DISCERNIR
EM ORAÇÃO
Amados irmãos e irmãs, acolhendo o
tempo do Advento, deixemo-nos interpelar pela exortação do Apóstolo: “Já é hora
de despertardes do sono, porque a nossa salvação está agora mais perto do que
quando abraçamos a fé” (Rm 13,11). A noite vai adiantada, o dia vem chegando;
por isso, despojemo-nos das obras das trevas e revistamo-nos das armas da luz,
caminhamos com dignidade, como convém aos filhos do Dia. Neste santo
itinerário, a Igreja nos registra que não avançamos sozinhos: somos povo em
marcha, peregrinos do mesmo Senhor, sustentados pela Palavra e pelo pão do
altar. A vigilância que São Paulo nos propõe não é tensão estéril, mas
disciplina amorosa que nos congrega, purificando afetos, ordenando desejos e
dispondo o coração para a vinda d'Aquele que é a Luz verdadeira.
No Evangelho, o Senhor nos alerta: “Como foi nos dias de Noé,
assim aconteceu na vinda do Filho do Homem” (Mt 24,37). Enquanto muitos viviam
distraídos, comendo e bebendo, alheios ao tempo favorável da graça, o dilúvio
sobreveio. Assim também agora: a indiferença espiritual ameaça dispersar os
rebanhos, enfraquecer os laços e destruir a esperança. Por isso, vigiai! A
vigilância evangélica não é medo, mas amor atento, que detecta os sinais
discretos da presença de Deus no cotidiano. Caminhar juntos no Advento é
aprender a ouvir em comum a voz do Pastor, discernindo, em comunidade orante, o
compasso da misericórdia que nos convoca à conversão e à esperança, para que
nenhum se perca na distração que isola, e todos encontremos refúgio na arca da
Igreja.
“Revesti-vos do Senhor Jesus Cristo” (Rm 13,14a): eis a veste
nupcial para o encontro que se aproxima. Revestir-se de Cristo é assumir seus
sentimentos, suas atitudes e seu modo de amar, deixando para trás a roupa gasta
das rivalidades, das invejas e da complacência com o pecado. É no “nós”
eclesial que essa túnica se tece: na caridade que se faz serviço, na paciência
que sustenta o fraco, na correção fraterna que cura, na partilha que multiplica
a esperança. Quando a comunidade se reveste do Senhor, a noite perde força, e o
clarão da aurora visita nossas casas, reacendendo o ardor da fé, a sobriedade
dos costumes e a alegria de esperar. O Advento, então, torna-se escola de
santidade comum: juntos aprendendo a vigiar, juntos aprendendo a amar.
Enfim, “ficai preparado, porque o Filho do Homem virá na hora em
que menos pensais” (Mt 24,44). Preparar-se é ordenar a vida ao Reino: acender a
lâmpada da oração, aquecer o azeite da caridade, abrir as portas da
reconciliação. É deixar que o Senhor nos encontre com os pés no caminho e mãos
no serviço, coração e olhos na promessa. Caminhamos, pois, como Igreja sinodal,
passo a passo, sustentando-nos mutuamente, para que a Vinda não nos surpreenda
dispersos, mas congregados ao redor d'Aquele que vem. Que este Advento seja
para nós tempo de despertar, de vigília e de comunhão, e que, sob o manto da
Mãe da Esperança, esperamos apressar a aurora do Cristo, Sol nascente que nos
visita. Amém.
Nenhum comentário:
Postar um comentário