SOMOS
TEMPLO E MORADA DE DEUS
Irmãos e irmãs amados, a Palavra
hoje nos recorda que somos cooperadores de Deus, e que Ele mesmo lança o
fundamento sobre o qual caminhamos, que é Cristo, pedra firme e segura, onde
nosso passo cansado encontra direção e descanso, mesmo quando os ventos do
mundo querem nos dispersar e confundir. São Paulo nos diz que não há outro
alicerce além de Jesus, e isso significa que toda obra verdadeira na nossa vida
nasce do amor de Deus e volta para Ele como oferta mansa e humilde, que alegra
o coração e pacifica a casa interior. Quando aceitamos esse fundamento, nossas
escolhas ganham luz, nossas dores encontram sentido, e nossas alegrias se
tornam semente de esperança para os que caminham ao nosso lado, como quem
partilha pão e água num deserto longo. Não construímos sozinhos, porque somos
lavoura e edifício de Deus, e Ele, como bom mestre de obra, cuida das medidas
do coração, aparando os excessos, firmando as colunas da fé, e abrindo janelas
por onde entra o sopro do Espírito. Assim, não temamos os dias de prova, porque
o Senhor conhece cada tijolo da nossa história e faz de nossa fraqueza um lugar
onde sua força se revela, para que ninguém se glorie senão na graça.
O Evangelho nos mostra Jesus entrando no Templo, e, ao ver a
casa do Pai transformada em mercado, acende-se nele o zelo que purifica, ordena
e devolve o lugar ao seu verdadeiro sentido, que é ser morada de encontro,
silêncio e louvor. A mesa da barganha não combina com a mesa da aliança, e o
comércio do coração não convive com a gratuidade da misericórdia, porque o amor
não se vende, o perdão não se pesa, e a presença de Deus não se negocia como
moeda de interesse. Quando o Senhor derruba as bancas e solta as amarras, Ele
não destrói a fé, mas a liberta das correntes que a impedem de respirar, de cantar
e de servir com mãos limpas, como fonte que volta a jorrar água viva. Ele
anuncia um Templo novo, erguido em três dias, falando do seu Corpo, que seria
entregue por nós e ressuscitado para sempre, para que todo coração crente
encontrasse abrigo seguro na Páscoa que não passa. Nesse gesto forte e terno,
aprendemos que a verdadeira adoração nasce do interior, onde Deus quer habitar,
e que toda reforma exterior só tem sentido quando acompanha a conversão do
íntimo, onde Ele nos visita com paz.
Pelo batismo, irmãos, o Senhor nos fez templos do Espírito
Santo, e isso quer dizer que em cada pessoa batizada há um altar onde a graça
acende uma chama mansa, convidando à oração simples, ao perdão sincero e à
caridade que não faz barulho, mas aquece a vida. Ser templo é cuidar da casa
interior com respeito, como quem varre o chão da alma, tira o pó das mágoas, e
abre as portas para que entre a luz, porque Deus gosta de morar em lugar
arejado de confiança e esperança. É também vigiar contra as pequenas feiras que
às vezes se levantam em nós, quando trocamos a fidelidade por vantagens, a
verdade por conveniências, e o tempo de Deus por pressa, deixando que bancas
estranhas ocupem o pátio sagrado do coração. O batismo nos dá a dignidade de
filhos e a força de caminhar juntos, e a Igreja, como grande casa de família,
sustenta nossos passos com a Palavra e a Eucaristia, para que não esqueçamos
quem somos e para quem fomos feitos. Se somos templo, então nossos lábios sejam
porta de bênção, nossas mãos sejam colunas de serviço, e nossos olhos, janelas
por onde os outros possam ver um pouco do céu.
Por isso, peçamos hoje que Jesus, com seu zelo manso e decidido,
visite nossa interioridade e derrube o que não é de Deus, para que o amor ocupe
o centro e a paz faça morada, como brisa que consola e fortalece. Que Ele cure
as rachaduras da nossa fé, una os tijolos quebrados da esperança, e unte com
óleo novo as portas cansadas do coração, para que sejamos povo de luz no meio
das sombras. Que cada família redescubra seu lar como pequeno santuário, onde a
mesa é altar de partilha, a palavra é oração e o abraço é sacramento de
consolo, tornando os dias mais simples e cheios de sentido. Caminhemos com
coragem, porque o fundamento é Cristo, e quem constrói sobre Ele não se perde
nas tempestades, nem desiste diante dos espinhos, pois sabe que a casa firme
resiste e acolhe. E quando a noite chegar, que a chama do Espírito encontre em
nós lugar aceso, para que, como templos vivos, possamos cantar baixinho: santo
é o Senhor, Ele está aqui, Ele faz novas todas as coisas.
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