CAMINHAR
COM OS MAGOS
POR
ESTRADAS MAIS SEGURAS
Na primeira leitura Isaias
descreve a cidade vestida de luz que se ergue ao amanhecer de Deus:
“Levanta-te, resplandece, porque chegou a tua luz”. Ao mesmo que as trevas
cobrem a terra e a escuridão dos povos, o Senhor desponta sobre os seus com
glória que atrai os distantes. Filhos e filhas chegam de longe, corações se
dilatam, caravanas atravessam os desertos trazendo ouro e incenso, proclamando
os louvores do Senhor. Essa visão não é fuga poética, mas convocação:
levantar-se é ato de fé, resplandecer é decisão cotidiana. A comunidade é
chamada a começar o ano novo sob este imperativo pascal do Advento cumprido no
Natal: erguer-se de quedas, reacender a esperança, abrir as portas para acolher
e compartilhar. Onde a luz de Deus é acolhida, o medo perde o domínio e a
coragem renasce como serviço, paciência e constância no bem.
No Evangelho a comunidade segue o caminho dos magos, buscadores
de Deus que leem os sinais do céu e se põem a caminho, apesar das incertezas e
dos Herodes que tentam manipular o sentido. A estrela não elimina a noite, mas
orienta passos; Jerusalém oferece caminhos que esclarecem a direção; Belém, a
pequena, guarda o Rei grande. Ao verem de novo a estrela, os magos experimentam
“imensa alegria”; ao entrar em casa, prostram-se e ao abrirem seus cofres,
oferecem o que tem de mais precioso. Na peregrinação ao encontro do Senhor
aprendem na escola da coragem: discernem sem engenhosidade, caminham sem paralisar,
adoram sem reservas, oferecem sem cálculo. E, avisados em sonho, retornam por
outro caminho: a fé que adora gera criatividade e prudência, livrando o ciclo
da violência e do medo.
Entre a profecia da luz e a peregrinação dos magos, cada cristão
é convidado a renovar a coragem para todos os dias do ano que começa. Coragem
não é medo; é docilidade à estrela, fidelidade à Palavra e prontidão para mudar
de rota quando Deus indicar. A comunidade é chamada a praticar a coragem mansa
que sustenta as pequenas fidelidades: retomar a oração quando tudo distrair,
recomeçar a reconciliação quando as feridas latejam, insistir na honestidade
quando a tentação da vantagem se apresenta, cuidar dos frágeis quando o cansaço
pesa. É coragem para buscar conselhos sábios, para dizer “não” ao que
obscurece, para caminhar em comunhão e não à solitária maneira dos próprios
caprichos. Como Isaías, a Igreja proclama: levante-se; como os magos, a Igreja
se levanta e parte; e como Maria e José, acolhe e guarda o Mistério que dá
sentido aos passos.
Por fim, a assembleia suplica que
a estrela do Evangelho não se apague diante das contradições do tempo, e que a
luz do Senhor cubra os dias do ano novo com discernimento e paz. Que cada família,
como casa de Belém, ofereça espaço ao Menino: silêncio, ternura, partilha; e
que cada fiel traga seu “ouro, incenso e mirra”: o melhor do trabalho, a oração
que sobe, as dores entregues para serem redimidas. Inspirada pelos magos, a
comunidade aprende a voltar por “outro caminho”: linguagem reconciliada,
escolhas éticas, proximidade com os pobres, cuidado da criação, fraternidade no
cotidiano. Assim, a profecia de Isaías se cumpre no hoje: povos atraídos pela
luz, corações dilatados pela alegria, louvores que se elevam em gesto e verdade.
E a Igreja, começando o ano, caminha com coragem esperançosa, guiada pela
estrela do Cristo, até que todos vejam sua glória.
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