Ó
LUZ DO SENHOR QUE VEM SOBRE A TERRA...
Em
diversas ocasiões quando estamos diante de algum problema de difícil solução
usamos expressões do tipo: “Preciso de uma luz”; ou então “É como caminhar no
escuro” e por adiante. As três leituras desse domingo nos apresentam pessoas em
situações que exigem discernimento, precisam de uma luz. Nos três casos o
resultado é sempre a experiência de “encontrar uma clareira diante das
situações do cotidiano.
O
texto de Samuel que ouvimos na primeira leitura não usa a expressão “Luz”, mas
põe o personagem diante da difícil decisão de escolher entre os filhos de Jessé
um para ocupar a função de líder de todo o povo judeu que vivia numa profunda
divisão e sem ver luz que resolvesse seus problemas diante dos outros povos.
Note-se
que a lógica de Deus vai muito além do que o olhar humano pode ver. Tendo visto
a aparência dos filhos de Jessé Samuel estava ainda indeciso sobre qual deles
escolher. Inspirado pela “LUZ” do Senhor pede para chamar o último dos filhos: "Estão aqui todos os teus filhos? Jessé
respondeu: Resta ainda o mais novo que está apascentando as
ovelhas". E Samuel ordenou a Jessé: "Manda buscá-lo,
pois não nos sentaremos à mesa enquanto ele não chegar". Jessé mandou
buscá-lo. Era Davi. E o Senhor disse: Levanta-te, unge-o: é este!" Samuel
tomou o chifre com óleo e ungiu a Davi na presença de seus irmãos”.
O relato é absolutamente claro no sentido de fazer
compreender que a escolha parte sempre de Deus e que os seus critérios, a sua
lógica, nem sempre coincidem com a nossa.
Paulo escreve à comunidade de Éfeso deixando claro
que para quem conheceu Jesus Cristo a vida tem outra dimensão: “Outrora éreis trevas, mas agora sois luz no
Senhor. Vivei como filhos da luz. E o fruto da luz chama-se: bondade, justiça,
verdade”. O convite que Paulo dirige aos efésios serve também para nós: “Desperta,
tu que dormes, levanta-te dentre os mortos e sobre ti Cristo
resplandecerá". Na condição de batizados
somos conhecedores da Luz do Senhor e não temos o direito de nos fingir de
cegos diante dos sofrimentos do mundo.
No Evangelho, mais uma vez, Jesus se confronta com
os fariseus e dessa vez numa situação bem particular de uma pessoa que mais do
enxergar precisava ser liberto de todas as amarras e prescrições que a religião
judaica impunha àqueles que eram acometidos por alguma doença ou deficiência.
Nesse caso o debate se dá em torno de um cego de
nascença o qual continuaria nessa condição se não fossem os preconceitos e as
cegueiras que o impediam de ver a bondade de Deus.
Antes
de realizar a cura do cego Jesus se dá a conhecer como “Luz do mundo” e deixa claro que sua missão é eliminar o orgulho, o
egoísmo, a autossuficiência que permeava todas as relações legais das práticas farisaicas.
Para
mostrar concretamente porque veio Jesus convidou o cego a tomar uma atitude
depois de afirmar que Ele é a luz do mundo e que veio para realizar as obras da
Luz o desafiou: “Jesus cuspiu no chão, fez lama com a saliva e
colocou-a sobre os olhos do cego. E disse-lhe: "Vai lavar-te na piscina de
Siloé. O cego foi,
lavou-se e voltou enxergando”.
Todo
o diálogo na sequência não é outra coisa senão a reação de uma sociedade
indiferente para com o sofrimento alheio e nada preocupada com a qualidade de
vida das pessoas. O Cego do Evangelho é apenas mais um dos muitos que vivem “prisioneiros
da escuridão”. Dando ouvidos à Palavra de Jesus, o homem que antes dependia das
esmolas na porta do Templo, torna-se agora uma pessoa das certezas, dos
argumentos, da agilidade, da inteligência. Trata-se de uma pessoa madura, livre
e sem medo. Perguntado sobre aquele que lhe abriu os olhos ele respondeu com
firmeza: “É um profeta, eu era cego
e agora vejo".
Insistindo
no descumprimento dos preceitos legais e continuando a pressionar o que tinha
sido curado, esse respondeu: “Espantoso! Vós não sabeis de onde ele é? No
entanto, ele abriu-me os olhos! Sabemos que Deus não escuta os pecadores, mas
escuta aquele que é piedoso e que faz a sua vontade. Jamais se ouviu dizer que
alguém tenha aberto os olhos a um cego de nascença. Se este homem não viesse de
Deus, não poderia fazer nada".
Em resumo o Evangelho nos sugere que deixemos nosso
estilo de fariseus fechados num pessimismo inútil de quem vive fechado a Deus e
às outras pessoas e nos deixar iluminar pela Luz que é Jesus que pode fazer brilhar
a luz que elimina as trevas e que permite reconhecer a mão de Deus que se
estende para todas as circunstâncias da vida.
A quaresma é um tempo de iluminação,
deixemo-nos conduzir pela oração, pela esmola, pelo Jejum, pela penitência e
deixemos Jesus curar as cegueiras que existem em nós. Que essa quaresma nos
facilite enxergar os sofrimentos de tantos que próximo de nós repetem o mandato
de Jesus: “Vocês não precisam mandar embora, deem vocês mesmos de comer”.
Excelente reflexão. Muito obrigado,
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