PEREGRINAR
NA PARTILHA E NA COMUNHÃO
Irmãos e irmãs, bendito seja o
Senhor que faz justiça aos oprimidos, dá pão aos famintos, abre os olhos aos
cegos e sustenta quem vacila. O Deus do Salmo nos visita no terreiro da vida, no
fogão a lenha das casas simples, e ali derrama misericórdia. Ele não esquece o
pobre, não abandona a viúva, não deixa órfão sem colo. Seu reino não é
distante: começa onde a mão se estende e o coração se reparte.
Recordemos, o chamado do Evangelho: havia um homem vestido de
luxo e, à sua porta, um Lázaro ferido, esperando migalhas. A Palavra nos
atravessa como arado em terra dura: de que vale a fartura que não vira mesa
partilhada? De que vale o portão fechado quando o irmão jaz do lado de fora? O
Senhor nos alerta para que não fechemos o ouvido nem neguemos afeto; hoje é o
tempo favorável, hoje é o dia da conversão.
Como Igreja peregrina, sejamos sinodais: caminhemos juntos, povo
e pastores, jovens e idosos, homens e mulheres, ouvindo o Espírito que fala no
clamor dos pequenos. Sinodalidade é roda de conversa mediado pelo chimarrão, é
conselho que acolhe a voz de quem quase nunca fala, é decisão tomada em oração
e em mutirão. Onde todos têm lugar, o Corpo de Cristo floresce; onde cada dom é
acolhido, o Evangelho cria raízes.
Peregrina de esperança, nossa Igreja aprende a esperar
trabalhando: plantando sementes e justiça, colhendo frutos e reconciliação. A
esperança se faz na panela partilhada, na visita ao enfermo, na carona ao
vizinho, na catequese que escuta, no grupo que reza e ilumina. O Deus que
levanta os caídos nos envia às encruzilhadas do cotidiano, para acender
lamparinas em noites de desânimo e para cantar salmos quando o chão parece
faltar.
Não deixemos que a tragédia do rico do Evangelho vire nosso
espelho; que a nossa casa tenha porta aberta, cadeira a mais, prato que se
multiplica. Que a comunidade seja hospital de porta aberta, onde a dor encontra
cuidado e o pecado encontra perdão. Que a Eucaristia celebrada no altar
continue na partilha do quintal, e que o “ide em paz” no final da missa seja
ponte entre o céu e a estrada de terra.
Louvado seja o Senhor para sempre: Ele reina de geração em
geração. Conceda-nos, Pai de espera, ser uma Igreja sinodal e peregrina, que
escuta, discerne e serve. Que Maria, mulher da estrada, nos acompanhe; que São
José, homem do trabalho, nos inspira; e que, sustentados pelo Espírito,
reconheçamos em cada Lázaro o próprio Cristo. Amém.
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