quinta-feira, 27 de novembro de 2025

HOMILIA PARA O DIA 30 DE NOVEMBRO - 1º DOMINGO DO ADVENTO

DISCERNIR EM ORAÇÃO

Amados irmãos e irmãs, acolhendo o tempo do Advento, deixemo-nos interpelar pela exortação do Apóstolo: “Já é hora de despertardes do sono, porque a nossa salvação está agora mais perto do que quando abraçamos a fé” (Rm 13,11). A noite vai adiantada, o dia vem chegando; por isso, despojemo-nos das obras das trevas e revistamo-nos das armas da luz, caminhamos com dignidade, como convém aos filhos do Dia. Neste santo itinerário, a Igreja nos registra que não avançamos sozinhos: somos povo em marcha, peregrinos do mesmo Senhor, sustentados pela Palavra e pelo pão do altar. A vigilância que São Paulo nos propõe não é tensão estéril, mas disciplina amorosa que nos congrega, purificando afetos, ordenando desejos e dispondo o coração para a vinda d'Aquele que é a Luz verdadeira.

No Evangelho, o Senhor nos alerta: “Como foi nos dias de Noé, assim aconteceu na vinda do Filho do Homem” (Mt 24,37). Enquanto muitos viviam distraídos, comendo e bebendo, alheios ao tempo favorável da graça, o dilúvio sobreveio. Assim também agora: a indiferença espiritual ameaça dispersar os rebanhos, enfraquecer os laços e destruir a esperança. Por isso, vigiai! A vigilância evangélica não é medo, mas amor atento, que detecta os sinais discretos da presença de Deus no cotidiano. Caminhar juntos no Advento é aprender a ouvir em comum a voz do Pastor, discernindo, em comunidade orante, o compasso da misericórdia que nos convoca à conversão e à esperança, para que nenhum se perca na distração que isola, e todos encontremos refúgio na arca da Igreja.

“Revesti-vos do Senhor Jesus Cristo” (Rm 13,14a): eis a veste nupcial para o encontro que se aproxima. Revestir-se de Cristo é assumir seus sentimentos, suas atitudes e seu modo de amar, deixando para trás a roupa gasta das rivalidades, das invejas e da complacência com o pecado. É no “nós” eclesial que essa túnica se tece: na caridade que se faz serviço, na paciência que sustenta o fraco, na correção fraterna que cura, na partilha que multiplica a esperança. Quando a comunidade se reveste do Senhor, a noite perde força, e o clarão da aurora visita nossas casas, reacendendo o ardor da fé, a sobriedade dos costumes e a alegria de esperar. O Advento, então, torna-se escola de santidade comum: juntos aprendendo a vigiar, juntos aprendendo a amar.

Enfim, “ficai preparado, porque o Filho do Homem virá na hora em que menos pensais” (Mt 24,44). Preparar-se é ordenar a vida ao Reino: acender a lâmpada da oração, aquecer o azeite da caridade, abrir as portas da reconciliação. É deixar que o Senhor nos encontre com os pés no caminho e mãos no serviço, coração e olhos na promessa. Caminhamos, pois, como Igreja sinodal, passo a passo, sustentando-nos mutuamente, para que a Vinda não nos surpreenda dispersos, mas congregados ao redor d'Aquele que vem. Que este Advento seja para nós tempo de despertar, de vigília e de comunhão, e que, sob o manto da Mãe da Esperança, esperamos apressar a aurora do Cristo, Sol nascente que nos visita. Amém.

 


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