segunda-feira, 12 de outubro de 2009

ÉTICA E FILOSOFIA

ÉTICA E FILOSOFIA POLÍTICA

¨Meu dilema não significa,
em primeiro lugar,
que se escolha entre o bem e o mal;
ele designa a escolha pela qual
se exclui ou se escolhe o bem e o mal.¨
(Kierkegaard)

A escolha de Barac Hobama, para o prêmio nobel da paz, no cenário da crise econômica Americana com as conseqüências para todo o mundo é o acontecimento mais marcante dos últimos dias no cenário mundial. Obviamente não se trata de um fato isolado, mas ela se insere no conjunto das profundas e rápidas mudanças da pós-modernidade.
O que evidencia a premiação do jovem ´diferente` presidente americano, certamente remete para a imagem de ser humano em gestação na atualidade com os traços de sede de liberdade e vontade de construir o próprio futuro.
Experimentamos o que se pode falar um ´SIM` da cultura como reflexo do relacionamento do homem consigo mesmo enquanto sujeito livre e protagonista ao lado de uma profunda mudança na compreensão do relacionamento deste com a natureza. O conceito de sustentabilidade põe em evidência a crise ecológica que se faz sentir com seus grandes e preocupantes efeitos para o futuro do planeta e dos seus habitantes.
Está cada vez mais claro que não basta produzir e ter recursos para adquirir o que se produz. A ruína hidroecológica, a destruição da Amazônia, a extinção de espécies vegetais e animais apontam para a necessidade de buscar outra forma de desenvolvimento e outra imagem de ser humano clamando por um acordo entre este e a natureza.
Na esteira desta verdade encontramos a relação do sujeito com os outros. Por um lado o indivíduo é tentado a se fechar na sua individualidade, acentuando a liberdade e autonomia que a existência do outro é colocada entre parênteses. Por outro lado o relacionamento com os demais ganha contornos políticos evidentes de tal modo que seja o conceito de liberdade, seja a exigência de solidariedade se traduzem em estruturas políticas. Organizar a liberdade e a solidariedade é eminentemente tarefa política. Em resumo podemos afirmar que se trata de sincronizar um conceito solipsista, individualista do ser humano e da economia e uma abertura para a solidariedade.
Naturalmente que toda esta mutação põe no olho do furacão também o modo como a humanidade se relaciona com Deus. Em princípio não está em jogo o conceito de imutabilidade de Deus, mas a sua imagem existencial e experiencial e a maneira de agir diante dele às quais ficam condicionadas por estas transformações culturais. É certo que precisamos admitir uma onda de secularismo e uma crescente descrença nas instituições religiosas, de outra parte uma espécie de renovação religiosa com o que se pode chamar ´revanche de Deus.` Há pouco mais de 45 anos do Concílio Vaticano II, o qual impulsionou a Igreja Católica para novas aventuras no campo da maturidade cristã e seus fiéis para compromissos no mundo, mais e mais nos damos conta que esta abertura tem profundas repercussões na ética e na política.
Especificamente no que se refere a relação do ser humano com a natureza. O conceito de sustentabilidade põe por terra o paradigma de ´dominar a natureza´ destrona o concepção e atitude agressiva diante dela, leva a considerar o meio ambiente não mais como um campo de batalha mas como ´casa de todos` confiada aos cuidados do homem a quem cabe cultivar nela as virtudes da hospitalidade.
Esta crise de relações é antes de tudo uma crise de identidade na qual se insere a crise política. A rapidez das mudanças com a conseqüente globalização dos seus efeitos leva a uma atenta reflexão em virtude de uma nova ética que se adéqüe à nova imagem e se encaminhe para identificar valores estáveis e normas válidas reinterpretando a totalidade da identidade numa cultura de diferentes valores.
A crise política desencadeada neste contexto vem reforçada pelo descrédito do exercício ético do poder político o que, por vezes, parece confirmar que entre ética e política não corre bom sangue. Mensalão, sanguessuga, moeda verde, e inúmeros outros escândalos no seio do poder legitimamente instalado pela sonhada democracia faz emergir os ´inocentistas´ de plantão que se pretendem ficar à margem dos caminhos da corrupção. A partidocracia que pode ser bem compreendida como partidoanarquia do sistema político partidário brasileiro, o qual ainda carece de reformas profundas, permite a emergência de partidos que pretendam se figurar como ícones da ética no cenário cinzento do panorama político partidário nacional.
Sem nos alongar é pertinente afirmar que a existência de uma ética que enerve a política não é opinião pacífica nem junto ao cidadão nem partindo dos estudiosos e especialistas. A despeito o sociólogo Norberto Bobbio afirma que a questão está na conjunção entre estas duas realidades, por sua vez Erasmo de Roterdão afirma que a ética absorve a política; enquanto Hobbes compreende a política como eliminadora da ética, por sua vez Machiavelli não tem escrúpulo em afirmar que tudo deve estar em função do poder.
Quanto a nós não hesitamos em afirmar que ética e política podem andar juntas na medida em que formos construindo a cidade na dimensão do homem. Tal afirmação confere densidade à atividade política que a torna identificada com o sonho do Papa João XXIII: ¨O bem comum compreende o conjunto das condições sociais que permitem aos indivíduos, famílias e associações alcançar mais plena e facilmente a própria perfeição.¨ (Mater et magistra 65).

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