terça-feira, 21 de outubro de 2025

HOMILIA PARA O DIA 26 DE OUTUBRO DE 2025 -

 

UM DEUS QUE VÊ O CORAÇÃO

Amados irmãos e irmãs, reunidos na escuta da Palavra, bendigamos ao Senhor em todo tempo, porque Sua espera resplandece sobre os humildes. “Bendirei o Senhor Deus em todo o tempo, seu louvor estará sempre em minha boca” (Sl 33/34). Hoje, o Espírito nos convida a contemplar a justiça de Deus, que vê o coração, ergue os abatidos e não se cansa de socorrer os que O invocam com verdade.

O apóstolo Paulo, ao dizer “combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé” (2Tm 4), nos ensina que a coroa da justiça não é prêmio da vaidade, mas dom da fidelidade. É o Senhor quem nos fortalece quando faltam aliados e quando a solidão aperta. Ele esteve com Paulo e o libertou “da boca do leão”. Assim também hoje: onde a exclusão corrói a dignidade e o desprezo fecha portas, o Senhor permanece fiel e nos chama a perseverar na caridade.

No Evangelho, Jesus opõe o fariseu confiante em seus méritos ao publicano que bate no peito e suplica: “Ó Deus, tem piedade de mim, pecador!” (Lc 18). Não é a aparência do culto, mas a verdade do coração que sobe agradável a Deus. Quem se exalta será humilhado; quem se humilha será exaltado. Esta é a chave para discernirmos nossos caminhos diante da chaga da exclusão social: a oração que agrada a Deus é inseparável da justiça que se inclina para o irmão.

O Senhor escuta o clamor do pobre e está perto do coração ferido (Sl 33/34). Se queremos que nosso louvor seja sincero, não podemos fechar os ouvidos ao grito dos descartados, aos corpos invisíveis nas ruas, aos que não têm mesa posta nem palavra ouvida. Uma liturgia que celebramos perde brilho quando a mesa da cidade permanece vazia de equidade. Adorar o Cordeiro é fazer-se próximo de quem não tem mais quem o defende.

A conversão que o Evangelho pede não é apenas mudança de ideias, mas de postura: descer do pedestal, deixar o design das próprias glórias, aprender o caminho da compaixão. O fariseu que habita em nós mede pessoas por performances e esquece que acima de tudo em cada pessoa habita a graça que é dada de  graça. Só quem se sabe devedor da misericórdia pode tornar-se misericordioso, abrindo espaços de inclusão, repartindo pão, voz e oportunidades.

Irmãos e irmãs, combatemos o bom combate onde a exclusão se alimenta: nas estruturas que discriminam, nos preconceitos que se escondem em discursos polidos, na indiferença que normaliza o sofrimento. “O Senhor liberta os justos de todas as angústias” (Sl 33/34): Ele nos envia a ser instrumentos dessa libertação, promovendo políticas de cuidado, práticas comunitárias de acolhida e gestos cotidianos que restituam nome, história e lugar àqueles que muitas vezes não são vistos.

Quando nos faltarem forças, lembremos: “O Senhor esteve a meu lado e me deu forças” (2Tm 4). Na Eucaristia encontramos o alimento para não desistir; no perdão, uma chance de recomeçar; na Palavra, a luz para discernir. Que nossas comunidades sejam casas abertas, onde a oração do público encontre eco e onde cada pessoa, sobretudo a ferida, seja recebida como presença do próprio Cristo.

Que Maria, humilde serva, nos conduza à verdadeira exultação: não a dos que se vangloriam, mas a dos que se autorizam amados e enviados. Que, saindo deste altar, possamos bendizer o Senhor com a vida e ser boa notícia aos pobres. “Quem espera no Senhor não será confundido” (cf. Sl 33/34). A Ele a glória pelos séculos. Amém.

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