sábado, 12 de fevereiro de 2011

EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA NUANCES HISTÓRICOS E DESAFIOS ATUAIS



Prof. Elcio Alberton[1]
O avanço da tecnologia em todos os campos também tem tomado de sobressalto a educação. Lembro-me que no início da década de 80 participei de uma palestra na aula inaugural de um curso superior e na ocasião o professor afirmava que a tecnologia jamais substituiria o contato pessoal do aluno com seu professor e fazia uma crítica contundente aos programas de educação a distância, conhecidos outrora.
Os cursos de educação a distância mais conhecidos remontam a primeira metade do século XX e serviam-se do que melhor havia em termos de educação a distância. Nesta situação merece citação os cursos oferecidos por correspondência, entre eles o Instituto Universal Brasileiro. Este oferecia um sem número de cursos de qualificação profissional e o que se chamava curso Ginasial por correspondência. Uma espécie de preparação para a prova de conclusão do ginásio segundo a antiga legislação educacional e mais tarde conclusão do primeiro grau de acordo com a lei 5692. No mesmo período o governo federal oferecia o “Projeto Minerva” um programa radiofônico de preparação para os exames nos mesmos moldes do que citamos acima.
Na década de 1970 o MEC proporcionou a qualificação de professores em exercício para as séries iniciais do primeiro grau. O projeto que recebeu o nome de “LOGOS” se desenvolveu na dinâmica modular e certificou um número bastante expressivo de professores com o curso normal. Neste período ainda coexistiam os modelos citados acima e surgiram os chamados telecursos, agora ganhando espaço com a popularização da televisão.
Durante toda a década de 1980 e quase todos os anos 90 os telecursos se proliferaram, algumas formas de educação a distância nesta modalidade ainda permanecem na televisão brasileira sob os moldes mais simples de “cursos de culinária” com os mais variados programas ainda em exibição na atualidade.
Os cursos conhecidos como EAD tem uma história muito recente e ainda carecem de projetos pedagógicos mais ousados a fim de que respondam as exigências da atualidade. Todavia é impossível falar de desenvolvimento da educação e de recursos tecnológicos na educação sem admitir a ferramenta da educação a distância.
Certamente todo o processo de ensino a distância ganhou novo alento com as iniciativas do governo federal e aqui precisa ser citado a Universidade Aberta do Brasil, cujo projeto dispensa comentários dado a sua abrangência e facilidade de acesso hoje pelo meio de comunicação mais popular e de mais fácil acesso: a rede mundial de computadores.
Quase nos mesmos moldes do antigo “PROJETO LOGOS” o ministério da educação reeditou um curso de formação a distância com o intuito de preparar educadores para a educação infantil. Denominado “PROINFANTIL” o projeto que já está no terceiro grupo pelo país afora tem diversos méritos e obviamente limites.
Entre os valores do “PROINFANTIL” certamente está o fato de oportunizar a qualificação no nível de magistério para um número bastante expressivo de pessoas que já se dedicam a educação e que não recebiam o reconhecimento merecido, nem sob o ponto de vista social, moral e tampouco econômico. Outro dado a ser ressaltado é a parceria entre os governos federal, estadual e municipal, por meio de uma rede de “entes” bastante bem articulada. O uso da rede mundial de computadores é um recurso extraordinário do projeto. Basta acessar a página do MEC e clicar no link “PROINFANTIL”  o usuário tem nas mãos o coração do projeto com todas as informações e materiais necessários. Exemplo disso pode ser citado em relação ao grupo III que por ocasião do seu início em julho de 2009 o material impresso ainda não estava disponibilizado, mas todos os envolvidos no programa puderam ter acesso a tudo na página que citamos. A mesma situação se deu por ocasião do início da segunda fase presencial, para a qual o material impresso só chegou depois de iniciada havia quatro dias. Até o presente momento não está disponível as impressões para a disciplina de língua estrangeira, entretanto, tutores, professores e cursistas tem acesso ao mesmo com o uso dos recursos virtuais.
 Por mais que não esteja suficientemente popularizado entre os cursistas o serviço de Internet não parece fora de propósito que no estado do Paraná este recurso tenha sido preferido a outros previstos no projeto. Refiro-me ao uso de um telefone “0800”. O projeto foi concebido para que nas AGFS (Agências formadoras) houvesse instalado computador com internet e um telefone 0800 com um esquema de plantão pedagógico para tirar dúvidas dos professores cursistas. Certamente e não fora de propósito a Secretaria de Estado da Educação, no projeto denominada pela sigla EEG, optou por disponibilizar desde muito cedo o primeiro e último item (computador com internet e plantão pedagógico) e não o telefone “0800”.
Os limites deste projeto podem ser identificados nos sistema de avaliação para o qual as provas bimestrais que recebem um peso muito alto no sentido de valoração para aprovação do professor cursista sejam elaboradas por uma das ATPs (Assessores técnicos do proinfantil nos estados), limitando assim a ação do professor formador no processo avaliativo do cursista. Ao professor formador cabe apenas a elaboração do que se chama AEE (Atividade Extra de Estudo) cuja nota a ser atribuída serão 2,0 sobre 10. E isto nos casos em que o professor cursista não alcance média superior a 6,0 na prova bimestral.
Outra limitação parece não residir no projeto originalmente, mas na feição que ele acaba ganhando nos estados em relação aos recursos bibliográficos. Refiro-me às indicações de consulta apresentadas depois de cada unidade de estudo. Muito pouco aproveitadas tanto por professores como pelos cursistas. Servir-se de indicações bibliográficas além do módulo tem sido um “pesadelo” para muitos professores, tutores, articuladores pedagógicos de educação infantil nas AGFS.
Tanto mais quando estes recursos se referem a internet. As escusas pré-textuais em relação ao uso da rede mundial de computadores vão desde as alegações que os cursistas não têm acesso até considerar que “aqueles com possibilidade de acesso seriam privilegiados em relação aos demais”. Diante destas considerações não me parece fora de propósito retomar que todas as AGFs tem disponibilizado acesso à internet; todas as escolas públicas do Paraná tem igualmente este recurso a disposição nos laboratórios de informática das escolas das quais os professores cursistas são alunos legalmente matriculados nas assim denominadas AGFs.
Indicadores de consumo indicam que pelos menos 80 por cento das famílias brasileiras tem acesso à internet em redes domésticas. Diante disso tomo a liberdade de perguntar e sugerir uma reflexão a partir do uso deste recurso com base nas constatações de uso pessoal e fontes extraoficiais. Pesquisas, não de todo científicas, vem indicando que a maioria significativa dos usuários de computadores com acesso a Internet, servem-se deste recurso apenas para comunicação instantânea e para acesso às redes de relacionamento.
Imagino que aconteça com o leitor o mesmo que se dá comigo. Isto é, ao abrir minha caixa de correio deparo-me diariamente com dezenas de mensagens e textos absolutamente sem o menor interesse e de pouco um nenhum valor científico. Como parece ser racional o tempo que gastamos com eles é apenas o de marcar com o “X” da exclusão. As solicitações de amigos nas redes de relacionamento são infinitas, por exemplo, no meu ORKUT são 485 ‘amigos' destes 28 são participantes do “PROINFANTIL”. Pergunto-me porque razão no meu blog onde disponibilizo textos de reflexão sobre formação de professores, uma das atividades previstas para os professores dentro do projeto, não estão registrados nenhum comentário e muito menos nenhum seguidor, nem ao menos para dizer que os textos não condizem com as expectativas, obviamente elencando razões para a afirmação.
A pergunta final sobre isso consiste em: O acesso à internet é restrito há poucos e, portanto, privilégio de alguns? Não aprendemos ainda fazer uso dos recursos para a educação a distância? Não interessam os textos que estão no blog? Ou não interessam textos que exijam reflexão e estudo e preferimos a internet nas redes sociais para mandar beijinhos e recordar do sorvete para o próximo encontro...



[1] Licenciado em Filosofia, Especialista em gestão educacional, Mestrando em educação, Professor formador no PROINFANTIL, e professor na UNOESC – Joaçaba Santa Catarina.

FORMAÇÃO DE PROFESSORES OU “ENFORMAÇÃO” DOCENTE



Elcio Alberton[1]

Para tratar da formação docente a primeira clareza que é preciso estabelecer consiste em percebê-la como um fenômeno complexo e que inclui dimensões pessoais de desenvolvimento humano muito ale do que técnicas. Em outras palavras tem a ver com “vontade”. Formação consiste no enriquecimento da competência todavia esta não exclusivamente técnica e acadêmica.
A formação de professores implica certamente num processo de mudança que desenvolve estratégias e competências tendo o desenvolvimento pessoal como eixo da formação. A máxima “se queres ser um bom professor faça com que os outros sejam bons”, aplica-se integralmente ao conceito de formação de professores. Isto obviamente exige superar a visão tecnicista da educação o professor não se resume a ser um técnico mas antes de tudo ele é um construtor, tal realidade implica colocar em prática novas ideias dentro um processo colaborativo.
Neste sentido é possível falar em ‘Andragogia’, isto é, arte e ciência de ajudar adultos a aprender. Professores que não experimentam um processo transformador na sua prática pedagógica correm o risco de alcançar a maturidade coberto de frustrações naquilo que se poderia chamar a quarta etapa do seu processo formativo ao qual pode se aplicar o adjetivo de “período da generatividade”, a saber: etapa da vida na qual o educador pode olhar para a sua trajetória e perceber a evolução que se deu no processo de ser pessoa e de ser professor.
Com certeza os desencantados serão para os mais jovens um desestímulo, em linguagem popular se aplica um provérbio mais ou menos assim: “é preferível um triste santo a um santo triste”. Aplicando essa máxima à docência se pode dizer: “é preferível um triste docente a um docente triste”. Para enriquecer nossa reflexão tomamos algumas afirmações de educadores que podem ajudar a compreender o que queremos dizer.
É neste sentido que Bernardete Gatti[2] afirma que o professor vai se fazendo ao longo do exercício e que um dos limites da formação é dicotomia que se estabelece entre a instituição formadora e a prática do cotidiano. Para este processo apresenta como indicativa necessidade de transformar a carreira docente numa atividade atraente e aponta como alternativa plausível a educação a distância uma vez que esta prática diminui substancialmente os limites necessários em infra-estrutura podendo ser aplicados na formação propriamente dita. Segundo esta autora a melhora substancial da formação implica em inovações desde a formação básica.
Na mesma direção Donald A. Schön[3], afirma que um dos equívocos no que se refere a formação de professores reside no processo de instituição de controle regulador dos programas de formação os quais normalmente acabam por legislar o que se deve ensinar, quando e quem pode fazê-lo e pior que isso avaliar isso no modelo de testes do que foi aprendido como um indicador se os professores são competentes para ensinar. Nesta direção estão os exames nacionais adotados no Brasil e particularmente no Programa Proinfantil  segundo o qual os professores cursistas aprendem na medida em que forem capazes de tirar boas notas em provas elaboradas por equipes técnicas que não estabelecem com estes nenhum contato formativo.
Segundo Donald os limites da formação se evidenciam na medida em é tido como certa uma resposta exata, feita de peças isoladas e combinadas entre si. Para explicar a fragilidade dos sistemas inventamos categorizações para os professores aprendizes as quais bem servem nos desincumbir de informações que perturbam a legislação estabelecida. Promovemos conhecimentos emanados do centro e imposto para a periferia não admitindo a sua reelaboração. No caso citado do programa em referência, que é uma cópia quase idêntica de outro praticado na década de 1970[4].
Para Donald um dos instrumentos indispensáveis ao aprendizado é a perplexidade ou o que se pode chamar a ‘confusão’, todavia nos projetos monitorados pela obtenção da nota afirmar que se está confuso signfica dizer que “sou burro”. O grande inimigo  da confusão é a resposta que se assume com verdade única. Diz o autor: “Se só existe uma única resposta certa, que é suposto o professor saber e o aluno aprender, então não há lugar legítimo para a confusão”. Neste tipo de formação a criação de práticas reflexivas confronta com a burocracia escolar. No programa em referência, por exemplo, os professores não tem autonomia para rediscutir a assertividade das questões propostas como única verdade. Se houver esta necessidade a questão precisa ser enviada a uma instância que recebe a qualificação de assessoria técnica pedagógica, que por sua vez encaminha a uma terceira instância a qual dá o veredicto final segundo o seu conceito de aprendizado e avaliação.
José Carlos Libâneo[5] aponta a reflexividade  como ponto fundamental para a análise das práticas formativas sejam elas relacionadas ao próprio professor sejam aplicadas à formação de outros. O termo ganha uma amplitude muito significativa na medida em que a expressão é entendida como relação direta com as situações práticas o que estabelece uma dialética. No texto reflexividade e formação de professores, Libâneo cita Pérez Gomez (1999: 29) o qual escreve:
A reflexividade é a capacidade de voltar sobre si mesmo, sobre as construções sociais, sobre as intenções, representações e estratégias de intervenção. Supõe a possibilidade, ou melhor, a inevitabilidade de utilizar o conhecimento à medida que vai sendo produzido para enriquecer e modificar não somente a realidade e suas representações, mas também as próprias intenções e o próprio processo de conhecer.

Segundo Libâneo a capacidade reflexiva consiste em garantir ao professor cursista a condição de empoderamento do sujeito nos vários âmbitos, mas especialmente no trabalho e na escola. Esta compreensão diminui a interpretação míope de que só os que estão atuando  e são protagonistas de uma prática é que melhor podem elaborar conhecimento para os demais. Em resumo, em se tratando de formação é imprescindível a necessidade de reflexão sobre a prática. Não é possível dissociar o trabalho do professor a partir da ótica institucional da sua inserção em contextos políticos e sócio culturais.
É claro que toda foramação implica também e pesquisa que é sem sombra de dúvida um elemento essencial na formação do professor.  Feitas estas considerações parece oportuno sugerir que a formação de professores no projeto PROINFNTIL mereça outras considerações em encaminhamentos levando em consideração que se trata de um programa de educação à distância ele carece de maior agilidade e objetividade. Com certeza o uso de outras técnicas e avaliação do aprendizado tornarão o programa mais atraente e mais eficiente.
Nos moldes como o programa vem sendo desenvolvido com a simples reprodução de saberes e suposta transmissão de informação de uns sobre outros parece oportuno que seja qualificado como “enformação[6] docente”.






[1] Elcio Alberton, Licenciado em Filosofia, Especialista em Gestão Educacional, Mestrando em Educação. Professor no Programa PROINFANTIL.

[2] Graduada em Pedagogia pela Pedagogia pela Universidade de São Paulo (1962) e doutorado em Psicologia - Universite de Paris VII - Universite Denis Diderot (1972), com Pós-Doutorados na Université de Montréal e na Pennsylvania State University. Docente aposentada da USP e ex-professora do Programa de Pós-Graduação em Educação.
[3] Professor do Massachusetts institute of tecnology – Estados Unidos.
[4] Logos – formação de professores para o nível do magistério.
[5] Graduado Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1966), mestrado em Filosofia da Educação (1984) e doutorado em Filosofia e História da Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1990). Pós-doutorado pela Universidade de Valladolid, Espanha (2005). Professor Titular aposentado da Universidade Federal de Goiás. Atualmente é Professor Titular da Universidade Católica de Goiás, atuando no Programa de Pós-Graduação em Educação, na Linha de Pesquisa Teorias da Educação e Processos Pedagógicos.
[6] Termo cunhado pelo autor para designar o ato de “colocar na forma”.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

HOMILIA PARA O DIA 13 DE FEVEREIRO


VI DOMINGO DO TEMPO COMUM

Leituras: Eclesiástico 15, 16-21; salmo 118(119);
1Corintios 2,6-10; Mateus 5, 17-37.

As frequentes catástrofes que muitos irmãos nossos, no Brasil e fora dele, tem sido vítimas nos últimos tempos despertaram, de algum modo, em todas as pessoas um sentimento muito mais forte de solidariedade e responsabilidade pela vida nas suas mais diferentes formas. Participar das campanhas de ajuda humanitária tem sido uma maneira de se fazer discípulo de Jesus e seguidor da sua Palavra. Naturalmente que esta maneira de se comportar não foi um privilégio dos cristãos, e dos que frequentam as igrejas. Entretanto, a prática da oração comunitária, exercício que se  repete de domingo a domingo, dá outro sentido para a prática da caridade e a participação no sofrimento alheio ganha ares de  louvor e ação de graças.
Neste sentido a liturgia da Palavra  ensina a fazer escolhas. A começar pelo texto do Eclesiástico cuja decisão fundamental consiste em escolher não fazer o mal! Deus dá a liberdade, porém ir para o bem ou para o mal é uma atitude que não depende da vontade dele e sim da vontade humana. Obviamente que esta atitude implica sempre arcar com as consequências.
São Paulo escreve também aos Coríntios reafirmando o que já havia dito em outras circunstâncias, ou seja: Deus está do lado daqueles que sofrem! Reconhecer a presença dele nestas circunstâncias significa ter maturidade que pode também ser compreendida como proximidade da perfeição. A forma mais original de reconhecer a presença de Deus é aceitar os ensinamentos de Jesus, os quais estão detalhados no Evangelho.
O texto de Mateus, que é continuação do domingo passado, afirma primeiro que Jesus não veio para destruir nada do que já fazia parte da revelação ou lei que os antepassados haviam aprendido e aceitado como verdade. Pelo contrário, ele reafirma a validade de tudo reinterpretando, como fez com as Bem-aventuranças, de um modo mais fácil para ser compreendido cada um dos princípios da lei. Neste sentido ele fala sobre o mandamento: “Não matar” e vai muito mais longe. Não basta não matar, é preciso praticar sempre mais gestos e atitudes de reconciliação.
Muito mais do que cometer adultério é preciso evitar situações e oportunidades que venham a facilitar a prática deste delito. Ninguém tem o direito de condenar o pecado alheio, pelo  contrário antes de tudo, todos são chamados, a manifestar a ternura e a compreensão. A face de Deus que Jesus revela não é de um vingador e carrasco, pelo contrário, de um Pai amoroso que compreende o erro e a fragilidade e tudo facilita para que a suas criaturas fiquem livres de todos os pecados e condenações.
Dentro desta perspectiva  o amor a Deus implica sim, na observância das lei e dos mandamentos, consiste sim em rezar e participar da vida comunitária, mas implica também em igual medida ter fé na bondade de Deus e honrar cada pessoa, pois todo ser humano é imagem e criatura do mesmo Pai de Jesus.

SEMANA PEDAGÓGICA UNOESC 2011

AVANCEM PARA ÁGUAS MAIS PROFUNDAS[1]
A propósito da semana pedagógica proporcionada ao corpo docente da UNOESC no início do ano letivo 2011, tomo a liberdade de tecer comentário e colaborar na reflexão provocada na ocasião.
Minha participação parte da prática pedagógica cotidiana e tomo como ponto de partida a Palavra de Jesus segundo o texto de Lucas capítulo 5, versículos de 1 a 11. No texto em referência os seguidores dele estavam desiludidos depois de uma noite de pesca sem nenhum resultado. Motivados pela palavra do Mestre tomaram coragem e foram lançar redes em águas mais profundas, o resultado foi surpreendente como se pode ler na perícope. Em outras palavras, o desafio para os pescadores do evangelho se constituiu em “sair da zona de conforto”. 
A fim de não me limitar a um princípio cristão do que chamo de Espiritualidade e porque não ousadia, cito ainda textos e expressões de distintos pensadores e mestres  em seguida faço reflexões pontuais sobre a semana pedagógica e o que pude entender dos seus objetivos.
Um dos princípios Hindus, expresso no livro dos Vedas aponta como objetivo desta religião alcançar  “moksna” ou liberação à qual se realiza por meio da dedicação – Satya.
Por sua vez Gandhi, entendia que o ser humano pode ser melhor e alcançar melhores objetivos mediante o cultivo da coragem como virtude, atribui-se a ele a expressão: “A coragem nunca foi questão de músculos. Ela é uma questão de coração. O músculo mais duro treme diante de um medo imaginário. Foi o coração que pôs o músculo a tremer.” E ainda: “Seja em você a mudança que quer para o mundo”.
Para o Budismo, coragem e espiritualidade são muito próximos e a Buda se atribui: “Eu sou o resultado de meus próprios atos, herdeiros de atos; atos são a matriz que me trouxe, os atos são o meu parentesco; os atos recaem sobre mim; qualquer ato que eu realize, bom ou mal, eu dele herdarei. Eis em que deve sempre refletir todo o homem e toda mulher”. Por causa disso mesmo o sábio ainda afirma: “Não viva no passado, não sonhe com o futuro, concentre a mente no momento presente”. E noutra ocasião quando perguntado como faria para andar dois mil passos respondeu: “Basta dar o primeiro, os outros virão a seguir”.
Para o monge tibetano Dalai Lama a questão da coragem e da mística pode ser lida a partir da afirmação: “Só existe dois dias no ano que nada pode ser feito. Um se chama ontem e o outro se chama amanhã, portanto hoje é o dia certo para amar, acreditar, fazer e principalmente viver”. E para que essa condição seja possível o sábio indica ainda a alternativa: “Determinação coragem e auto confiança são fatores decisivos para o sucesso. Se estamos possuídos por uma inabalável determinação conseguiremos superá-los. Independentemente das circunstâncias, devemos ser sempre humildes, recatados e despidos de orgulho”.
O profeta Maomé trata da coragem na mesma direção que todos os demais, é dele a frase: “Homem verdadeiramente corajoso é aquele que tem medo do temor”. Neste sentido reitero a perspectiva inicial da Palavra de Jesus Cristo, ou seja, diante das adversidades é importante lançar as redes em águas mais profundas. Esta realidade também não parece ser uma atitude a ser tomada uma única vez na vida, mesmo diante da repetidas dificuldades cabe a máxima do poeta Bertold Brecht:  “Há homens que lutam um dia e são bons. Há outros que lutam um ano e são melhores. Há os que lutam muitos anos e são muito bons. Porém, há os que lutam toda a vida. Esses são os imprescindíveis”.
Paulo Freire, cuja paixão e proposta inovadora para a educação é admirável e de resultados inquestionáveis afirmou também que “educar é um ato de amor e, portanto, um ato de coragem”. Cujo significado da Palavra pode ser expressão do seguinte modo: “Força ou energia moral que leva a afrontar os perigos; valor; destemor, ânimo, intrepidez, bravura, denodo: lutar com coragem”.
Neste sentido, homens e mulheres que fizeram parte da história e cuja proposta pedagógica merece ser sempre revisitada e aplicada ao cotidiano da educação com os princípios da “Reflexão, Decisão, Ação e Revisão” constituindo-se, como se disse, num processo permanente que pede flexibilidade e revisão.
Demerval Saviani, em sua autobiografia recorda distintos momentos da sua história como educando e educador e cita um episódio do período da repressão militar (1966) ocasião em que, por ocasião de um concurso de música popular promovido pela Rádio Marconi, uma das canções censuradas dizia:

Irmãos brasileiros marchemos
Com coragem e habilidade.
Só lutando nós conseguiremos
Conquistar novamente a liberdade.
Conquistar novamente a liberdade foi o desafio que experimentou Fernão Capelo Gaiovota nas repetidas aventuras para voar “diferente” do que todos do seu “bando” sempre fizeram. Não lhe faltaram momentos de desânimo, mas não lhe faltou a compreensão que “Qualquer número é um limite e a perfeição não tem limites. Não acredite no que seus olhos veem, mas na sua compreensão”. Por isso mesmo voltou sempre a “Voar! E procurar no seu vôo caminhos que levam ao objetivo supremo, idealizado! Não, não pense que é fácil. De fato, não é! Mas fica difícil se não houverem movimentos que façam mudanças positivas. Mudanças nas quais você encontra força e coragem para ir um pouco mais longe”. Foi essa determinação que lhe garantiu pelo menos quatro características: “Superação, qualidade, motivação, segurança”.
Eis, pois, no que se refere ao Plano de Ensino no contexto da metamorfose civilizatória e desde o princípio da mística para educação no novo milênio: Nada está pronto, nada está acabado! Os repetidos modelos, a consagrada prática paradigmática de “fazer educação” já não responde aos desafios da atualidade. Estamos diante de uma metamorfose a qual exige dos educadores uma adequação radical  e rigorosa no jeito de ser.
No processo ensino aprendizagem que o século XXI exige já não se pode mais comportar-se como ouriço: “sozinho se morre de frio e aproximando-se espeta-se”. Urge aprender com Luther King: “Ou nos damos as mãos ou morremos todos como idiotas”.
É neste sentido que se pode ler os valores a que se propõe a UNOESC:  Capacidade de atuar em equipe e atuação com profissionalismo. Diante disso urge inovar com criatividade, flexibilidade e capacidade de adaptar-se a novas situações.
Permitam-me concluir com a letra da música Companheiro,  de Marcelo Barra:
Vai amigo
Não há perigo que hoje possa assustar
Não se iluda
Que nada muda se você não mudar
Ponha alguma coisa na sacola
Não esqueça a
viola
Mas, esqueça o que puder
E cante que é bom
viver
Rasque as coisas velhas da
lembrança
Seja um pouco de criança
Faça tudo o que quiser
E cante que é bom viver.



[1] Elcio Alberton, professor no curso de Pedagogia Campus de Campos Novos. Provocações a partir do filme “Fernão Capelo Gaivota” por ocasião da semana pedagógica 2011.

HOMILIA PARA O DIA 13 DE FEVEREIRO


VI DOMINGO DO TEMPO COMUM

Leituras: Eclesiástico 15, 16-21; salmo 118(119);
1Corintios 2,6-10; Mateus 5, 17-37.

As frequentes catástrofes que muitos irmãos nossos, no Brasil e fora dele, tem sido vítimas nos últimos tempos despertaram, de algum modo, em todas as pessoas um sentimento muito mais forte de solidariedade e responsabilidade pela vida nas suas mais diferentes formas. Participar das campanhas de ajuda humanitária tem sido uma maneira de se fazer discípulo de Jesus e seguidor da sua Palavra. Naturalmente que esta maneira de se comportar não foi um privilégio dos cristãos, e dos que frequentam as igrejas. Entretanto, a prática da oração comunitária, exercício que se  repete de domingo a domingo, dá outro sentido para a prática da caridade e a participação no sofrimento alheio ganha ares de  louvor e ação de graças.
Neste sentido a liturgia da Palavra  ensina a fazer escolhas. A começar pelo texto do Eclesiástico cuja decisão fundamental consiste em escolher não fazer o mal! Deus dá a liberdade, porém ir para o bem ou para o mal é uma atitude que não depende da vontade dele e sim da vontade humana. Obviamente que esta atitude implica sempre arcar com as consequências.
São Paulo escreve também aos Coríntios reafirmando o que já havia dito em outras circunstâncias, ou seja: Deus está do lado daqueles que sofrem! Reconhecer a presença dele nestas circunstâncias significa ter maturidade que pode também ser compreendida como proximidade da perfeição. A forma mais original de reconhecer a presença de Deus é aceitar os ensinamentos de Jesus, os quais estão detalhados no Evangelho.
O texto de Mateus, que é continuação do domingo passado, afirma primeiro que Jesus não veio para destruir nada do que já fazia parte da revelação ou lei que os antepassados haviam aprendido e aceitado como verdade. Pelo contrário, ele reafirma a validade de tudo reinterpretando, como fez com as Bem-aventuranças, de um modo mais fácil para ser compreendido cada um dos princípios da lei. Neste sentido ele fala sobre o mandamento: “Não matar” e vai muito mais longe. Não basta não matar, é preciso praticar sempre mais gestos e atitudes de reconciliação.
Muito mais do que cometer adultério é preciso evitar situações e oportunidades que venham a facilitar a prática deste delito. Ninguém tem o direito de condenar o pecado alheio, pelo  contrário antes de tudo, todos são chamados, a manifestar a ternura e a compreensão. A face de Deus que Jesus revela não é de um vingador e carrasco, pelo contrário, de um Pai amoroso que compreende o erro e a fragilidade e tudo facilita para que a suas criaturas fiquem livres de todos os pecados e condenações.
Dentro desta perspectiva  o amor a Deus implica sim, na observância das lei e dos mandamentos, consiste sim em rezar e participar da vida comunitária, mas implica também em igual medida ter fé na bondade de Deus e honrar cada pessoa, pois todo ser humano é imagem e criatura do mesmo Pai de Jesus.