SANTIDADE
AO PÉ DA PORTA
Sob a luz do Cordeiro que vive e
reina, elevamos nossos olhos ao horizonte da esperança, onde um anjo se levanta
do nascente trazendo o selo de Deus vivo, e a terra inteira suspira diante do
mistério. Vemos, com o olhar purificado pela fé, aquela multidão imensa que
ninguém pode contar, de todas as nações, tribos, povos e línguas, vestida de
branco e com palmas nas mãos. Eles não são estranhos a nós: são irmãos e irmãs
que atravessaram as tribulações da vida, lavando suas vestes no sangue do
Cordeiro. A santidade não é distante nem rara: é a herança prometida, o selo
gravado na frente dos que pertencem a Deus. Hoje somos chamados a considerar
que a vocação à santidade é dom e caminho, graça e resposta, início e destino
para todos.
E, quando o Senhor se senta no monte e abre a boca, sua voz
corre como brisa mansa e como fogo que purifica. “Bem-aventurados” — proclama
—, e cada bem-aventurança é um degrau para o céu e um sulco de misericórdia
sobre a terra. Felizes os pobres em espírito: neles Deus faz morada. Felizes os
mansos: neles a terra encontra descanso. Felizes os que choram: neles a
consolação desce como orvalho. Felizes os que têm fome e sede de justiça: neles
a promessa já começa a frutificar. Felizes os misericordiosos, os puros de
coração, os que promovem a paz, os perseguidos por causa da justiça: neles o
Reino se mostra vivo. As bem-aventuranças são o retrato do Santo por
excelência, e o espelho onde cada discípulo aprende a forma do amor.
Por isso, não vamos imaginar que a santidade é privilégio de
Poucos, nem a escondamos em pedestais inalcançáveis. A santidade é “Santidade
ao pé da porta”, como nos recorda o Papa Francisco: é a luz que acendemos na
cozinha ao amanhecer, é o perdão sussurrado no corredor de casa, é a paciência
no trânsito, o gesto silencioso de quem partilha o pão, a mão estendida a quem ficou para trás. É a mãe que consola, o
pai que persevera, o jovem que escolhe a verdade, o idoso que oferece sua dor
como incenso que sobe. É a fidelidade no pequeno, a retidão no escondido, a
alegria humilde que não faz alarde. Assim florescem santos sem trombetas,
vencendo o mal com o bem, regando o mundo com pequenos riachos de misericórdia
que, juntos, se tornam um grande rio de graça.
Ergamos, então, o coração: diante do trono e do Cordeiro, unidos
aos anciãos e aos seres vivos, proclamamos: “A salvação pertence ao nosso
Deus!” Se nos sentimos fracos, ele é forte; se nos conhecemos pecadores, ele é
o Justo que nos justifica; se nos vemos pequenos, ele nos toma pela mão. A
tribulação não será a última palavra, pois o Pastor nos conduzirá às fontes da
água viva e enxugará toda lágrima de nossos olhos. Na liturgia da vida, cada
dia é altar, cada encontro é oferta, cada cruz é caminho de Páscoa. E, marcados
com o selo do Deus vivo, aprendendo a permanência de pé, firmes na esperança,
até que a veste branca da graça se torne também a túnica das obras.
Assim, caminhamos sob as
bem-aventuranças como sob um céu estrelado, e fazemos do cotidiano um
santuário. Que o Espírito nos ensine a arte da “Santidade ao pé da porta”:
olhos que veem Cristo no pobre, lábios que bendizem em meio à prova, mãos que
constroem a paz, pés que correm ao encontro do irmão. Então, quando uma
assembleia se reúne, refletimos no brilho que interage um reflexo da nossa
história, tecida de quedas e recomeços, de silêncio e louvor. E ouvimos, enfim,
a voz do Cordeiro: “Vinde, benditos de meu Pai.” Até lá, permanecemos no
Bem-aventurados do Evangelho, para que, em nós e por nós, a santidade se faça
humilde, próxima e fecunda — uma santidade para todos, ao alcance de cada
porta.
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