do Homem veio procurar e salvar o que estava perdido”.

Dá para entender, ou precisa desenhar, como costumamos dizer! A lógica de Deus é da acolhida, do perdão, da misericórdia e da conversão. Esta é a boa nova de Deus que também nós somos convidados a vivenciar e ser testemunha que Deus ama e acolhe a todos, isso não significa mascarar o pecado nem tampouco pactuar com o que aquilo que está errado.

Isso também Paulo ensina na sua carta aos tessalonicenses. Paulo desautoriza os fanáticos e fundamentalistas e deixa claro que Deus é protagonista quando se refere a salvação e a qualidade de vida das pessoas e que todos podemos dar o melhor de nós para que “O nome de nosso Senhor Jesus Cristo será glorificado em vós, e vós nele, em virtude da graça do nosso Deus e do Senhor Jesus Cristo”.

Afinal é isso que rezamos no salmo: “ Misericórdia e piedade é o Senhor,/ ele é amor, é paciência, é compaixão./ O Senhor é muito bom para com todos,/ sua ternura abraça toda criatura”.

 

 

 


sexta-feira, 21 de outubro de 2022

HOMILIA PARA O DIA 23 DE OUTUBRO DE 2022 - 30º COMUM - ANO C

 

O SENHOR LIBERTA A VIDA DOS SEUS SERVOS!

Não são poucas as ocasiões na vida nas quais nos sentimos um verme, são momentos em que tudo parece dar errado, que ninguém percebe o nosso sofrimento e desconforto. Muitas vezes duvidamos até de Deus, parece que ele está surdo ou dormindo. São aquelas ocasiões que denominamos: “Um dia daqueles”.

Essa parece ser a situação dos três personagens apresentados nas leituras da Palavra de Deus neste domingo. O livro do Eclesiástico foi escrito cerca de 200 anos antes do nascimento de Jesus e o autor estava preocupado com o descaso que seus conterrâneos apresentavam em relação às raízes e costumes dos seus antepassados. Nesse contexto alguns se consideravam e de fato aparentemente viviam numa situação muito confortável deixando perder tudo o que era ensinamento e verdade aprendida, enquanto outros eram sofridos, oprimidos e explorados. Para todos, mas especialmente para os que estavam colocados à margem da sabedoria do mundo o autor esclarece: “Quem serve a Deus como ele o quer, será bem acolhido e suas súplicas subirão até as nuvens. A prece do humilde atravessa as nuvens: enquanto não chegar não terá repouso; e não descansará até que o Altíssimo intervenha, faça justiça aos justos e execute o julgamento”. Em resumo, o autor deixa claro Deus não está surdo nem dormindo, pelo contrário está atento aos gritos daqueles que são vítimas da exclusão e da incompreensão dos que se consideram melhores e mais perfeitos.

No Evangelho Jesus faz mais um trocadilho apresentando duas categorias de pessoas. Nesse domingo também ele não está defendendo o pecado ou promovendo as atitudes que não estão de acordo com a proposta de Deus Pai para todos. Como na parábola do administrador infiel que ouvimos há poucos dias, Jesus não elogia a desonestidade daquele. Hoje de novo Jesus não elogia o publicano por causa das suas ações, nem tampouco aprecia o fariseu porque não tem pecado.

Pelo contrário o que conta é a atitude de reconhecer que a vida é sempre um processo de crescimento e oportunidade para ser melhor. Quem se julga como o fariseu do Evangelho acha que não precisa de nada nem de ninguém e que até Deus lhe deve alguns favores por causa da retidão da sua vida. Ao contrário do publicano que compreende sua fragilidade e sabe que por suas próprias forças não será capaz de sair da situação em que se encontra.

Enquanto o primeiro rezava assim: “Ó Deus, eu te agradeço porque não sou como os outros homens, ladrões, desonestos, adúlteros, nem como este cobrador de impostos”. O pecador pelo contrário: “Meu Deus, tem piedade de mim que sou pecador”. E a conclusão não poderia ser outra: “Pois quem se eleva será humilhado, e quem se humilha será elevado”.

Todos somos chamados a ser missionários, testemunhas de Deus e cooperadores na missão agindo com todas as forças para incluir e acolher a todos colocando-nos também na condição de frágeis pecadores que precisam da ajuda dos irmãos e da misericórdia de Deus. Homens e mulheres ao longo da história já mostraram que isso é possível. Dentre eles a Igreja recorda a Beata Paulina Jaricot e os padroeiros das missões, São Francisco Xavier e Santa Teresinha, que servem de inspiração para sermos testemunhas missionárias até os confins do mundo.

Na carta a Timóteo temos o exemplo de Paulo que se sente “Num dia daqueles”: “Na minha primeira defesa, ninguém me assistiu; todos me abandonaram. Oxalá que não lhes seja levado em conta. Mas o Senhor esteve a meu lado e me deu forças”. Ele tem certeza que apesar de todas as frustrações que a vida lhe oferece Deus não o abandonou, ele tem consciência da generosidade que marcou toda a sua vida e convida também a nós para descobrir e viver do jeito de Jesus e não ter medo: “Quanto a mim, eu já estou para ser oferecido em sacrifício; aproxima-se o momento de minha partida. Combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé. Agora está reservada para mim a coroa da justiça, que o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos que esperam com amor a sua manifestação gloriosa”.

Cristãos nesse mundo conturbado e violento não tenhamos medo de gastar a nossa vida apresentando a Boa Notícia de Jesus como testemunhas de Jesus Cristo.

sexta-feira, 14 de outubro de 2022

HOMILIA PARA O DIA 16 DE OUTUBRO DE 2022 - 29º COMUM - ANO C

 

DEUS TE GUARDA NA PARTIDA E NA CHEGADA!

No início da primavera é possível perceber a exuberância da vegetação que começa a fazer brotos e folhas com um vigor extraordinário. Por outro lado, as intensas chuvas acompanhadas de rajadas de vento que assolaram várias regiões do sul do Brasil à medida que atingiu os brotos recém-formados causou estragos quebrando brotos e galhos sobre tudo quando estes estão isolados e desprotegidos das próprias espécies. É sobre proteção, cuidado e entre ajuda que trata a Palavra de Deus nesse domingo. Não poucas vezes nos encontramos em situações como a vegetação que começa a soltar brotos e folhas, ao mesmo tempo nos sentimos sozinhos e desprotegidos contra todas as intempéries e dificuldade que a vida nos apresenta.

O texto do livro do Êxodo trata das dificuldades enfrentadas pelo povo de Israel durante sua travessia pelo deserto com as respectivas batalhas contra os povos nômades que habitavam aquelas regiões. O povo guiado por Moisés precisou de coragem, esperteza e unidade para vencer cada uma das dificuldades próprias daquela travessia. E no caso da narrativa de hoje fica claro que para vencer as duras batalhas do cotidiano duas coisas são fundamentais: A confiança em Deus e a ajuda dos irmãos: “E, enquanto Moisés conservava a mão levantada, Israel vencia; quando abaixava a mão, vencia Amalec. Ora, as mãos de Moisés tornaram-se pesadas. Pegando então uma pedra, colocaram-na debaixo dele para que se sentasse, e Aarão e Ur, um de cada lado, sustentavam as mãos de Moisés. Assim, suas mãos não se fatigaram até ao pôr do sol”

O Evangelho nos apresenta uma situação extraordinária na qual uma frágil viúva enfrenta um poderoso juiz. Neste caso o juiz pode ser comparado à força dos ventos e das chuvas que assolaram a nossa região nos últimos dias, e o resultado da persistência da viúva se resume no provérbio: “A justiça de Deus tarda, mas não falha”.

A história do Evangelho nos ensina que persistência, coragem, fé e unidade são combustível quando se trata de enfrentar as dificuldades da vida. A viúva do Evangelho pode ser comparada com a fragilidade das folhas e brotos recém-nascidos na primavera, mas que na confiança e perseverança são capazes de vencer a fúria de tudo o que se arma para destruir, matar e diminuir a dignidade das pessoas.

É importante que nos perguntemos sobre a nossa prática de oração. Frequentemente rezamos para alimentar um Deus faminto e punitivo e nos esquecemos de rezar uns com os outros confiantes na misericordiosa ação de Deus em nosso favor. Mesmo nas situações mais difíceis da vida é importante não desanimar, mas buscar na solidariedade e na comunhão a força para sustentar nossa esperança. Não tenhamos medo, moderemos nossa impaciência, o que parece ser silêncio de Deus é o tempo necessário para que nos juntemos uns com os outros como ramos de uma parreira à medida em que se juntam tornam-se resistentes e inquebráveis.

Na mesma direção vem o convite de São Paulo na carta a Timóteo: “Caríssimo: Permanece firme naquilo que aprendeste e aceitaste como verdade; tu sabes de quem o aprendeste. Desde a infância conheces as Sagradas Escrituras: elas têm o poder de te comunicar a sabedoria que conduz à salvação pela fé em Cristo Jesus.

Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para ensinar, para argumentar, para corrigir e para educar na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e qualificado para toda boa obra”.

Não tenhamos medo, se temos a Palavra de Deus como direção para a nossa vida os vendavais e as provações do cotidiano não nos poderão vencer, antes nos fortalecerão como cantamos no salmo:

Do Senhor é que me vem o meu socorro,/ do Senhor, que fez o céu e fez a terra. O Senhor é o teu guarda, o teu vigia,/ é uma sombra protetora à tua direita./ Não vai ferir-te o sol durante o dia,/ nem a lua através de toda a noite.

— O Senhor te guardará de todo o mal,/ ele mesmo vai cuidar da tua vida!/ Deus te guarda na partida e na chegada./ Ele te guarda desde agora e para sempre”.

 

sábado, 8 de outubro de 2022

HOMILIA PARA O DIA 09 DE OUTUBRO DE 2023 - 28º COMUM - ANO C

 

O SENHOR É AMOR E FIDELIDADE PARA SEMPRE

As expressões: “Fulano não é flor que se cheira” e “Beltrano não é trigo limpo” aquele outro “está fora da casinha”, são frequentemente usadas para fazer referência a uma pessoa que não inspira confiança com quem a gente sempre fica com um pé atrás. Pois a liturgia da Palavra desse domingo trata exatamente de duas pessoas colocadas nessa situação nos seus respectivos tempos. A primeira leitura narra um episódio ocorrido cerca de 800 anos antes do nascimento de Cristo e no Evangelho é o próprio Jesus quem se relaciona com leprosos e excluidos sendo que um deles é também samaritano. Nos dois casos as pessoas em referência são do tipo “Flor que não se cheira”.

Na contrapartida dessa situação os textos mostram como o projeto de salvação de Deus não é exclusivista, pelo contrário sua misericórdia se estende a todas as pessoas sem exceção, a todos é dada a condição para experimentar a salvação e a misericórdia que consiste simplesmente em reconhecer que só em Deus encontramos a salvação e a vida verdadeira.

O fato relatado na primeira leitura acontece num tempo em que o povo de Israel tinha se deixado contaminar por práticas e cultos a diversos deuses. Nesse contexto uma grande autoridade ouve falar do profeta Eliseu e cumpre a ordem do profeta: “Naqueles dias, Naamã, o sírio, desceu e mergulhou sete vezes no Jordão, conforme o homem de Deus tinha mandado, e sua carne tornou-se semelhante à de uma criancinha, e ele ficou purificado”. A mensagem central desse texto consiste em reconhecer que só em Deus temos a vida plena e muito mais num tempo em que facilmente colocamos nossas esperanças em ídolos humanos e materiais somos convidados a rever nossas certezas e a centralidade de nossa fé.

O Evangelho começa com a seguinte constatação: “Aconteceu que, caminhando para Jerusalém, Jesus passava entre a Samaria e a Galileia. Quando estava para entrar num povoado, dez leprosos vieram ao seu encontro. Pararam à distância, e gritaram: “Jesus, Mestre, tem compaixão de nós!” A lepra que estava consumindo a vida e a dignidade dos sujeitos do Evangelho se assemelha às desgraças que se espalham por toda a humanidade sendo causa de exclusão, marginalidade, opressão e injustiça. A sociedade contemporânea está machucada pelo sofrimento e a miséria que causam também o afastamento de Deus. A narrativa do Evangelho mostra como através de Jesus, Deus Pai revela um projeto de salvação e inclusão no qual todos têm lugar e podem encontrar vida em plenitude. Naturalmente que um tão grande dom pede uma contrapartida de gratidão: “Então Jesus lhe perguntou: “Não foram dez os curados? E os outros nove, onde estão? Não houve quem voltasse para dar glória a Deus, a não ser este estrangeiro?” E disse-lhe: “Levanta-te e vai! Tua fé te salvou”. Notemos que também no nosso tempo, e com bastante frequência aqueles que a sociedade considera “flor que não se cheira”, ou “fora da casinha” são os primeiros a manifestar seu reconhecimento e gratidão. Ao contrário e não raro os que se consideram melhores e mais perfeitos costumam condenar e excluir os “impuros” considerando-se como privilegiados de Deus esquecem de reconhecer a bondade e a misericórdia que alcança a todos. Quase sempre os perfeitos não agradecem porque se consideram merecedores, como se Deus lhes devesse favores por sua condição de “pessoas do bem” e nessa condição permanecem cheios de orgulho e enclausurados na sua autossuficiência.

A segunda leitura mostra como a pessoa que acolhe o dom de Deus é capaz de viver o amor e entregar-se ao serviço de todos: “Lembra-te de Jesus Cristo, da descendência de Davi, ressuscitado dentre os mortos, segundo o meu evangelho”.

O convite que Paulo faz a Timóteo é extensivo a todos os cristãos: “Merece fé esta palavra: se com ele morremos, com ele viveremos. Se com ele ficamos firmes, com ele reinaremos. Se nós o negamos, também ele nos negará. Se lhe somos infiéis, ele permanece fiel, pois não pode negar-se a si mesmo”.

Tal como Paulo todos somos convidados a nos identificar com Cristo independente de todas as provações e sacrifícios. Peçamos a graça de reconhecer em Jesus a presença de Deus Pai no meio do mundo, que a oração, a escuta da Palavra e a Eucaristia nos conservem na comunhão com as pessoas e com Deus.