sexta-feira, 24 de setembro de 2010

NOTAS PARA ESTUDO DA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE DO OESTE DE SANTA CATARINA
Campus de Joaçaba - Curso de Artes Cênicas
Componente Curricular: história da Educação
Educador: Professor Elcio Alberton


“Professor não é quem ensina, mas quem de repente aprende”. João Guimarães Rosa/ Grande Sertão: Veredas


HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO

1.                Introdução
A história da Educação e da ciência da educação encontra sua justificativa na medida em que a questão é posta sob o ponto de vista da mística e da cultura. Assim mesmo a história da educação e da ciência da educação deve ser colocada também sob a ótica sociológica.
A estrutura científica da exposição histórico pedagógica precisa contemplar tanto o contemporâneo quanto o pedagógico. E neste sentido a história da educação está impregnada da história da pedagogia na sua íntima relação com a ciência e a arte de educar.
O valor da história da educação e da ciência mantém estreita relação com os problemas que se apresentam ao longo da prática pedagógica.  A ciência sistemática da educação, além de examinar as questões pedagógicas do passado, confirma as ideias em questão e recebe preciosas indicações para detectar novos problemas e novas soluções.
Esta relação é o que se pode chamar de Filosofia da Educação, no sentido que a pedagogia histórica pressupõe pontos de vista e critérios para apreciar o que seja mais importante ao longo do tempo. Desta afirmação se pode deduzir também que as investigações histórico-pedagógica perseguem o desenvolvimento da ciência sistemática da educação.
Pensar o passado não é mera questão saudosista, nem tampouco mera curiosidade. O ontem não está morto, no sentido que nele estão as raízes do presente e é sob esta ótica que a história da educação merece ser estudada.
Para estudar história há que se levar em conta pelo menos dois modos de estudá-la. Um primeiro vista sob a ótica cronológica, linear da sucessão dos fatos, uma segunda que se pode chamar de história crítica, a qual consiste em ver os fatos na sua relação com o contexto no qual se sucederam. Como disse Eduardo Galeano: “A história é um profeta com olhar voltado para trás: pelo que foi e contra o que foi, anuncia o que será”.
Desse modo, estudar história implica em recontar mais do que os fatos, mas consiste em recontá-los à luz dos envolvimentos que cada fato se via envolto. No que se refere especificamente á história da educação é preciso ter presente que esta prática somente foi algo trabalhado de modo sistemático a partir do século XIX.
2.                A disciplina de História da Educação
Enquanto matéria a ser aprendida trata de facilitar o conhecimento dentro do âmbito da história especialmente das ideias e resultados pedagógicos, das organizações, leis e decretos que regulam a teoria e arte de educar. Quem obviamente tem a responsabilidade de empreender este caminho são as escolas e universidades.
Por outro lado os escritos pedagógicos de cada época merecem ser estudados também como complemento dos costumes educativos. Eles transpassam as fronteiras estreitas da pátria sendo influenciadas pelas diversas culturas e tempos.
As particularidades de cada tempo e cada cultura muito têm a ver com o modo de educar na própria cultura, na época e nos tempos e culturas posteriores. Assim, por exemplo, não se pode tratar da história da educação sem levar em conta a concepção cristã-católica do mundo ocidental com sua força simbólica nos dois últimos milênios da história da humanidade. Por outro lado não se pode estudar a educação no tempo sem levar em conta a história Greco-romana na relação com o saber e a ciência.

3.                Sociedades Tribais, Gregos e Romanos
Nas sociedades tribais, o aprendizado normalmente se dá e seu deu ao longo do tempo pela imitação dos gestos e atividades desenvolvidas pelos adultos. Esses por sua vez transmitiam seus saberes á descendência. Émile Durkhein, um dos principais sociólogos da educação, explica isto da seguinte maneira:

“Sob o regime tribal, a característica essencial da educação reside no fato de ser difusa e administrada indistintamente por todos os elementos do clã. Não há mestres determinados, nem inspetores especiais para a formação da juventude: esses papéis são desempenhados por todos os anciãos e pelo conjunto das gerações anteriores” (Brandão 1993 página 18).  

De modo muito claro esta é a prática das sociedades orientais monoteístas, incluindo aí o judaísmo primitivo e depois o Cristianismo. Na atualidade isso ainda acontece de modo explícito nas tribos indígenas por todos os continentes.
No Egito Antigo, o faraó, na condição de supremo sacerdote, filho do deus sol, era aquém detinha o saber e o conhecimento e estes ele passava a quem julgasse apto recebê-los. Isso implica na compreensão, se é que se pode falar de uma história da educação, que neste contexto a educação era uma reserva para poucos.
Foi com o surgimento da escrita, por volta de 4.000 A.C  que se pode dizer que os saberes ganharam o domínio público. Mesmo assim os hieróglifos, ou escrita pictográfica era restrita a pequenos grupos. Composta por cerca de 600 sinais era algo difícil de ser utilizado. Os egípcios usavam também madeira e papiro além dos escritos nas pedras, todavia, as inscrições tinham ainda o objetivo restrito de marcar e/ou identificar alguma situação ou lugar.
A popularização do saber, se é que pode se fazer essa afirmação, somente acontece mesmo com a invenção do alfabeto, ou seja, quando os sinais ganham sons que os identifiquem, isso acontece por volta de 1.500 A.C, daí que eles são reduzidos a pouco mais de 20 caracteres com pequenas variações. A cultura fenícia, que aproveitou a sua condição de bons navegadores, foi sem sombra de dúvida a principal responsável pelo avanço desse projeto.
Do mundo fenício o alfabeto fonográfico adentrou o mundo grego depois o império romano alcançando os nossos dias. Entretanto, nas civilizações orientais não se tem noticias que a educação tenha tido importância para além da compreensão dos livros sagrados e o enquadramento das pessoas nos sistemas religiosos e morais.
Desde muito cedo, por mais que a instrução fosse uma busca mais intensa, continuava estando ao alcance de umas poucas pessoas nascidas nas castas ditas superiores das sociedades.
Assim temos nos registros históricos, escolas egípcias que funcionavam juntos aos templos e em algumas casas. Neste ambiente predominava o processo de memorização – decorar – com o consequente uso dos castigos físicos. Isso não é sinônimo de dizer que a sociedade egípcia não tivesse alto nível cultural.
Os babilônicos tiveram em alta estima a casta sacerdotal a qual dominava a escrita cuneiforme cuja tarefa primordial consistia em copiar os textos religiosos. Estes detinham grandes bibliotecas e conheciam bastante bem a astrologia sem se descuidar de sabedoria prática, ao passo que os estudos científicos eram ofuscados pela prática da magia e adivinhação.
Na índia o saber também restrito ao mundo do sobrenatural e sua relação com o transcendente, tem maior importância para nossa cultura uma vez que sua religiosidade alcança os nossos tempos. A sabedoria Hindu tem sua inspiração nos livros sagrados dos quais o mais antigo é o RIG-VEDA[1]. Segundo estes os acontecimentos são manifestações das vontades dos Brahman ou essência de todas as coisas. Aí também as populações eram divididas em castas ou categorias a quem era permitido ter acesso aos distintos saberes. Da índia temos ainda os saberes budistas os quais valorizam muito a relação entre mestre e discípulo sendo ela de caráter basicamente espiritual.
A China cujo cerne cultural só recentemente foi aberto para o mundo  teve também na educação seu caráter conservador e voltado quase exclusivamente com a finalidade de transmitir a sabedoria dos livros clássicos embora refinada ao gosto dos sábios de outrora.  De grande importância nesta cultura foram os denominados livros canônicos cuja finalidade como o próprio nome indica, era mostrar um caminho. De qualquer modo há que se compreender que a finalidade da educação mantinha ainda o caráter de influenciar os comportamentos morais, sobretudo dos mais jovens seguindo sempre uma rigorosa e dogmática disciplina que tinha por base as técnicas de memorização.
O nomadismo Hebraico, cuja relato mais clássico se encontra na bíblia, não tinha outro lugar para a educação se não as sinagogas e a finalidade última da instrução era conhecer os preceitos religiosos, ou a vontade de Javé. Os documentos bíblicos, chamados manuscritos de Qunran[2], tem inestimável valor histórico no sentido que nos ajudam a compreender as raízes judaico-cristãs da nossa civilização. Dentre as ideias chaves da educação hebraica é importante destacar a importância dada ao conhecimento da lei. Basta ver o valor dos preceitos para o mundo judaico e as constantes disputas empreendidas pelos sábios na interpretação das escrituras com as posições de Jesus de Nazaré. Muitas das práticas legais de outrora continuam em plena vigência por grupos judaicos mais conservadores ainda na atualidade.
Da cultura oriental antiga passamos para o mundo grego e as primeiras civilizações europeias para onde vieram os costumes daqueles povos. Por volta do século V A.C. a região da Ásia Menor conheceu o apogeu da civilização com alta produção literária e filosófica à qual o mundo ocidental recebeu como herança.
No que concerne à política a Grécia antiga mostrou para o mundo o primeiro modelo de democracia, no sentido mesmo da palavra. Neste contexto os cidadãos se reuniam em assembleia na Polis, onde discutiam e tomavam as decisões que julgassem mais adequadas para o seu desenvolvimento. Não se pode desconsiderar o fato de ser uma democracia excludente, no sentido que dela participavam apenas os homens livres, o que significava dizer que não tinham direito as mulheres, as crianças, os jovens, os escravos feitos prisioneiros de guerra. Apenas aos cidadãos era dado o direito de viver no “ócio”, que consistia precisamente na dedicação ao estudo, à pesquisa, à filosofia, os demais deviam se ocupar do “negócio”. Este último consiste exatamente na dedicação ao trabalho. Esta constatação permite compreender que de qualquer modo a arte do saber sempre dependeu de outros que exerçam trabalhos braçais para que a primeira possa acontecer.
A Grécia antiga, embora gozasse de grande prestígio diante de todos os povos, nunca se constituiu numa nação propriamente dita. As diversas cidades estado, com grande frequência, se viam em disputas e rivalidades, em outros momentos  se uniam quando se tratava de defesa contra uma ameaça externa. Finalmente na famosa guerra entre espartanos e atenienses o imperador macedônico aproveita a fragilidade de ambas dominando-as e pouco depois estendendo seu poderio por toda a Ásia e África.
É do mundo grego que nos vem as primeiras e mais abalizadas explicações racionais dando inicio a nova forma de conhecimento não mais baseada em mitos e na religiosidade, mas agora no uso da razão. É também aí que encontramos as primeiras informações sobre um modo de aprender que tem início na infância. Surge o vocábulo PAIDÉIA, (paidós) inicialmente significando a arte de criar meninos, mais tarde o termo ganhou cidadania sendo compreendido como o conjunto de possibilidades para dominar os saberes. A Grécia pode ser considerada então o berço da pedagogia, no sentido mesmo de PAIDOGOGOS, aquele que conduz a criança.
Apesar de toda esta evolução ainda há que se compreender que a educação tinha uns poucos objetivos como também poucos destinatários. Merecem ser destacados os jovens de determinadas classes e com capacidade física para a guerra. Os cuidados com o corpo não tinham na ocasião nenhuma preocupação com a saúde ou a beleza propriamente, mas a condição de torná-los fortes e aptos para a guerra, desta condição surgiu o ideal de beleza grego.
A iniciação aos jogos que se dava sob a orientação do pedótriba, era reservada aos meninos, uma vez que as meninas permaneciam nas casas onde aprendiam os afazeres domésticos.
Até os 13 anos se dava um processo básico de educação no qual a grande maioria tinha acesso, a partir daí os mais pobres deveriam sair em busca de algum oficio, os mais abastados tinham o privilégio de continuar estudando, agora com dedicação às artes, à música, ao esporte, à geometria, astronomia e à filosofia. Com a aproximação da maioridade a educação ganha a dimensão cívica e de preparo militar.
Tudo isso não foi o bastante, aos poucos a civilização grega foi percebendo que não bastava o saber lutar, mas que as mudanças exigiam capacidade de convencimento pela palavra. Esta constatação mostra com clareza que a educação formal atendia os filhos das elites, num claro processo de exclusão, como se lê em Brandão 1993:

“As crianças devem, antes de tudo, aprender a nadar e a ler; em seguida, os pobres devem exercitar-se na agricultura ou em uma indústria qualquer, ao passo que os ricos devem se preocupar com a música e a equitação, e entregar-se à filosofia, à caça e à frequência aos ginásios” (p.40). A respeito desta concepção, Xenofonte, um historiador, poeta e filósofo militar grego, criticaria quase dois séculos depois ao afirmar: “Só os que podem criar seus filhos para não fazerem nada é que os enviam à escola; os que não podem, não enviam.” (p.40)

Com a queda das cidades estados gregos e sua incorporação pelas culturas macedônicas se dá igualmente uma junção de civilizações e o que era restrito a algumas faixas etárias ganha outras dimensões o ensino passa da Paidéia para a enciclopédico, tornando-se uma profissão. O primeiro a aparecer é o mestre em retórica, auxiliado pelos funcionários responsáveis pela organização dos documentos bem como pela realização das cópias. Com as constantes invasões e domínios estrangeiros muito desta história foi perdida e finalmente a concepção a respeito da valorização do corpo e do ideal de beleza perdeu-se completamente com o advento da cultura cristã ocidental que apresentou o corpo como empecilho para a vida espiritual, criando um dualismo não claramente compreendido até os nossos dias.
Com o advento do império romano, por volta do segundo século A.C. surge de modo definitivo o modelo urbano vigente até nossos dias (Urbs – cidade), e nela a divisão das classes constituída de Patrícios e Plebeus, estes últimos também homens livres, mas dedicados ao comércio e outros afazeres. No seu interior se encontram os chamados clientes que dependiam dos primeiros para as necessidades mais básicas constituindo-se aos poucos em braço escravo.
O poder do império romano durou até o quarto século depois de Cristo, tendo no seu interior distintas classes e privilégios. Não foram poucas as guerras e lutas internas pela disputa do poder, os escravos (prisioneiros políticos) experimentaram seu pior tempo e as mais duras labutas lhes eram confiadas. Os povos dominados eram reduzidos quase á condição de escravos devendo contribuir com altos impostos e sendo governados por súditos, algumas vezes membros do seu próprio povo, mas alinhados com o poder de Roma. Exemplo clássico são os relatos cristãos da comunidade de Jerusalém. Jesus Cristo, a rigor não foi condenado pelos Judeus, mas pelo poder de Roma, uma vez que arrebanhava seguidores entre as classes subalternas tornando-se um perigo para o regime instituído. Mais tarde com a chamada Pax Romana, o cristianismo se torna a religião oficial do estado e enquanto este dá sinais visíveis de desmantelamento da máquina burocrática a Igreja aparece como elemento de unidade e de certo modo sustentação do regime.
A pedagogia Romana tem alguns traços comuns com o mundo grego no sentido que também aqui o trabalho manual é desvalorizado enquanto o intelectual se constitui num privilégio da aristocracia que pode desfrutar do ócio. Por sua vez os educadores buscam formar o homem racional, porém, não ao modelo da filosofia grega. Enquanto lá a vertente filosófica conduzia à reflexão e ao questionamento aqui ela ganha uma conotação mais moralista, pragmática, voltada para o cotidiano prevalecendo a retórica sobre a filosofia propriamente dita. O Império Romano prima pela unidade política e união dos vários povos enquanto a Grécia se constituiu sempre nas chamadas cidades estados. Desta concepção surge o conceito de humanidade em equivalência à Paidéia, porém esta muito mais universal no sentido que não se restringe precisamente à educação, mas a formação do homem virtuoso. Aos poucos este ideal restringiu-se ao estudo das letras descuidando-se da ciência como tal.

4.     Do Cristianismo primitivo à Idade Média
A antiguidade cristã deu poucas e escassas contribuições para a história da educação, entretanto elas são preciosas para o desenvolvimento posterior. A história da educação na idade média pode ser  entendida a partir da sua excessiva preocupação com as questões ético religiosas. Toda a questão do conhecimento experimentou uma clara subordinação do mundo terreno ao sobrenatural, submissão moral dos seres humanos o claro contraste entre pobres e ricos, escravos e senhores, judeus, gregos e bárbaros parecia estar envolto na superior vontade de Cristo, isto é que todos fossem irmãos.
A clássica expressão de Santo Agostinho:

“Dois amores construíram duas cidades: o amor de si levado até o desprezo de Deus edificou a cidade terrestre, civitas terrena; o amor de Deus levado até o desprezo de si próprio ergue a cidade celeste; uma rende glória a si, a outra ao Senhor; uma busca uma glória vinda dos homens; para a outra, Deus, testemunha da consciência é a maior glória”

Manifesta a convicção que os cristãos tinham da importância da doutrina e do domínio cultural e intelectual da Igreja em florescimento crescente ao lado do império decadente. Os mosteiros se mantiveram e garantiram para a história um legado educacional com abundante fundamentação política, jurídica, moral, social e até econômica. Neste particular vale a leitura do Best seller da atualidade: “A sabedoria dos monges na arte de liderar pessoas”.
Do ponto de vista restrito da pedagogia há que se considerar que os monges, chamados copistas, ao enriquecer as bibliotecas com abundantes traduções de textos da literatura grega, também adaptaram o pensamento à concepção cristã da vida tendo como ponto de partida a autoridade divina à qual se aceita a partir da fé.
Os chamados padres da Igreja dedicaram toda a sua obra à defesa da fé com o expresso intuito de harmonizá-la com a razão de modo a compreender a natureza de Deus, da alma e dos valores morais. Na sequencia destes temos os chamados enciclopedistas cuja função foi estabelecer parâmetros de interpretação das verdades à luz da fé. Toda a influência da Igreja culmina com a Escolástica, modelo de escola na qual se ensina a filosofia e o homem é apresentado na condição de criatura divina, de passagem por esta terra cuja preocupação primeira será a salvação da alma incumbência que melhor seria desenvolvida com a ajuda dos mestres da Igreja. Desde o conceito que todo o saber tem uma dependência intrínseca da fé, a filosofia é chamada de serva da teologia.
Dentre os expoentes do período não se pode deixar de nominar também Santo Tomás de Aquino para quem Deus é o divino ordenador do mundo.

Da eternidade e necessidade do pensamento divino deriva a eternidade e necessidade do mundo e de tudo o que existe sobre a terra. Por isso, conhecer a ordem do todo é conhecer a ordem da parte e conhecer a ordem da parte é conhecer a ordem do todo, e sobretudo há conhecimento possível independente de Deus, é possível a verdade fora da revelação. Tudo é capaz de ser conhecido pelo homem, desde que tenha método, porque tudo está formatado na mesma chave racional, tudo tem um sentido holístico, nada sobra e nada é por acaso, assim como tudo tem uma finalidade predeterminada e não pode ser utilizada de qualquer maneira. Dirá Tomás de Aquino (1225-1274): Todo agente tem alguma intenção ou desejo de finalidade. E a todo desejo de finalidade precede algum conhecimento, que coloque diante de si a finalidade e dirija os meios ao fim. Assim como a flecha tende ao alvo pela direção que lhe imprime quem a lança, assim é o caso de todos os seres que obram por necessidade natural: sua operação está determinada pelo entendimento criador da natureza; por isso diz o filósofo (2 Phys. Text 75) que a obra da natureza é uma obra da inteligência. (Tomás de Aquino, Comentários às Sentenças de Pedro Lombardo. Distinção XXXV Questão 1 art 1.)

Somente no final da idade média  com o advento do iluminismo a hegemonia da Igreja fica ameaçada e o gosto pela razão se torna evidente. As universidades que haviam surgido como simples assembleias corporativas ganham credibilidade entre os intelectuais iluministas de quem partem críticas contundentes ao modo de ensinar aplicado pela escolástica. A chamada corrente pedagógica realista exerce forte influência sobre a filosofia aristotélico tomista. Além do método recebia crítica também a prática de ensinar tendo como língua oficial o Latim sobre o que diziam alguns estudiosos: “é preferível que os alunos aprendam a falar bem a sua língua antes de aprender muitas coisas em outro idioma”. Conceito que vai aparecer muito mais claro com a reforma luterana.
Na medida em que a Universidade ganha status de espaço da ciência e da cultura cresce também a complexidade estrutural e institucional. A primeira que se tem notícia está situada na região de Salerno, sul da Itália cuja fundação antecede o século X e nela é oferecido o curso de medicina, por volta do século XII temos a primeira universidade de teologia em Paris e depois a de Direito em Bolonha. Aos poucos estas instituições vão se pulverizando e o seu controle passa a ser disputado pelos reis e pela Igreja.
Nem precisa dizer que ainda neste período, por mais que a educação estivesse em ampla ascensão e expansão continuava restrita às classes dominantes e com objetivo de reforçar a posição de uns sobre outros. Mesmo com a mudança sofrida por conta da reforma religiosa a educação continua tendo clara distinção entre a que era oferecida às camadas trabalhadoras a quem era dada oportunidade de acesso a educação elementar e a que era disponibilizada para as classes mais abastadas. Nos escritos luteranos não faltam constatações a este respeito e se nos detivéssemos nas correntes pedagógicas de outrora poderíamos constatar essa realidade em toda a sua extensão. Basta citar aqui Comenius e a sua Didática Magna e depois em Arte de ensinar tudo a todos totalmente.
Em resposta ao protestantismo a Igreja Católica incentiva a criação de ordens religiosas dedicadas ao ensino, de onde temos os Jesuítas responsáveis primeiros pela educação no Brasil, cujo estudo será nossa meta nos próximos encontros.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. História da Educação. São Paulo, moderna, 1996.
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é educação. São Paulo: Brasiliense, Coleção Primeiros Passos, 28o ed., 1993.
MANACORDA, Mario Alighiero. História da Educação. São Paulo, Cortez, 2002.
SARTO, Luiz Sanches, Dicionário de Pedagogia. Rio de Janeiro, labor, 1936.


[1] Livro dos Hinos, é o Primeiro Veda e é, com certeza, o mais importante veda, pois todos os outros derivaram dele. Rig Veda é o Veda mais antigo e, ao mesmo tempo, o documento mais antigo da literatura hindu, composto de hinos, rituais e oferendas às divindades. Possui 1.028 hinos, sendo que a maioria se refere a oferendas de sacrifícios, algumas sem relação com o culto. Independentemente do valor interno, o Primeiro Veda é valiosíssimo pela sua antiguidade
[2] Khirbet Qumran, “ruína da mancha cinzenta”, é um sítio arqueológico localizado a uma milha da margem noroeste do Mar Morto, a 12 km de Jericó e a cerca de 22 quilômetros a leste de Jerusalém, em Israel.

domingo, 19 de setembro de 2010

EDUCAÇÃO E MULTIMEIOS

                UNIVERSIDADE DO OESTE DE SANTA CATARINA
Campus de Joaçaba - Curso de Pedagogia
Componente Curricular: Educação e Multimeios
Educador: Professor Elcio Alberton



TECNOLOGIA E INOVAÇÃO

As civilizações já experimentaram uma série de mudanças que podem ser qualificadas como transformações as quais implicaram em quebra de paradigmas. Vivemos numa época de complexas mudanças nas relações pessoais e interpessoais que impõe todo um novo jeito de pensar e fazer  a educação.
O surgimento da escrita foi o veículo de acesso ao conhecimento para os excluídos dos grandes centros de conhecimento e de informação. Na atualidade a virtualização está se tornando a alternativa para o acesso de pessoas à educação formal e informal. Feita esta constatação fica evidente que um processo educativo que pretenda ser aceito, assimilado e compreendido pela sociedade está desafiado a entrar no mundo da tecnologia. Mesmo que muitas vezes os recursos físicos de que se disponha possam parecer desproporcionais como uma bicicleta predisposta numa pista de aeroporto.
A assimilação destes conceitos sócio tecnológicos no processo ensino aprendizagem demandam novas formas de conceituar a educação como também os mecanismos dos processos decisórios nas instituições. Há que se compreender primeiro que o modelo de escola e de educação, sobre o qual já foi falado, que vive a dicotomia do velho e do novo, se defronta com os novos estilos de aprendizagem.
Os alunos de hoje podem ser chamados de filhos digitais, estes querem acesso ao aprendizado de modo ativo por meio das redes sociais. Querem gerar conhecimentos e não apenas absorver informações. Por sua vez corre-se o risco de apresentar fragmentos de informação, perdidos pelo mundo virtual enquanto isso será uma desestabilização para os professores habituados à compilação organizada por volumes e selecionada na biblioteca. As instituições e os próprios docentes precisam se adaptar urgentemente a estes novos estilos fazendo um meio termo entre o tradicional e o virtual.
Isto exige de todos os envolvidos no processo um novo estilo de liderança. Nossas escolas se apresentam hoje com alguns desafios como nunca vistos antes  os quais podem ser selecionados em três tópicos:
1)           Crescente número de alunos ativos no mundo virtual;
2)           Crescente número de professores dispostos a mudar sua prática para acomodar esta nova demanda;
3)           Concorrência inédita entre as instituições em todos os níveis, sobretudo no nível superior.
As novas realidades econômicas, sociais, tecnológicas mudam com a mesma rapidez que se alteram os processos de informatização. Ao clicar de uma tecla o mundo globalizado está ao seu alcance. De modo que será necessário abrir-se para algumas condições sem as quais não acontecerá  verdadeira transformação.
Parece possível apontar pelo menos 12 critérios indispensáveis quando se trata de adaptação às exigências da era digital.
1)           Escolhas – de acordo com a missão e visão da instituição trata-se de fazer escolhas tecnológicas institucionais. Não basta o desejo de uns e outros isoladamente.
2)           Comprometimento – isso implica alocação de recursos humanos e materiais. É uma decisão política.
3)           Coragem – manifestada e assumida primeiramente pela alta liderança. Posição clara das disposições institucionais.
4)           Comunicação – condição sem a qual não se cria um clima de confiança e credibilidade. Esta realidade será capaz de envolver toda a comunidade escolar no processo transformador.
5)           Cooperação – articulação clara dos objetivos de ensino-aprendizagem.
6)           Comunidade – coesão comunitária entre professores, administrativos, mantenedores, alunos.
7)           Currículo – redefinição que seja capaz de fazer refletir a nova natureza da instituição inclusive apontando para as novas formas de avaliação.
8)           Consistência – ajuste no discurso institucional que aponte para o comprometimento e padronização das questões tecnológicas.
9)           Competências – uso inteligente das distintas competências no sentido que os alunos se sintam apoiados nos seus resultados e realizações.
10)         Complexidade-confusão – superação da confusão inicial. As formas de gerenciamento arcaicas precisam ser suplantadas mediante um processo de assimilação deste novo conceito.
11)         Cultura-contexto – Compreensão desta nova cultura educacional que emana das exigências digitais.
12)         Criatividade – naturalmente esse processo é muito mais do que administrativo e político. Ele exige uma dose alta de criatividade no que se refere ao uso dos recursos que vão se atualizando pela novidade digital.
De uma coisa é certa a educação já superou muitas pressões externa ao longo do processo e bastante vezes não precisou mudar suas práticas tradicionais. Agora isso não será mais possível. A era da digitalidade exige uma renovação completa das estruturas, já não basta mais reformas paliativas e superficiais. A primeira renovação será das próprias lideranças e do modo de gerenciar e se envolver. Os cargos chefes de administração requerem cuidados especiais de escolha. A era digital não acontecerá com sucesso no meio de um vazio de liderança.
A adaptação a esta nova cultura, como já está explícito acima, irá aos poucos criando a cultura da tecnologia digital da informação e da comunicação. Dentro deste contexto as organizações vão disseminando conhecimentos e utilizando as informações como espécie de mola propulsora de novas formas que vão otimizando todo o desempenho organizacional e obviamente capaz de proporcionar um melhor desempenho pessoal.
Na base de tudo isso está o que se chama de desenvolvimento científico e tecnológico criador do dinamismo das sociedades modernas. Daí que fica impossível não compreender que a organização deste novo jeito de ser e de fazer educação é um processo de compartilhamento de informação entre todos os membros dentro e fora da instituição.
No processo tecnológico em referência não se pode diferenciar educação a distância de educação presencial, nos dois casos o propósito é o mesmo e precisa estar vinculado ao contexto histórico no qual o processo se desenrola. A adoção de qualquer tecnologia terá sempre como finalidade a integração social e a criação de um conhecimento compartilhado. Na medida em que o processo vai sendo desenvolvido, os promotores poderão perceber a importância e o alcance do projeto de acordo com o número dos seus usuários.
Claro está que a adoção de um ambiente virtual de aprendizagem permite uma interação maior entre alunos e professores, porém a forma de interagir de uns e outros é sempre distinta e precisa ser levada em consideração, pois como ambos apresentam motivações diferente podem surgir igualmente visões diferentes. Tais visões podem ser distorcidas na trajetória adotada e no processo de digitalização comprometendo o interesse inicial que se supõe seja sempre a criação de comunidades virtuais em vista do desenvolvimento da aprendizagem.
Ninguém ousa duvidar que as tecnologias exerçam influência, sobretudo naquilo que se ensina e se aprende, bem como no processo de interação e elaboração de matérias didáticos e sua consequente disponibilização. Por mais que tudo isso seja relativamente recente é possível separar em duas fases muito distintas e com resultados totalmente diferenciados.
Pode-se dizer que as tecnologias aplicadas à educação começaram a se consolidar como ferramentas  de suporte com o advento dos computadores pessoais. Por enquanto ainda no âmbito dos recursos físicos que aos poucos foram incorporando condições e softwares educativos com recursos de multimídia e consequentemente com materiais digitais.
Nesta fase pesquisadores e educadores ainda faziam um sem número de questionamentos sobre o alcance e eficácia dos materiais produzidos eletronicamente e dos desafios por eles apresentados. O recurso de multimídia foi se mostrando aos poucos e sem possibilidade de volta um caminho de integração entre codificador e decodificador. Esta realidade se encaminhou para o que se pode chamar de novo design instrucional e basicamente autoinstrucional, dado que os materiais ainda eram produzidos pra uso individual.
A segunda metade dos anos 90 foi marcada pelo surgimento da rede mundial de computadores a qual se tornou a mediadora absoluta da comunicação entre as pessoas. Nesta condição as tecnologias educacionais ganharam novos ingredientes marcados pela interação coletiva. Merece destaque aqui a comunicação por emails e salas de bate-papo, aparecem os fóruns e listas de discussão que naturalmente promoveram uma significativa aplicação de novas tecnologias. A internet mais do que criar estabeleceu novos padrões de comunicação com a novidade comunicacional instantânea por meio do chamado correio eletrônico o qual potencializou a interação e os relacionamentos comunicacionais e de aprendizado.
Como se não bastasse ampliar as possibilidades de comunicação a internet também facilitou e agilizou a distribuição e o acesso de materiais didáticos por meio das páginas da WEB. O que antes ainda dependia de recursos físicos ganharam agora a flexibilidade de produção de atualização e de acesso a custos relativamente reduzidos. Consolida-se o padrão HTML (hipertext markup language) para a produção de textos e o FTP (file transfer protocol) para a transferência de arquivos. Nisto reside a base da construção educacional tecnológica.
Os AVA (ambientes virtuais de aprendizagem) aparecem como sistemas destinados à realização de atividades educacionais virtuais e se constituem em ferramentas  de comunicação, de informação e de interação jamais vistos pela escola. O problema no que se refere a estes ambientes se apresenta na medida em que as finalidades deles não abraçaram todas as dimensões de sua funcionalidade (comunicação, conteúdo, avaliação e gerenciamento).
Enquanto comunicação precisa se realizar o processo de idas e vindas entre professores e alunos, sob o ponto de vista de conteúdo devem estar acessíveis os materiais e outros recursos digitais de apropriação de material didático. No que tange a avaliação há de ficar clara aplicação de instrumentos avaliativos muito superiores a provas e trabalhos previamente determinados. Enquanto a avaliação deverá se constituir num processo de produção do conhecimento.  Sob a forma de gerenciamento a comunidade escolar terá acesso á vida acadêmica e financeira do aluno.
Desde que estes recursos passaram a ser adotados junto com o advento da internet eles não pararam de evoluir com a inclusão de novos navegadores e a incorporação de recursos de multimídia com animação vetorial, os conhecidos flash de animação de grande apelo visual. Claro que tudo isso exige criatividade no exercício da tutoria e no uso dos recursos disponíveis sejam eles de hardwares ou de softwares.
De qualquer modo há que se ter presente que as tecnologias continuarão a ser apenas ferramentas colocadas a disposição dos educadores e educandos. Em momento nenhum e sob nenhuma hipótese sua função será de substituir ou cumprir o papel do professor com suas boas práticas, pelo contrário, as boas práticas que ainda não estavam no plano da virtualidade vão sendo aos poucos integradas a este modelo de ser escola, educador, professor.
As tecnologias, a rigor, somente serão bem aplicadas se houver um grupo de bons professores que se coloquem com toda a intensidade e convicção como mediadores da aprendizagem e facilitadores da interação e do compartilhamento de saberes.
Os desafios e as mudanças estão no foco das discussões na atualidade, ninguém duvida que toda a complexa teia de transformações pelas quais passa a sociedade da informação gera um processo de instabilidade sem, contudo, deixar de ser um momento propício para a inovação. A realidade digital desinstala, tira a educação da chamada zona de conforto e empurra os envolvidos no processo para terrenos movediços e caracterizados por incertezas e turbulências decorrentes das mudanças que se dão em velocidade atordoante.
Sem sombra de dúvida as antigas práticas fundamentadas em teorias tradicionais se mostram insuficientes frente á complexidade e a dinâmica das redes eletrônicas de troca e construção de saberes. No âmbito dos processos de aprendizagem nos deparamos com novos sujeitos, ou melhor, novas definições para os sujeitos participantes da criação desta nova era na educação. Assim podemos agrupas as pessoas neste contexto em duas categorias, e porque não dizer três:
1)           Nativos digitais – aplicável aos que já nasceram neste ambiente tecnologizado, dinâmico, rico em possibilidades de informação e comunicação. Estes tem um jeito todo particular de ser e fazer relacionamentos vivem no que se pode qualificar de “cultura da virtualidade real”.
2)           Imigrantes digitais – são todos os que vivem a situação desconfortável diante da invasão tecnológica. Estes são obrigados a conviver com as tecnologias digitais como estranhos no ninho. Nem precisa justificar o desconforto diante das dificuldades de acesso e de domínio dos recursos. Os imigrantes digitais continuam falando um idioma analógico.
3)           Analfabetos digitais são os que se qualificam “professauros” e que ainda não conseguem vencer um determinado conteúdo senão dentro do tempo e com o uso do quadro de giz com um plano altamente estruturado e o estabelecimento de notas e materiais organizados numa tal sequência linear impossível de continuar sem um esquema previamente elaborado. Para estes o único modo de avaliar e perceber o desenvolvimento do aluno são as provas e exercícios de fixação.
Certo é que as tecnologias digitais são de tal modo imprescindíveis como propulsoras de transformações sociais e de novas formas de pensamento sobre as quais se pode afirmar que: a tecnologia determina a sociedade. Nem a sociedade escreve o curso da transformação tecnológica. O resultado final depende de um complexo padrão interativo. A tecnologia é a sociedade, e a sociedade não pode ser entendida ou representada sem suas ferramentas tecnológicas.
Neste sentido o que caracteriza a atual revolução tecnológica não é a centralidade de informações e conhecimentos, mas sim a aplicação desses para a geração de novos saberes que se configure num processo de realimentação e integração crescentes que fatalmente alteram toda a vida e todas as dimensões da educação.
A tecnologia digital fez com que a sociedade desse um salto na compreensão da sua função e dos seus afazeres. Neste período a sociedade passou do que se pode chamar de centralidade do trabalho para a centralidade da educação. Para dar conta desta mudança reaparece com toda a força a necessidade da criatividade capaz de romper com os velhos paradigmas, que bem compreendido consiste na superaração de  tudo o que se tinha como modelo padrão.
A diminuição de distâncias e de tempos provocada pelas tecnologias digitais exige uma visão sistêmica, complexa e transdisciplinar dos fenômenos. É isso o que se chama de paradigma da complexidade que requer uma forma de pensar multidimensional e dialógica. O educador da era da complexidade precisa aprender a dar respostas em diferentes domínios do conhecimento humano em espaços de tempo equiparados á velocidade da luz.
É aí que o sujeito alcança o nível piagetiano de construção do saber sobre o objeto do conhecimento em um processo que se relaciona com a totalidade das estruturas. A aprendizagem que, em geral, é provocada por fatores externos, se desenvolve como um processo essencial para o desenvolvimento total também internamente ao indivíduo. Isso é o mesmo que dizer que o sujeito tem parte ativa tanto na produção como na assimilação dos saberes. Piaget, não sem razão já se opunha a um tipo de saber impessoal, no sentido que ele não existe fora das pessoas e da relação com elas.
Mais do que nunca a aplicação de tecnologias na educação deve facilitar a ação e transformação dos saberes pelo sujeito que se relaciona com eles.  É aí que  se faz compreensível a chamada teoria do equilíbrio e que tem nos desequilíbrios a fonte para o progresso e para novas direções. O segredo reside então no equilíbrio das diferenças e das integrações.
Inovar supõe rupturas paradigmáticas e não apenas introdução de novidades tecnológicas. Ela só existira mesmo na medida em que for produto de uma ação humana sobre o ambiente ou meio social em que vive.
É claro já a diferenciação entre informação e conhecimento, utilizar os dois como sinônimos é mais uma farsa conceitual uma vez que o conhecimento será sempre resultado de uma produção enquanto a informação não passa de uma transmissão de conhecimento. Talvez se possa dizer que a informação se assemelhe à gestão do conhecimento, no sentido que a sua não transmissão deixa de tornar conhecido e aplicável um determinado saber produzido.
Isto se pode dizer na medida em que os saberes não adentram no mundo digital eles não estão ainda existindo, haja vista a velocidade das transformações  que esta condição exige. A era digital é o que se pode chamar de sistematização de saberes e construção vinculada a um viver e conviver em distintos contextos e momentos históricos e sociais. Certo é que para quem apenas acessa o saber transmitido este significa não mais que informação.
As tecnologias digitais por si só não podem ser consideradas inovação no sentido de extensoras da mente humana. Elas representarão possibilidades efetivas para o surgimento de saberes e compreensões na medida em que alterem a relação com o tempo, espaço, presença, informação, interação, conhecimento e obviamente sejam provocadoras  de desequilíbrios e de ressignificação dos sujeitos.
As tecnologias digitais são eficazes desde o momento em que por meio delas as organizações deixem de ser vistas como máquinas para serem compreendidas como sistemas vivos nos quais as pessoas são o seu centro e se caracterizam por uma flexibilidade própria com potencial criativo e capacidade de aprendizado. Certamente não são as tecnologias que determinam a inovação, se assim fosse elas não passariam de uma obrigação ferramental que mataria toda a criatividade e o empreendedorismo.
Pior ainda acontece quando uma determinada tecnologia é usada como gestora do conhecimento à qual os sujeitos não tem alternativa se não a elas se adaptar  deixando assim de atender as necessidades do usuário para transformá-lo em usuário das necessidades. No que concerne à prática escolar será preciso ter claro que é importante fugir da globalização e massificação de produtos tecnológicos desenvolvidos e vendidos como se neles estivessem contidas as soluções e inovações que a educação estivesse precisando.  A aquisição de tecnologias prontas são soluções imaginarias pra problemas reais inexistentes.
O conceito positivo de tecnologia digital aplicado a educação se amplia e se justifica no momento em que soluções inovadoras, flexíveis e criativas estiverem ao alcance das pessoas que serão os gestores do pensamento e da relação com o mundo. Transformar a informação em conhecimento é o desafio, a palavra chave para a aplicação de toda e qualquer tecnologia digital na educação no sentido que o aluno passe por um processo de contínuo aprendizado e crescimento humano e intelectual.

Referência Bibliográfica
GOMES, Péricles Varela & MENDES, Ana Maria Coelho Pereira. Tecnologia e inovação na educação universitária: O matice da PUCPR. Curitiba, Champagnat, 2006.





DEMOCRACIA E EDUCAÇÃO

POLICIDADANIA:  O INDIVÍDUO E O MUNDO

Elcio Alberton, considerações sobre Democracia e educação. Nenhuma citação destes comentários fazem referência a qualquer prática educacional da atualidade. São apenas conjecturas em uma hipotética sociedade. Quem quiser entender, entenda...

Na obra Democracia e educação: Capítulos essenciais, o autor Marcus Vinicius da Cunha comenta alguns capítulos da obra de DEWEY: Democracia e educação, na qual o autor “traz uma profunda reflexão sobre o cerne do problema da escola contemporânea: a inexistência de uma sociedade verdadeiramente democrática” (CUNHA 2007, p.8).
Nesta direção se apresenta a preocupação que levantamos em nosso projeto de ingresso no programa de mestrado segundo o qual denominamos Policidadã uma sociedade em que todos os membros pudessem gozar de plena vivência democrática.  Democracia plena e não restritiva, segundo o que trabalhamos no projeto em referência implica também na realização das mais profundas aspirações humanas, inclusive a vivência da espiritualidade, denominada por nós com o vocábulo “Mistagogia[1]”.
Nossa leitura da obra de CUNHA teve a perspectiva da nossa linha de pesquisa, razão pela qual nos concentramos no terceiro capítulo, tendo também lido o original na obra do próprio DEWEY o capítulo XXII no qual o autor faz duras críticas às relações sociais da Idade Média período em que o indivíduo vivia numa total separação entre os espíritos individuais e o mundo como uma sociedade de interesse coletivo.
Sob a égide da Escolástica que impunha um modo de aceitar a razão como serva da Fé e a única capacidade de possuir o saber ser restringia a aceitação dos dogmas católicos, DEWEY faz uma séria crítica à condição vivida pelos cidadãos de outrora. Em Democracia e Educação se lê:

“O ato de pensar começa pela dúvida ou incerteza. Ele representa uma atitude indagadora, buscadora, investigadora, em vez de o ser de domínio e posse. Mediante seu processo crítico o verdadeiro pensamento é revisto e ampliado, e são reorganizadas nossas convicções sobre determinados estados de coisas”. (DEWEY 1936, p. 364).
A afirmação do autor é uma crítica à condição na qual o homem recebia todo o conhecimento estando totalmente submisso às forças sobrenaturais e às instituições que as representassem, neste caso a Igreja Católica. Havia uma clara separação entre o que era material, corporal, físico e o que era espiritual. No campo estrito da espiritualidade a pregação católica era convicta de que ao sujeito restava uma atitude: “Salva Tua Alma”.
Esta forma de conceber a relação dualística Alma/corpo se tornava um impeditivo para a compreensão da busca pela verdade que necessariamente começa com a dúvida e a incerteza.
Conviver  com os outros implica sair do individualismo e caminhar para  uma nova forma de relação que DEWEY qualifica com a sentença: “Uma sociedade democrática deve, em sua referencia na educação e coerente com seu ideal, permitir a liberdade intelectual e a manifestação das várias aptidões e interesses” (DEWEY 1936 p.376).
 É neste sentido que, também nós, apontamos como indispensável na formação de professores para o século XXI ser levado em conta a questão da mistagogia, posto que novamente as grandes linhas da espiritualidade contemporânea, ligadas às diversas religiões, inclusive não cristãs, acentuam novamente um relação vertical e totalmente particular com o transcendente sendo expressão clara da falta de compreensão do que seja uma vivência policidadã e plenamente democrática.
Não podemos fingir que, ontem como hoje, pode ser aplicado à escola a intrigada preocupação do autor: “Basta dizer que, em geral, a escola foi a instituição que patenteou com maior clareza o antagonismo que se presumia existir entre os métodos de ensino puramente individualistas e a atividade social, e entre a liberdade e a disciplina social”. (DEWEY 1936, p 371)
Daí que o professor mistagogo será, mais facilmente, capaz de superar a mera condição de transmissor de verdades e saberes prontos e acabados, que na obra Democracia e Educação aparece com a compreensão que ensinar não pode ser resumido a fazer com que “alguém se familiariza com a matéria já conhecida por outro...” quando isso acontece “tanto o ensinar como o aprender tendem a tornar-se coisas convencionais e mecânicas, aptas a ocasionar fadiga nervosa para o docente e o discípulo”. (DEWEI 1936,p.374).


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CUNHA, Marcos Vinicius da. Democracia e Educação: capítulos essenciais. São Paulo, Ática, 2007.
DEWEY, John. Democracia e educação. São Paulo, Companhia Editora Nacional, 1936.



[1] O termo mistagogia tem sua origem em dois vocábulos gregos: mystes, que significa mistério, e agein, que significa conduzir.