A força que se faz
serviço: o coração do Evangelho
Nos primeiros anos do anúncio
cristão, ecoa a visão de que Jesus, embora sendo de condição divina, não se
agarrou a privilégios, mas esvaziou-se, assumindo uma forma de servo e
aproximando-se de cada pessoa com humildade. Sua missão não foi de dominar, mas
de salvar: entrar na história humana para curar feridas, reconciliar o que
estava quebrado e iluminar caminhos obscuros pelo medo e pela culpa. Ao
caminhar entre os pobres, tocar os doentes e conversar com os que foram
rejeitados, ele mostrou que a verdadeira grandeza não se mede por tronos, mas
pela compaixão que se inclina para levantar o outro. Nesse gesto de
despojamento, seu “sim” ao Pai tornou-se um convite permanente à esperança:
ninguém está longe demais, ninguém é pequeno demais para ser realizado pelo
amor.
Essa missão mudou o foco e as pessoas puderam sentir que em
lugar de suas dores existem alegrias, em lugar de limites existem sonhos. Ele
não se apresentou como um superior que aponta falhas de longe, mas como quem
caminha junto, partilha o pão e lava os pés. Sua autoridade nasceu do serviço,
e sua palavra ganhou força porque foi confirmada por gestos concretos de
cuidado. Ao olhar cada pessoa com dignidade, Jesus desarmava a lógica da
competição e da vaidade, ensinando que a vida plena floresce quando deixamos o
ego para abraçar o outro. Assim, a salvação não aparece como uma fuga do mundo,
mas como uma transformação do coração que refaz laços e dá novo sentido à
existência.
Seguir esse Cristo humilde é também aprender a não olhar para
trás como quem já chegou, mas conscientes de que estamos a caminho. Há uma meta
futura — a plenitude do amor — e, para alcançá-la, é preciso esquecer o peso do
passado que paralisa e estender-se para o que vem, renovando diariamente a
disposição de amar. O percurso da fé não é uma corrida de vaidades, mas uma
peregrinação em que cada passo, por menor que seja, se torna resposta ao
chamado de servir. A salvação que Jesus oferece abre um horizonte onde as
quedas não definem destinos, e onde recomeçar e sempre sinal da graça presente no cotidiano.
Nessa estrada, não caminhamos sozinhos: há irmãos e irmãs que
nos inspiram e nos corrigem, mestres que apontam a direção, comunidades que
sustentam a esperança. Inspirados pelo exemplo de Cristo, somos convidados a
imitar aqueles que vivem a mesma lógica do serviço, evitando comparações que
geram soberba. Crescer na fé é aprender a considerar nos outros um espelho do
amor de Deus, compartilhar dons, suportar fragilidades e celebrar conquistas em
comum. A missão de Jesus, vivida em nós, transforma diferenças e faz da
convivência um espaço de salvação que se manifesta em gestos simples: escutar,
perdoar, repartir.
Por fim, afirmar que Jesus veio
salvar o mundo sem se considerar superior é proclamar que o centro do Evangelho
é o amor que se abaixa para erguer. Ele mostra que a verdadeira força é a do serviço,
a verdadeira glória é a do cuidado, e a verdadeira sabedoria é a da humildade
que se faz próxima. Quando acolhemos essa lógica, nossa vida também se torna
boa notícia: nossas escolhas passam a refletir o coração de Cristo, e nossa
presença no mundo, por menor que pareça, torna-se semente de paz. Assim, a
missão de Jesus continua, não como imposição, mas como convite: deixe-se amar,
amar de volta e, nesse fluxo de graça, colabore para que toda pessoa descubra
sua dignidade e sua esperança.
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