terça-feira, 21 de outubro de 2025

HOMILIA PARA O DIA 01 DE NOVEMBRO 2025 - SOLENIDADE DE TODOS OS SANTOS

 

SANTIDADE AO PÉ DA PORTA

Sob a luz do Cordeiro que vive e reina, elevamos nossos olhos ao horizonte da esperança, onde um anjo se levanta do nascente trazendo o selo de Deus vivo, e a terra inteira suspira diante do mistério. Vemos, com o olhar purificado pela fé, aquela multidão imensa que ninguém pode contar, de todas as nações, tribos, povos e línguas, vestida de branco e com palmas nas mãos. Eles não são estranhos a nós: são irmãos e irmãs que atravessaram as tribulações da vida, lavando suas vestes no sangue do Cordeiro. A santidade não é distante nem rara: é a herança prometida, o selo gravado na frente dos que pertencem a Deus. Hoje somos chamados a considerar que a vocação à santidade é dom e caminho, graça e resposta, início e destino para todos.

E, quando o Senhor se senta no monte e abre a boca, sua voz corre como brisa mansa e como fogo que purifica. “Bem-aventurados” — proclama —, e cada bem-aventurança é um degrau para o céu e um sulco de misericórdia sobre a terra. Felizes os pobres em espírito: neles Deus faz morada. Felizes os mansos: neles a terra encontra descanso. Felizes os que choram: neles a consolação desce como orvalho. Felizes os que têm fome e sede de justiça: neles a promessa já começa a frutificar. Felizes os misericordiosos, os puros de coração, os que promovem a paz, os perseguidos por causa da justiça: neles o Reino se mostra vivo. As bem-aventuranças são o retrato do Santo por excelência, e o espelho onde cada discípulo aprende a forma do amor.

Por isso, não vamos imaginar que a santidade é privilégio de Poucos, nem a escondamos em pedestais inalcançáveis. A santidade é “Santidade ao pé da porta”, como nos recorda o Papa Francisco: é a luz que acendemos na cozinha ao amanhecer, é o perdão sussurrado no corredor de casa, é a paciência no trânsito, o gesto silencioso de quem partilha o pão, a mão estendida  a quem ficou para trás. É a mãe que consola, o pai que persevera, o jovem que escolhe a verdade, o idoso que oferece sua dor como incenso que sobe. É a fidelidade no pequeno, a retidão no escondido, a alegria humilde que não faz alarde. Assim florescem santos sem trombetas, vencendo o mal com o bem, regando o mundo com pequenos riachos de misericórdia que, juntos, se tornam um grande rio de graça.

Ergamos, então, o coração: diante do trono e do Cordeiro, unidos aos anciãos e aos seres vivos, proclamamos: “A salvação pertence ao nosso Deus!” Se nos sentimos fracos, ele é forte; se nos conhecemos pecadores, ele é o Justo que nos justifica; se nos vemos pequenos, ele nos toma pela mão. A tribulação não será a última palavra, pois o Pastor nos conduzirá às fontes da água viva e enxugará toda lágrima de nossos olhos. Na liturgia da vida, cada dia é altar, cada encontro é oferta, cada cruz é caminho de Páscoa. E, marcados com o selo do Deus vivo, aprendendo a permanência de pé, firmes na esperança, até que a veste branca da graça se torne também a túnica das obras.

Assim, caminhamos sob as bem-aventuranças como sob um céu estrelado, e fazemos do cotidiano um santuário. Que o Espírito nos ensine a arte da “Santidade ao pé da porta”: olhos que veem Cristo no pobre, lábios que bendizem em meio à prova, mãos que constroem a paz, pés que correm ao encontro do irmão. Então, quando uma assembleia se reúne, refletimos no brilho que interage um reflexo da nossa história, tecida de quedas e recomeços, de silêncio e louvor. E ouvimos, enfim, a voz do Cordeiro: “Vinde, benditos de meu Pai.” Até lá, permanecemos no Bem-aventurados do Evangelho, para que, em nós e por nós, a santidade se faça humilde, próxima e fecunda — uma santidade para todos, ao alcance de cada porta.

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