PROFETAS NO AMOR E NA DOR!
Dentre
as qualidades que chamam a atenção em uma pessoa é sua coerência e coragem
diante dos problemas e dificuldades que a vida lhe apresenta. Uma pessoa
decidida costuma angariar bons amigos e ao mesmo tempo bons adversários. É
sobre coerência, cooperação e incompreensão que tratam as leituras da Palavra
de Deus deste domingo!
Os
verdadeiros profetas de todos os tempos são pessoas de coerência e de coragem e
por causa dessa firmeza, também na atualidade encontram e encontraram resistências
e incompreensões. Sua mensagem quase sempre incomoda aqueles que se consideram
melhores e mais merecedores do cuidado e das vantagens que a vida pode lhes
oferecer.
Como
os profetas de outrora, também os batizados de hoje foram ungidos e enviados a
praticar a coerência e com determinação colaborar na construção de uma
sociedade justa, fraterna e solidária.
O
profeta Jeremias, viveu em uma época muito conturbada do ponto de vista social,
econômico, político e religioso. Ele se reconhece chamado e enviado ao mesmo
tempo se sente amparado por Deus quando encontra inúmeras e dificuldades e
resistências: “Vamos, põe a roupa e o cinto, levanta-te e comunica-lhes tudo que eu te mandar dizer: não tenhas medo,
eles farão guerra contra ti, mas não prevalecerão, porque eu estou contigo para defender-te”
Numa leitura simplista pode parecer
que a carta de Paulo nada tem a ver com profecia e missão. Parece um misto de
palavras adocicadas no chamado Hino ao Amor. Não se pode ler o texto pensando
em si mesmo e nas vantagens e no egoísmo de uma forma de amar que pensa e
procura o bem próprio. O profeta, pelo contrário, é convidado a praticar o amor
gratuito que não pensa em si mesmo, mas se preocupa e cuida daqueles que sofrem
e estão desamparados.
O amor sugerido por Paulo é o que
dá origem a Igreja e que ao mesmo tempo questiona a nossa prática eclesial
muitas vezes palco de lutas, interesses, ciúmes, rivalidades e competições.
No Evangelho, mais uma vez Jesus
foge da condição de milagreiro e realizador de espetáculo. Desprezado pelos
seus conterrâneos anuncia a boa notícia a todos os que se colocam abertos e
disponíveis. Compara-se aos profetas Elias e Elizeu: “De
fato, eu vos digo: no tempo do profeta Elias, quando não choveu durante três
anos e seis meses e houve grande fome em toda a região, havia muitas viúvas em
Israel. No entanto, a nenhuma delas foi enviado Elias, senão
a uma viúva que vivia em Sarepta, na Sidônia. E
no tempo do profeta Eliseu, havia muitos
leprosos em Israel. Contudo, nenhum deles foi curado, mas sim Naamã, o sírio”.
Mostrando o caminho de Jesus, Lucas
delineia o caminho da Igreja. Para dar testemunho e continuidade da missão de
Jesus a Igreja e os cristãos devem ter a mesma compreensão e compromisso, isto
é, não se conformar com o evangelho dentro das quatro paredes do templo e que
seja ouvido por aqueles que já o conhecem. Como os profetas de outrora o
convite é ir aos que estão excluídos e marginalizados a exemplo dos profetas do
Antigo Testamento. Não ter medo de fazer como Jesus: “Quando
ouviram estas palavras de Jesus, todos na sinagoga
ficaram furiosos. Levantaram-se e o expulsaram da cidade. Levaram-no até ao
alto do monte sobre o qual a cidade estava construída, com a intenção de
lançá-lo no precipício. Jesus, porém,
passando pelo meio deles,
continuou o seu caminho” .
Este episódio de Jesus é uma
antecipação das Palavras de Francisco: “… Prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por
ter saído pelas estradas. Não quero uma Igreja preocupada com ser o centro, e
que acaba presa num emaranhado de obsessões e procedimentos. Se alguma coisa
nos deve inquietar e preocupar a nossa consciência é que haja tantos irmãos
nossos que vivem sem a força, a luz e a consolação da amizade com Jesus Cristo,
sem uma comunidade de fé que os acolha, sem um horizonte de sentido e de vida.
Mais do que o temor de falhar, espero que nos mova o medo de nos encerrarmos
nas estruturas que nos dão uma falsa proteção, nas normas que nos transformam
em juízes implacáveis, nos hábitos em que nos sentimos tranquilos, enquanto lá
fora há uma multidão faminta e Jesus repete-nos sem cessar: ‘Dai-lhes vós
mesmos de comer’ (Mc 6, 37)” (EG 49).
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