quarta-feira, 10 de setembro de 2025

HOMILIA PARA O DIA 14 DE SETEMBRO DE 2025 - EXALTAÇÃO DA SANTA CRUZ

 

A força que se faz serviço: o coração do Evangelho

Nos primeiros anos do anúncio cristão, ecoa a visão de que Jesus, embora sendo de condição divina, não se agarrou a privilégios, mas esvaziou-se, assumindo uma forma de servo e aproximando-se de cada pessoa com humildade. Sua missão não foi de dominar, mas de salvar: entrar na história humana para curar feridas, reconciliar o que estava quebrado e iluminar caminhos obscuros pelo medo e pela culpa. Ao caminhar entre os pobres, tocar os doentes e conversar com os que foram rejeitados, ele mostrou que a verdadeira grandeza não se mede por tronos, mas pela compaixão que se inclina para levantar o outro. Nesse gesto de despojamento, seu “sim” ao Pai tornou-se um convite permanente à esperança: ninguém está longe demais, ninguém é pequeno demais para ser realizado pelo amor.

Essa missão mudou o foco e as pessoas puderam sentir que em lugar de suas dores existem alegrias, em lugar de limites existem sonhos. Ele não se apresentou como um superior que aponta falhas de longe, mas como quem caminha junto, partilha o pão e lava os pés. Sua autoridade nasceu do serviço, e sua palavra ganhou força porque foi confirmada por gestos concretos de cuidado. Ao olhar cada pessoa com dignidade, Jesus desarmava a lógica da competição e da vaidade, ensinando que a vida plena floresce quando deixamos o ego para abraçar o outro. Assim, a salvação não aparece como uma fuga do mundo, mas como uma transformação do coração que refaz laços e dá novo sentido à existência.

Seguir esse Cristo humilde é também aprender a não olhar para trás como quem já chegou, mas conscientes de que estamos a caminho. Há uma meta futura — a plenitude do amor — e, para alcançá-la, é preciso esquecer o peso do passado que paralisa e estender-se para o que vem, renovando diariamente a disposição de amar. O percurso da fé não é uma corrida de vaidades, mas uma peregrinação em que cada passo, por menor que seja, se torna resposta ao chamado de servir. A salvação que Jesus oferece abre um horizonte onde as quedas não definem destinos, e onde recomeçar e sempre  sinal da graça presente no cotidiano.

Nessa estrada, não caminhamos sozinhos: há irmãos e irmãs que nos inspiram e nos corrigem, mestres que apontam a direção, comunidades que sustentam a esperança. Inspirados pelo exemplo de Cristo, somos convidados a imitar aqueles que vivem a mesma lógica do serviço, evitando comparações que geram soberba. Crescer na fé é aprender a considerar nos outros um espelho do amor de Deus, compartilhar dons, suportar fragilidades e celebrar conquistas em comum. A missão de Jesus, vivida em nós, transforma diferenças e faz da convivência um espaço de salvação que se manifesta em gestos simples: escutar, perdoar, repartir.

Por fim, afirmar que Jesus veio salvar o mundo sem se considerar superior é proclamar que o centro do Evangelho é o amor que se abaixa para erguer. Ele mostra que a verdadeira força é a do serviço, a verdadeira glória é a do cuidado, e a verdadeira sabedoria é a da humildade que se faz próxima. Quando acolhemos essa lógica, nossa vida também se torna boa notícia: nossas escolhas passam a refletir o coração de Cristo, e nossa presença no mundo, por menor que pareça, torna-se semente de paz. Assim, a missão de Jesus continua, não como imposição, mas como convite: deixe-se amar, amar de volta e, nesse fluxo de graça, colabore para que toda pessoa descubra sua dignidade e sua esperança.

 

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