MUDAI A NOSSA SORTE, Ó SENHOR!
A expressão: “fulano está sempre com quatro pedras na
mão” é usada para qualificar alguém que sempre tem um julgamento pronto e uma
condenação a fazer de tudo e de todos aqueles com quem tem alguma discordância
ou desafeto.
A liturgia de hoje faz um convite para cada pessoa em
particular e também a todos indistintamente a perceber que ninguém está livre
dos pecados e fragilidades e que todos temos necessidade de conversão e de
perdão. A palavra de Deus realça o seu amor que nos desafia a ultrapassar toda
forma de escravidão com foco na vida nova e num outro estilo de viver.
O profeta faz um apelo à comunidade de Israel, no
sentido de esquecer o passado, não porque não seja importante, mas para que não
fiquemos presos a um saudosismo que oprime, faz sofrer e produz a morte: “Não relembreis coisas passadas, não olheis para fatos antigos. Eis que eu farei coisas novas, e que já estão surgindo: acaso
não as reconheceis? Pois abrirei uma estrada no deserto e farei correr rios na
terra seca”. Olhar para frente e reconhecer que a mão de Deus que agiu no
passado continua acompanhando com carinho e cuidado toda a caminhada do povo em
todos os tempos.
Na
segunda leitura São Paulo reforça a mesma perspectiva:
“Na verdade, considero tudo como perda
diante da vantagem suprema
que consiste em conhecer a Cristo Jesus, meu Senhor. Por
causa dele eu perdi tudo. Considero tudo como lixo, para ganhar Cristo e ser
encontrado unido a ele, não com minha justiça
provindo da Lei, mas com a justiça por meio da fé
em Cristo, a justiça que vem de Deus, na base da fé”.
As palavras do apóstolo são um convite a reconhecer na pessoa de Jesus a
extraordinária presença de Deus na vida de todos em todos os tempos. Quem
encontra e reconhece o Cristo está apto para entrar na vida nova: “Não que já tenha recebido tudo isso, ou que já seja perfeito. Mas corro
para alcançá-lo, visto que já fui alcançado por Cristo Jesus”.
O Evangelho é mais uma das provas de fogo que os fariseus
fazem questão de colocar para Jesus. Em outras palavras eles colocam Jesus
entre a lei e a misericórdia. Com a serenidade e sabedoria que lhe eram
particulares Jesus não faz nem defesa, nem acusação. Antes, na perspectiva de
Deus, mostra que para a dignidade do pecador nem a intolerância, nem o castigo
se apresentam como solução, pelo contrário só o amor e a misericórdia são
fontes de vida que permitem o surgimento de uma pessoa nova e transformada: “Como persistissem em interrogá-lo, Jesus ergueu-se e disse: 'Quem dentre vós não tiver pecado, seja o
primeiro a atirar-lhe uma pedra.' E tornando a
inclinar-se, continuou a escrever no chão. Em seguida
“Jesus se levantou e disse: 'Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou?' Ela respondeu: 'Ninguém, Senhor.' Então Jesus lhe disse: 'Eu também não te condeno.
Podes ir, e de agora em diante não peques mais”.
A lógica de Deus não é a lógica da morte, Jesus faz
perceber que todos necessitam do perdão de Deus e que todos precisam de
conversão. A vida cristã é uma caminhada rumo à páscoa, como os fariseus de
outros tempos também nós somos convidados a deixar para trás as coisas e
hábitos antigos abrindo-se à novidade do Evangelho.
A quaresma sempre nos desinstala convidando-nos a
olhar para o futuro na perspectiva da construção de pessoas novas e de novas
relações onde estar com quatro pedras na mão não é a atitude adequada, mas é
preciso fundamentar nossa vida em Cristo e na sua Palavra certos de que:
Chorando de tristeza sairão,
espalhando suas sementes;
cantando de alegria voltarão,
carregando os seus feixes!
Porque:
Maravilhas fez conosco o Senhor, exultemos
de alegria!
Nenhum comentário:
Postar um comentário