quinta-feira, 17 de setembro de 2020

HOMILIA PARA O DIA 20 DE SETEMBRO DE 2020 - 25º DOMINGO COMUM - ANO A

 

A LÓGICA DE DEUS

Se tem uma coisa que estamos acostumados são disputas familiares entre os irmãos com argumentos do tipo: “Ele é um rapa de tacho... A mãe gosta dele e não gosta de mim... O pai tem seu filho preferido...” Quer ver quando é filho único a especialidade dele é jogar o pai contra a mãe  e vice-versa, sempre com argumentos de preferência em relação a todas as suas vontades. Na verdade, salvo raras exceções, os pais sempre tratam os filhos com justiça e equidade, não necessariamente com igualdade, mas cuidam deles segundo as suas necessidades.

Dito isto é muito fácil compreender a Palavra de Deus deste domingo.  A começar pela primeira leitura: “Meus pensamentos não são como os vossos pensamentos e vossos caminhos não são como os meus caminhos, diz o Senhor. Estão meus caminhos tão acima dos vossos caminhos e meus pensamentos acima dos vossos pensamentos, quanto está o céu acima da terra”. O profeta faz um convite a refletir sobre a ideia que nós fazemos de Deus, a qual quase sempre é feita segundo nosso juízo e vontade, ou seja, gostaríamos de um Deus  que fizesse todas as coisas na  hora e do jeito que nós queremos. Um Deus que funcione dentro dos nossos esquemas mentais.  Para que isso aconteça criamos todo tipo de negociação e arranjos pensando com isso diminuir a distância entre nossas vontades e a equidade necessária entre as pessoas, como aquela que estabelecem os pais na relação com os filhos.

A parábola de misericórdia contada no Evangelho deste domingo é igualmente um desafio em relação aos nossos esquemas de meritocracia a que estamos habituados ou gostaríamos que fosse praticado também na relação com Deus: “Estes últimos trabalharam uma hora só, e tu os igualaste a nós, que suportamos o cansaço e o calor o dia inteiro”. Quer ver quando se trata de ser atendido nas demandas que apresentamos a Deus. “Eu não entendo porque eu rezo tanto e Deus parece que não me ouve... fulano nunca vem pra Igreja e pra ele tudo dá certo”. Na volta da pandemia então é que se poderá perceber ainda mais as queixas em relação ao acolhimento daqueles que supostamente são menos merecedores dos serviços da Igreja. Fulano nem fez o curso de batismo e já pode batizar, beltrano nunca participou da catequese online e vai fazer a primeira comunhão, aquele outro nunca mais veio a missa e agora já aparece pra se casar... e assim por diante. Como gostaríamos que as coisas de Deus fossem medidas segundo nossos interesses e juízos. Tal como em uma família não são as qualidades que tornam um filho mais merecedor que o outro, mas as necessidades fazem com que os pais tratem a todos de acordo com aquilo que precisam. Essa é também a lógica de Deus: “Quando chegou a tarde, o patrão disse ao administrador: `Chama os trabalhadores e paga-lhes uma diária a todos, começando pelos últimos até os primeiros”. Entrar na dinâmica do Reino implica perceber as diferentes necessidades de cada pessoa e deixar Deus agir segundo a sua misericórdia.

Afinal é isso que rezamos no Salmo:

Misericórdia e piedade é o Senhor,
ele é amor, é paciência, é compaixão.
O Senhor é muito bom para com todos,
sua ternura abraça toda criatura.

 

 

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