quinta-feira, 16 de março de 2023

HOMILIA PARA O DIA 19 DE MARÇO DE 2023 - 4º DOMINGO DA QUARESMA - ANO A

 

Ó LUZ DO SENHOR QUE VEM SOBRE A TERRA...

Em diversas ocasiões quando estamos diante de algum problema de difícil solução usamos expressões do tipo: “Preciso de uma luz”; ou então “É como caminhar no escuro” e por adiante. As três leituras desse domingo nos apresentam pessoas em situações que exigem discernimento, precisam de uma luz. Nos três casos o resultado é sempre a experiência de “encontrar uma clareira diante das situações do cotidiano.

O texto de Samuel que ouvimos na primeira leitura não usa a expressão “Luz”, mas põe o personagem diante da difícil decisão de escolher entre os filhos de Jessé um para ocupar a função de líder de todo o povo judeu que vivia numa profunda divisão e sem ver luz que resolvesse seus problemas diante dos outros povos.

Note-se que a lógica de Deus vai muito além do que o olhar humano pode ver. Tendo visto a aparência dos filhos de Jessé Samuel estava ainda indeciso sobre qual deles escolher. Inspirado pela “LUZ” do Senhor pede para chamar o último dos filhos: "Estão aqui todos os teus filhos? Jessé respondeu: Resta ainda o mais novo que está apascentando as ovelhas". E Samuel ordenou a Jessé: "Manda buscá-lo, pois não nos sentaremos à mesa enquanto ele não chegar". Jessé mandou buscá-lo. Era Davi. E o Senhor disse: Levanta-te, unge-o: é este!" Samuel tomou o chifre com óleo e ungiu a Davi na presença de seus irmãos”.

O relato é absolutamente claro no sentido de fazer compreender que a escolha parte sempre de Deus e que os seus critérios, a sua lógica, nem sempre coincidem com a nossa.

Paulo escreve à comunidade de Éfeso deixando claro que para quem conheceu Jesus Cristo a vida tem outra dimensão: “Outrora éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor. Vivei como filhos da luz. E o fruto da luz chama-se: bondade, justiça, verdade”. O convite que Paulo dirige aos efésios serve também para nós: Desperta, tu que dormes, levanta-te dentre os mortos e sobre ti Cristo resplandecerá". Na condição de batizados somos conhecedores da Luz do Senhor e não temos o direito de nos fingir de cegos diante dos sofrimentos do mundo.

No Evangelho, mais uma vez, Jesus se confronta com os fariseus e dessa vez numa situação bem particular de uma pessoa que mais do enxergar precisava ser liberto de todas as amarras e prescrições que a religião judaica impunha àqueles que eram acometidos por alguma doença ou deficiência.

Nesse caso o debate se dá em torno de um cego de nascença o qual continuaria nessa condição se não fossem os preconceitos e as cegueiras que o impediam de ver a bondade de Deus.

Antes de realizar a cura do cego Jesus se dá a conhecer como “Luz do mundo” e deixa claro que sua missão é eliminar o orgulho, o egoísmo, a autossuficiência que permeava todas as relações legais das práticas farisaicas.

Para mostrar concretamente porque veio Jesus convidou o cego a tomar uma atitude depois de afirmar que Ele é a luz do mundo e que veio para realizar as obras da Luz o desafiou:  Jesus cuspiu no chão, fez lama com a saliva e colocou-a sobre os olhos do cego. E disse-lhe: "Vai lavar-te na piscina de Siloé. O cego foi, lavou-se e voltou enxergando”.

Todo o diálogo na sequência não é outra coisa senão a reação de uma sociedade indiferente para com o sofrimento alheio e nada preocupada com a qualidade de vida das pessoas. O Cego do Evangelho é apenas mais um dos muitos que vivem “prisioneiros da escuridão”. Dando ouvidos à Palavra de Jesus, o homem que antes dependia das esmolas na porta do Templo, torna-se agora uma pessoa das certezas, dos argumentos, da agilidade, da inteligência. Trata-se de uma pessoa madura, livre e sem medo. Perguntado sobre aquele que lhe abriu os olhos ele respondeu com firmeza: “É um profeta, eu era cego e agora vejo".

Insistindo no descumprimento dos preceitos legais e continuando a pressionar o que tinha sido curado, esse respondeu: “Espantoso! Vós não sabeis de onde ele é? No entanto, ele abriu-me os olhos! Sabemos que Deus não escuta os pecadores, mas escuta aquele que é piedoso e que faz a sua vontade. Jamais se ouviu dizer que alguém tenha aberto os olhos a um cego de nascença. Se este homem não viesse de Deus, não poderia fazer nada".

Em resumo o Evangelho nos sugere que deixemos nosso estilo de fariseus fechados num pessimismo inútil de quem vive fechado a Deus e às outras pessoas e nos deixar iluminar pela Luz que é Jesus que pode fazer brilhar a luz que elimina as trevas e que permite reconhecer a mão de Deus que se estende para todas as circunstâncias da vida.

 A quaresma é um tempo de iluminação, deixemo-nos conduzir pela oração, pela esmola, pelo Jejum, pela penitência e deixemos Jesus curar as cegueiras que existem em nós. Que essa quaresma nos facilite enxergar os sofrimentos de tantos que próximo de nós repetem o mandato de Jesus: “Vocês não precisam mandar embora, deem vocês mesmos de comer”.



 

 

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