JESUS O
FILHO AMADO DO PAI!
A confissão de Pedro diante da
casa de Cornélio é clara: Deus não faz distinção de pessoas, mas acolhe quem o respeita
e pratica a justiça, em qualquer nação. A liturgia contempla a boa-nova da paz
por meio de Jesus Cristo — Ele é o Senhor de todos —, cuja história começa na
Galileia, após o batismo pregado por João. Ungido por Deus com o Espírito Santo
e com poder, Ele passou fazendo o bem e curando todos os oprimidos pelo diabo,
porque Deus estava com Ele. A Igreja encontra nesse texto a raiz da sua missão:
não fazer distinção, mas abrir-se a todos; não ideologia, mas unção; não
triunfalismo, mas serviço que cura. A palavra do Apóstolo registra que o
Evangelho é evento: um Deus próximo, um Cristo ungido, um povo enviado, para
que a paz alcance casas, ruas e ultrapasse fronteiras.
No Evangelho a comunidade contempla o Senhor que se aproxima do
Jordão e, na fila dos pecadores, pede a João o batismo. O Justo se solidariza
com os injustos; o Santo desce às águas dos que buscam conversão; a
conformidade do Filho realiza “toda justiça”. Ao sair da água, os céus se
abrem, o Espírito desce como pomba sobre Ele, e a voz do Pai declara: “Este é o
meu Filho amado, em quem tenho a minha alegria.” A liturgia confirma aqui a
epifania trinitária que inaugura publicamente a missão de Jesus e traça a
fisionomia da Igreja: povo que vive a partir do céu aberto, caminha sob a unção
do Espírito e escuta, acima de todas as vozes, a voz do Pai. O batismo do
Senhor revela que a salvação nasce da humildade que desce para erguer, e da
obediência que escuta para servir.
Entre a proclamação de Pedro e a manifestação no Jordão, a
homilia aponta a vocação batismal da comunidade. Pelo batismo, cada fiel é
mergulhado no Cristo e ungido pelo mesmo Espírito, para participar de sua
missão de “passar fazendo o bem”: reconciliações que se iniciam, feridas que se
tratam, injustiças que se enfrentam, pequenos que se levantam. A Igreja aprende
a descer às águas das dores do povo sem medo de se molhar: presença junto aos
pobres, proximidade aos enfermos, acolhida aos que chegam, escuta aos que não
têm voz. Céus abertos significam esperança ativa; Espírito que significa
docilidade que discerne; voz do Pai significa identidade recebida, não
fabricada. Assim, a comunidade renova o compromisso de ser sinal de paz sem
fronteiras e de justiça que não discrimina, deixando-se conduzir pela unção que
cura e liberta.
Por fim, a assembleia suplica a
graça de viver sob o selo da Palavra: “Tu és meu Filho amado.” Que cada
batizado, lembrando sua pia batismal, reencontre a alegria da filiação e a
coragem do serviço; que os ministérios se exercitem com humildade e ardor; que
a missão atravesse as periferias geográficas e existenciais. Inspirada pelo
testemunho de Pedro e guiada pelo gesto de Jesus, a Igreja pede céus
continuamente abertos sobre a cidade: políticas que promovam vida e dignidade,
relações pacificadas, trabalho justo, cuidado da criação. E que, nutrida pela
Eucaristia, ela saia como Jesus da margem do Jordão para o cotidiano do mundo,
levando a unção do Espírito, fazendo o bem, curando os oprimidos, para que
muitos escutem, em seu próprio coração, a voz do Pai que chama à paz e à vida
nova.
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