quinta-feira, 6 de novembro de 2025

HOMILIA PARA O DIA 09 DE NOVEMBRO DE 2025 - BASÍLICA DO LATRÃO

 

SOMOS TEMPLO E MORADA DE DEUS

Irmãos e irmãs amados, a Palavra hoje nos recorda que somos cooperadores de Deus, e que Ele mesmo lança o fundamento sobre o qual caminhamos, que é Cristo, pedra firme e segura, onde nosso passo cansado encontra direção e descanso, mesmo quando os ventos do mundo querem nos dispersar e confundir. São Paulo nos diz que não há outro alicerce além de Jesus, e isso significa que toda obra verdadeira na nossa vida nasce do amor de Deus e volta para Ele como oferta mansa e humilde, que alegra o coração e pacifica a casa interior. Quando aceitamos esse fundamento, nossas escolhas ganham luz, nossas dores encontram sentido, e nossas alegrias se tornam semente de esperança para os que caminham ao nosso lado, como quem partilha pão e água num deserto longo. Não construímos sozinhos, porque somos lavoura e edifício de Deus, e Ele, como bom mestre de obra, cuida das medidas do coração, aparando os excessos, firmando as colunas da fé, e abrindo janelas por onde entra o sopro do Espírito. Assim, não temamos os dias de prova, porque o Senhor conhece cada tijolo da nossa história e faz de nossa fraqueza um lugar onde sua força se revela, para que ninguém se glorie senão na graça.

O Evangelho nos mostra Jesus entrando no Templo, e, ao ver a casa do Pai transformada em mercado, acende-se nele o zelo que purifica, ordena e devolve o lugar ao seu verdadeiro sentido, que é ser morada de encontro, silêncio e louvor. A mesa da barganha não combina com a mesa da aliança, e o comércio do coração não convive com a gratuidade da misericórdia, porque o amor não se vende, o perdão não se pesa, e a presença de Deus não se negocia como moeda de interesse. Quando o Senhor derruba as bancas e solta as amarras, Ele não destrói a fé, mas a liberta das correntes que a impedem de respirar, de cantar e de servir com mãos limpas, como fonte que volta a jorrar água viva. Ele anuncia um Templo novo, erguido em três dias, falando do seu Corpo, que seria entregue por nós e ressuscitado para sempre, para que todo coração crente encontrasse abrigo seguro na Páscoa que não passa. Nesse gesto forte e terno, aprendemos que a verdadeira adoração nasce do interior, onde Deus quer habitar, e que toda reforma exterior só tem sentido quando acompanha a conversão do íntimo, onde Ele nos visita com paz.

Pelo batismo, irmãos, o Senhor nos fez templos do Espírito Santo, e isso quer dizer que em cada pessoa batizada há um altar onde a graça acende uma chama mansa, convidando à oração simples, ao perdão sincero e à caridade que não faz barulho, mas aquece a vida. Ser templo é cuidar da casa interior com respeito, como quem varre o chão da alma, tira o pó das mágoas, e abre as portas para que entre a luz, porque Deus gosta de morar em lugar arejado de confiança e esperança. É também vigiar contra as pequenas feiras que às vezes se levantam em nós, quando trocamos a fidelidade por vantagens, a verdade por conveniências, e o tempo de Deus por pressa, deixando que bancas estranhas ocupem o pátio sagrado do coração. O batismo nos dá a dignidade de filhos e a força de caminhar juntos, e a Igreja, como grande casa de família, sustenta nossos passos com a Palavra e a Eucaristia, para que não esqueçamos quem somos e para quem fomos feitos. Se somos templo, então nossos lábios sejam porta de bênção, nossas mãos sejam colunas de serviço, e nossos olhos, janelas por onde os outros possam ver um pouco do céu.

Por isso, peçamos hoje que Jesus, com seu zelo manso e decidido, visite nossa interioridade e derrube o que não é de Deus, para que o amor ocupe o centro e a paz faça morada, como brisa que consola e fortalece. Que Ele cure as rachaduras da nossa fé, una os tijolos quebrados da esperança, e unte com óleo novo as portas cansadas do coração, para que sejamos povo de luz no meio das sombras. Que cada família redescubra seu lar como pequeno santuário, onde a mesa é altar de partilha, a palavra é oração e o abraço é sacramento de consolo, tornando os dias mais simples e cheios de sentido. Caminhemos com coragem, porque o fundamento é Cristo, e quem constrói sobre Ele não se perde nas tempestades, nem desiste diante dos espinhos, pois sabe que a casa firme resiste e acolhe. E quando a noite chegar, que a chama do Espírito encontre em nós lugar aceso, para que, como templos vivos, possamos cantar baixinho: santo é o Senhor, Ele está aqui, Ele faz novas todas as coisas.

 

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