quinta-feira, 24 de novembro de 2016

HOMILIA PARA O DIA 27 DE NOVEMBRO DE 2016

A SALVAÇÃO ESTÁ PERTO

A expressão “O Seguro morreu de velho”, é utilizada com muita propriedade para alertar as pessoas quanto é necessário estar preparado e atento para os imprevistos e improvisos da vida. Na Escola, uma das expressões mais utilizadas é: “Presta atenção no que a professora está falando”.  Nas redes sociais é muito comum encerrar uma conversa com os amigos virtuais usando o jargão: “Se cuida”.

Todas estas expressões são uma forma de entender o Advento. Este tempo que inicia um novo ano litúrgico na vida da Igreja e acende a esperança na proximidade do Natal não é outra coisa senão a garantia de que quem estiver atento a tudo o que acontece mais facilmente vai perceber a realização das promessas e de muita coisa extraordinária que passaria em branco ou diminuída pela mídia e pelo consumo próprio das festas de fim de ano.

No Evangelho deste primeiro domingo do Advento Jesus faz um alerta, que poderia ser parafraseado com a expressão: “O seguro morreu de velho”. Isto é, Jesus garante que em todos os tempos aqueles que estavam distraídos não perceberam os sinais e foram surpreendidos por acontecimentos que poderiam ter sido evitado.  Ele alerta aos seus conterrâneos, não para causar pânico, nem tampouco para apagar a esperança, pelo contrário reafirma a ideia que sua vinda é certa e que não está associada a um tempo cronológico, mas ao modo como as pessoas se relacionam no cotidiano da história. Nesta preparação para o Natal, o evangelho é um convite para cada pessoa nestes tempos: “Fiquem também vocês preparados” para o que acontece no hoje da história.

O que aconteceu no tempo de Jesus o profeta já havia predito 700 anos antes: “Vamos subir ao monte do Senhor, à casa do Deus de Jacó, para que ele nos mostre seus caminhos e nos ensine a cumprir seus preceitos”. Porque aquele que julgará o mundo com justiça transformará também todos os sinais de morte e de dor em instrumentos de trabalho.

Eis que a Igreja inteira repete a certeza do salmista: “Que alegria, quando ouvi que me disseram: 'Vamos à casa do Senhor!' Por amor a meus irmãos e meus amigos, peço: 'A paz esteja em ti!' Pelo amor que tenho à casa do Senhor, eu te desejo todo bem”.

E não fora de propósito Paulo fala aos romanos: “Vós sabeis em que tempo estamos, pois já é hora de despertar. Com efeito, agora a salvação está mais perto de nós do que quando abraçamos a fé”.


Também para os cristãos do terceiro milênio a recomendação de Paulo e as palavras de Jesus ganham atualidade. A igreja se reúne na preparação do Natal exatamente para pedir forças para caminhar neste mundo em direção ao Reino. É por isso que se reza no início da missa: “Que caminhando com nossas boas obras ao encontro do Cristo que vem, sejamos reunidos à sua direita na comunidade dos justos”. 

sexta-feira, 18 de novembro de 2016

HOMILIA PARA O DOMINGO DE CRISTO REI 2016

SENHOR LEMBRE-SE DE MIM...

Intrigas, fofocas, disputa de poder, busca de prestígio, culto ao ego do chefe, são ações que acompanham o dia a dia das pessoas, das famílias, das instituições e da própria Igreja. O Papa Francisco tem feito inúmeras críticas ao modo como se dá a busca e o exercício do poder na Igreja e da Igreja.  Francisco usa com frequência expressões como “sede de poder”, “deslealdade”, “jogo duplo”, “mundanidade”. Todas expressões que são contrárias ao que se quer e se pensa como “Reinado de Deus”.  Estas situações não são novas, pelo contrário, fazem parte da longa história humana na face da terra.

Na Primeira leitura deste domingo  Samuel conta o desfecho da luta de poder entre os governantes dos reinos divididos de Israel e como as tribos de Israel decidiram pedir a Davi que reinasse sobre todos cuidando de todo o povo.  Neste contexto de disputas internas o governo de Davi foi entendido como uma extensão do justo reinado de Deus. Na prática isso não se concretizou, embora fosse a intenção original do projeto. 

A comunidade dos colossenses, no tempo de Paulo, vivia também situação semelhante aquela do tempo de Israel.  Paulo  escreve fazendo algumas recomendações e afirma que para quem permanece firme na verdadeira e única doutrina pode ter certeza que Deus o livrará do “poder das trevas” e garantirá  “o Reino do seu filho muito amado”. 

Ora, qual é o reino do Filho muito amado, senão aquele inaugurado por Cristo na cruz e que se reza na missa: “Reino da verdade, da justiça, do amor e da paz”. Na cruz, entre dois ladrões e rodeado por todos os que desejam o poder e disputavam os espaços focados nas mesmas situações que muitas vezes hoje também as pessoas estão envolvidas, Jesus inaugura um novo Reino que pode ser chamado Reino da “Misericórdia e da vida”. Representando a humanidade que busca um novo modo de ser e de viver o “bom ladrão” recebe a promessa de Jesus: “Hoje mesmo estarás comigo no Paraíso”. Este hoje não se refere ao tempo cronológico, mas garante a salvação definitiva que a vida, a morte e a ressurreição de Jesus garantiu para a humanidade inteira. 

Celebrar Cristo Rei é um convite para cada pessoa, mas também para a Igreja inteira e para a sociedade em geral a repensar sua existência, seus valores e sua prática cotidiana em relação às manias de grandeza, luta pelo poder, rivalidades e mágoas desnecessárias. 

Que a oração de todos alcance o coração de cada um. 

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

HOMILIA PARA O DIA 13 DE NOVEMBRO DE 2016

A SALVAÇÃO VIRÁ PARA TODOS

“Somos gente da esperança, que caminha rumo ao pai, somos povo da aliança que já sabe aonde vai. De mãos dadas a caminho, porque juntos somos mais, a plantar um novo reino de unidade amor e paz”.

Este verso de uma canção religiosa frequentemente entoada em nossas comunidades ajuda compreender a Palavra de Deus proclamada na liturgia deste domingo. No tempo do profeta Malaquias vivia muita gente boa, mas também muitos injustos e pecadores. Inconscientemente e muitas vezes até convencidos os bons não conseguiam entender porque os maus conseguiam prosperar com certa facilidade enquanto os bons tinham grande dificuldade de progredir e melhorar de vida. É claro que diante desta realidade mais facilmente o desânimo toma conta das pessoas. Neste contexto o profeta aponta para o futuro, devolvendo-lhes a coragem e a esperança: Para vós, que temeis o meu nome, nascerá o sol da justiça, trazendo salvação em suas asas”.
Esta é também a certeza que o salmista proclamou e que a Igreja reza neste domingo: Exultem na presença do Senhor, pois ele vem, vem julgar a terra inteira. Julgará o universo com justiça e as nações com equidade”.
Na mesma perspectiva São Paulo escreve aos Tessalonicenses: “Bem sabeis como deveis seguir o nosso exemplo, pois não temos vivido entre vós na ociosidade. De ninguém recebemos de graça o pão que comemos. Pelo contrário, trabalhamos com esforço e cansaço, de dia e de noite, para não sermos pesados a ninguém”. Paulo é categórico ao afirmar não se iludam com promessas de uma vida fácil, pelo contrário não deixem de trabalhar e de fazer de modo bem feito todas as coisas.
E Jesus, no evangelho, recorda diversas situações do cotidiano que podem ser motivo para desanimar e não ter coragem de lutar por um mundo melhor. Nenhum medo, nenhuma ameaça, nenhuma preocupação diz Jesus, deve ser maior do que a certeza que “Vós não perdereis um só fio de cabelo da vossa cabeça. É  permanecendo firmes que ireis ganhar a vida”.
A vida de Jesus, a história das pessoas, das famílias, da sociedade e da própria Igreja são provas que depois de cada grande provação e tempo de dificuldade sempre há um novo alvorecer que se confirma na fé e na esperança que nunca morre. Esta certeza as pessoas experimentam pela graça do Espírito Santo que mora nos corações e renova a face da terra.

A assembleia cristã reunida reafirma na oração que sua vida está nas mãos de Deus em quem continuam confiando e em quem depositam toda a esperança.

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

HOMILIA PARA O DOMINGO DE TODOS OS SANTOS

SEDE SANTOS COMO DEUS É SANTO

Basta acessar qualquer ambiente noticioso para encontrar uma infinidade de ações humanas que podem ser classificadas como devastadoras ou pelo menos destruidoras da própria vida humana e do ambiente em que se vive. É o extermínio de espécies aninais e vegetais, é o descarte de objetos e equipamentos eletroeletrônicos de forma inadequada, é a poluição do ar e das águas, são seres humanos maltratados e considerados como bem de consumo durável e objeto de lucro e prazer. Neste contexto se ouve a primeira leitura deste domingo começando com as seguintes palavras: “Não danifiquem a terra, nem o mar nem as águas”.
É verdade que o grito é dirigido aos anjos, mas a sociedade contemporânea não precisa de anjos para fazer mal, o próprio ser humano é o principal causador de todas as formas de destruição e desrespeito. A pessoa humana, muitas vezes, se identifica com a máxima: “Lobo de si mesmo” sacrificando a própria esperança como se fosse a indústria da destruição.
Mais do que nunca a humanidade precisa de santos, e da força daquele que é o Santo dos santos, isso é, o próprio Deus que salva, que acolhe e que em Jesus Cristo lava a multidão das suas criaturas no “sangue do cordeiro”. No meio da multidão, quantos também podem ser reconhecidos como santos por causa do seu comprometimento com um mundo mais justo, mais humano e melhor.
Apesar dos pecados de cada pessoa e da humanidade inteira, Deus não rejeita, nem exclui ninguém, como se lê na segunda leitura: “Desde já somos filhos de Deus, mas ainda não se manifestou o que havemos de ser. Sabemos que, quando isto se manifestar, seremos semelhantes a Deus, porquanto o veremos como Ele é” (1 Jo3, 2).
Um dia, é certo, todos verão a Deus tal como ele é. Isto é um acender de esperança e um conforto que permite acreditar que a humanidade ainda tem salvação e que a certeza de um tempo e de uma vida muito melhor ainda se concretizará.
O que se espera de cada pessoa em meio a esta avalanche de problemas e de incertezas e ao mesmo tempo de promessa e de aconchego da parte de Deus é um empenho para alcançar a santidade.
Para ser santo e construir uma sociedade e um planeta santo, com responsabilidade pela “Casa Comum” cada pessoa, no seu ambiente e no cotidiano de suas ações é desafiado a viver as Bem aventuranças do Evangelho.
Que o Senhor conceda a graça, a coragem e a determinação de não ser participante da destruição, antes de caminhar na esperança que o encontro definitivo com o Pai de toda a vida começa a ser construído aqui com a responsabilidade individual e coletiva pelo cuidado com todas as formas de vida.









quarta-feira, 2 de novembro de 2016

GRAÇA SOBRE GRAÇA

Vinte e seis anos depois daquela tarde chuvosa do dia três de novembro do ano 1990, ergo os olhos para o céu e proclamo como o salmista: “Senhor, tu me examinas e me conheces, sabes tudo o que eu faço e de longe conheces os meus pensamentos. Tu me vês quando estou trabalhando e quando estou descansando” (Salmo 139, 1- 3).
Neste ano, mais uma vez, rendo graças a Deus pelo chamado que me fez para o ministério presbiteral. Cada dia mais tenho convicção que o dom recebido no dia do batismo se aperfeiçoa pela graça de Deus que vai se renovando sempre que abrimos nosso coração e nos colocamos com todas as nossas limitações e pecados diante daquele que nos escolheu.
Celebro com cada pessoa, que ao longo destes vinte e seis anos caminhou e caminha comigo, a graça da minha ordenação presbiteral e peço que juntos rezemos a fim de que Deus continue dando a graça da resiliência e da perseverança.
Faço minhas as palavras da Médica Costa Riquenha, Helena López de Mézerville:

É preciso partir do fato de que o sacerdote diocesano assume a sua vocação e sua decisão de formar-se para esse ministério de modo livre e voluntário, diante de um chamado pessoal interpretado a partir da fé, que o leva a dar uma resposta ao tu infinito de Deus, que lhe pede o dom de si mesmo, comprometendo toda a sua vida. Por isso essa resposta deve ser um ato livre e generoso (Mézerville, 2012, p.154).

Isso me faz recordar o lema que escolhi no dia da minha ordenação presbiteral: “Servir na alegria e na caridade”. “Apesar disso não posso negar que algumas vezes a vida presbiteral apresenta épocas de vazio existencial e experiências de falta de sentido, próprias da vulnerabilidade do ser humano” (Mézerville, 2012, p.154).
Porém é certo que guardar a intimidade com Deus e com os irmãos no sacerdócio, é condição para manter-se fiel ao chamado e a missão que Ele nos confiou e nos chama a buscar a santidade cada dia. Santidade que se encontra na realização das responsabilidades pastorais e que fazem superar o esgotamento emocional e procurar o exemplo dos padres santos que

São humildes que muitas vezes acatam as ordens dos padres não santos, os de carreira; dos santos que buscam realizar coisas e bens deste mundo onde muitos tem mais necessidades; dos padres santos que não vivem nos palacetes da Igreja; dos padres santos que vivem com fidelidade o celibato; dos padres santos que rezam e que trabalham (Andreoli, 2010, p. 321).


Em 2016 Deus me deu a graça de celebrar o dom da minha ordenação conhecendo pessoalmente e pedindo a bênção ao “Padre Santo” que há exatos 54 anos, me fez participante do sacerdócio de Cristo pelo Sacramento do Batismo. Ontem (01/11) encontrei em Curitiba o Padre Emílio Lippens, que no ano de 1962, iniciava sua vida presbiteral na Paróquia Santo Antônio em Dois Vizinhos no Paraná e me conferiu o sacramento do batismo no dia 29 de janeiro de 1963. ISSO É GRAÇA SOBRE GRAÇA!

Para completar uso o título do documento do Papa Francisco: “Louvado Sejas” pela irmã natureza. A orquídea que ganhei no dia da celebração dos meus 25 anos de ordenação me presenteia, neste 03 de novembro, com uma nova florada. Dentre todas as atividades da missão, uma delas é também “Cuidar da Casa Comum”.