ESCUTAR COM O CORAÇÃO
Um dos hábitos mais bonitos na
relação familiar é o contato de mãe e filho, o qual frequentemente se qualifica
por falar e ouvir com o coração. Obviamente que o coração não tem nenhuma
dessas funções, mas a expressão é mais do que clara para manifestar a
disposição dos pares no que se refere a realização dos desejos, sentimentos e
determinações.
Na carta Alegria do Amor, o
Papa Francisco escreveu: “a quem ouvimos, àquilo que ouvimos e ao modo como ouvimos é que podemos crescer na arte de
comunicar, cujo cerne não é uma teoria nem uma técnica, mas a capacidade do
coração que torna possível a proximidade”
Celebrar a Ascenção de Jesus
implica escutar com o coração a totalidade dos seus ensinamentos e compreender
como o percurso da sua vida feito em sintonia com o Pai lhe garante a plenitude
da comunhão com aquele que lhe enviou. Na mesma proporção esta celebração é um
convite a cada cristão em particular a ter ao longo dos seus dias as mesmas
atitudes de Jesus.
A Palavra de Deus deste
domingo é uma interpelação dirigida aos discípulos e às primeiras comunidades
cristãs sobre a maneira e a intensidade como ouviram as palavras e orientações
de Jesus e dos apóstolos seus seguidores, como descreve as últimas palavras do
texto: “Homens da Galileia, por que ficais aqui, parados, olhando
para o céu? Esse Jesus que vos foi levado para o céu, virá do mesmo modo como o
vistes partir para o céu”.
Na carta aos Efésios, que
Paulo escreveu quando estava na prisão, ele dá uma palavra de esperança para os
destinatários: “o Pai a
quem pertence a glória, vos dê um espírito de sabedoria que vo-lo revele e faça
verdadeiramente conhecer.
Que ele abra o vosso coração à sua luz, para que saibais qual a esperança que o seu chamamento vos dá, qual
a riqueza da glória”.
E conclui com uma exortação pedindo
que todos tenham clareza sobre a missão que lhes foi confiada e que consiste em
viver como irmãos e membros de um mesmo e único corpo: “Sim, ele
pôs tudo sob os seus pés e fez dele, que está acima de tudo, a Cabeça da Igreja, que é o seu corpo, a plenitude
daquele que possui a plenitude universal”.
O Evangelho deixa evidente que
os discípulos são, a partir de agora, convidados a escutar com o coração. Tudo
o que Jesus tinha lhes transmitido quando ainda estava com eles, se traduz
agora em alegria, testemunho e compromisso. Então Jesus lhes disse: “Vós sereis testemunhas de tudo isso. Eu
enviarei sobre vós aquele que meu Pai prometeu” E na sequência: “Levou-os para fora, até perto de Betânia Ali ergueu as mãos e abençoou-os. Enquanto os abençoava, afastou-se deles e foi levado para o
céu. Eles o
adoraram. Em seguida
voltaram para Jerusalém, com grande alegria”.
A convocação que Jesus faz aos
discípulos sugere a nossa responsabilidade de continuadores da missão para
tornar realidade a nova terra onde se concretize todos os projetos iniciados
por Jesus.
Nesse sentido valem para nós
as palavras de Santo Agostinho: “Não
tenham o coração nos ouvidos, mas ouvidos no coração” e peçamos a capacidade
que ensinava Francisco de Assis: “inclinar
o ouvido do coração”.
A Igreja existe para
evangelizar, e essa tarefa implica comunicar, tarefa que também exige escutar.
Escutar é o que o Papa Francisco está sugerindo com o processo de preparação
para o Sínodo sobre Sinodalidade.
Todos somos convidados a
compreender a mensagem do Evangelho pela partilha, comunhão, e pela escuta uns
dos outros e todos juntos escutando o Espírito Santo de tal modo que possamos
tornar fecundo todo o trabalho de evangelização no mundo contemporâneo.
Que se concretize em cada
pessoa e cada comunidade o que lemos na segunda leitura: “O Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai a quem pertence a glória, vos dê um espírito de sabedoria
que vo-lo revele e faça verdadeiramente conhecer a plenitude daquele que
possui a plenitude universal”.
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