A
LÓGICA DE DEUS
Se tem
uma coisa que estamos acostumados são disputas familiares entre os irmãos com
argumentos do tipo: “Ele é um rapa de tacho... A mãe gosta dele e não gosta de
mim... O pai tem seu filho preferido...” Quer ver quando é filho único a
especialidade dele é jogar o pai contra a mãe
e vice-versa, sempre com argumentos de preferência em relação a todas as
suas vontades. Na verdade, salvo raras exceções, os pais sempre tratam os
filhos com justiça e equidade, não necessariamente com igualdade, mas cuidam
deles segundo as suas necessidades.
Dito isto
é muito fácil compreender a Palavra de Deus deste domingo. A começar pela primeira leitura: “Meus pensamentos não são como os vossos pensamentos e vossos caminhos não são como os meus caminhos, diz o Senhor. Estão meus caminhos tão acima dos vossos caminhos e meus pensamentos acima dos vossos pensamentos, quanto está o céu acima
da terra”. O profeta faz um
convite a refletir sobre a ideia que nós fazemos de Deus, a qual quase sempre é
feita segundo nosso juízo e vontade, ou seja, gostaríamos de um Deus que fizesse todas as coisas na hora e do jeito que nós queremos. Um Deus que
funcione dentro dos nossos esquemas mentais.
Para que isso aconteça criamos todo tipo de negociação e arranjos
pensando com isso diminuir a distância entre nossas vontades e a equidade
necessária entre as pessoas, como aquela que estabelecem os pais na relação com
os filhos.
A parábola de misericórdia contada no
Evangelho deste domingo é igualmente um desafio em relação aos nossos esquemas
de meritocracia a que estamos habituados ou gostaríamos que fosse praticado
também na relação com Deus: “Estes últimos trabalharam
uma hora só, e tu os igualaste a nós, que suportamos o cansaço e o calor o
dia inteiro”.
Quer ver quando se trata de ser atendido nas demandas que apresentamos a Deus. “Eu
não entendo porque eu rezo tanto e Deus parece que não me ouve... fulano nunca
vem pra Igreja e pra ele tudo dá certo”. Na volta da pandemia então é que se poderá
perceber ainda mais as queixas em relação ao acolhimento daqueles que
supostamente são menos merecedores dos serviços da Igreja. Fulano nem fez o
curso de batismo e já pode batizar, beltrano nunca participou da catequese online
e vai fazer a primeira comunhão, aquele outro nunca mais veio a missa e agora
já aparece pra se casar... e assim por diante. Como gostaríamos que as coisas
de Deus fossem medidas segundo nossos interesses e juízos. Tal como em uma
família não são as qualidades que tornam um filho mais merecedor que o outro,
mas as necessidades fazem com que os pais tratem a todos de acordo com aquilo
que precisam. Essa é também a lógica de Deus: “Quando chegou
a tarde, o patrão disse ao administrador: `Chama
os trabalhadores e paga-lhes uma diária a todos, começando pelos últimos até os
primeiros”. Entrar na
dinâmica do Reino implica perceber as diferentes necessidades de cada pessoa e
deixar Deus agir segundo a sua misericórdia.
Afinal é isso que rezamos no Salmo:
Misericórdia e piedade é o Senhor,
ele é amor, é paciência, é compaixão.
O Senhor é muito bom para com todos,
sua ternura abraça toda criatura.
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