sábado, 28 de novembro de 2009

HOMILIA DO DIA 29 DE NOVEMBRO 2009

1° DOMINGO DO ADVENTO


Leituras: Jeremias, 33, 14-16; Salmo 24(25) 4-5.8-10.14;
1Tessalonicenses 3,12-4,2; Lucas 21,25-28.34-36


Uma das virtudes que cultivamos é a Esperança. Dizemos até que a Esperança é última que morre e ainda que podem nos roubar tudo menos a esperança. Por conta desta situação, mesmo diante das maiores dificuldades sempre temos coragem para recomeçar.

É com este espírito que a liturgia da Igreja nos coloca neste domingo o reinicio do ano litúrgico. Na expectativa da vinda do messias iniciamos o tempo do advento na perspectiva da conversão e na vigilância. Um dos gestos que indicam nossa preparação e cofiança está manifestado no acendimento da primeira vela na coroa do advento. As cores litúrgicas, as orações, os cantos, a Palavra que ouvimos tudo aponta para o crescimento espiritual de quem aguarda dias melhores.
Assim a forma apoteótica como Lucas descreve no evangelho a chegada definitiva do Filho do homem indica que Deus não se deixará vencer pelas fragilidades dos nossos tempos, pelo contrário o Reino será instalado e de modo definitivo. Quanto a nós o evangelho pede uma atitude: “Não ter medo, erguer a cabeça”, afinal nossa luz é Jesus.

A palavra do profeta na primeira leitura renovou a esperança da comunidade de outrora e reacende também para nós a perspectiva de novos tempos. Deus é fiel e o que ele prometeu será cumprido, o filho que enviará restabelecerá o direito e a justiça, um novo céu e uma nova terra irão acontecer.

Já a palavra de São Paulo para a Igreja de Tessalônica recomenda uma atitude que se encaixa perfeitamente para nossas comunidades: Crescer no amor, na santidade e na justiça. Ser agradável e progredir no ensinamento. Não ficar devendo nada a ninguém a não ser o amor mútuo. Em resumo o projeto de Deus é uma construção com a qual somos convidados a colaborar no dia a dia.

Neste tempo do advento, é bom que nos perguntemos: Nossa vida tem sido um empenho por dias melhores para todos e em todos os lugares?

Peçamos, pois que este tempo fortaleça a nossa fragilidade e nos faça proclamar nossa fé com o testemunho da vida.

sábado, 21 de novembro de 2009

PESQUISA EM EDUCAÇÃO

FÉ CRISTÃ, CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO:
PAIDÉIA AO ALCANCE DE TODOS




Sob a ótica do projeto de mestrado:
Policidadania: formação mistagógica do docente


O autor trata da incorporação do vocábulo grego na prática cristã educadora. A questão da educação e da civilização (Paidéia) grega, segundo o autor foi assumido pelo cristianismo e à expressão original se acrescentou o termo “cristão”. Esta inocente junção de palavras é muito mais complexa do uma espécie de adjetivo ao costume grego.
Os educadores cristãos partem do princípio que o primeiro e principal pedagogo é Deus, cuja ação teve inicio na obra da criação e na educação do seu povo. No Antigo Testamento Deus Pai e no Novo Testamento Deus Filho, assumem a tarefa de formadores do ser humano. Este último recebeu o título de Rabi, o que mais tarde foi sinonimado pela palavra pedagogo. A partir da sua própria palavra: Se eu o Mestre e Senhor fiz... Façam também vocês.
Citando Jaeger, o autor tem convicção do título que foi atribuído a Deus: Pedagogo da Humanidade. Por sua vez aos homens do mundo não resta alternativa: ser discípulos da celeste pedagogia. E somente trilhando este caminho o ser humano está se aproximando do verdadeiro conhecimento, isto é, compartilhando da autêntica sabedoria à qual se encontra somente em Deus.
Por conta disto os formadores deste mundo assumem a função de pedagogos na medida em que se habilitam a conduzir os demais para o encontro com Cristo. A verdadeira e única Paidéia é a imitação de Cristo, em quem se consuma toda educação.
Longe de Deus toda sabedoria humana é loucura, pois só nele estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e da ciência. Naturalmente que este é um processo lento, o qual se vai aprendendo ao longo de toda a vida.

REFERÊNCIA
Renato Gross, Diálogo Educacional, Curitiba, V. 6, n.19, p.141-156. Set./dez. 2006

POR UMA PEDAGOGIA LIBERTADORA

COMENTÁRIOS À OBRA PEDAGOGIA DO OPRIMIDO


Sob a ótica do projeto de mestrado:
Policidadania: formação mistagógica do docente


No Prefácio do livro o professor Ernani Maria Fiori, escreve assim:
“Talvez seja este o sentido mais exato da alfabetização: aprender a escrever a sua vida, como autor e como testemunha de sua história, isto é, biografar-se, existenciar-se, historicizar-se. Por isso a pedagogia de Paulo Freire, sendo método de alfabetização, tem como ideia animadora toda a amplitude humana da “educação como prática da liberdade”, o que, em regime de dominação, só pode produzir e desenvolver na dinâmica de uma pedagogia do oprimido”.
E continua seu raciocínio afirmando que nenhuma teoria, nem mesmo a de Paulo Freire, são valiosas sozinhas, diz isso para concluir o prefácio com a afirmação: “os homens humanizam-se trabalhando juntos para fazer do mundo, sempre mais, a mediação de consciências que se coexistenciam em liberdade”.
Por sua vez o autor nos quatro capítulos que compõe a obra pode ser interpretado com a seguinte linha de pensamento e linguagem.
A arte de educar consiste em preparar para a liberdade. Este conceito não é de todo uma novidade. Nesta direção pode ser lido o mito da caverna criado por Platão. Quanto mais livre for o ser humano maior será sua possibilidade de conhecer e maior será o seu senso de humanidade.
A ideia mestra que percorre toda a obra é o conceito de humanização, com a afirmação que esta situação o ser humano não adquire por meio de coisas, se não mediante a consciência de quem ele é. O autor remete a reflexão às palavras do teólogo e filósofo cristão da Ásia Menor no século IV – Gregório de Nissa – nas palavras deste temos a máxima: “de nada adiante dar a alguns o que se tira de outros”. Esta reflexão é profundamente bíblica e se pode ler no livro de Eclesiástico capítulo 34. “Como aquele que mata o filho na presença do Pai é comparado quem oferece um sacrifício feito com bens roubado dos pobres”.
Neste sentido a pedagogia do oprimido consiste acima de tudo em lutar pela restauração da humanidade e pela generosidade. Uma verdadeira mística impedirá que o discente de hoje seja opressor de amanha. Na condição de quem trabalha pela humanização o educador é para o do educando um testemunho de generosidade e de liberdade. Neste sentido espiritualidade implica afirmar a liberdade como um valor e empenhar-se para que esta se realize.
A impossibilidade para fazer acontecer a liberdade consiste em perceber que entre opressores e oprimidos há um diálogo de surdos que se torna abissal, no sentido que os primeiros não são capazes de pensar a partir do Ser, mas do Ter. Neste conceito quando os últimos passam a ter simplesmente se inverte a pirâmide. Por isso a primeira condição para uma nova pedagogia será convencer os oprimidos a sentirem-se sujeitos da própria libertação, este consiste um desafio a ser perseguido.
Superar a visão da educação como algo que se dá (ou se vende), para uma educação que se faz, exige quebrar paradigmas e porque não quebrar imagens. A primeira imagem, ou o primeiro paradigma a ser quebrado é o do professor como aquele que tem a posse do saber. O educador há de ser visto muito além do que aquele que tem a posse do conhecimento e que o deposita nos seus discentes, tal como lhe foi transferido outrora e não adquirido. Esta concepção consiste em criar uma nova mística.
A educação como pratica da liberdade exige a construção de uma nova imagem de ser humano, ou melhor, da compreensão da verdadeira imagem deste como um indivíduo absurdamente diferente dos outros animais, no sentido que somente este cria e recria. Esta nova compreensão dará ao professor/educador uma mística de valorização da docência e do docente.
O processo de construção da liberdade caminha na linha da investigação, atitude que implica o despertar de consciência em vista de projetos de vida. Se persistir a prática de uma educação que não promove a libertação certamente se deve à falta de projetos, realidade que instrumentaliza todos os envolvidos e acaba por frear o processo investigativo. A isto nós denominamos falta de espiritualidade.
De acordo com a concepção que o autor vai desenvolvendo ao longo de todo o processo na qual os indivíduos são envolvidos na construção de um modo de fazer educação que consiste e conceber o processo codificação/descodificação. A mudança de foco no complexo mundo da educação faz compreender o indivíduo não mais como depositário, mas como sujeito/produtor de um saber totalmente novo. Sob a mística da participação a educação deixará de ser compreendida como um presente, ou um produto, que alguns têm direito a receber, mas como elaboração de um conhecimento no qual todos os participantes se sentem produtores.
No nosso projeto de pesquisa, propomos o modelo pedagógico de Jesus de Nazaré, estamos imaginando a liderança revolucionária que não se instala no educando ocupando o lugar até agora ocupado pelo opressor. Pelo contrário, convive com o oprimido no sentido de “despejar” o inquilino que está dentro dele. A grande crítica que Jesus fez à sociedade do seu tempo consiste em não ser sujeito da sua libertação, mas em viver dominada pelo pensar manipulador de alguns poucos líderes da época.
A libertação, segundo Paulo Freire, não é um processo de uns para os outros, mas de uns com os outros, e a isto nós chamamos de mística de comunhão e o documento de aparecida chama de globalização da solidariedade. A globalização de que se fala no documento citado é o caminho para a unificação e a organização tão temida no contexto da opressão. Somente o cultivo de uma mística de valorização do outro fará com que o educador não se comporte como invasor das culturas e do ser do educando.
A renúncia a toda forma de manipulação é antes de tudo adesão a outro modo de tratar dos oprimidos – em lugar de estar neles, ser um com eles. Entre as figuras cuja prática merece ser lembrada é Camilo Torres, cujo empenho revolucionário o levou a jogar-se por inteiro como cristão e como guerrilheiro. É a comunhão que gera a verdadeira colaboração e isto conduz para a globalização da solidariedade a qual implica na unidade dos diferentes grupos.
O autor conclui o seu sonho de construção de um nova pedagogia com uma frase que citamos na íntegra e com a qual nosso projeto se afina em gênero número e grau: “Que permaneça firme nossa fé nos homens e na criação de um mundo em que seja menos difícil de amar”.

REFERÊNCIA

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido, Rio de janeiro, paz e terra, 2005.

IMAGENS QUEBRADAS - MIGUEL ARROYO

COMENTÁRIOS AO LIVRO IMAGENS QUEBRADAS


Sob a ótica do projeto de mestrado:
Policidadania: formação mistagógica do docente



A obra parte do princípio que os tempos mudaram e consequentemente as pessoas se transformaram, os conceitos são outros, as verdades não são as mesmas, daí que a educação e os educadores precisam ser vistos com outros olhares e sobre outros ângulos.
O primeiro elemento tratado no livro consiste em perceber que educar significa tornar o ser humano mais humano. Alias esta expressão parece ter ficado clara nas palavras do Irmão Clemente Ivo Juliato na sessão de abertura do IX EDUCERE, na ocasião ele proferiu a seguinte sentença: “A educação não pode resolver todos os problemas, mas faz parte da solução de todos. Os problemas dependem da transformação da pessoa e este é o campo da educação". Isto parece ser a tônica de outros educadores. Entre eles recordamos Platão e Santo Tomás de Aquino para quem a função da educação é realizar o que o homem deve ser. E Rosseau que dizia: das mãos do professor sai, antes de tudo o ser humano.
Entretanto, o autor da obra em referência parte do princípio que esta tarefa vem tornando-se cada dia mais exigente na medida em que as imagens foram e estão sendo quebradas. Neste novo cenário da educação o convívio com os educandos, cujas imagens se quebraram, pode levar o educador a diminuir sua função de auscultador dos mistérios da vida para se tornar um juiz dos seus atos. Neste sentido a primeira exigência que precisa permanecer é a de que o educando precisa ser visto como ser humano que é inserido num convívio de humanos.
De nossa parte dizemos que aí se encontra a mística do educador, ou seja, ir muito além da sua função de estar a serviço da educação e SER um serviço em vista da formação integral do ser humano indo além e quebrando os paradigmas que envolvem o seu mundo.
No contexto da educação transformada em quase mercadoria os paradoxos que a circundam transformam o educador em mercador de um produto que é ao mesmo tempo um direito dos consumidores em potencial. Ultrapassar esta barreira e trabalhar a cada dia para realizar o sonho da noite de formatura, que não se realizará em um dia nem tão pouco num momento mágico. A mística do educador consiste em ir preparando sujeitos que serão muito mais do que “caixas de ferramentas” plenamente cheias e prontas para o uso num determinado momento de sua existência, mas que vão se construindo cotidianamente.
Tendo presente esta concepção não basta ser esperto na sua área de conhecimento é preciso não ser ignorante no que se refere ao sentido da vida, isto implica aprimorar o conhecimento específico e o conhecimento do drama humano. É impossível separar a educação das expectativas e da orientação de vida. Dito isto é mais fácil compreender quando o autor fala em conhecer as trajetórias e os tempos dos educandos como uma condição para reconstruir as trajetórias profissionais dos mestres.
No processo de educação e no cotidiano das relações sociais nos deparamos com as imagens quebradas que tínhamos da infância. Esta etapa da vida que foi construída como símbolo de bondade quase angelical foi sendo substituída por imagens de decadência moral e neste universo o que se pode esperar como resposta dos seus mestres. Estamos experimentando tempos confusos para os mestres e para toda a tarefa da docência: quanto mais o educador conhecer o aluno mais se dará conta que está distante dele, posto que o último seja sempre uma caixinha de surpresas.
Uma das situações mais dúbias pelas quais passa o mundo da educação é o conceito de violência e o fenômeno que a ela dá origem. Para trabalhar esta realidade é preciso compreender antes as condições inumas em que vivem nossos educandos, sejam eles provenientes de qualquer uma das classes sociais. Certamente aquela condição é mais violenta que a própria violência por eles praticada. O educador é chamado a se defrontar com a trajetória dos educandos e por meio deste confronto descobrir sua imagem humana de educador.
As tensões provocadas nos diversos níveis de relacionamento exigem trazer para o centro das discussões os tempos humanos de educados e educadores. Em outras palavras trazer o SER de cada uma das partes envolvidas no processo. Como compreender a educação e a escola como um direito se os que dela se acercam não realizam com alegria. Aquilo que é um direito não pode ser transformado num criador de monstrinhos. As tensões merecem ser encaradas e resolvidas na medida em que a comunidade escolar passar a levar para a escola a sua fome de saber associada à fome de sentido para a vida.
O imaginário dos educandos precisa encontrar na escola uma resposta para suas mais profundas inquietações. A evasão, a desatenção, a não aprendizagem e até a violência podem ser sintomas que a educação não está alcançando o objetivo de ser o imaginário construído. Parece que aquilo que se ensina não é referência para a vida. A especificidade de ensinar consiste em facilitar que o outro aprenda e isto obviamente não se dá enquanto o educador for visto e tratado como aquele que sabe a serviço daquele que não sabe.
Um dos desafios para recuperar o sentido alegre do direito à educação será completar nas bases curriculares questões que ajudem a responder o sentido da vida. Um dos lugares, se é que se pode chamar assim, para se aprender é a vivência dos direitos e deveres. Na medida em que o educador tem claro sua função de formar pessoas mais facilmente ele se dará conta que seus discípulos são sujeitos que pensam, aprendem, fazem, concordam, discordam, etc. Sob esta ótica é pertinente ao educador desenvolver habilidades para escutar, ver, experimentar, criar sensibilidade para com toda a realidade dos destinatários da sua missão.
Não se pode prescindir da tarefa do educador que ele está a serviço do ser humano na sua totalidade e não apenas de uma das partes seja ela, corpo, mente ou espírito. Parece muito mais fácil ser professor especialista em conhecimento do que ser educador na totalidade da existência dos seus discípulos. Ler a tarefa do educador com outros olhares implica trazer para os currículos os grandes questionamentos humanos, os quais muitas vezes estão olvidados.
As imagens quebradas das crianças angelicais precisam ser lidas à luz da espiritualidade, isto é da mística que constrói o ser por inteiro. Muitas vezes o educador tem dificuldades para imaginar questões relevantes do existir humano uma vez que foi formado para ser docente de conteúdos sendo insensível às grandes interrogações que lhes são apresentadas por seus alunos. Facilmente o educador é levado a concluir que aquilo que não se enquadra no currículo não é conhecimento. Esta concepção urge ser quebrada para recuperar a visão da figura humana na sua inteireza.
Mais do que em outros tempos a sociedade manifesta uma aguçada preocupação com conduta e neste sentido facilitar a realização de um comportamento adequado é tarefa que exige empenho público, pessoal e particular. A superação da mentalidade fragmentada do ser humano é um imperativo para recuperar o terreno perdido com a crescente quebra de imagens. Naturalmente, alguém precisa ser responsabilizado por esta parte da educação sob pena de ser uma tarefa de todos e não ser atribuição de ninguém.
O universo das imagens quebradas apresenta uma vulnerabilidade na arte de aprender e ensinar e esta realidade exige um melhor acompanhamento nos percursos de sua formação. A formação humana e integral costuma ser menos familiar do que os conhecimentos e, por isso mesmo, acaba sendo tratada com pouco ou nenhum profissionalismo. Na arte de educar se faz necessário compreender que muitos dos destinatários da educação tem um única escolha: Ficar vivos! Daí que aproximar-se dos educandos diante das suas escolhas exige da docência novas crenças, novos saberes, novas capacidades profissionais. Exige mística. Ele precisa ser um mistagogo do saber.
As escolhas a que nossas crianças e adolescentes são forçados a fazer condicionará o papel dos educadores nos seus tortuosos processo de formação e no exercício da sua liberdade. O mundo da pós modernidade que quebrou as imagens, antes angelicais, das nossas crianças faz também que elas sejam forçadas a fazer escolhas antes reservadas à sociedade adulta e aí se encontra o desafio para o educador reaprender o seu ofício ou diria a arte de educar à qual exige uma paciente espera.
Não tem mais lugar no campo da educação e de toda a realidade humana a ideia da predestinação divina, o desafio consiste em dar novas respostas para novas imagens, ou seja, ser educadores novos diante de novos alunos. Para dar conta das novas situações de trabalho os docentes são chamados a elaborar novas estratégias de estudo e de planejamento, estratégias coletivas de reorganização curricular. O principal produto da inovação escolar serão as mudanças que se fizer acontecer nos próprios docentes. Prática e teoria docente estão cada vez mais interligadas, isto significa dizer mistagogia.
Uma das coisas que exige ser respondida é a questão do tempo, este separa o profissional docente do educador. A resistência em questionar a ordem temporal do processo educativo (idade cronológica, idade escolar, relação idade série – idade ciclo, etc.) implica em reinventar outra ordem e isto exige uma nova mística para o tempo e para a educação como um todo. Do modo como estão pensados os espaços e os tempos a escola ainda mira a formação de profissionais, conteudistas, e faz perecer o tempo para o ser humano. Será imprescindível readequar as trajetórias temporais e as trajetórias humanas.
Há que superar a visão dualista do processo educacional uma vez que os tempos e lugares aos quais convencionamos como restritos para a educação se encontram distintos e com diferentes missões. Neste modelo a escola ensina enquanto cabe às famílias, à sociedade, às igrejas educar. Essa dicotomia há que ser superada é necessário recuperar a formação do ser humano na sua total complexidade. Daí que a visão do educador precisa ir muito além do frágil conceito de docência neutra, sua imagem não pode ser separada da sua imagem de docente humano. Docência e formação são duas faces da mesma moeda.
O Ser humano vive no tempo, mas não em função do tempo. Com este conceito fica mais fácil compreender que é preciso pensar antes nos tempos humanos do que nos tempos para os humanos. Mais do que vivenciar as estruturas e sistemas é necessário ter em mente os sujeitos. Esta afirmação está implícita nas palavras do autor quando escreve: “Por vezes, nossos alunos, passam anos assistindo aulas onde se explica tudo, menos suas vidas. Porque a escola e seus professores que sabem tanto sobre tantas matérias pouco sabem e explicam sobre a infância, a adolescência, a juventude, suas trajetórias, impasses, medos, questionamentos, culturas, valores?" (Arroyo, 2009, p.305).
Nossa sociedade ocidental é cristã, não será, pois interessante que nossos educadores sejam vistos como espelho também sob o ponto de vista da mística de Jesus de Nazaré? Diante dos contrastantes dados em relação aos tempos e idades das crianças, cada vez mais se pede uma mística do educador para trabalhar com a dignidade e garanti-la aos educandos. Parece se constituir um dever saber mais sobre eles num envolvimento com a vida toda e com toda a sua existência. Educadores, mais do que todos, precisam ter a noção do ser humano inteiro em todos os seus tempos. A incapacidade para perceber isso se torna um bloqueio para o saber e aí se realiza a especificidade da arte de ensinar a qual consiste em facilitar para que o outro aprenda, se o destinatário não aprendeu, naturalmente não houve ensino.
Desenvolver uma mística do educador significa reinventar convívios mais humanos e menos solitários. Implica planejar com profissionalismo práticas estratégias que deem conta desta diversidade de contextos de aprendizagem, de socialização e de trajetórias humanas. Tratar de questões ligadas a retenção/reprovação é antes uma questão de dignidades que o educador precisa trabalhar em si mesmo e no sistema. Aprovar ou reprovar é um tumor escondido por décadas no sistema educacional esta situação merece ser tratada como uma questão ética, humana e social.
Facilitar o aprendizado da criança de acordo com o seu tempo é uma tarefa do educador. Todavia quando o destinatário não aprende é tarefa deste último compreendê-lo na totalidade da sua existência humana. Esta atitude exige do educador mais do que conhecimento e competência técnica, exige espiritualidade. Nos últimos 20 anos a sociedade brasileira cresceu muito nos conceitos de participação e democracia também na comunidade escolar. É urgente evoluir para uma nova compreensão do ser humano nesta estrutura. Esta evolução exige uma resposta mística. Avançamos politicamente, mas estamos presos à lógica humana conservadora.
Dentre os desafios da educação, um deles é tratar do tempo do educador na totalidade do seu ser. O tempo é muito mais do que condições favoráveis para exercer seu ofício ou condições técnicas e pedagógicas. Nas disputas por direitos e deveres os profissionais da educação são tratados como sujeitos cindidos. Será impossível olhar para as trajetórias e tempos dos educados sem olhar para as histórias e tempos de seus mestres.
As imagens quebradas das nossas crianças em nada se diferenciam das imagens quebradas dos seus educadores ambas precisam ser revistas sob a ótica da espiritualidade e da mistagogia na formação do docente.

REFERÊNCIA

ARROYO, Miguel G. Imagens quebradas, trajetórias e tempos de alunos e mestres, Petrópolis, Vozes, 5ª. Edição, 2009.

COMENTÁRIOS À OBRA: CAMINHOS INVESTIGATIVOS II

CAMINHOS INVESTIGATIVOS II

Marisa Vorraber Costa (organziadora)

Sob a ótica do projeto de mestrado:
Policidadania: formação mistagógica do docente

A organizadora deste volume reuniu sete artigos de autores distintos e que tratam do mesmo tema: a questão da investigação científica como uma construção de caminhos no meio dos descaminhos. Basicamente todos os autores fazem referência ao modo de pensar do filósofo Michel Foucault cuja frase aparece citada na introdução do artigo intitulado “Descaminhos”.
“De que valeria a obstinação do saber se ele assegurasse apenas a aquisição dos conhecimentos e não, de certa maneira, e tanto quanto possível, o descaminho daquele que conhece?”(Foucault, 1998, p13).
Os sete artigos a que estamos nos referindo seguem uma mesma linha de pensamento que começa pelo título do primeiro capítulo: “Descaminhos”. Neste texto a autora se serve de uma expressão que, embora não sendo genuína manifesta o conceito de pesquisa que ela quer evidenciar. Citando outra pesquisadora diz:
A pesquisa nasce sempre com uma preocupação: uma inquietação; insatisfação com respostas que já temos; com desconfortos. É preciso por os conceitos a funcionar, estabelecendo ligações possíveis entre eles, encaixando aqueles que têm serventia para o problema e nos desfazendo daqueles que são inúteis (Corazza 2002).
Por sua vez o autor do segundo capítulo trata dos paradigmas e aponta que em pesquisa é preciso primeiro supera-los no sentido que estes são sempre hegemônicos. Segundo este autor assumir um paradigma como verdadeiro significa tolher toda forma de descrever e explicar, mas simplesmente aceitá-lo como verdade.
Rosa Maria Bueno Fischer trata da verdade em suspenso e reafirma o que já é aceito desde os filósofos gregos: não existe verdade absoluta, mas elas se tornam de acordo com o contexto em que estão inseridas. Neste sentido é necessário compreender a própria educação como um caminho para a verdade e que ela própria tem muitos caminhos. O desafio é deixar para traz as verdades já aprendidas e se lançar na busca de novos caminhos investigativos, formulando novos problemas, ousando pensar de outra forma, estabelecer relações entre o que já se sabe e o que ainda precisa ser compreendido.
Segundo esta autora, teses e dissertações ganham em densidade na medida em que o pesquisador for capaz de incursionar, de alguma forma, pelos labirintos de sua própria experiência pessoal e profissional com a temática em foco trazer a vida que pulsa nas práticas. A preocupação será não tomar os objetos em si, como se tivessem voos próprios. Esta é também a crítica de Paulo Freire ao que ele chama de educação bancária.
Nos artigos Análises culturais e Pesquisa – ação e política cultural as autoras afirmam que na pesquisa é importante contar as histórias a partir do lugar em que se encontra o pesquisador, caso contrário outros farão e o estudioso se tornará refém de saberes em relação aos quais não participou da construção.
Com outras palavras ela Expressa o pensamento freiriano quando afirma em relação à dialogicidade na construção dos saberes. Muitas vezes o oprimido até abre diálogo para construir saberes, mas isso não é necessariamente relação de igualdade. A participação é sempre desejável e isto é sinônimo de coletividade, mas não de democracia.
A conscientização não é sinônima de emancipação. Muitas palavras ditas pelos oprimidos não são produzidas por eles, mas resultado das palavras do opressor que se instalou nele. Na arte de pesquisar é importante ter presente que se vive em constante recomposição e reinvenção de identidades. E este é o caminho que pretende seguir a pesquisa “Policidadania: formação mistagógica do docente”.

REFERÊNCIA

COSTA, Marisa Vorraber. Caminhos investigativos II, Rio de Janeiro, Lamparina, 2007.

COMENTÁRIOS AO TEXTO DE DEMERVAL SAVIANI

FORMAÇÃO DE PROFESSORES: ASPECTOS HISTÓRICOS

E TEÓRICOS DO PROBLEMA NO CONTEXTO BRASILEIRO


Sob a ótica do projeto de mestrado:
Policidadania: formação mistagógica do docente


Tratando da formação de professores o autor faz uma breve incursão pela história, recuperando a formação de docentes nos diversos períodos da história política do País. O autor contextualiza a formação dentro da realidade social e econômica em que se encerra o processo formativo.
Como nota conclusiva de toda a recuperação histórica o autor indica o que é uma verdade inegável: a formação de docentes no Brasil é descontínua, não é extensiva nem em quantidade nem em conteúdo. O alcance do processo formativo fica longe da grande maioria dos docentes a prática pedagógica normalmente não tem correspondido à expectativa dos formandos. Os conteúdos formativos também não atingiram os objetivos a que se propunham.
O autor sugere eleger a educação como máxima do desenvolvimento. O que implica num processo que abrace todas as dimensões da sociedade (economia, política, humanidades). Somente esta realidade irá trazer outras consequências para o processo formativo bem como para os educadores e dará nova configuração à formação de docentes.
Ao afirmar que é necessário transformar a docência numa profissão atraente, nós entendemos que a este processo se chama criar mística para o processo formativo.

REFERÊNCIA
Demerval Saviani, Revista Brasileira de Educação. Rio de Janeiro, V.14, n49, jan./abr.2009.

HOMILIA DA SOLENIDADE DE CRISTO REI - 2009

HOMILIA PARA O DOMINGO 22 DE NOVEMBRO 2009 –
SOLENIDADE DE CRISTO REI

Leituras: Daniel 7,13-14;
Salmo 92(93) 1ab.1c-2.5(R/1ª)
Apocalipse 1,5 -8
João 18, 33b-37


Há um pensamento que diz assim: “A verdade dói, mas liberta”. E outro ainda que diz assim: “A verdade se impõe pela sua própria força”. E muitos de nós já experimentamos e provamos que eles são verdadeiros. Bastante vezes a verdade parece dura demais, entretanto o tempo e as condições se encarregam de mostrar que dificuldades iniciais para aceitá-la são superadas pela força dela mesma.

Pois é este o pensamento que aparece na liturgia deste domingo que a Igreja chama de último do tempo comum e convida a celebrar a solenidade de Cristo Rei.

O texto do evangelho que é tirado da paixão do Senhor é o diálogo de Jesus com Pilatos. O governador, encarregado de fazer cumprir as leis, queria ter certeza sobre quem era a pessoa que havia sido colocada sob as suas ordens. Faz as perguntas próprias para a ocasião e recebe de Jesus respostas, diante das quais ele não tem como contestar. “Tu és rei?” E a resposta: “Para isso nasci e para isso vim ao mundo” e continua “mas o meu reino não é deste mundo, o meu Reino é o da Verdade”. E esta consiste em dar testemunho e revelar quem é Deus.

Na primeira leitura o profeta narra uma espécie de batalha entre as forças do mal e Deus que age na história, enquanto o mal vem do mar, o bem vem do céu. E, naturalmente, este último vencerá!

A mesma situação é narrada pela segunda leitura do livro do Apocalipse, o autor reanima a comunidade mostrando que em Cristo as forças que provocam a morte não terão força maior e que Deus se encarregará de dar salvação aos que nele confiam.

Por isso mesmo nós rezamos no Salmo: Deus é Rei e se vestiu de majestade e verdadeiros são os vossos testemunhos.

A lição que a Palavra quer nos dar é simples e objetiva: Somos convidados a aceitar a verdade de modo integral, a ouvir a voz de Cristo e dar testemunho daquilo que acreditamos. Esta realidade não se acontece por um ato mágico, começa com a graça do Batismo e se estende por toda a vida, a cada dia somos desafiados a discernir os sinais dos tempos.

Como cristãos leigos na Igreja e nas comunidades viemos aqui celebrar a memória de Cristo Rei da verdade e da vida, recebemos sua graça, nos alimentamos da sua palavra e da Eucaristia e nos fortalecemos para a missão.

domingo, 15 de novembro de 2009

ECLESIOLOGIA

No documento Lumen Gentium a Igreja é descrita como sinal de Jesus Cristo

1. Cristo é a luz dos povos. Por isso, este sagrado Concílio, congregado no Espírito Santo, deseja ardentemente que a luz de Cristo, refletida na face da Igreja ilumine todos os homens, anunciando o Evangelho a toda criatura (cf. Mc 16,15). E, porque a Igreja é em Cristo como que sacramento isto é, sinal e instrumento, da união íntima com Deus e da unidade de todo o gênero humano, retomando o ensino dos concílios anteriores, propõe-se explicar com maior clareza aos fiéis e ao mundo inteiro, a sua natureza e a missão universal. As presentes condições do mundo tornam ainda mais urgente este dever da Igreja, a fim de que todos os homens, hoje mais intimamente ligados por vínculos sociais, técnicos e culturais, alcancem também unidade total em Cristo.

"AGORA É TEMPO DE SER IGREJA
CAMINHAR JUNTOS PARTICIPAR"
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Eclesiologia

ECLESIOLOGIA -

AGORA É TEMPO DE SER

IGREJA, CAMINHAR JUNTOS

PARTICIPAR”

Igreja, sacramento no Cristo

1. Cristo é a luz dos povos. Por isso, este sagrado Concílio, congregado no Espírito Santo, deseja ardentemente que a luz de Cristo, refletida na face da Igreja ilumine todos os homens, anunciando o Evangelho a toda criatura (cf. Mc 16,15). E, porque a Igreja é em Cristo como que sacramento isto é, sinal e instrumento, da união íntima com Deus e da unidade de todo o gênero humano, retomando o ensino dos concílios anteriores, propõe-se explicar com maior clareza aos fiéis e ao mundo inteiro, a sua natureza e a missão universal. As presentes condições do mundo tornam ainda mais urgente este dever da Igreja, a fim de que todos os homens, hoje mais intimamente ligados por vínculos sociais, técnicos e culturais, alcancem também unidade total em Cristo.

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sábado, 14 de novembro de 2009

33° DOMINGO DO TEMPO COMUM

15 DE NOVEMBRO 2009
Leituras: Daniel, 12, 1 -3
Salmo 15(16) 5.8.9-10.11 (R/1a)
Hebreus 10, 11-14.18
Marcos 13, 24-32

Quero entoar um canto novo
De alegria ao raiar daquele dia
De chegada em nosso chão.

Fazer referência ao fim do mundo é um tema que sempre causa interesse e curiosidade. Assim, numa roda de amigos, este é um assunto sobre o qual todos tem uma opinião pra dar. Uma música ou filme que trate deste tema tem sucesso garantido. Mas para os cristãos qual é mesmo a preocupação e qual tipo de preocupação o evangelho nos propõe?

O evangelho de narra a vinda de Jesus com grande poder e glória, tudo acontecerá de modo extraordinário e vai alcançar todas as pessoas e todas as situações humanas. O texto é uma proposta de atitude para a comunidade do tempo de Marcos. Desafia no sentido de não permitir a acomodação e ficar esperando que as coisas aconteçam. O Evangelho sugere que aqueles que acreditam são chamados à fidelidade, à coragem e a vigilância.

A vitória de Jesus será de algum modo, a vitória de todos. Ele está na sequência dos evangelhos dos últimos domingos: A comunidade dos seguidores de Jesus vive a tensão entre aquilo que são e aquilo que poderão ser.

A mesma linguagem figurativa é usada pela primeira e a segunda leitura nos dois casos fica muito clara a intenção de Deus: retribuir segundo as obras de cada um. Quanto aos que esperam por este dia, não cabe ficar parado. A primeira leitura termina com a promessa: “Os que ensinam os outros um dia, como estrelas no céu brilharão. Esta glória o Senhor prometia e promete a quem guia o irmão”.

Estamos todos bem convencidos de uma verdade: não temos aqui na terra morada permanente. Portanto, para quem deseja uma morada melhor é preciso ir construindo aqui.

Com os pés no chão e os olhos no horizonte, o Reino de Deus está entre nós, mas a plenitude dele somente se realizará na vida futura.

Deus é nossa única segurança conforme cantamos no salmo: Guardai-me ó Deus, pois em vós me refugio.

Nossa melhor atitude é agradecer àquele que não nos abandona pedir que ele venha e nos encontre vigilantes e fiéis.

sábado, 7 de novembro de 2009

HOMILIA PARA O DOMINGO 08 DE NOVEMBRO 2009

32° DO TEMPO COMUM


Convenhamos que a convivência humana, muitas vezes, pode ser chamada de sociedade das aparências. Então se cultua o bonito, aquilo que ostenta beleza e grandiosidade. E nesta concepção é muito fácil também instrumentalizar as pessoas e valorizar por que andam bem vestidas, tem roupas brilhantes, andam com carrão último modelo, ocupam um cargo importante, rezam muito, estão sempre na igreja, ajudam em todos os serviços da comunidade, e assim por diante.

Por incrível que pareça, as leituras deste domingo apresentam como modelo pessoas totalmente diferentes. Duas viúvas. Uma categoria totalmente sem credibilidade e amparo na sociedade daquela época. Uma delas, da qual fala a primeira leitura era pagã, seguia e acredita no deus de Baal.

O Evangelho conta o episódio conhecido como oferta da viúva pobre. O que fica muito claro nas palavras de Jesus é a repreensão que ele faz ao comportamento dos doutores da lei e outros entendidos do ser tempo que se mostravam perfeitos, corretos, justos, bons e todos os outros adjetivos que os colocava em situação de superioridade em relação aos demais. Enquanto valoriza a singeleza do gesto da pobre mulher. Jesus deixa claro que é importante discernir não segundo as aparências.

Na primeira leitura, o diálogo estabelecido entre a viúva e o profeta mostra quem é Deus e o que ele faz por aqueles que nele confiam. A pobre mulher reparte sua única segurança (uma medida de farinha e o resto do óleo na vasilha) seu gesto não fica sem resposta: Não faltou comida até que veio a chuva e se restabeleceu a normalidade da região.

O salmo nos chama a confiar no Senhor que age sempre em favor daqueles que não dispõem ou por sua simplicidade não tem necessidade de mostrar suas belezas, seu poder, sua sabedoria, suas roupas vistosas.

Ser discípulo de Jesus hoje significa praticar gestos e ter atitudes que sejam coerentes com os ensinamentos que deu outrora. Jesus não está de acordo com a pobreza, a miserabilidade, a falta de dignidade, nem tampouco abençoa e aceita que alguns se coloquem em atitude de superioridade em relação aos demais.

Vale para nós a recomendação de São Tiago: “Religião pura aos olhos de Deus implica cuidar dos órfãos e das viúvas em suas necessidades e não se deixar contaminar pelo mundo”(1,27).

Que, por esta eucaristia, o Senhor nos faça membros do seu corpo e autênticos apóstolos de uma sociedade e de uma Igreja muito melhor, mais coerente que precisa e pode ser transformada indo muito além das aparências.

sábado, 31 de outubro de 2009

IX CONGRESSO BRASILEIRO DE EDUCAÇÃO

Olá, acesse o link abaixo e tenha acesso ao trabalho que apresentei na PUCPR durante o IX Congresso Brasileiro de Educação.
Faça seus comentários.
Abraço
Padre Elcio

http://www.4shared.com/file/145203736/8d907b98/Texto_para_a_revista_roteiro1.html

HOMILIA PARA O DIA DE FINADOS 2009


02 de novembro


Dentre as coisas bonitas típicas da criatura humana, uma delas é a lembrança das pessoas com quem convivemos. O nosso idioma reserva uma palavra que poucas línguas conseguem expressar com a mesma força. Entre nós usamos o vocábulo SAUDADE! Esta expressão parece se adequar à celebração do dia de Finados. Nossa Igreja reserva, no seu ritual, um dia para cultivar a saudade dos nossos entes queridos. É a recordação de todos os fiéis defuntos – popularmente chamado como dia de Finados.


A palavra de Deus que ouvimos aponta para a uma direção muito mais ampla do que a pura manifestação de apreço por quem morreu e de saudade daquilo que se realizou. As leituras apontam para uma dimensão da saudade em relação ao futuro. Isto quer dizer, Nos, cristãos, vemos com saudade o dia feliz da vinda gloriosa. Em outras palavras alimentamos uma certeza, que pode ser identificada com saudade dos tempos futuros.


Na primeira leitura de hoje ouvimos: Os que confiam no Senhor compreenderão a verdade, e os que perseveram no amor ficarão junto dele. No salmo rezamos: Ele me guia no caminho mais seguro, mesmo que eu passe pelo vale tenebroso, nenhum mal eu temerei, o Senhor está comigo.
E São Paulo fala aos Romanos: A esperança não decepciona, porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações, por meio de Cristo recebemos a glorificação e o perdão dos pecados.


E no evangelho as Palavras de Jesus são confortadoras: Venham ao meu encontro todos os que estão cansados e fatigados sob o peso dos seus fardos eu lhes darei descanso, aprendam que eu sou manso e humilde de coração.


Demos graças ao Pai, nossa fé em Cristo nos faz antecipar a glória futura, isto é alimentar a saudade dos tempos que haverão de vir. Pra nós e pra todos os que já partiram.


Roguemos por nossos falecidos a fim de que também eles gozem da imortalidade e da alegria prometida.

HOMILIA DA SOLENIDADE DE TODOS OS SANTOS



Faz parte do nosso modo de expressar admiração por alguma pessoa ou atitude, qualificá-la de Santo(a). Assim nós dizemos: fulano de tal é um santo! Beltrano é uma santidade em pessoa! Esta ou aquela prática é coisa dos santos! Ou ainda, quando queremos afirmar que nossa atitude deixa a desejar, então dizemos: Eu não sou nenhum santo!. E assim por diante.

Viemos hoje aqui celebrar a memória da Páscoa de Jesus. O Filho Santo de Deus, que por nós se entregou, derramou o seu sangue em vista da nossa santidade. No Jeito de viver de Jesus, muitos homens e mulheres se espelharam ao longo dos anos e a estes nós denominamos SANTOS!

Neste domingo a liturgia da Igreja nos ajuda a fazer memória desta multidão que recebem da Igreja o reconhecimento por suas obras e são colocados como modelo de vida para ser imitado.

As leituras previstas para este domingo indicam atitudes de quem chega ou quer chegar à santidade. Na primeira, do livro do Apocalipse o autor sugere que a virtude da santidade implica em permanecer de pé, isto é vigilantes, diante das dificuldades do mundo, e nesta condição a multidão poderá lavar suas roupas, ou seja suas vidas, no sangue do cordeiro.

A segunda leitura sugere pautar a vida no amor de Deus Pai, um amor sem limites e sem distinção. Uma das atitudes para esta condição é a prática da justiça.

No Evangelho Jesus aponta para a superação de si mesmo, As bem aventuranças apresentam os dois pólos a que estamos sujeitos: O ser como somos, e continuar assim, com nossos limites e dificuldades e a constante busca para que sejamos melhores. É uma luta entre o presente de imperfeições e o futuro com vida nova.

O modo mais fácil para fazer acontecer as bem-aventuranças em nós e no mundo nós rezamos no salmo 23: “quem subirá ao monte santo do Senhor, quem ficará em sua santa habitação? Quem tem mãos puras e coração inocente. Quem não dirige sua mente para o crime.

Que os santos e santas de Deus nos ajudem nesta missão!

sábado, 24 de outubro de 2009

Texto para o econtro de preparação para o sacramento do matrimônio







                Este texto foi elaborado para o encontro de preparação para o casamento na Paróquia São Lucas - Arquidiocese de Curitiba. O evento que aconteceu nos dias 24 e 25 de outubro de 2009.O que é sacramento?
Porque casar na Igreja?
Qual a diferença entre casar na Igreja, no civil ou juntar os trapos?


I - O MATRIMÔNIO É UM SACRAMENTO...

O matrimônio não foi inventado pelos cristãos, a realidade do matrimônio tem manifestações diferentes em todas as culturas, mas estes o vivem de forma diferente, isto é, vivem a partir da fé. Isto sugere algumas perguntas:


a) Precisa ser sacramento para ter sentido?
b) O que o sacramento acrescenta ao matrimônio que este já não o tenha por si?
c) Onde está o caráter específico do matrimônio como sacramento?
d) Que condições se requerem nas pessoas para que possa se dizer que celebram o sacramento do matrimônio?


Ele é sacramento no sentido que atualiza, realiza o mistério pascal de Jesus Cristo. Sua vida, paixão, morte e ressurreição é o centro da celebração cristã do matrimônio entendido como sacramento pela igreja. Em outras palavras: sinal da presença real de Cristo na vida das pessoas.
O Sacramento comunica a comunhão de Deus de amor, é uma opção de fé.


Na Bíblia o ser humano é descrito como imagem e semelhança de Deus, isto é, uma criatura quase perfeita como o próprio criador. Nascemos de Deus e somos como Ele: AMOR.


Reconhecer que o sacramento do matrimônio atualiza o mistério pascal significa dizer que a presença de Cristo dá um sabor de eternidade.


Certamente não existe nenhum setor da vida humana de que a maioria dos homens de nosso tempo dependa tanto, em relação à sua felicidade pessoal e à realização de sua existência, como o amor entre o homem e a mulher que assume sua forma duradoura no matrimônio e na família. É uma questão de ser feliz ou de não ser. Do mesmo modo, também não existe outro setor em que a fé e a vida estejam em contato tão imediato como no matrimônio. Pois o matrimônio pertence tanto à ordem da criação, como à ordem da salvação. Em outras palavras o matrimônio tem sua origem em Deus que criou o ser humano homem e mulher, e a Bíblia acrescenta que isto é bom, (cf. Gn 1, 27.31). Esta aliança desejada por Deus entre o homem e a mulher é ao mesmo tempo imagem e, sobretudo, atualização da aliança definitiva que Deus concretizou com o ser humano, em Jesus Cristo, uma semelhança do amor e da fidelidade de Deus para com o homem (cf. Ef 5,21-33). Assim, a realidade criatural do matrimônio entre cristãos constitui também uma realidade salvífica. É sacramental na medida em que é sinal de Jesus Cristo. Repetindo é importante dizer que a fé é uma qualificação necessária.


1.0 - A DIGNIDADE SACRAMENTAL DO MATRIMÔNIO


A relação homem-mulher é tão fundamental para a Bíblia que é introduzida na determinação teológica da natureza do ser humano e até mesmo no enunciado de seu ser à imagem de Deus: "Deus criou o homem à sua imagem, à imagem de Deus ele o criou, homem e mulher ele o criou" (Gn 1,27).


2.0 - INSTITUÍDO POR JESUS CRISTO?


O sacramento do matrimônio não pode ser demonstrado dizendo as palavras da instituição. O importante é a constatação de que o matrimônio está inserido de modo fundamental na obra salvífica de Jesus Cristo.


A posição de Jesus a respeito do matrimônio está configurada de modo mais claro em Mc 10,2-9, em que durante uma discussão Jesus vê confrontado com a questão: é lícito a um homem repudiar sua mulher? A polêmica gira em torno da interpretação de Dt24, 1, tão debatida entre os judeus. Jesus não entra na discussão casuística; transporta a questão para outro plano, referindo-se à ordem criacional das origens e conclui: "portanto, o que Deus uniu o homem não separa". Partindo-se de uma visão superficial, daria a impressão de que está reforçando a lei. No entanto, se entendermos essa afirmação dentro do contexto global da pregação de Jesus, perceberemos que o plano da lei foi superado com vantagens. Da mesma forma que os profetas, Jesus está muito consciente da "dureza de coração" do ser humano. Somente se Deus conceder um "coração novo" (Jr 31, 33). Portanto, não se pode confundir a frase de Jesus a respeito do matrimônio com um preceito legal. Trata-se de uma palavra messiânico-profética, de uma promessa de salvação e de graça. Desse modo, o matrimônio, dentro da mensagem de Jesus, faz parte tanto na ordem criacional das origens, como da ordem salvífica fundamentada no predomínio do amor e da fidelidade de Deus.


O amor e a fidelidade de Deus se tornam presentes na história graças ao amor e à fidelidade existentes entre os cristãos. A Igreja é o sacramento global de Cristo, como Cristo é o sacramento de Deus.


O Vaticano II fala do matrimônio e da família como "Igreja Doméstica". Neste contexto, o casamento e a família não representam apenas uma configuração do ser da Igreja, mas, de modo muito ativo, colaboram também para edificação da Igreja. Os esposos possuem dentro da Igreja um carisma que lhes é próprio, uma vocação e a graça peculiar e um serviço singular (cf. 1Cor 7,7). Devem santificar-se mutuamente (cf. 1Cor 7,14). De modo especial pela aceitação e educação dos filhos contribuem para o crescimento interno e externo da Igreja. Com o exemplo de sua vida cristã comunitária, com sua hospitalidade e abertura de sua "casa", podem constituir células vivas dentro da Igreja.


3.0 - UNIDADE E INDISSOLUBILIDADE DO MATRIMÔNIO


A unidade e a indissolubilidade do matrimônio não encontram sua razão de ser unicamente devido à sacramentalidade, mas são inerentes à natureza antropológica do matrimônio. Esta definição parte de um princípio de filosofia: “aquilo que é não pode não ser”. Se é amor não pode não ser. Assim é o amor de Cristo e da Igreja. É um sonho de Deus – sacramento – sinal daquilo que Deus é – Generosidade – entrega – serviço. Pelo batismo entramos uma vez por todas no mistério de Cristo e da Igreja, pelo matrimônio os noivos exprimem o mistério da unidade do amor de Cristo com a própria Igreja. O ato através do qual os esposos se entregam e se aceitam mutuamente possui em si mesmo uma tendência interna para o definitivo e para a exclusividade. Quem se entrega a si mesmo nas mãos de outra pessoa já não se pertence a si, mas ao outro. O vínculo da fidelidade matrimonial está, portanto, orientado em virtude de sua própria natureza interna, para a exclusividade e para o definitivo. O amor conjugal é o jeito de Deus comunicar seu amor ao mundo, sinal eficaz da graça de Deus que distribui dons abundantes de um amor que liberta, de paternidade, de filiação e de formação de um lar cristão. Se chama de sacramento da união estável. Para que o sacramento seja considerado válido é necessário que os nubentes estejam agindo em total liberdade, sem impedimentos de ordem legal, exige amor e aceitação da fidelidade. Os noivos são os ministros do sacramento e o padre representa a Igreja.
4. O MATRIMÔNIO CRISTÃO NA SOCIEDADE MODERNA


Uma relação que se faz hoje é a necessidade do casamento religioso e do casamento civil, um não pode contrapor o outro. O Direito Canônico vigente reconhece como competência do Estado a jurisprudência das conseqüências civis do matrimônio (direitos relativos ao nome, aos bens, à herança, etc.). Não pode ser do interesse da Igreja sobrecarregar-se, nem mesmo indiretamente, com base num casamento civil facultativo. De maneira semelhante, também o Estado moderno, neutro em sua cosmovisão (por mais que reconheça determinados valores fundamentais cristãos), pode atribuir um conteúdo material suficiente para o matrimonio; tudo o que pode fazer é salvaguardá-lo e fixar as formalidades jurídicas necessárias para a sua validade civil. É aqui que a diaconia social da Igreja pode intervir. Entendido dessa maneira, o serviço da Igreja não se reduz a um "serviço" adicional, mas contribui para destacar uma dimensão essencial do casamento, de acordo com a concepção cristã; uma dimensão tão transcendental que sem ela não seria totalmente válido o matrimônio entre cristãos. Os casamentos civil e eclesiástico constituem, a partir desse ponto de vista, um todo contínuo que para o cristão atinge sua realização interna unicamente através da forma eclesial prescrita e, por isso, só então pode ser reconhecido como canonicamente válido e como sacramento.


5.0 – A liturgia do Sacramento tem alguns elementos indispensáveis:


1) Palavra e a Eucaristia
2) Aceitação
3) Juramento de amor
4) Benção das Alianças
5) Beijo nupcial
6) Bênção nupcial
7) Assinatura

HOMILIA DO DIA 25 DE OUTUBRO 2009

HOMILIA DO DIA 25 DE OUTUBRO 2009 -
30° DOMINGO DO TEMPO COMUM

Hoje a Igreja no Brasil, celebra o dia nacional da juventude. Lembrando nossos jovens, somos chamados a rezar por eles, com suas dúvidas, alegrias, desafios e inseguranças. Um grande jornal da capital trouxe como matéria de capa a reflexão sobre os jovens e anunciava: “Um jovem entre 12 e 18 anos é assassinado a cada dois dias na grande Curitiba”. Esta dura realidade aponta para uma situação que todos sabem, mas que pouco ou nada se faz para evitar. Isto significa dizer: tem teoria mas não tem prática!
É exatamente o que aconteceu com os seguidores de Jesus no Evangelho de hoje. Andavam com ele, ouviam suas orientações, conheciam as escrituras, tinha ouvido Jesus dizer que é preciso se colocar a serviço e assim por diante.
Na hora em que ouvem o cego gritar, preferem que ele se cale. O grito daquele que precisa de ajuda lhes incomoda. Acontece neste caso a mesma situação do dia em que as crianças se aproximaram de Jesus e os discípulos queriam afastá-las. Agora é um cego que está na mira de ser calado. Jesus ouve e rompe os costumes dizendo: “chamem o cego”, este se aproxima e recebe a sentença: “vai sua fé salvou você”.

Esta atitude de Jesus confirma a esperança anunciada pelo profeta Jeremias: ele extravasa sua alegria confirmando a ação de Deus em favor do seu povo. Na leitura ouvimos: Exultai de alegria, eu reunirei o meu povo, entre eles há cegos, aleijados, mulheres grávidas, parturientes, são uma grande multidão os que retornam. Como o povo de outrora, nós também proclamamos e rezamos com o salmista:

Maravilhas fez conosco o Senhor, exultemos de alegria.
Ontem como hoje, o Senhor faz por nós maravilhas. De nossa parte a Eucaristia que viemos celebrar nos coloca no caminho da doação e da disponibilidade para seguir Jesus, colaborando com ele na transformação da sociedade. É preciso levantar a cabeça, o Senhor nos ama e nos mostra o caminho reto. Renovemos nossa fé no Senhor que nos devolve a vida, conforme já pedimos na oração: "Deus eterno e todo poderoso, aumentai em nós a fé, a esperança e dai-nos amar o que ordenais e alcançar o que prometeis".

“O Senhor fez por nós maravilhas;
Santo, santo, santo é seu nome!”

sábado, 17 de outubro de 2009

ETICA E MORAL VIII

VII - ÉTICA PESSOAL


Já foi dito anteriormente que a consequência de um comportamento ético na vida pessoal será pré-requisito para a vida pública e profissional. Neste ponto parece importante destacar alguns aspectos da ética pessoal.

Um primeiro dado se refere à sexualidade que é uma das primeiras descobertas que o ser humano faz de si mesmo. Isto é, ele se descobre um ser sexuado portador de uma energia que aponta para a comunicação com o outro. Daí que a sexualidade humana se revela, em primeiro lugar, como um símbolo que torna possível o encontro entre seres conscientes e livres e, assim, é o espaço para a conquista da personalização e da integração entre as pessoas, quer em nível afetivo, quer em nível social. Nesta perspectiva, a sexualidade se apresenta como caminho privilegiado para a relação com Deus, uma vez que seu sentido mais profundo é o amor. Quando o egoísmo comanda a sexualidade, ela nega sua orientação mais profunda e leva a pessoa a se fechar aos outros e a Deus.

A sexualidade humana é uma realidade muito rica, dotada de muitas dimensões: genética, hormonal, biológica, afetiva, social, cultural, política, religiosa... Por ser tão fundamental na vida humana, é trágico quando ela é instrumentalizada na direção da alienação. A absolutização de uma de suas dimensões, como por exemplo, a do prazer, pode ser mecanismo que fere a dignidade da pessoa afastando-a de um engajamento na solução das grandes questões que marcam a vida social. Campanhas abortivas e antinatalistas provém, às vezes, de uma concepção ideológica que reduz a problemática social à questão da fertilidade das famílias pobres.

Neste caso, a sexualidade como fato humano não pode ser reduzida à genitalidade nem desligada quer do prazer de viver quer da sociedade. Ela diz respeito à globalidade da vida pessoal e social. Somos individual e socialmente sexuados (Cf. Doc. da CNBB – Ética Pessoa e sociedade – 161 – 168).

Os bispos, em Aparecida reafirmaram a preocupação da Igreja com a mudança de época e a dissolução da concepção integral do ser humano e sua relação com Deus. A afirmação é categórica: “Quem exclui Deus de ser horizonte, falsifica o conceito de realidade e só pode terminar em caminhos equivocados e com receitas destrutivas. Surge hoje, com grande força, uma sobrevalorização da subjetividade individual. Independentemente de sua forma, a liberdade e a dignidade da pessoa não são reconhecidas. Deixa-se de lado a preocupação pelo bem comum para dar lugar à realização imediata dos desejos dos indivíduos, à criação de novos e muitas vezes arbitrários direitos individuais, aos problemas da sexualidade, da família, das enfermidades e da morte”.

Pedem igualmente, nossos pastores que a educação católica contemple as novas formas educacionais do nosso continente, que aparecem centradas prioritariamente na aquisição de conhecimentos e habilidades denotam um reducionismo antropológico, visto que propiciam a inclusão de fatores contrários à vida, à família e a uma sadia sexualidade. Dessa forma, não manifestam os melhores valores dos jovens nem seu espírito religioso; menos ainda lhes ensinam os caminhos para superar a violência e se aproximar da felicidade, nem os ajudam a levar uma vida sóbria e adquirir atitudes, virtudes e costumes que tornariam estável o lar que venham a estabelecer, e que os converteriam em construtores solidários da paz e do futuro da sociedade (Cf. Ap 44 328).

(Outros temas de ética poderiam ser incluídos na reflexão como a questão das células tronco; dos fetos com má formação cefálica; o uso da internet; a preservação do meio ambiente, as questões de saúde pública...)

Concluímos sugerindo a leitura do número 65 do documento de Aparecida que apresenta como uma indignação ética, a realidade latino americana na qual os excluídos não são somente explorados, mas supérfluos e descartáveis.

ETICA E MORAL VII

VI - ÉTICA PROFISSIONAL


Ninguém duvida que o ser humano é um ser social e que portanto sua atuação tem necessariamente uma relação muito estreita com o bem comum. Decorrente desta compreensão, o exercício de qualquer profissão deve submeter-se a normas éticas. No contexto de uma sociedade marcada pela modernidade e sempre maior valorização da competência e da técnica facilmente o ser humano corre o risco de ser descartável por conta das condições de produtividade que a sociedade exige. A formação ética precisa fazer parte de todas as etapas de formação do ser humano em todos os níveis e condições.

Neste item também o diretório nacional de catequese aponta como um das responsabilidades do catequista de quem pede que seja para a comunidade um modelo de mestre e servidor e no tocante à ética profissional pede que o catequista seja uma “pessoa que sabe ler a presença de Deus nas atividades humanas. Descobre o rosto de Deus nas pessoas, nos pobres, na comunidade, no gesto de justiça e partilha e nas realidades do mundo”.

A fé, no seu conjunto, deve enraizar-se na experiência humana, sem permanecer na pessoa como algo postiço ou isolado. O conhecimento da fé é significativo, ilumina a existência e dialoga com a cultura; a liturgia, a vida pessoal é uma oferta espiritual; a moral evangélica assume e eleva os valores humanos: a oração é aberta aos problemas pessoais e sociais (Cf. DNC 265).

Por sua vez o documento de Aparecida condena a exploração irracional que vai deixando um rastro de dilapidação, inclusive de morte por toda a nossa região. Atribui esta situação ao atual modelo econômico que privilegia o afã pela riqueza acima da vida das pessoas e da natureza. E afirma que “é necessário trabalhar por uma cultura de responsabilidade em todo nível que envolva pessoas, empresas, governo e o próprio sistema internacional” (Cf. Ap 473 e 406b).

ETICA E MORAL VI


V - ÉTICA PÚBLICA


Esta esfera da ética diz respeito à condução da coisa pública a responsabilidade da coletividade e dos organismos com relação ao bem comum. Trata-se de uma responsabilidade política. Sua esfera está ligada às questões de violência e desrespeito pela vida, desvio e mau uso do dinheiro público, abuso do poder econômico, corrupção fiscal e poder dos meios de comunicação social.

Uma correta interpretação desta esfera ética exige estabelecer uma correta relação entre o que é público ou particular. Em resumo trata-se de trabalhar pelo bem da cidade ou da “res” (coisa) pública. Nesta esfera encontra-se a preocupação com a ética na política, posto que esta é atividade primeira de cuidado com os bens alheios. Uma das primeiras atitudes que se espera dos homens públicos - quer sejam eles políticos, administradores, juristas, eclesiásticos – será falarem uma linguagem acessível e compreensível por todos. Infelizmente a questão da verdade e da mentira tem sido uma constante no exercício dos cargos políticos. Outra face da ética pública se apresenta na qualidade dos serviços prestados pelos órgãos públicos, ao mesmo tempo em que se espera justa remuneração dos servidores na contrapartida pede-se qualidade dos serviços.

O documento de Aparecida trata da ética pública sob o ponto de vista da concentração de riquezas e condena toda forma de desenvolvimento que se resuma a concentração de riquezas e não leve em conta a solidariedade. Por outro lado o documento valoriza todas as iniciativas que promovam projetos geradores de melhores condições de vida e de respeito à dignidade da pessoa, do ambiente em que ela viva e se orienta para o bem comum (Cf. Ap 69 e 122). Os bispos recordam ainda as palavras do Papa João Paulo II falando sobre a opção preferencial pelos pobres: “converter-se ao Evangelho para o povo cristão que vive na América, significa revisar todos os ambientes e dimensões de sua vida, especialmente tudo o que pertence à ordem social e à obtenção do bem comum”(cf. Ap 391).

Segundo os bispos latino americanos uma das faces da ética pública é a tarefa irrenunciável do poder público e da iniciativa privada para gerar empregos dignos, facilitar a democracia, promover a aspiração a uma sociedade mais justa e uma convivência cidadã com bem estar e em paz (Cf. Ap 404).

O diretório nacional de catequese aponta como uma das tarefas da catequese iniciar os cristãos para vivenciar e assumir conscientemente o compromisso e dar as necessárias respostas para a renovação da Igreja e a transformação da realidade. Para que isso aconteça os catequistas precisam de confiança em Deus e coerência entre fé e vida e fortaleza para acolher as mudanças que são necessárias na caminhada da sociedade e na sua vida pessoal (Cf. DNC160).
Dentre as iniciativas mais significativas dos últimos tempos pela valorização da ética na política pode-se destacar o empenho da Igreja em parceria com outros organismos da sociedade pela aprovação da lei 9840 – contra a corrupção eleitoral e agora a recente campanha pela “ficha limpa”.

Os meios de comunicação social não ficam alheios da sua responsabilidade de promover o bem e a cultura da solidariedade dada a sua grande influência e credibilidade junto a todas as camadas da sociedade.

ETICA E MORAL V

IV - VALORES A SEREM CULTIVADOS COMO
CONSEQUENCIA DA CONSCIÊNCIA MORAL


Chegamos a concluir que moral e ética são valores que precisam ser construídos a partir da própria da pessoa, tendo como juiz a sua consciência. Enumeramos 10 valores que parecem ser indispensáveis para a efetivação de um comportamento moral.

1. Justiça

Aristóteles, pensador grego, afirmou que é “o hábito, segundo o qual, com constante e perfeita vontade, se dá a cada um o que lhe pertence de direito. É um hábito que vai sendo adquirido no dia a dia”. Alguns questionamentos surgem desta compreensão, tais como: O que é do outro ou o que lhe pertence? Qual a medida ou qual o critério para dar algo ao outro? Como estabelecer a igualdade para satisfazer as exigências deste “dar”?
Existem algumas maneiras superficiais de conceber a justiça. Algumas situações o tipo cumprir aquilo que é legal. Isto é básico. A forma mais profunda se estende a promover direitos fundamentais do ser humano. (vida, liberdade, segurança, verdade, felicidade, honra, dignidade, etc...). A justiça é a mãe de todas as virtudes o ser humano justo se preocupa não só com o bem dos outros, mas também com o outro como ser humano. Entre outros comportamentos morais que merecem ser mencionados podemos destacar, por exemplo: evitar a poluição; preservar o meio ambiente; cortar boatos prejudiciais à fama e ao bom nome de alguém; promover a concórdia entre as pessoas. Sob esta ótica a justiça é o tesouro mais nobre da pessoa. Platão nos deixou a seguinte máxima: “Quem comete uma injustiça é sempre mais infeliz que o injustiçado”. E Demócrito: “se sofreu uma injustiça console-se; a verdadeira infelicidade é cometê-la”.

2. Honestidade

É a coroa imediata da justiça; é consideração pelas boas ações; é um sentimento de valorização do brio e a coragem dos deveres cumpridos alimentados por um ideal moral. A pessoa pode ser considerada honesta não porque age segundo o preceito “de todo mundo faz assim” o que pode ser caracterizado com uma “Maria vai com as outras”. É honesta a pessoa que cumpre horário porque tem consciência da importância de tal comportamento; não se deixa corromper com propinas; não invade a privacidade alheia.
Antes e acima de tudo agir com honestidade implica em garantir e respeitar a dignidade humana seja em relação a si mesmo, seja em relação aos demais. A honestidade exige uma constante luta em prol de valores nobres e elevados. Uma pessoa que age com honestidade pode perder oportunidade de enriquecimento ilícito como condição para viver na paz da consciência. Outro filósofo importante para ser recordado aqui se chama Enéas: “aprende comigo a virtude e o trabalho honesto”.

3. Liberdade

Esta pode ser entendida como a possibilidade de poder fazer ou deixar de fazer alguma coisa, ou com a capacidade de dominar a vontade. Num sentido moral como capacidade de escolher os melhores meios para a própria realização como pessoa. Liberdade não pode ser confundida como eximir-se de coisas, mas de caminhar para coisas; isto não é sinônimo de fazer o que quer, mas o que deve em função de realizar-se como ser humano. Sartre nos legou uma frase sábia: “Somos condenados a sermos livres”.
Somente com esta compreensão superamos a falsa interpretação individualista: “minha liberdade termina onde começa a do outro”. Os seres humanos não são objetos justapostos. Eu só sou livre se o outro for livre comigo; ela é uma construção coletiva; deve existir uma rede de relações que se preocupa com a realização dos demais que com ele convivem. Um filósofo francês afirmou: “a liberdade consiste em obedecer à lei da consciência”. O elenco de normas elaboradas por um indivíduo serão, efetivamente, libertadoras na medida em que todos cresçam em dignidade e em felicidade.

4. Responsabilidade

O pensador irlandês Bernard Shaw afirmou que “Liberdade significa responsabilidade; é por isso que muitos tem medo dela”. Ser responsável é responder por seus atos assumindo as consequências de suas escolhas, mesmo com dificuldades e sacrifícios: o responsável cumpre suas obrigações não porque outros estão lhe vigiando, mas porque descobriu um valor naquilo que está fazendo. Ser responsável significa repetir todos os dias aquele sim que vai construindo a liberdade à qual tem como base a coragem, a lealdade e a transparência. A responsabilidade impõe cuidados aquele que cultiva este valor procura saber o que faz e porque faz. Churchill fez a seguinte afirmação: “a responsabilidade é a ferramenta necessária para atingir a grandeza humana”.

5. Respeito

A primeira exigência que o respeito impõe é de prestar atenção ao outro como ser humano com suas demandas e características próprias, é saber admirar o que é diferente na diversidade das pessoas, por ele se estabelece a aceitação de cada pessoa evitando a coisificação. O respeito leva a valorizar a pessoa na condição que ela é, e não na condição que está. (negro, porque é negro, branco, porque é branco, católico porque é católico). Ultrapassa os rótulos como gerente, coordenador, secretário, professor, ministro, etc... O respeito enriquece as diferenças por ele, os preceitos serão percebidos como idiotices. Cultivando esta virtude a pessoa perceberá que existem coisas muito mais importantes do que a preocupação com fofocas, boatos, desprezos, indiferenças, discussões bobas, etc...
O Filósofo francês Rosseau afirmou: “O primeiro passo para fazer o bem é não fazer o mal”. E outro filósofo espanhol: “Desconfio do respeito de um homem com seu amigo e sua bandeira quando não o vejo respeitar o inimigo ou a bandeira deste”. E ainda o inglês Gardner: “Se respeitar as pessoas como elas são, você pode ser mais eficaz ajudando-as a se aperfeiçoarem”.

6. Veracidade

Esta é a expressão da verdade que brota da sinceridade que vem do interior das pessoas. Cultivar a veracidade é importante para evitar o falso testemunho e o perjúrio que contribuem ou para condenar um inocente ou inocentar um culpado, é triste este comportamento entre colegas de trabalho que estabelece uma concorrência desleal. Por esta virtude o indivíduo terá em alta estima o respeito pela reputação alheia, evita o juízo temerário que admite como verdadeiro, sem fundamento suficiente, um defeito moral do próximo. Aquele que cultiva a veracidade faz evitar a calúnia que prejudica o bom nome dos outros e dá ocasião a falsos juízos a respeito deles. A prática da veracidade exclui a bajulação, a adulação ou complacência. É muito deprimente o “puxa-saquismo”, a fanfarronice e a depreciação alheia. No que concerne a este princípio se aplica a palavra de Jesus “Seja o vosso sim, sim e o vosso não, não” (Mt 5, 37); “não julgueis para não serdes julgados” (Mt 7,1), ou as palavras do sábio “não louves alguém por sua aparência formosa e nem desprezes quem é deforme em seu exterior” (Ecl 11,2); “quem é sábio nas palavras progride na vida” (Ecl 20, 29).

7. Confiança

É a adesão ás manifestações de outro, é um ato de inteligência a mando da vontade; a pessoa do outro merece apreço, valor e dignidade. A confiança é a base do relacionamento humano. Compreender que cada indivíduo é uma fonte de conhecimentos que deve ser respeitado pelos demais a fim de que aconteça a harmonia da convivência. A confiança pode ser comparada a um salto no escuro e nisto se realiza uma beleza de extraordinária grandeza. Quem confia pode errar, quem não confia já errou, a virtude da confiança espelha humildade, revela o indivíduo que em vez de construir muros, constrói pontes com os outros à custa de gastar tempo, ouvir, tolerar, ajudar a ser ajudado. A confiança é uma atitude que aceita a lealdade, a sinceridade, a franqueza, a integridade, a bondade, a pureza e a benevolência.

8. Disciplina

Tem uma dupla dimensão, do ponto de vista pessoal interessa a cada pessoa e no tocante às relações fomenta o respeito mútuo entre as partes cujo objetivo é garantir a satisfação de todos. Se constitui num processo dinâmico que tem sua origem na própria pessoa e na sociedade. A disciplina faz parte da vida como um todo e não é algo superficial e transitório. Como afirmam os textos de Provérbios 12, 1: “aquele que ama a disciplina, ama a ciência”; 15,32: “aquele que rejeita a disciplina, despreza sua alma”, 9,12: “conserva a disciplina e ela te conservará”.

9. Solidariedade

A raiz da palavra significa “dar a quem está só”. Esta atitude implica numa relação de responsabilidade com a pessoa que se encontrando numa situação difícil não pode sair sozinha. Isto pode ser na condição de quem precisa de uma mão estendida, um ombro pra chorar, um conselho, a indicação de um caminho. Praticar a solidariedade é estabelecer uma assistência recíproca. Ela brota da percepção que o mal do outro que está só pertence à coletividade e é dever desta combatê-la. Pela prática desta virtude o indivíduo percebe que o sofrimento alheio é também seu. Neste sentido se aplica a frase do político suíço Secrétan: “O bem será doravante o de nos querermos e nos concebermos como membros da humanidade. O mal será nos querermos isoladamente, nos separarmos do corpo do qual somos membros”. A verdadeira solidariedade como valor moral consiste em ajudar a pessoa a resolver por si mesma seus problemas; assim ela sentir-se-ia mais gente, com mais dignidade e poderia participar mais da própria sociedade. Cabe ainda a expressão de Luther King: “ou nos damos as mãos ou morreremos todos como idiotas”.

10. Espiritualidade

Esta virtude consiste em acreditar que a vida humana não se explica nas realidades materiais; ela se mostra pelo desejo que o homem tem de sempre se transcender, de viver mais, de querer mais, de atingir o absoluto. Mesmo quem não aceita nenhuma resposta já dada, continua no fundo do seu ser à procura de uma luz. Existe um infinito dentro de cada um que quer fazer-se ouvir, que quer dialogar, que quer ajudar a pessoa a encontrar-se melhor consigo mesma. Espiritualidade sugere religião, mas nenhuma religião por si satisfaz plenamente o ser humano, as religiões são meios para que a pessoa se encontre melhor com Deus, consigo mesma, com os outros e com o mundo.
O ser humano enquanto trabalha com motivação cria uma espiritualidade para viver seus valores, bem como a ausência desta enfraquece a vontade. Ela consiste na capacidade de abrir-se, saindo do seu mundo pequeno e individual. O certo é que os valores deste mundo passam o que permanece é o que foi cultivado no caminho de encontrar o absoluto.
Infelizmente nossa sociedade carece de valores e comportamentos morais que transformem as relações humanas em condições de promotoras de costumes morais e de princípios éticos.
A amplitude deste tema exigiria uma reflexão mais apurada sobre os pontos acenados até aqui. Todavia, o limite de tempo e de espaço deste texto impede maior profundidade. Diante disto basta indicar alguns princípios básicos de ética e moral a partir de três esferas das relações humanas, a saber:

a) Ética pública
b) Ética profissional
c) Ética pessoal

ETICA E MORAL IV

III - A CONSCIÊNCIA CRÍTICA NAS PESSOAS
E NAS RELAÇÕES

O ser humano é um ser social. Ele produz a sociedade e nela se situa de forma crítica. Estabelece em relação a ela um processo de legitimação e de controle que é ao mesmo tempo uma terapia que pode ser melhor explicada nos seguintes tópicos.

1 – Necessidade de consciência crítica
Consciência é a presença que a pessoa tem de si mesma e das realidades que a rodeiam. Em outras palavras conhece seu texto e seu contexto. Em se tratando de ética consciência pode ser definida como capacidade de discernir entre o bem e o mal. No decorrer dos seus dias a pessoa vai formando critérios que fundamentam suas decisões éticas.
Consciência psicológica e consciência ética se completam, quanto mais a pessoa tem noção de si e das suas realidades, mais adequados serão seus juízo crítico e sua realização pessoal. Tratar da consciência crítica significa estabelecer um dinamismo constante que pode ser interpretado como peneira, purificação, limpeza. A consciência crítica não é uma estrutura abstrata, nem uma entidade teórica, mas consiste numa prática.
Cada pessoa está imersa em mecanismos que sustenta na sua base social o modo de pensar, valorizar e agir de grupos humanos. Por conta disto a pessoa pode ser levada a agir como ‘massa’. Esta é mais uma razão para estar atenta reflexivamente ao meio em que vive.
Vivemos num círculo ideológico que racionaliza e operacionaliza objetivos parciais, reduzindo, setorizando, discriminando e distorcendo a realidade; criam-se palavras-chaves, em nome das quais tudo encontra justificativa.
A consciência crítica visa quebrar estas ambiguidades a fim de cada pessoa se perceba como construtora de sua sociedade e não simples tarefeira.

2 – Condições para a consciência crítica se desenvolver

a) Abertura intelectual - que é também a capacidade de questionar se a prática não está defasada em relação à teoria. A abertura intelectual é favorecida pela experiência com o diferente, a mesma prática muitas vezes dá sensação de segurança e de ordem. É muito importante que um indivíduo tenha contato com outro de modo a conhecer formas diversas de viver a mesma realidade. Esta atitude levará necessariamente a adquirir uma nova compreensão de si mesmo.
A abertura propicia reconhecer que as verdades sofrem contínuas releituras e reinterpretações. É mais do que compreensível que como a realidade exige o sentido cumulativo em que as verdades são superadas sempre surgindo algo de novo junto com aquilo que permanece de velho. (O Reino de Deus é como um pai que tira do seu tesouro coisas novas e velhas).

b) Segurança afetiva – Cada indivíduo vai construindo sua auto-segurança assimilando dentro de si mesmo novidades e diferenças. A afetividade, de certo modo, impede a abertura da inteligência para a crítica da realidade; é o caso de pessoas que afirmam ‘já faz trinta anos que trabalhamos assim na empresa, para que mudar?”ou “em time que está ganhando não se mexe”. Aqui a lógica do convencimento esbarra contra a lógica do sentimento: por isso as pessoas que propõem mudanças devem ser percebidas como alguém que quer o bem dos outros e que suas propostas são um enriquecimento de segurança e não uma ameaça à mesma. Isto, por exemplo, pode se verificar quando é necessário transferir alguém de setor ou de função – flexibilidade.
c) Saber lidar com o imprevisto - A consciência crítica, pode nos colocar em situações que exijam ações bem diferentes para o bem do ser humano, o chamado ‘próximo’. Caso típico é a parábola do bom Samaritano. – emergência. Ora, quantas vezes não acontecem imprevistos de muito menor monta que, porém, não são levados em conta, colocando em perigo saúde, relacionamento e outros valores humanos? Por exemplo, uma pessoa sofre um ‘mal estar súbito’. Problema dela, não posso deixar o que estou fazendo. Alguém chegou atrasado para a missa – nem me interessa o problema não é meu. A vivência ética deve colocar o ser humano com sua real necessidade acima de tudo.