sexta-feira, 24 de julho de 2015

HOMILIA PARA O DIA 25 DE JULHO DE 2015

DEEM VOCÊS MESMOS DE COMER

As denúncias de corrupção que tomam conta de todos os meios de comunicação nos últimos tempos causam náusea para além da indignação. Ouvir como os envolvidos falam com naturalidade do montante de dinheiro que duas ou três pessoas acabaram se apropriando daquilo que devia servir para o bem todos. O uso da máquina pública em benefício próprio, mais do que o volume, significa não se preocupar com o bem estar alheio.
É esta a situação que Jesus percebe na multidão que vem ao seu encontro e que o profeta também experimentou e que é narrado na primeira leitura deste domingo. Quando Jesus vê a multidão se aproximando, imediatamente desafia os discípulos: O que podemos fazer para atender a todos? Tanto os que procuravam Jesus para resolver suas necessidade particulares, como os próprios discípulos ainda não tinham compreendido a dimensão coletiva que a palavra e a ação de Jesus queria despertar neles.
Felipe pensa logo em consumir o seu salário e de algumas poucas pessoas para “quebrar um galho” diante do problema que estava criado. Jesus, ao contrário apresenta uma alternativa totalmente diferente e que implica em solidariedade e responsabilidade.
O menino com cinco pães e dois peixes é a figura simbólica do pouco que todos querem garantir para a sua própria subsistência, entretanto Jesus ensina duas coisas: Ser grato pelo pouco que cada um possui e em seguida partilhar sem medo e com todos o pouco que frequentemente se quer acumular.
Com atitudes simples e objetivas Jesus indica alternativas possíveis: Sentem todos, deem graças a Deus, partilhem entre todos e recolham o que sobrou para que nada se perca. O volume da sobra é representado pelo número 12, que na Bíblia significa totalidade perfeição. Isso significa dizer, o que sobrou é o suficiente para todos de modo que ninguém venha a passar necessidade.
A mesma ação tinha feito o profeta, conforme narra o livro dos Reis: “Dá ao povo para que coma; pois assim diz o Senhor: Comerão e ainda sobrará. O homem distribuiu e ainda sobrou, conforme a palavra do Senhor”.
Este é o Senhor que a comunidade agradece como fez o salmista na oração deste domingo: “Todos os olhos, ó Senhor, em vós esperam e vós lhes dais no tempo certo o alimento; vós abris a vossa mão prodigamente e saciais todo ser vivo com fartura”.
Estes ensinamentos são absolutamente atuais e merecem ser aplicados por cada pessoa no cotidiano das suas relações. Isto é, antes de tudo preocupar-se com o bem estar e as necessidades de todos antes de querer garantir o bem estar e a felicidade própria.
É isso o que a Palavra de Deus sugere para os cristãos do terceiro milênio: Não acumular para si, mas aprender a solidarizar-se com todos a fim de que ninguém fique desamparado.

A Eucaristia que se celebra a cada domingo é a mais extraordinária lição de solidariedade, de compromisso e de partilha. Celebrar com a assembleia reunida é o jeito que os cristãos encontram para se fortalecer nesta empreitada. 

sábado, 18 de julho de 2015

HOMILIA PARA O DIA 19 DE JULHO DE 2015

JESUS TEVE COMPAIXÃO DA MULTIDÃO

O Papa Francisco, todo mundo já pode perceber, tem provocado muitas reações e pedido muitas mudanças às pessoas e à Igreja. Dentre as insistências feitas pelo Papa, uma delas se resume nas palavras: “Quero uma Igreja de Saída”. Não simplesmente de sair dos templos e dos lugares onde a Igreja costumava estar, mas ir ao encontro das pessoas sendo fiel ao Mestre Jesus. No documento que se chama Alegria do Evangelho, Francisco fala com clareza: “É indispensável para a Igreja sair para anunciar o Evangelho em todos os lugares, em todas as ocasiões, sem demora, sem repugnância e sem medo. A Alegria do Evangelho é para todo o povo, não se pode excluir ninguém”.

As palavras do Papa são uma atualização da atitude de Jesus. O que se lê no evangelho de hoje é a continuação do texto proclamado no último domingo em que Jesus os enviou dois a dois para anunciar a boa notícia. Hoje Jesus reencontra os enviados e lhes propõe um tempo de descanso para repensar as atividades, porém ao ver a multidão Ele mesmo não resiste: “Tevê compaixão, porque estavam como ovelhas sem pastor. Começou, pois, a ensinar-lhes muitas coisas”.

Diferente dos pastores do Antigo Israel, os discípulos de Jesus se apresentam como bons e fiéis seguidores, enquanto aqueles, como se lê na primeira leitura: “dispersaram o rebanho e afugentaram as ovelhas não cuidando delas” na pessoa de Jesus se realiza a profecia: “Eu farei nascer um descendente de Davi, que fará justiça e retidão na terra”.

O pastor prometido no Antigo Testamento, tem a confirmação de Paulo na carta aos Efésios: “Ele veio anunciar a paz a vós que estáveis longe, e a paz aos que estavam próximos. É graças a Ele que uns e outros, em um só Espírito, temos acesso junto ao Pai”.

Este jeito de ser pastor é o que se reconhece no Salmo: “O Senhor é o pastor que me conduz; felicidade e todo o bem hão de seguir-me! Ele me guia no caminho mais seguro, nenhum mal eu temerei, ele está comigo com seu bastão e seu cajado”.

Ora, este e o modelo de pastor que o Papa pede para todos, a começar pelos dirigentes da Igreja, mas o convite de Francisco se dirige a todos os cristãos. Ninguém que tenha conhecimento do Evangelho pode descuidar da Alegria de anunciá-lo e de viver de acordo com aquilo que acredita.


Eis o convite para todos neste domingo, transmitir com o seu jeito de viver a Alegria de acreditar no Evangelho. 

sábado, 11 de julho de 2015

HOMILIA PARA O DIA 12 DE JULHO DE 2015

CHAMADOS E ENVIADOS...



Uma das belezas da comunicação são os recursos de linguagem. As comparações, parábolas e alegorias permitem compreender melhor a mensagem que se quer transmitir e compreender.  Todos os idiomas tem suas sutilezas e recursos que facilitam a compreensão de pensamentos mais complicados.  No antigo Israel, as comparações entre a ação de Deus, dos profetas e o trabalho diário do povo era uma forma de explicar o alcance da Palavra anunciada em favor de todos. Jesus também usou muitas comparações para se fazer compreender e divulgar a mensagem daquele que lhe tinha enviado.
Na liturgia da Igreja, o período que vai da solenidade de Pentecostes até o domingo de Cristo Rei, quase seis meses, é denominado tempo comum. Não porque seja um período pouco importante para os fiéis e para a liturgia, mas porque neste tempo os textos da Palavra de Deus escolhidos para as celebrações dizem respeito à vida e ao cotidiano de todos.
Neste domingo, se lê um texto do profeta Amós, uma carta de Paulo e o Evangelho de Marcos. Em todos eles, a mensagem central reside na compreensão da ação de Deus na vida pessoal e da comunidade.
Assim o profeta retoma a sua condição de agricultor e aplica para a missão que reconhecia ter recebido de Deus: Não sou profeta nem sou filho de profeta; sou pastor de gado e cultivo sicômoros. O Senhor chamou-me, quando eu tangia o rebanho, e o Senhor me disse: 'Vai profetizar para Israel, meu povo”.
No evangelho Jesus recomenda algumas atitudes indispensáveis para aqueles que querem se colocar a serviço do Reino em vista de uma vida melhor para todos: “Recomendou-lhes que não levassem nada para o caminho, a não ser um cajado; nem pão, nem sacola, nem dinheiro na cintura. Mandou que andassem de sandálias e que não levassem duas túnicas”. E reafirma que não devem se preocupar com o resultado da missão, o importante é realizar com desprendimento, o resto acontece por si mesmo.
E de fato, o trabalho dos primeiros discípulos  produziu frutos de tal maneira que o evangelho de Jesus chegou até os dias de hoje. Ontem como hoje, cada pessoa é convidada a fazer a mesma coisa, isso é anunciar com desprendimento desde o lugar onde se vive e proclamar as palavras de acordo com o seu testemunho. É neste sentido que o Papa Francisco insiste em uma Igreja de saída, isto é, que tenha coragem e alegria de sair dos muros dos templos e das casas para semear sempre mais além.
Realizando isso pode-se compreender as palavras de Paulo aos efésios: Bendito seja Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. Ele nos  abençoou com toda a bênção do seu Espírito em virtude de nossa união com Cristo, no céu. Em Cristo, ele nos escolheu, antes da fundação do mundo, para que sejamos santos e irrepreensíveis sob o seu olhar, no amor. Ele nos predestinou para sermos seus filhos adotivos por intermédio de Jesus Cristo, conforme a decisão da sua vontade, para o louvor da sua glória e da graça com que ele nos cumulou no seu Bem-amado”.
Que o testemunho de todos e a oração da Igreja ajude a cada um proclamar A verdade e o amor se encontrarão, a justiça e a paz se abraçarão; da terra brotará a fidelidade, e a justiça olhará dos altos céus”.

sexta-feira, 3 de julho de 2015

HOMILIA PARA O DIA 05 DE JULHO DE 2015

14º DOMINGO DO TEMPO COMUM -  ANO B – 

Ezequiel, 2, 2-5; Salmo 122(123); 2Corintíos 12,7-10; Marcos 6, 1 -6.

Madre Tereza de Calcutá, conhecida no mundo inteiro, e de extraordinária vivência do evangelho declarou: “As mãos que ajudam são mais santas do que os lábios que rezam”. A afirmação desta Santa dos tempos modernos tem uma sintonia muito profunda com o jeito de ser de Jesus, dos profetas e dos apóstolos.

Mesmo não sendo aceito pelos seus conterrâneos, não podendo realizar de modo pleno a missão que o Pai lhe havia confiado, Jesus continuou  o seu caminho. Deixou claro quem ele era ao povo judeu. Estes não o tinham reconhecido como enviado e nem tampouco como profeta. O texto de Marcos se conclui com a afirmação: “Ali apenas curou alguns doentes, impondo-lhes as mãos... Jesus percorria os povoados e redondezas”

Situação semelhante havia acontecido com Ezequiel, profeta do Antigo Testamento: “Que fique claro afirma o profeta, A estes filhos de cabeça dura e coração de pedra. Quer escutem, quer não escutem, saibam que houve entre eles um profeta”.

São Paulo se apresenta arrasado, por todos os sofrimentos humanos que já havia experimentado, mas deixa evidente a sua convicção: “quando sou fraco, então é que sou forte”.

Eis uma vez mais uma certeza para todos: Deus se manifesta, age e dá forças para todos os que se sentem ameaçados e fragilizados pelas dificuldades da vida. Essa extraordinária ajuda de Deus chega às pessoas sim pela oração de cada um e pela oração de Deus, mas muito mais pela vida santa que faz com que as pessoas e as comunidades vivam plenamente sua vocação à santidade.

Para enxergar Deus é necessário ter a atitude do salmista: “Eu levanto os meus olhos para vós, que habitais nos altos céus”.  Com os olhos em Deus, com os pés no mundo e com as mãos em ação eis que se realiza o encontro vivo com Jesus vivo, que faz a todos e cada seu discípulo para a construção da comunhão e para a realização da missão.


Os profetas, os apóstolos e o próprio Jesus ensinam pela vida que ser no mundo instrumento do amor de Deus significa trabalhar para que o Reino aconteça e que Deus seja reconhecido por todos em todos os lugares.

sábado, 27 de junho de 2015

HOMILIA PARA O DIA DE SÃO PEDRO E SÃO PAULO 2015

DE TODOS OS TEMORES ME LIVROU O SENHOR DEUS

SOLENIDADE DE SÃO PEDRO E SÃO PAULO – 2015 – ANO B

Pedir ajuda em momentos de dificuldade, buscar socorro sempre que não se pode ter a solução para as dificuldades do cotidiano são manifestações de humildade e do reconhecimento das  próprias fragilidades. Na missa de hoje, depois da comunhão a Igreja  reza: “Concedei-nos ó Deus, perseverar na doutrina dos apóstolos , na fração do pão e enraizados no vosso amor”.  Esta oração mostra a confiança que a Igreja inteira tem na Palavra de Deus e na mão poderosa do Senhor, que em todos os tempos lhe fez caminhar em meio a todas as dificuldades, como se reza no salmo deste domingo: “De todos os temores me livrou o Senhor Deus”.
A primeira leitura deste domingo, tirada dos Atos dos Apóstolos, relata um dos momentos de particular dificuldade da Igreja nascente. As autoridades daquele tempo, não se contentaram em ter decretado a morte de Jesus, também queriam dar fim a todos os que seguiam sua doutrina e ensinamento.  Neste caso depois de matar vários membros da Igreja, manda prender também a Pedro, líder máximo da Igreja que estava nascendo. O longo texto da leitura mostra, de novo a mão de Deus socorrendo a Igreja  que “rezava continuamente”.  E claro de modo extraordinário Pedro é liberto das correntes e da prisão.
São Paulo na Carta a Timóteo  faz como que um testamento do que foi a sua vida de  apóstolo: “Combati o bom combate guardei a fé..., O Senhor esteve ao meu lado e me deu forças... Ele me libertará de todo o mal, a Ele glória, pelos séculos dos séculos! Amém”.
Nota-se neste caso que a Palavra dita por Jesus no Evangelho encontraram eco na vida da Igreja desde o começo: “Feliz es tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi um ser humano que te revelou isso, mas o meu Pai que está no céu. Por isso eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra construirei a minha Igreja, e o poder do inferno nunca poderá vencê-la. Eu te darei as  chaves do Reino dos Céus: tudo o que tu ligares na terra será ligado nos céus; tudo o que tu desligares na terra será desligado nos céus".
Ora, ontem como hoje as dificuldades da Igreja para ser fiel ao seu fundador Jesus Cristo não são poucas. Mais do que em outros tempos os cristãos são convidados  a rezar  pedindo que a mão de Deus que libertou os cristãos de todos os temores em todos os tempos, livre também a Igreja nos dias atuais.
O Papa Francisco surge “do fim do mundo” para renovar a Igreja, rezemos por ele e por seu ministério a fim que possa realmente implantar a mudanças que a Igreja e que os fiéis tanto esperam.


sábado, 20 de junho de 2015

HOMILIA PARA O DIA 21 DE JUNHO DE 2015

12º DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO B

Metáforas, hipérbole, comparação, ditados populares, e outras formas de expressão são muito comuns no linguajar do povo. Existe um ditado popular que diz mais ou menos assim: “Depois da tempestade vem a bonança”.  Frequentemente as pessoas usam a expressão tempestade para dizer que passaram por provações e dificuldades de toda ordem. Sejam elas de saúde, de relações familiares e sociais, questões econômicas e etc...

As leituras deste domingo falam exatamente de tempestades e calmarias. As primeiras decorrem da fragilidade humana e as segundas da força daquele que pode fortalecer e encorajar os fracos.

Assim Jó, cuja vida é uma constante tempestade, relata mais um dos seus momentos de provação e como não poderia ser diferente. Do fundo da sua confiança ele pede socorro e Deus que tudo pode, não para benefício próprio ou para mostrar seu poder, mas para socorrer quem necessita, consola Jó com as palavras: “Quem fechou o mar com portas, quando ele jorrou com ímpeto do seio materno, quando eu lhe dava nuvens por vestes e névoas espessas por faixas; quando marquei seus limites e coloquei portas e trancas”. 

Essa ação de Deus, por certo não é a única reconhecida em favor daqueles que nele depositam confiança. Por essa razão o salmista, faz também a Igreja rezar hoje: Dai graças ao Senhor, porque ele é bom... Os que sulcam o alto-mar com seus navios... testemunharam os prodígios do Senhor”.

São Paulo escreve aos coríntios, como que lhes confortando afirma: “Para quem confia no Senhor, tudo o que era velho já passou”.

E de fato os discípulos na barca são repreendidos por Jesus, não por terem medo, mas porque não confiaram. Jesus lhes pergunta sobre a causa do medo e lhes chama a atenção: “Ainda não tendes fé?”.

Depois que tudo acontece os discípulos finalmente reconhecem: ‘Quem é este que até o vento e o mar obedecem”.

Ora, estas lições e ação de graças que a Palavra de Deus transmite neste domingo são perfeitamente aplicáveis para a Igreja, para a sociedade e para cada pessoa em particular. Primeiro reconhecer que onde Deus está presente nenhum problema é maior do que sua força e sua autoridade. Segundo confiar na sua presença, sobretudo, nas horas mais difíceis que se tem a enfrentar.

Claro está para todos que a oração comum é uma das formas extraordinárias de fortalecer a fé e a coragem, por isso mesmo a Igreja convida todos para a oração de cada domingo onde um é por todos e todos são por um. 

sexta-feira, 12 de junho de 2015

HOMILIA PARA O DIA 14 DE JUNHO DE 2015 - 11º DOMINGO DO TEMPO COMUM - ANO B

DE PEQUENA SEMENTE A ARVORE FRONDOSA

Ezequiel 17,22-24; Salmo 91; 2Coríntios 5,6-10; Marcos 4, 26-34

Não obstante todas as descobertas e avanços da ciência, a vida e o seu desenvolvimento continua envolto em mistérios. A vida humana é a mais misteriosa e fantástica obra que se pode observar. Não há ninguém que não se encante ao acompanhar o nascimento e o crescimento de uma criança, e tudo o que vai acontecendo com aquela criaturinha com o passar dos dias. Por sua vez os pais e parentes próximos vão se perguntando sobre o seu futuro e todos os seus sonhos e desejos que poderão se concretizar ou deixar de se realizar de acordo com o modo como aquele pequeno ser for assumindo a sua liberdade e responsabilidade.
É exatamente destes conceitos que tratam as leituras deste domingo. Jesus fala para os amigos usando a comparação da semente. Deixa claro que a intenção daquele que planta é colher frutos de acordo com a qualidade da semente plantada. Obviamente que entre o plantio e a colheita acontecem muitas coisas que estão fora do controle daquele que semeia e que na maioria das vezes depende do contexto em que a planta está crescendo.
Porém a mensagem de Jesus quer fazer entender que  a pessoa humana é a uma semente plantada por Deus, seu criador. Num determinado momento da história cada pessoa haverá de mostrar os seus frutos, os quais não dependem do semeador, mas dependem sim do ambiente em que o sujeito cresce e se desenvolve, depende sim do uso adequado que faz da sua vida, da sua liberdade e da sua responsabilidade. Toda pessoa humana é como uma pequena semente, de boa qualidade e plantada em bom terreno, quanto à produção dos frutos só vai depender do seu próprio desenvolvimento.
Deus, o semeador fará tudo para que os frutos sejam adequados e significativos como as grandes árvores cuja origem está numa pequena semente, porém tal fruto precisa da vontade e empenho próprio de cada pessoa. O trabalho de Deus é bem comparável ao que o profeta anuncia falando sobre o povo de Israel. Ele mesmo o dono do campo arranca dos lugares perigosos e transplanta em locais mais seguros, seu objetivo é sempre garantir que produza frutos e seja árvore majestosa.

O sacramento do batismo, a vida em comunidade a oração de todos são ajuda indispensáveis para que cada pessoa se sinta fortalecida na bonita e cativante tarefa de ser uma árvore frondosa capaz de produzir frutos de acordo com o desejo daquele que os criou para essa finalidade. 

sexta-feira, 29 de maio de 2015

HOMILIA PARA O DIA 31 DE MAIO DE 2015

EU CREIO EM DEUS!
Leituras: Deuteronômio 4, 32 - 40; Salmo (32) 33; Romanos 8, 14- 17; Mateus 28,16-20

A modernidade com todos os recursos e benefícios que traz para as pessoas e sociedades continua sem respostas para muitas perguntas e sem solução para inúmeros problemas e desafios.  Tem sido cada vez mais frequente a circulação pelas redes sociais e por diversos meios de comunicação mensagens sobre Deus, o seu poder e sua ação no mundo. Dentre as frases interessantes que se lê por todo canto, uma delas diz mais ou menos assim: “Não sou dono do mundo, mas sou filho do Dono”.  Que importância tem para a fé das pessoas e daquele que ostenta esta afirmação nos espaços onde frequenta.  Dizer que o mundo tem um dono e que a pessoa humana é filha daquele que se acredita ter toda a autoridade,  traz algum significado prático e alguma mudança para quem faz a declaração?
Este mistério é o que a liturgia deste domingo celebra e que a Igreja chama de Santíssima Trindade. A leitura do livro do Deuteronômio faz exatamente a mesma afirmação, usando outras palavras, mas que tem o mesmo sentido do provérbio citado logo acima. No texto que se proclama neste domingo está escrito: “O Senhor é o Deus lá em cima no céu e cá embaixo na terra, e não há outro além dele”, Isto posto tem exatamente o mesmo significado: Ele é o dono do mundo! Ora, se se acredita que ele é o dono do mundo, não há porque duvidar das palavras que se reza no salmo: A palavra do Senhor criou os céus, e o sopro de seus lábios, as estrelas. Ele falou e toda a terra foi criada, ele ordenou e as coisas todas existiram”.
Do mesmo jeito São Paulo escreve aos Romanos e reitera o que já se sabe: O próprio Espírito se une ao nosso espírito para nos atestar que somos filhos de Deus. E, se somos filhos, somos também herdeiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo; se realmente sofremos com ele, é para sermos também glorificados com ele”.
É em nome daquele que tudo governa, que Jesus confia a missão aos discípulos: “Portanto, ide e fazei discípulos meus todos os povos,  batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, e  ensinando-os a observar tudo o que vos ordenei! Eis que eu estarei convosco todos os dias, até ao fim do mundo”.
Tudo isso que se lê na Sagrada Escritura neste domingo é também o que a Igreja proclama quando reza: “Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo”.

Se de fato esta é  a verdade que os cristãos acreditam fica fácil entender e aceitar o desafio de viver de acordo com aquilo que se acredita, isto é, aceitar Deus como o dono do mundo, implica dizer não a tudo o que ocupa o lugar de Deus na vida e no cotidiano, comprometer-se com cada uma e com todas as causas que façam o mundo do qual Deus é o dono, uma casa para todos e um local onde todos estejam em casa. Isso é celebrar a Santíssima Trindade. Deus é grande e poderoso e está próximo das pessoas a quem ele mesmo escolheu como sua herança. Ora se herdeiros nada mais justo do que viver de acordo  com a condição que se acredita e que o evangelho quer ajudar a compreender. 

sábado, 16 de maio de 2015

HOMILIA PARA O DIA 17 DE MAIO DE 2015

DOMINGO DA ASCENSÃO DO SENHOR

ANO B – Atos 1, 1-11; Salmo 47 (46) Efésios 1,17-23; Marcos 16,15-20

O brasileiro é um povo festeiro, e quando não tem razões para fazer festa, arruma motivos. E festa é sempre oportunidade para encontros, causos, jogos, diversões, saudade, e outras coisas mais.  Dentre as particularidades das festas uma delas é recordar o passado, lembrar-se das lições, fazer memória de tudo o que aconteceu consigo e com aqueles que naquela ocasião se encontram.
A liturgia da Igreja chama os 50 dias depois da páscoa como uma festa que não tem fim. Para ajudar nisso os textos do evangelho proclamados cada domingo atualizam um aspecto do acontecimento extraordinário que foi a Ressurreição de Jesus.  A começar pela alegria da manhã da ressurreição, o encontro de Jesus com Tomé e os discípulos, o reconhecimento do Bom Pastor e a condição de videira unida ao tronco que é Jesus.
Quarenta dias depois da páscoa os discípulos vivem aquilo que até hoje a Igreja proclama com fé: “Subiu aos céus e está sentado a direita de Deus Pai”.  Reunidos na Galileia os discípulos presenciam Jesus subindo ao céu e recebem a tarefa: “Homens da Galileia, por que ficais aqui, parados, olhando para o céu? Esse Jesus que vos foi levado para o céu, virá do mesmo modo como o vistes partir para o céu”.
São Paulo afirma aos efésios que Deus tem o poder e a partir dele todas as coisas acontecem. Que ele abra o vosso coração à sua luz, para que saibais qual a esperança que o seu chamamento vos dá, qual a riqueza da glória que está na vossa herança com os santos, e que imenso poder ele exerceu em favor de nós que cremos, de acordo com a sua ação e força onipotente. Ele manifestou sua força em Cristo, quando o ressuscitou dos mortos e o fez sentar-se à sua direita nos céus, bem acima de toda a autoridade, poder, potência, soberania ou qualquer título que se possa nomear não somente neste mundo, mas ainda no mundo futuro”.
É a força de Deus que os discípulos tinham sido enviados a anunciar pela palavra de Jesus no evangelho: “'Ide pelo mundo inteiro e anuncie o Evangelho a toda criatura! Quem crer e for batizado será salvo. Quem não crer será condenado. Os sinais que acompanharão aqueles que crerem serão estes: expulsarão demônios em meu nome, falarão novas línguas; se pegarem em serpentes ou beberem algum veneno mortal não lhes fará mal algum; quando impuserem as mãos sobre os doentes, eles ficarão curados”.
Desde aquele tempo até os dias de hoje cada cristão continua tendo a mesma ajuda e o mesmo empenho: Anunciar a força de Deus que rompe barreiras, que destrói a morte, que fortalece a esperança e que constrói a caridade. Para isso servem o testemunho de todos os que viveram a fé nos últimos dois mil anos, para isso serve a palavra da Igreja que estimula a proclamar com a vida e com as palavras aquilo que se professa na oração. O que aconteceu com os discípulos pode ser realidade também hoje: “O Senhor cooperava com eles confirmando o que proclamavam” para isso é necessário que o anúncio venha acompanhado do testemunho, como alerta o Papa Francisco: “Evangelizadores com espírito, quer dizer gente que reza e trabalha”.

Que a oração de cada um seja sustento para todos é o que se pede na assembleia reunida de cada domingo

sábado, 9 de maio de 2015

HOMILIA PARA O DIA 10 DE MAIO DE 2015

            QUE O VOSSO FRUTO PERMANEÇA

Atos 10, 25- 48; Salmo 98, 1Jo4, 7-10; João 15, 9-17
6º domingo da páscoa

A expressão que é o cerne da liturgia deste domingo é anterior ao cristianismo. Os sábios gregos sabiam mais sobre o amor do que toda a humanidade. Eles diferenciavam muito bem entre o amor dos pais pelos filhos, amor entre os amigos, afeto entre pessoas que vivam sob um mesmo teto, amor caridoso pela humanidade, amor possessivo, amor erótico, amor jocoso, mas o que eles mais admiravam era o amor entre amigos. Somente a “mania” de amar, que hoje nós chamamos de paixão, era considerada pelos gregos como uma punição dos deuses. A filosofia grega teve em alta consideração um tipo de afeto que até hoje costuma ser incondicional, isso é, ama sem pedir nada em troca e ama independente da situação de quem é amado, talvez seja até uma questão biológica, trata-se do amor materno.

É esta a forma de amor que as leituras apresentam como sendo o amor de Deus. Noutro texto da Sagrada Escritura se lê: “ainda que uma mãe esqueça de amar o seu filho, Deus jamais se esquecerá do seu amor”.  É deste jeito que Pedro manifesta o amor de Deus pelos estrangeiros: “Pelo contrário, ele aceita quem o teme e pratica a justiça, qualquer que seja a nação a que pertença”. E João, autor da carta cujo texto é proclamado na segunda leitura diz: Nisto consiste o amor: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi ele que nos amou e enviou o seu Filho”.  Por sua vez a palavra de Jesus não poderia ser mais clara, alias ela é repetida em todo o evangelho de João. Não se trata de amar algo invisível e distante, mas de amar a pessoa que está perto. Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor, assim como eu guardei os mandamentos do meu Pai e permaneço no seu amor. Eu vos disse isto, para que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja plena. Este é o meu andamento:amai-vos uns aos outros, assim como eu vos amei”.

O mundo contemporâneo pede que as relações de amor verdadeiro sejam mais claras, pede que a própria religião deixe de ser uma prática individualista, que o amor proporcione o diálogo e aceitação das diferenças. Por mil razões hoje as pessoas dizem que amam, muitas vezes motivadas por interesses econômicos, políticos, sociais, utilitaristas e por aí afora.

Em Jesus Cristo, Deus manifestou um amor universal, tão extraordinário que venceu a própria morte, se os cristãos aprendessem a força deste jeito de amar certamente o mundo seria muito diferente. O Papa Francisco recomenda como primeira motivação para viver o cristianismo a capacidade de amar como Jesus amou.


Professar a fé na pessoa e na palavra de Jesus implica fazer uma ponte entre aquilo que se acredita e o modo como se ama. A celebração comunitária da Eucaristia é uma forma extraordinária de compreender essa verdade.  A doação e o carinho expresso no dom a maternidade é um jeito concreto de experimentar e recordar o amor de Deus presente no meio do mundo. 

sábado, 25 de abril de 2015

HOMILIA PARA O QUARTO DOMINGO DA PÁSCOA 2015


O BOM PASTOR DÁ A VIDA POR SUAS OVELHAS

1ª Leitura - At 4,8-12;   Salmo - Sl 117,1.8-9.21-23.26.28cd.29 (R. 22) ; 
2ª Leitura - 1Jo 3,1-2; Evangelho - Jo 10,11-18
Nesta semana três fatos marcaram os noticiários nacionais e  internacionais. Localmente a tragédia que se abateu sobre a cidade catarinense de Xanxerê e redondeza, no âmbito mundial o naufrágio de um navio com centenas de pessoas no mar mediterrâneo e o terremoto no Nepal.  Todos os casos despertaram ações de comoção e de solidariedade em favor das vítimas e declarações de autoridades e dos responsáveis para garantir a segurança das pessoas envolvidas. Nestes casos todos fica evidente que o que está em jogo é a dignidade das vidas humanas cujo cuidado, de algum modo, é responsabilidade de todos. Negar-se a colaborar para que situações desta natureza não se repitam ou prestar socorro a quem foi atingido por catástrofes é uma maneira de manifestar o coração amoroso e atitude de pastor que a condição de cristãos sugere a todos.
Dentro do contexto do tempo pascal a liturgia da Igreja convida a celebrar a pessoa de Jesus ressuscitado que se dá a conhecer como o Bom Pastor, aquele que por sua união com o Pai ama a todos e se apresenta buscando e acolhendo a todos, sobretudo os distantes e mais sofredores.
O retrato de Jesus Bom Pastor tem perfeita sintonia com a ação dos discípulos descrita nos Atos dos Apóstolos e clara nas palavras de Pedro: Jesus é a pedra, que vós, os construtores, desprezastes, e que se tornou a pedra angular. Em nenhum outro há  salvação, pois não existe debaixo do céu outro nome dado aos homens pelo qual possamos ser salvos” é nele que todos podem sentir-se filhos amados de Deus.
Reconhecer esta verdade e nela se reconhecer seguidor de Jesus Cristo, o Bom Pastor, traz igualmente uma exigência indispensável para o cristão. Já não servem mais palavras, as adversidades e os sofrimentos que se fazem visíveis no mundo contemporâneo pedem exemplos de testemunho autêntico, pede a coragem de pessoas motivadas a prolongar a missão de Jesus no mundo. Missão que não é apenas garantir a segurança daqueles que estão seguros no espaço da igreja e da sociedade, mas também buscar, socorrer, preocupar-se com todos aqueles que em qualquer lugar sofrem vítimas de catástrofes ou de descaso de pessoas e autoridades que deveriam ser responsáveis pela vida em plenitude para todos.

A oração da Igreja reunida estimula a comunidade de fé a se responsabilizar e a testemunhar a ressurreição de Jesus empenhando esforços  que não permitam ficar à margem da construção da esperança por um mundo novo povoado de irmãos. 

terça-feira, 14 de abril de 2015

HOMENS DE ORAÇÃO OU FUNCIONÁRIOS DO SAGRADO

Os padres de Bergoglio, pastores globais sem clericalismo e carreirismo.
2015-04-10T23:47:00.435Z
Reportagem de Francesco Peloso, no sítio Vatican Tabloid, de 06-04-2015.
Chega de padres doentes de clericalismo, de funcionários, aqueles apegados ao dinheiro, de padres que maltratam as pessoas. Ao contrário, que se dê espaço aos sacerdotes que sabem estar no meio das pessoas, do seu rebanho, perto das famílias, de quem sofre, de quem precisa de ajuda; espaço para os educadores, para aqueles que sabem "se sujar" com a realidade e são capazes de compartilhar com os outros e colaborar entre si.
 
                    Existe um modelo de padre que, há muito tempo, o Papa Francisco está propondo para a Igreja. Ele fez isso durante muitos discursos "informais", durante as famosas homilias matinais das missas celebradas em Santa Marta e através de mensagens oficiais como a que foi destinada à Conferência Episcopal Italiana em novembro passado. Francisco vê de perto a crise das vocações que afeta, há muito tempo, em primeiro lugar, o Ocidente, ou seja, a parte do mundo em que a tradição cristã tem raízes antigas. E nessa área do mundo a Europa é o continente onde o afastamento da fé e da batina é sentido de modo particularmente evidente.
                    Assim, o bispo de Roma está tentando dar uma resposta à crise profunda da fé, conjugando uma ideia de Igreja popular e não barroca com o perfil do pastor que deve anunciar o Evangelho neste tempo. Assim, se a Igreja deve se transformar em um hospital de campanha, em um lugar em que se acolhe e não se rejeita o "ferido" com base em algum artigo do catecismo aplicado secamente e sem olhar para a pessoa, se a Igreja deve deixar de funcionar como uma alfândega em que se deve ter todos os documentos em ordem para entrar, o sacerdote que está em contato com a comunidade dos fiéis deverá, em primeiro lugar, estar no meio do seu povo.
                    "Não servem padres clericais, cujo comportamento corre o risco de afastar as pessoas do Senhor, nem padres funcionários, que, enquanto desempenham um papel, buscam longe d'Ele a própria consolação." Palavras claras que talvez perturbaram uma Igreja um pouco curvada sobre si mesma e que se depara, com crescente dificuldade, com uma sociedade em constante mudança. 
                    Na ocasião, o papa também chamava a atenção dos bispos. Entre as suas tarefas – repetiu ele várias vezes – há também o de estarem perto dos sacerdotes que, na vanguarda, mantêm viva a vida. Quantos deles, explicava Francisco, "com o seu testemunho, contribuíram para nos atrair a uma vida de consagração".
                    "Nós os vimos gastarem a vida entre as pessoas das nossas paróquias – afirmava o papa –, educando os jovens, acompanhando as famílias, visitando os doentes em casa e no hospital, cuidando dos pobres, na consciência de que separar-se para não se sujar com os outros é a maior sujeira'", observou ainda, citando o grande escritor russo Tolstoi. 
                    Mas, se essa é a tarefa nada fácil dos padres; a fraqueza, a queda pode atingi-los ao longo do caminho. Então, é tarefa dos bispos, das Conferências Episcopais recorrer a instrumentos de formação permanente, a verificações periódicas, tentando captar os elementos de cansaço e de solidão que podem marcar a vida de um padre. Em suma, é um olhar realista voltado pelo pontífice para a condição sacerdotal, fundamentado na consciência de que a escolha de ser padre hoje vai contra a sensibilidade e a cultura dominantes.
                    Aliás, os números são claros. De 2002 a 2012, a última década para a qual existem dados disponíveis, o número de sacerdotes esteve em queda constante (cerca de 5 mil a menos só na Itália; freis e freiras registram, em todos os lugares, nos países ocidentais, uma contração que parece irrefreável). As novas ordenações, além disso, caem em todo o Velho Continente. Na Itália são agora pouco mais de 300 por ano (em alguns Estados, poucas dezenas). Mas também é preciso ver quanto tempo elas duram. O crescimento ocorre em outros lugares, na África e, em particular, na Ásia, onde florescem Igrejas jovens, mas os católicos são muitas vezes uma minoria.                     Mas nem por isso é preciso alargar as malhas dos seminários, ao contrário, o risco é de deixar entrar pessoas não aptas, que têm problemas de relacionamento ou de socialização. O escândalo dos abusos infantis também é filho dessas políticas superficiais.
                    O Papa Francisco lembrava isso em outubro 2014: "Por favor – era o convite lançado pelo pontífice aos bispos –, é preciso estudar bem o percurso de uma vocação! Examinar bem se aquele homem é sadio, se aquele homem é equilibrado, se aquele homem é capaz de dar vida, de evangelizar, se aquele homem é capaz de formar uma família e renunciar a isso para seguir a Jesus".
                     Muitos problemas em inúmeras dioceses, acrescentava o papa, surgem porque os bispos acolheram as pessoas que, depois, são expulsas dos seminários e das casas religiosas. Por um lado, havia o problema dos abusos e, por outro, o das vocações incompletas, feitas por pessoas que depois voltavam a uma vida como leigos.
                    Tornar-se padre, portanto, segundo a abordagem de Bergoglio, não é uma profissão. O padre não deve ser um organizador nem o chefe de uma ONG. A sua missão se realiza, sim, através de instrumentos sociais ou de caridade, mas na ótica forte do Evangelho, de uma fé que orienta profeticamente todo o povo de Deus, incluindo os pastores. Assim, a adesão à palavra de Jesus, a sua proximidade aos últimos, aos pobres, deve ser tornar central na vida do sacerdote, que também é feita de espiritualidade, de oração.
                    Mas Francisco, nos últimos meses, tocou também outro ponto clássico de crise da vida sacerdotal, o da relação com o dinheiro. O papa denunciou publicamente aqueles padres que pedem dinheiro em troca dos sacramentos, de um casamento, de um batismo e assim por diante. "Quantas vezes – disse ele – vemos que, ao entrar em uma igreja, ainda hoje, há ali a lista dos preços para o batismo, a bênção, as intenções para a missa... E o povo se escandaliza", porque, nessas formas, cumpre-se "o escândalo do comércio, da mundanidade". 
                    Portanto, tomando um elemento extremo de verdade na relação entre os fiéis e a Igreja, Bergoglio afirmava: "O povo de Deus sabe perdoar os seus padres quando eles têm uma fraqueza, quando deslizam em um pecado. Mas há duas coisas que o povo de Deus não pode perdoar: um padre apegado ao dinheiro e um padre que maltrata as pessoas!"

sábado, 11 de abril de 2015

HOMILIA PARA O DIA 12 DE ABRIL DE 2015

FELIZ É AQUELE QUE PARTICIPA...

Os recursos tecnológicos disponíveis em larga escala na atualidade, as redes sociais, o acesso a muitos e diversificados meios de comunicação, transforma com facilidade pequenos fatos em grande noticias e muitas vezes situações sem importância ganham proporções que nem se poderia imaginar. Nisto se reconhece o poder da comunicação. Há que se reconhecer que as tecnologias são um avanço e normalmente trazem muitos benefícios para todos. Mas é verdade também que o mau uso das redes sociais pode fazer grandes estragos.
Basta ver algumas postagens nas redes sociais  que em  questões de horas são compartilhadas e visualizadas por milhares de pessoas, situação praticamente impensável  até bem pouco tempo. Imaginem-se  os discípulos de Jesus anunciando sua ressurreição com os recursos da internet. O fato, certamente teria tomado dimensões muito maiores e o cristianismo se expandido pelo mundo com uma velocidade impressionante.
Mas neste caso faltaria um ingrediente que a Palavra de Deus proclamada neste segundo domingo mostra com muita clareza. Trata-se do contato pessoal e do envolvimento pessoal com a causa e a própria notícia. No evangelho os discípulos contaram com toda a vibração possível: 'Vimos o Senhor!' Porém, Tomé, que não estava envolvido com o fato foi incrédulo: “Se eu não vir a marca dos pregos em suas mãos,
se eu não puser o dedo nas marcas dos pregos e não puser a mão no seu lado, não acreditarei”.
A mesma situação aparece na carta de João, que é a segunda leitura do domingo: “Podemos saber que amamos os filhos de Deus, quando amamos a Deus e guardamos os seus mandamentos”. E  o grande mandamento  não é outro senão estar próximo daquele que se ama.
Quem está próximo da pessoa amada torna-se um com ela, como narra os Atos dos Apóstolos: “A multidão dos fiéis era um só coração e uma só alma. Ninguém considerava como próprias as coisas que possuía, mas tudo entre eles era posto em comum”.
Diante destas narrativas que outra atitude pode ter o cristão do terceiro milênio senão  seguir o testemunho das primeiras comunidades cristãs, isto é, reunir-se , escutar a Palavra, rezar uns com os outros, participar da ceia, cultivar a perseverança e a confiança de modo que coragem vença o medo e todos possam proclamar o anuncio feito por Jesus: “A paz esteja com Vocês”. E repletos do Espírito Santo de Deus prolongar nestes tempos e com todas as forças que o Senhor Ressuscitado está vivo e presente  no mundo e que por isso mesmo a vida pede que se faça crescer o dinamismo das relações de compreensão e de doação de Deus com  as pessoas e entre si tendo em vista um mundo sempre melhor. 

sábado, 4 de abril de 2015

HOMILIA PARA O SÁBADO SANTO 2015 – 04 DE ABRIL.


ALELUIA, O SENHOR RESSUSCITOU! 

Poucas coisas são mais significativas para a pessoa e para a sociedade do que a possibilidade de passar de uma condição de vida menos digna para uma situação melhor. O tempo de preparação para essa transformação muitas vezes exige sacrifício, determinação e coragem. Para os cristãos esse processo acontece durante os quarenta dias da quaresma.
As celebrações da semana santa intensificam as expectativas da páscoa. Isso é a passagem para um tempo novo, para um estilo de vida diferente e muito melhor.
As leituras proclamadas na liturgia da noite do sábado santo recordam a ação de Deus no mundo. A longa narrativa da criação que se conclui com a expressão: “E Deus viu que tudo era muito bom”.  A proclamação da passagem do Mar Vermelho cuja mão de Deus garantiu a vida ao povo Hebreu e castigou os Egípcios que lhes perseguiam.
Os salmos que são proclamados e levam a comunidade inteira a rezar reconhecendo a maravilhosa ação de Deus em favor de todos os que nele confiam, se completam com o encontro do túmulo vazio pelas mulheres que não abandonaram o Senhor Jesus.
Vencendo todo medo e todo preconceito as mulheres caminham de madrugada para o lugar onde estava o corpo de Jesus.  Recebem em primeira mão a noticia: “Ele não está aqui, Ele ressuscitou”. Esta extraordinária noticia pede uma nova atitude, que significa não ficar parado diante do túmulo vazio. “Vão e contem aos discípulos e a Pedro caminhem até a Galileia, lá Vocês o verão”, Ordenou o anjo às mulheres.
Todas essas situações podem ser vivenciadas por cada pessoa que celebra a páscoa de Jesus neste terceiro milênio. Ninguém duvida que as dificuldades destes tempos sejam cruzes e muitas vezes “noites escuras” que sufocam a esperança, mas ao mesmo tempo apontam para a possibilidade de uma vida nova, de uma páscoa que será passagem para um tempo novo onde a vida triunfará.
É importante não se deixar vencer pelo cansaço, pela tristeza e desilusão, pelo contrário, há que se deixar abrir às novidades que Deus constantemente traz para a vida de todos. Imitar Maria, a mãe de Jesus, a hora é de guardar todas as coisas no coração de modo a não deixar passar em branco a transformação que se realiza no coração e na vida daqueles que acreditam.

Coragem, o Senhor está Vivo!

quinta-feira, 2 de abril de 2015

HOMILIA PARA A SEXTA FEIRA DA PAIXÃO - 03 DE ABRIL DE 2015

EIS O LENHO DA CRUZ...
Não precisamos ir longe para perceber que a sociedade hoje tem muitas cruzes. Casos graves de corrupção e desvio de dinheiro público sem solução ou punição. Em Santa Catarina, professores e outras categorias em greve. Para fazer “funcionar a escola”, diretores e gerentes de Educação orientam os pais para que  mandem seus filhos a escola. Lá eles ficam horas no ginásio de esportes ou com atividades diversas que não são aulas e isso eles chamam “educação de qualidade”.
A Celebração da Sexta Feira Santa na liturgia da Igreja atualiza o sofrimento de Cristo na cruz, nele se pode dizer “Páscoa de Cristo – Páscoa da Gente”! Os cristãos não se reúnem para lembrar um fato ocorrido há dois mil anos, mas, pelo contrário, celebram  o sofrimento de Cristo que se repete no sofrimento do povo.
Celebrar piedosamente a Sexta Feira da Paixão implica fazer alguma escolhas. Pode-se agir como Pilatos, lavando as mãos diante das cruzes,  outra atitude possível é a de Pedro: “Não sei quem ele é e nunca vi este homem”; pode-se também ser como Judas, entregando-o ainda para ser crucificado, traindo aquele que foi seu companheiro em muitos momentos.
Mas o cristão de verdade pode se comportar como o ladrão arrependido: “Tem piedade de mim Senhor,  que eu sou pecador”; pode ser também como o Cirineu que ajuda cada pessoa a carregar sua cruz. Pode ser como Maria Madalena, Maria a mãe de Jesus e as outras Marias, caminhar com Ele até o Calvário.
Não sem razão a estas últimas Jesus apareceu primeiro ressuscitado do domingo de páscoa. A Sexta Feira da Paixão é um convite para todos experimentar o que se lê na carta aos Hebreus: Temos um sumo sacerdote eminente, que entrou no céu, Jesus Cristo, o Filho de Deus. Por isso permaneçamos firmes naquilo que acreditamos!
Cristo, na sua vida terrena dirigiu súplicas, com forte clamor e lágrimas e foi atendido por causa da sua perseverança. Sendo Deus ele aprendeu a sofrer, mas não se calou diante do sofrimento: “Pai se possível afasta de mim esse cálice, mas seja feita a tua vontade  e não a minha”. Sua persistência lhe fez vencer as cruzes, as ameaças e a própria morte.

A Sexta Feira da Paixão coloca todos diante das cruzes de cada dia e convida a ser  perseverante e firme na fé, a participação de todos garantira a passagem do Calvário para a Vida nova da Páscoa. 

HOMILIA PARA A QUINTA FEIRA DA SEMANA SANTA - 2015

NOITE ESCURA DO MONTE DAS OLIVEIRAS (Bento XVI)

A Quinta feira santa, com a celebração da “Missa do Lava-pés”, introduz os cristãos no mistério da morte e ressurreição do Senhor. Não sem razão, o Papa Bento XVI, denominou a “Noite escura do Monte das Oliveiras”.
Na celebração da quinta feira cada pessoa é convidada a colocar todas as misérias e fraquezas no coração de Jesus. Nas palavras de um hino litúrgico composto para a noite de hoje  se canta assim: “Durante a ceia, o discípulo do amor/ Recostou sua cabeça/ sobre o peito do Senhor/.E cada impulso do Sagrado coração/ Era um novo testemunho/ De acolhida e de perdão... Durante a ceia, antes de enfrentar a cruz/ Quis ficar com seus amigos/ Para ser a sua luz/.Como alimento, o Sagrado Coração/ Entre nós ficou presente/ Neste vinho e neste pão”.
Os cristãos do século XXI, como os hebreus do Egito, ainda são escravos e escravizados de muitos modos, entre eles: Comodidade, preconceito, consumismo, intolerância, falta de caridade, corrupção, inveja, amor próprio, falta de compromisso com a vida e assim por diante. De algum modo, todos são chamados a dar um basta a essa situação.  São Paulo faz um convite aos conrintios que é igualmente estendido a todos: fazer uma passagem do velho homem para uma nova criatura e a agir sempre em “Memória do Senhor”.
Jesus, lavando os pés dos discípulos indica uma atitude simples e possível para todos. Se quiser ser discípulo do mestre, seguir os seus passos, uma coisa  é necessário colocar-se a serviço. Nas noites escuras da vida, o convite não é esconder-se, mas antes sair de si e servir àqueles que mais necessitam. Como disse Madre Tereza de Calcutá: “As mãos que ajudam são mais sagradas dos que os lábios que rezam”.
Celebrar a noite escura do monte das oliveiras é compreender o significado das palavras: “O amor é como grão, morre e nasce trigo, vive e morre pão”.
Deus e o seu Filho Jesus é o pão que  alimenta que faz morrer as fraquezas  e refaz as energias. A Deus  para quem tudo é possível, os cristãos são convidados a confiarem as suas vidas na certeza que Ele mesmo ajudará a fazer a passagem necessária para situações melhores e mais dignas.

Que a oração de todos e a comunhão na Igreja seja o alimento nesta Santa Semana. 

quarta-feira, 25 de março de 2015

HOMILIA PARA O DOMINGO DE RAMOS DE 2015

BENDITO O QUE VEM EM NOME DO SENHOR!

O Domingo de Ramos é a porta de entrada para a Semana Santa que culmina com o mistério da Páscoa. Páscoa é a razão da vida do cristão, isso é a passagem mais decisiva e importante que a pessoa humana realiza. Em Jesus Cristo todos os que nele creem terão a vida eterna.
A celebração do Domingo de Ramos é marcada por dois momentos extraordinários na vida de Jesus. No primeiro ele  é exaltado e proclamado Rei de Israel. Em sua entrada triunfal em Jerusalém ouvem-se os gritos: “Bendito o que vem em nome do Senhor!”.  Poucos dias, na mesma Jerusalém ele é acusado de blasfemador e pecador porque se apresenta como enviado do Senhor, Filho do Deus vivo.
Neste sentido a semana santa se torna uma oportunidade para os cristãos experimentarem a solidariedade com Cristo e o com os sofredores e injustamente acusados e condenados neste mundo.
O profeta Isaías se refere ao Servo do Senhor e o apresenta como o escolhido. Apresentando o Servo como alguém capaz de ouvir e colocar em prática a Palavra que ouve o texto faz perceber que o verdadeiro Servo é Jesus Cristo em quem todos são também filhos de Deus e, portanto chamados a fazer exatamente o que Jesus fez: ouvir e praticar a Palavra até as últimas consequências.
Paulo escreve aos filipenses que estavam vivendo um tempo delicado em que as desavenças, os ciúmes, as fofocas e disputas de poder eram muito claras entre eles. Paulo apresenta a pessoa de Jesus e mostra como ele agiu, recomendando aos seus amigos: “Não façam nada por espírito de vanglória, mas que a humildade os ensine a não se preocupar apenas consigo mesmo, mas estar atento aos sofrimentos e necessidades de todos”.
Já os dois textos do Evangelho proclamados antes da bênção dos ramos e a primeira narrativa da paixão apontam para duas atitudes possíveis aos cristãos. Ou proclamar com convicção que Jesus é o Bendito que vem em nome do Senhor! Ou fazê-lo apenas da boca para fora e poucos dias depois voltar a atrás e comportar-se como Pedro: “Não sei quem é este homem e nem compreendo o que Você está dizendo”.
Iniciando a Semana Santa o cristão se propõe a viver o mistério de Jesus Cristo em sua totalidade e ao mesmo tempo ser para o mundo sinal de Jesus Cristo vivo e ressuscitado. Cada pessoa é convidada a seguir Jesus sendo portador de uma mensagem positiva onde o amor e a justiça gera segurança e paz.

Desta forma cada cristão poderá repetir com convicção o convite da Campanha da Fraternidade: “Eu vim para servir!”.