UM DEUS
QUE VÊ O CORAÇÃO
Amados irmãos e irmãs, reunidos na
escuta da Palavra, bendigamos ao Senhor em todo tempo, porque Sua espera
resplandece sobre os humildes. “Bendirei o Senhor Deus em todo o tempo, seu
louvor estará sempre em minha boca” (Sl 33/34). Hoje, o Espírito nos convida a
contemplar a justiça de Deus, que vê o coração, ergue os abatidos e não se
cansa de socorrer os que O invocam com verdade.
O apóstolo Paulo, ao dizer “combati o bom combate, completei a
corrida, guardei a fé” (2Tm 4), nos ensina que a coroa da justiça não é prêmio
da vaidade, mas dom da fidelidade. É o Senhor quem nos fortalece quando faltam
aliados e quando a solidão aperta. Ele esteve com Paulo e o libertou “da boca
do leão”. Assim também hoje: onde a exclusão corrói a dignidade e o desprezo
fecha portas, o Senhor permanece fiel e nos chama a perseverar na caridade.
No Evangelho, Jesus opõe o fariseu confiante em seus méritos ao
publicano que bate no peito e suplica: “Ó Deus, tem piedade de mim, pecador!”
(Lc 18). Não é a aparência do culto, mas a verdade do coração que sobe
agradável a Deus. Quem se exalta será humilhado; quem se humilha será exaltado.
Esta é a chave para discernirmos nossos caminhos diante da chaga da exclusão
social: a oração que agrada a Deus é inseparável da justiça que se inclina para
o irmão.
O Senhor escuta o clamor do pobre e está perto do coração ferido
(Sl 33/34). Se queremos que nosso louvor seja sincero, não podemos fechar os
ouvidos ao grito dos descartados, aos corpos invisíveis nas ruas, aos que não
têm mesa posta nem palavra ouvida. Uma liturgia que celebramos perde brilho
quando a mesa da cidade permanece vazia de equidade. Adorar o Cordeiro é
fazer-se próximo de quem não tem mais quem o defende.
A conversão que o Evangelho pede não é apenas mudança de ideias,
mas de postura: descer do pedestal, deixar o design das próprias glórias,
aprender o caminho da compaixão. O fariseu que habita em nós mede pessoas por
performances e esquece que acima de tudo em cada pessoa habita a graça que é dada
de graça. Só quem se sabe devedor da
misericórdia pode tornar-se misericordioso, abrindo espaços de inclusão,
repartindo pão, voz e oportunidades.
Irmãos e irmãs, combatemos o bom combate onde a exclusão se
alimenta: nas estruturas que discriminam, nos preconceitos que se escondem em
discursos polidos, na indiferença que normaliza o sofrimento. “O Senhor liberta
os justos de todas as angústias” (Sl 33/34): Ele nos envia a ser instrumentos
dessa libertação, promovendo políticas de cuidado, práticas comunitárias de
acolhida e gestos cotidianos que restituam nome, história e lugar àqueles que
muitas vezes não são vistos.
Quando nos faltarem forças, lembremos: “O Senhor esteve a meu
lado e me deu forças” (2Tm 4). Na Eucaristia encontramos o alimento para não
desistir; no perdão, uma chance de recomeçar; na Palavra, a luz para discernir.
Que nossas comunidades sejam casas abertas, onde a oração do público encontre
eco e onde cada pessoa, sobretudo a ferida, seja recebida como presença do
próprio Cristo.
Que Maria, humilde serva, nos
conduza à verdadeira exultação: não a dos que se vangloriam, mas a dos que se
autorizam amados e enviados. Que, saindo deste altar, possamos bendizer o
Senhor com a vida e ser boa notícia aos pobres. “Quem espera no Senhor não será
confundido” (cf. Sl 33/34). A Ele a glória pelos séculos. Amém.
Nenhum comentário:
Postar um comentário