sexta-feira, 28 de abril de 2017

HOMILIA PARA O DIA 30 DE ABRIL DE 2017

ELE DOMINOU A MORTE

Um dos sentimentos mais difíceis de se administrar é o sentimento de perda. Quando se perde a saúde, um amigo, um ente querido, um negócio importante, até quando se perde o ônibus. São todas situações que deprimem e deixam as pessoas sem ação e sem disposição para buscar soluções e alternativas de superação.
Sentimento de perda foi o que experimentou o grupo e cada um dos amigos e amigas de Jesus depois de sua trágica morte. As leituras deste domingo apresentam como aos poucos a comunidade dos seguidores de Jesus foi se fortalecendo e fazendo crescer a certeza que a morte tinha sido dominada e que em seu lugar reinava o poder de Deus que quer a vida em plenitude para todos.
O episódio dos discípulos de Emaús é uma das situações extraordinárias que devolve aos incrédulos e desiludidos discípulos a certeza que tinham perdido: Quando Jesus repetiu o gesto de partir o pão que lhes era familiar “Seus olhos se abriram e eles reconheceram o Senhor, então disseram um para o outro: Não estava o nosso coração ardente quando Ele nos falava pelo caminho e nos explicava as escrituras? No mesmo instante voltaram a Jerusalém e contaram aos outros como tinham reconhecido Jesus ao partir do pão”.
A segunda leitura apresenta motivo mais que suficiente para ninguém se desanimar diante das dificuldades e sofrimentos que a vida lhes impõe: Sabeis que fostes resgatados da vida fútil herdada de vossos pais, não por meio de coisas perecíveis,
como a prata ou o ouro, mas pelo precioso sangue de Cristo. Por ele é que alcançastes a fé em Deus. Deus o ressuscitou dos mortos e lhe deu a glória, e assim, a vossa fé e esperança estão em Deus”.
E o texto dos Atos dos Apóstolos certifica que Cristo não foi abandonado à região da morte, Deus o ressuscitou e nós somos testemunhas.
Ora, Deus que fez todas essas coisas merece o salmo que diz: Eu bendigo o Senhor, que me aconselha, e até de noite me adverte o coração. Tenho sempre o Senhor ante meus olhos, pois se o tenho a meu lado não vacilo”.
Ora, também para os cristãos do terceiro milênio, também o povo brasileiro vilipendiado por políticos e mandatários corruptos e insensíveis aos sofrimentos e direitos dos cidadãos o mesmo Senhor que ressuscitou Jesus dentre os mortos e o próprio Ressuscitado aparece no caminho das perdas e dos sofrimentos e reafirma: “como vocês são lentos para compreender as escrituras, não sabem que o messias deve sofrer tudo isso, para então ressuscitar no terceiro dia”?
O Cristo que dominou a morte caminha com cada pessoa que luta e crê num mundo novo.



sábado, 22 de abril de 2017

HOMILIA PARA O DIA 23 DE ABRIL DE 2017

ELE NOS FEZ NASCER DE NOVO...

Vamos começar a reflexão da Palavra de Deus para este domingo a partir de uma fábula de Esopo, conhecida como o feixe de varas. Conta a fábula que certo pai, já no leito de morte pediu que cada um dos filhos viessem ao seu encontro trazendo uma varinha colhida no quintal de casa. Os filhos atenderam ao chamado do pai e trouxeram a varinha. O pai pegou cada uma delas e quebrou diante deles sem nenhum esforço. Reiterou o pedido para que novamente os filhos trouxessem mais uma varinha, e o exercício foi repetido. O pai então pegou todas as varinhas e formando um feixe tentou quebra-las. Obviamente o esforço foi em vão. Passou o feixe para cada um dos filhos que também não conseguiram. Como moral da história disse o pai: Assim acontece com cada um de vocês. Se estiverem sozinhos, facilmente serão vencidos, se permanecerem unidos ninguém conseguirá quebra-los.
É esta a mensagem que se pode tirar da liturgia deste domingo. Os Atos dos Apóstolos narram o testemunho da primeira comunidade cristã onde se lê: “Os que haviam se convertido eram perseverantes em ouvir o ensinamento dos apóstolos, na comunhão fraterna na fração do pão e nas orações, todos os que abraçavam a fé viviam unidos e colocavam tudo em comum e, cada dia, o Senhor acrescentava ao seu número mais pessoas que seriam salvas”. A experiência comunitária que os seguidores de Jesus realizaram garantiu o sucesso da proposta e o crescimento do grupo.
Pedro, na segunda leitura, reconhece a ação de Deus e afirma que tudo o que está acontecendo permite crescer na esperança e na alegria: Bendito seja Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. Em sua grande misericórdia, pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos,
ele nos fez nascer de novo...”
e tudo é motivo de alegria embora seja necessário compreender que a vida não acontece sem que as pessoas experimentem dificuldades e provações.
O Evangelho narra mais um dos momentos extraordinários em que Jesus ressuscitado se dá a conhecer aos apóstolos. Esta realidade é portadora de algumas condições incríveis que são ao mesmo tempo missão. Os que estavam reunidos reconhecem Jesus que anuncia: “A paz esteja com vocês! Como o Pai me enviou eu também envio vocês; a quem perdoarem os pecados, estes serão perdoados; Bem-aventurados os que creram sem ter visto!” Todas realidades vividas em comunidade e com a comunidade.
Dentre as missões importantes e necessárias que a vida nos pede nos próximos dias, uma delas é ser solidário com o Brasil. O pedido dos nossos bispos em relação à reforma da previdência é muito claro: “É necessário que a sociedade brasileira esteja atenta às ameaças de retrocesso. A ampla mobilização contra a retirada de direitos, arduamente conquistados. A CNBB, a OAB e o Conselho Federal de Economia convidam seus membros e as organizações da sociedade civil ao amplo debate sobre a Reforma da Previdência e sobre quaisquer outras que visem alterar direitos conquistados, como a Reforma Trabalhista. Uma sociedade justa e fraterna se fortalece, a partir do cumprimento do dever cívico de cada cidadão, em busca do aperfeiçoamento das instituições democráticas”
A Arquidiocese de Maringá, no Paraná, suspendeu a Romaria que faria no dia primeiro de maio e o Arcebispo fez um convite para todos os diocesanos que participem das mobilizações do dia 28 de abril. Certamente este convite pode ser aplicado aos cristãos do Brasil inteiro.
A participação maciça na luta por um Brasil justo e honesto e com oportunidades para todos fara com que cantemos todos com o salmo deste domingo: “Este é o dia que o Senhor fez para nós, alegremo-nos e nele exultemos”.  


sexta-feira, 14 de abril de 2017

HOMILIA PARA A PROCISSÃO DO ENCONTRO

ELE FOI FERIDO POR CAUSA DE NOSSOS PECADOS

Dentre as historietas, comparações e analogias que circulam pelas redes sociais nestes dias, uma delas é a conhecida parábola do homem que estava carregando uma cruz e enquanto caminhava sentiu cansaço e aos poucos foi cortando pedaços da cruz de modo que se tornasse mais leve e seu caminho mais suave. Para sua surpresa há pouca distância do destino ele precisou atravessar um abismo quando lançou sua cruz para fazer a travessia percebeu que faltavam os pedaços para garantir a travessia.
Esta historieta muitas vezes pode ser aplicada ao dia a dia das pessoas que procuram a maneira mais fácil, porém nem sempre eficaz para solucionar seus problemas.
Na Sexta Feira Santa, os cristãos acompanham com piedade os passos do Servo Sofredor descrito pelo profeta Isaias “Meu servo o justo carregou sobre si as culpas de todos”. Dentre as práticas de piedade no dia da Paixão do Senhor, uma delas se dá pela participação na procissão do Senhor morto também realizada com a imagem de N. Sra. das Dores. A cena do encontro sofrido da mãe e do filho dispensa comentários, trata-se de uma cena que fala por si mesma.
Celebrar este momento de compaixão diante da imagem do Cristo morto pede que se recorde o momento da condenação, ocasião em que Pilatos proclama “Não encontro nele nenhuma culpa, façam como manda a lei de vocês”.
Ao mesmo tempo não é possível contemplar a Imagem de Maria sem recordar a profecia de Simeão quando disse: “Uma espada transpassará a sua alma” e o evangelho conclui afirmando: “Maria guardava todas essas coisas no seu coração”.
Jesus e Maria com seu silencio se unem às vítimas da violência que já não podem gritar. Carregando a cruz Jesus se une as famílias que se encontram em dificuldade e choram a trágica perda dos filhos. Com a cruz Jesus se une a todas as pessoas que sofrem. Com a cruz Jesus está junto de tantas mães que veem seus filhos vítimas do paraíso das drogas. Com a cruz Jesus se une a quem é perseguido por causa da sua religião, das suas ideias ou simplesmente pela cor de sua pele. Na cruz de Cristo está o sofrimento e  o pecado, Ele acolhe tudo com os braços abertos e continua a dizer coragem, Você não leva sozinho eu caminho com Você.
Por sua vez, Maria continua a convidar para caminhar com Jesus sem medo de ir com ele até a cruz e sem medo de busca-lo na madrugada da ressureição.

As celebrações da sexta feira da paixão devem ajudar cada vez mais as pessoas serem semelhantes a Cristo e que passando pela experiência de dor e sofrimento cada vez mais tenham a coragem de se comprometer de verdade com a construção do Reino de Deus.

quarta-feira, 12 de abril de 2017

HOMILIA PARA A VIGILIA DA PÁSCOA 2017

ELE NÃO MORRE MAIS

A celebração da Vigília da Páscoa coloca os cristãos diante da mais extraordinária surpresa de Deus. Todos os envolvidos no processo da morte da Jesus foram surpreendidos com a novidade da manhã da ressurreição. Fazer memória deste extraordinário acontecimento significa caminhar com as mulheres que foram ao túmulo na madrugada do primeiro dia.
Desiludidas e preocupadas com o modo como a vida deveria continuar depois da morte do Senhor elas caminham até a sepultura “Vão cumprir um gesto de piedade, de afeto, de amor, um gesto tradicionalmente feito a um ente querido falecido, como fazemos nós também. Elas tinham seguido Jesus, ouviram-No, sentiram-se compreendidas na sua dignidade e acompanharam-No até ao fim no Calvário e ao momento da descida do seu corpo da cruz” (Papa Francisco Homilia da Vigília da Páscoa 2013).
Transtornadas com tudo o que tinham visto e vivido tiveram dificuldade para  compreender os fatos que estavam acontecendo naquela extraordinária manhã, entretanto elas não duvidam do mandato de Jesus: “digam aos meus irmãos que se dirijam para a Galileia lá Vocês me verão”.
Como as mulheres daquele tempo também a humanidade hoje se vê às voltas com as surpresas de Deus. Nesta páscoa eis o convite: “Não nos fechemos à novidade que Deus quer trazer à nossa vida! Muitas vezes sucede que nos sentimos cansados, desiludidos, tristes, sentimos o peso dos nossos pecados, pensamos que não conseguimos? Não nos fechemos em nós mesmos, não percamos a confiança, não nos demos jamais por vencidos: não há situações que Deus não possa mudar; não há pecado que não possa perdoar, se nos abrirmos a Ele” (Papa Francisco Homilia da Vigília da Páscoa 2013).
A longa liturgia da Palavra proclamada na celebração desta noite faz a recordação de todas as surpresas que Deus realizou ao longo do tempo. A humanidade é convidada a não buscar entre os mortos aquele que está vivo.
“Os problemas, as preocupações de todos os dias tendem a fechar-nos em nós mesmos, na tristeza, na amargura… e aí está a morte. Não procuremos aí o Vivente! Aceita então que Jesus Ressuscitado entre na tua vida, acolhe-O como amigo, com confiança: Ele é a vida! Se até agora estiveste longe d’Ele, basta que faças um pequeno passo e Ele te acolherá de braços abertos. Se és indiferente, aceita arriscar: não ficarás desiludido. Se te parece difícil segui-Lo, não tenhas medo, entrega-te a Ele, podes estar seguro de que Ele está perto de ti, está contigo e dar-te-á a paz que procuras e a força para viver como Ele quer” (Papa Francisco Homilia da Vigília da Páscoa 2013).

Que a páscoa ensine a todos e a cada um a “cuidar e guardar a criação”. 

HOMILIA PARA A SEXTA FEIRA DA PAIXÃO 2017

DO LADO ABERTO DE CRISTO JORROU 

SANGUE E ÁGUA

A celebração da Paixão do Senhor é uma súplica insistente que os cristãos fazem ecoar pedindo para serem saciados com o amor daquele que deu a vida para perdoar os pecados e resgatar os pecadores.
Ao mesmo tempo, celebrar a paixão é um desafio para permanecer com ele como fazem os amigos quando acompanham o sofrimento dos amados.
Contemplar os sofrimentos de Jesus, permanecer com Ele no calvário implica abrir o coração para Jesus, assim como o Senhor entregou-se pela humanidade.
Fazer a memória deste extraordinário acontecimento que modificou para sempre a vida de todos implica também dar uma resposta que signifique disposição para retribuir o amor manifestado por todos.
Celebrar a paixão implica cultivar a coragem de não separar-se de Cristo e nem tampouco de esquecê-lo. De um modo muito claro significa aceitar o desafio de ir construindo sempre mais relações fraternas, justas e humanas.

Ir ao encontro do Cristo na cruz implica ter confiança que por mais extremas que sejam as dores da humanidade o seu coração ferido, compassivo e misericordioso consola, fortalece e alivia os sofrimentos.

HOMILIA PARA A QUINTA FEIRA DA CEIA DO SENHOR - 2017

O SENHOR DEUS VEM EM NOSSO AUXÍLIO

A onda de violência que toma conta das cidades, a infinita lista de corruptos e corruptores, o desrespeito pela vida em todas as suas formas são sinais claros que em nome da liberdade Jesus continua sendo traído e entregue para ser crucificado.  Judas que participava do grupo de amigos de Jesus exerceu sua liberdade sem responsabilidade e o resultado não poderia ser outro. Pelo contrário Jesus que foi verdadeiramente livre diante de tudo e de todos exerceu também sua responsabilidade.
No Evangelho se lê: “Jesus sabia que tinha chegado a sua hora. A hora de passar deste mundo para o Pai. Ele, que tinha amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim”. Esta confiança faz Jesus se abandonar nos braços do Pai e sem abrir mão da sua liberdade ensinou uma lição de serviço e de valorização da vida.
“Se eu, o mestre e Senhor, lavei os seus pés façam também vocês a mesma coisa...” praticar o mandato de Jesus é a maneira mais clara de mostrar Deus que vem em socorro das necessidades e sofrimentos humanos.
A narrativa da Instituição da Eucaristia, conforme conta São Paulo na segunda leitura de hoje, fortalece a responsabilidade solidária da partilha e do serviço que já estava descrita na comemoração da páscoa dos judeus.
Partilhar o Cordeiro como lembrança da libertação do Egito era uma atitude de serviço e de entrega que se completa com a ceia de Jesus confirmada pelo gesto de lavar os pés.

Os cristãos que se reúnem na semana santa não fazem uma simples lembrança, pelo contrário, atualizam os gestos e palavras de Jesus e pedem a graça, a coragem e a determinação de usar a sua liberdade na promoção e defesa da vida e da dignidade de todos. 

sábado, 8 de abril de 2017

HOMILIA PARA O DOMINGO DE RAMOS 2017

DEUS O FEZ SENHOR E O COLOCOU 
ACIMA DE TUDO

As celebrações da Semana Santa que se iniciam com o Domingo de Ramos não são simples lembrança de fatos que aconteceram num determinado tempo da história. O que se faz nestes dias é a atualização de tudo o que se chama Mistério da Fé. A procissão com a bênção dos ramos representa a Igreja com todos os batizados construindo o Reino de Deus, embora vivam as fragilidades da condição humana.
Nesta celebração são proclamados dois textos do Evangelho. O primeiro que narra a entrada de Jesus em Jerusalém, fato que, na verdade, é um único que culmina com a paixão e morte de Jesus. O mesmo povo que proclama “Bendito o que vem em nome do Senhor” é o que grita “ele não, solte-nos Barrabás” e que logo depois afirma amedrontado “verdadeiramente esse homem era Filho de Deus”. Essas três situações continuam a se repetir no dia a dia dos cristãos.
Para cada pessoa na atualidade continua atual a palavra de São Paulo na carta aos Filipenses: “Jesus Cristo esvaziou-se a si mesmo, para que em todos os lugares e em todos os tempos, todos os joelhos se dobrem e toda língua proclame: Jesus é o Senhor!”.
A força divina que o Profeta Jeremias descreve na primeira leitura: “Mas o Senhor Deus é meu Auxiliador, por isso não me deixei abater o ânimo”, foi o sustento de Jesus diante de todas as dificuldades até mesmo quando ele pede: “Pai se é possível afasta de mim este cálice” e ainda: “Meu Deus, Meu Deus porque me abandonaste”.
A oração que se faz no salmo: “Todos os que amam o Senhor Deus, lhe cantem louvores, lhe glorifiquem os descendentes de Jacó e o respeitem toda a raça de Israel”.
Como última palavra para guardar no coração: Celebrar a semana santa um encontro vivo com Jesus vivo, que obviamente também acontece no encontro vivo com cada pessoa com quem se tem relação no dia a dia.
Neste sentido ganha ainda mais sentido a oração da missa que diz: “Concedei-nos aprender o ensinamento de sua paixão e ressuscitar com ele na glória”.


domingo, 2 de abril de 2017

HOMILIA PARA O DIA 02 DE ABRIL DE 2017 - QUINTO DA QUARESMA

LÁZARO, VEM PARA FORA...
O nome Lázaro, na língua hebraica significa “Aquele que Deus ajuda”. Assim como a palavra Bethânia, significa a casa dos pobres. Se fosse possível dar um significado para estes dois nomes na atualidade se diria que a sociedade está cheia de Lázaros, no sentido de que são muitos os que precisam da ajuda de Deus e em todas as cidades existem muitas Bethânia.  Devolver a alegria de viver para os Lázaros que moram nas Bethânias da sociedade contemporânea é uma forma de viver de modo coerente o cristianismo seguindo o exemplo de Jesus, que também se apresentou ao mundo para dar continuidade ao trabalho do seu Pai.
Na primeira leitura deste domingo, o profeta anuncia: “Assim fala o Senhor Deus:
Ó meu povo, vou abrir as vossas sepulturas e conduzir-vos para a terra de Israel; e quando eu abrir as vossas sepulturas e vos fizer sair delas, sabereis que eu sou o Senhor
”. Desde sempre a ação de Deus foi direcionada para as pessoas que viviam nas “sombras da morte” e que por si mesmas não tinham condições de modificar sua situação. Deus age em favor deles, dando-lhes força e coragem. A isto o profeta chama “abrir as sepulturas e conduzir-lhes para a terra de Israel”.
No Evangelho Jesus é chamado para ir até Bethania – casa dos pobres – lá vivem três irmãos que precisam da “ajuda de Deus”. Diante do convite para visitar um doente Jesus afirma: “Esta doença não leva à morte; ela serve para a glória de Deus, para que o Filho de Deus seja glorificado por ela”. Ao chegar Jesus encontra o quadro desolador da morte, do choro, do consolo e de toda sorte de sofrimento. No diálogo com Marta Jesus provoca a confirmação da fé e arranca da boca de Marta: “Sim, Senhor, eu creio firmemente que tu és o Messias, o Filho de Deus, que devia vir ao mundo”.
As palavras de Marta sintetizam o sentimento de todos os que aí estavam, mas que não compreendiam nem tinha coragem de manifestar. Tendo ouvido isso Jesus proclama a razão da sua visita: “'Pai, eu te dou graças porque me ouviste. Eu sei que sempre me escutas. Mas digo isto por causa do povo que me rodeia, para que creia que tu me enviaste”, e ordena: “Lázaro, vem para fora”.
Os fatos narrados na primeira leitura e no Evangelho são interpretados por São Paulo na carta aos romanos: “Os que vivem segundo a carne não podem agradar a Deus. Vós não viveis segundo a carne, mas segundo o Espírito, se realmente o Espírito de Deus mora em vós”.
Para todas as pessoas, mas especialmente para os cristãos marcados pela graça do Batismo se reunir em assembleia para rezar, ouvir a Palavra e participar da Eucaristia é oportunidade para aprender a agir como Jesus: Ir sem medo para as Bethânias da Vida, encontrar todos os Lázaros e desamarrar as mãos e os pés daqueles que não podem andar e faze-los enxergar a luz da vida. Isso também significa viver a quaresma com o convite da Campanha da Fraternidade: “Cuidar e guardar a criação”, porque é preciso que “Da Amazônia até os Pampas, do Cerrado aos Manguezais, chegue a ti o nosso canto pela vida e pela paz”.




HOMILIA PARA O DIA 26 DE MARÇO DE 2017

ELE NOS GUIA POR CAMINHOS SEGUROS

"Os rios não bebem sua própria água; as árvores não comem seus próprios frutos; o sol não brilha para si mesmo; as flores não espalham sua fragrância para si; viver para os outros é uma regra da natureza.... A vida é boa quando você está feliz, mas é muito melhor quando os outros são felizes por sua causa".
Esta já é a quarta semana da quaresma, portanto muito perto da alegria que a Páscoa faz experimentar. Neste contexto o pensamento de citado acima é atribuído ao Papa Francisco ajuda a compreender as leituras proclamadas na liturgia.
Na carta aos Efésios, Paulo recomenda: "Vivam como filhos da luz, pois o fruto dá luz se chama: bondade, justiça e verdade. Não faça obras das trevas". Foi exatamente para fazer acontecer a luz de Deus para o mundo que Davi foi escolhido como rei de Israel. Jesus reconhecido pelo cego do Evangelho despertou nele uma extraordinária confissão de fé: "Eu creio Senhor e prostrou-se diante dele".
Ora também os cristãos na atualidade, mas, de algum modo, todas as pessoas em toda parte sabem e experimentam a alegria de ser feliz e de fazer os outros felizes. Esta experiência que para os cristãos começa com o batismo vai se tornando mais intensa à medida que a graça recebida naquele dia leva as pessoas a se colocar a serviço da vida de todos e de cuidar de todas as formas de vida. Fazer as pessoas felizes significa produzir frutos e viver para os outros como filhos da luz cujos frutos são a bondade, justiça e a verdade.
Que pela oração, a Palavra e a Eucaristia o Senhor faça de todos e de cada um uma fonte de água viva que facilite enxergar e conduzir para a vida e para a luz que Jesus nos garante na Páscoa.
Parte superior do formulário


domingo, 19 de março de 2017

HOMILIA PARA O DIA 19 DE MARÇO DE 2017 - 3º DA QUARESMA

SENHOR, NÃO NOS DEIXE 

FALTAR ÁGUA VIVA


A fome e a sede são necessidades fisiológicas de primeira grandeza. Qualquer criatura viva que experimente a sensação de fome e sede por longos períodos tem comprometida a qualidade de vida e a própria existência. Água e comida de qualidade sempre foram uma preocupação de todos os povos e de todos os organismos reguladores das relações sociais. Não sem razão as mais impactantes matérias jornalísticas em todo o mundo se referem à privação e à qualidade daquilo que os povos comem e bebem. No Brasil atualmente, o “escândalo da carne fraca” é apenas mais um elemento para expor a crise moral que vive nossa sociedade do ponto vista econômico, social e político. Esta situação permite um link com a situação do povo de Israel no deserto e a mulher samaritana do evangelho.
O povo de Israel que havia iniciado a caminhada para construção da sua cidadania e para uma nova forma de organização social espera que Deus resolva todos os seus problemas e aponta o interesse de voltar à escravidão do Egito: Por que nos fizeste sair do Egito? Foi para nos fazer morrer de sede, a nós, nossos filhos e nosso gado?”. Diante desta reclamação Deus apresenta alternativa para garantir a vida e ordena a Moisés: “Passa adiante do povo e leva contigo alguns anciãos de Israel”. Em outras palavras, não fique parado na simples reclamação, aprenda com a sabedoria de quem já solucionou questões complicadas ao longo da vida. Reconhecer a própria fragilidade e a presença de Deus na solução dos problemas cotidianos é a alternativa para a continuação da caminhada e para preservação da qualidade da vida em todas os biomas.
No encontro de Jesus com a mulher samaritana é possível ler mais uma vez o que se pode chamar de “escândalo da carne fraca”. A mulher anônima havia perdido todos os referencias de dignidade e respeito. Não buscava água no poço de Jacó, necessitava saciar sua sede de vida nova, queria ter certeza de onde poderia encontrar Deus: “Senhor, vejo que és um profeta! Os nossos pais adoraram neste monte, mas vós dizeis que em Jerusalém é que se deve adorar”. A angústia da mulher fica evidente ao perguntar onde encontro Deus vivo que saciará minha sede de vida nova.
Uma vez reconhecendo que Jesus é o messias ela recobra as forças e sai anunciando: “Vinde ver um homem que me disse tudo o que eu fiz...  E por causa da palavra da mulher muitos samaritanos acreditaram em Jesus”.
Eis que para cada pessoa, nestes tempos de “fome e sede de verdade e justiça” a ação e a palavra de Jesus são a certeza de que: “a esperança não decepciona, porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado. Com efeito, quando éramos ainda fracos, Cristo morreu pelos ímpios, no tempo marcado”.
Como Igreja reunida também a comunidade de fé é convidada a repetir o salmo: “Vinde adoremos e prostremo-nos por terra, e ajoelhemos ante o Deus que nos criou! Porque ele é o nosso Deus, nosso Pastor, e nós somos o seu povo e seu rebanho, as ovelhas que conduz com sua mão”.
Nesta quaresma, cada pessoa é convidada a fazer jejum e penitência modificando hábitos e costumes que maltratam a vida substituindo-os por práticas de respeito e de preservação da obra criada e confiada ao ser humano para “cuidar e guardar”.


                                                                                  

sábado, 11 de março de 2017

HOMILIA PARA O DIA 12 DE MARÇO DE 2017

FILHOS AMADOS DE DEUS

No dia em que eu saí de casa

No dia em que eu saí de casa
Minha mãe me disse
Filho, vem cá!
Passou a mão em meus cabelos
Olhou em meus olhos
Começou falar
Por onde você for eu sigo
Com meus pensamentos
Sempre onde estiver
Em minhas orações
Eu vou pedir a Deus
Que ilumine os passos seus
Eu sei que ela nunca compreendeu
Os meus motivos de sair de lá
Mas ela sabe que depois que cresce
O filho vira passarinho e quer voar
Eu bem queria continuar ali
Mas o destino quis me contrariar
E o olhar de minha mãe na porta
Eu deixei chorando a me abençoar
A minha mãe naquele dia
Me falou do mundo como ele é
Parece que ela conhecia
Cada pedra que eu iria por o pé
E sempre ao lado do meu pai
Da pequena cidade ela jamais saiu
Ela me disse assim:
Meu filho, vá com Deus
Que este mundo inteiro é seu
A Palavra de Deus deste domingo é a narrativa de “filhos” que saem de casa e que confiam que Deus vai com eles.
O livro do Gênesis apresenta Abraão interpretando a necessidade de partir como um chamado de Deus e confia na bênção que lhe iria acompanhar “Sai da tua terra, da tua família e da casa do teu pai, e vai para a terra que eu te vou mostrar. Farei de ti um grande povo e te abençoarei...” a confiança de que Deus estava com ele deu forças para Abraão continuar seu caminho e o resultado foi reconhecido por todas as gerações de Israel, que o chamam de Pai na fé.
Com Jesus Cristo a história mostra que não foi diferente. Neste domingo da transfiguração, mais uma vez ele aparece mostrando as duas dimensões da sua vida: A glória de ser filho do Pai: uma nuvem luminosa os cobriu com sua sombra. E da nuvem uma voz dizia: Este é o meu Filho amado”.
Simultaneamente aparece o sofrimento que a vida lhe reserva com todas as provações desta sua condição. Diz o Evangelho: “E foi transfigurado diante deles; o seu rosto brilhou como o sol e as suas roupas ficaram brancas como a luz” ao mesmo tempo Jesus recomenda aos discípulos: “Os discípulos ergueram os olhos e não viram mais ninguém, a não ser somente Jesus. Quando desciam da montanha, Jesus ordenou-lhes: 'Não conteis a ninguém esta visão até que o Filho do Homem tenha ressuscitado dos mortos”. São duas realidades dentro de um mesmo contexto, sofrimento e realização. Sina, missão, destino de todo filho e de todo pai.
Aos cristãos, mas também às pessoas do mundo inteiro, quando se trata de compreender que se é filho implica em acolher e escutar aqueles que ensinam, suas palavras dão força e discernimento diante das provações e dificuldades.
Nesta quaresma a Campanha da Fraternidade faz o convite e lança o desafio para “cuidar e guardar a criação”, é importante compreender o que ensina o Papa Francisco: “Nem tudo está perdido, porque os seres humanos capazes de tocar o fundo da degradação, podem também superar-se voltar a escolher o bem e regenerar-se, para além de qualquer condicionamento”.
É importante não esquecer que Deus chamou todos à salvação e a santidade como afirma São Paulo na carta a Timóteo que foi a segunda leitura deste domingo.
Reunidos em oração a Igreja pede por todos: “Alimentai nosso espírito com a vossa palavra, para que purificados o olhar de nossa fé, nos alegremos com a visão de vossa glória”.


sábado, 4 de março de 2017

HOMILIA PARA O DIA 05 DE MARÇO DE 2017 - PRIMEIRO DA QUARESMA

A GRAÇA É SEMPRE MAIOR QUE O PECADO


O calor deste verão levou muitas pessoas e por diversas vezes a afirmar que se está experimentando temperaturas de deserto. Embora não se tenha vivido geograficamente no deserto, tem-se a certeza que se trata de um local de privação e onde a vida é ameaçada em todas as suas formas.
O Evangelho deste domingo apresenta Jesus sendo levado para o deserto, certamente pode-se compreender que não se trata de um espaço geográfico, mas de uma experiência onde a vida e os propósitos da vida são colocados a prova. Para completar o desafio Jesus se vê frente a frente com o diabo que lhe apresenta todas as alternativas para sair vencedor desta “prova de fogo”.
A convicção de Jesus respondendo às propostas do tentador ajuda a perceber que Ele não está sozinho no deserto. Nas três investidas que o diabo faz contra Jesus a resposta vem sempre sustentada pelo conhecimento da Palavra do Pai e a culminância não pode ser outra senão a derrota do tentador como se vê na última frase do evangelho: “Então o diabo o deixou e os anjos se aproximaram para servir a Jesus”.
Desertos, lutas contra o mal e o pecado são a marca registrada de todas as relações da formação do povo de Deus narradas na Sagrada Escritura. Todas as vezes que a pessoa humana não reconheceu a voz de Deus, o resultado não poderia ser outro. A longa narrativa do pecado e o diálogo da mulher com a serpente, na primeira leitura, deixa muito claro que Deus não está presente naqueles momentos no jardim da criação e os habitantes se percebem “nus”. Não se trata necessariamente de nudez física, mas de fragilidade e incapacidade de resolver os problemas criados por eles mesmos.
O que aconteceu com o ser humano no início da criação não acontece com Jesus, isto deixa claro o que Papa Francisco também recomenda na sua mensagem para a quaresma: Fechar o coração ao dom de Deus que fala, tem como consequência fechar o coração ao dom do irmão”. Quem não ouve Deus, não escuta também o irmão e muito menos enxerga a vida que borbulha ao seu redor.  
A Campanha da Fraternidade nesta quaresma é um convite para ouvir e ver Deus que fala em todas as pessoas e todas as formas de vida. O momento é de reconhecer o pecado, pedir perdão como se reza no salmo deste domingo e confiar nas palavras de Paulo na segunda leitura: “Com efeito, como pela desobediência de um só homem a humanidade toda foi estabelecida numa situação de pecado, assim também, pela obediência de um só, toda a humanidade passará para uma situação de justiça”.



quarta-feira, 1 de março de 2017

HOMILIA PARA A QUARTA FEIRA DE CINZAS DE 2017

CULTIVAR E GUARDAR A CRIAÇÃO

Não é necessário ser um famoso ambientalista, nem tampouco um militante dos movimentos de preservação da natureza para perceber que todas as formas de vida são frequentemente ameaçadas e algumas em franco processo de extinção. Tal situação compromete o equilíbrio do planeta. É neste sentido que muita entidades e organizações lançam constantemente apelos diversos sobre a necessidade de cuidar das espécies vivas do planeta.
A Conferência dos Bispos do Brasil, que há mais de 50 anos realiza a Campanha da Fraternidade durante a quaresma, neste ano apresenta como tema: “Fraternidade, biomas brasileiros e defesa da vida” com  o lema: “Cultivar e guardar a criação”.
Compreender a necessidade deste cuidado implica em compreender o pecado pessoal e social da falta de consciência em relação à preservação do planeta. É neste sentido que a reflexão sobre isso faz uma convite: “A conversão quaresmal é ao mesmo tempo um voltar para Deus, para o próximo e para a vida da criação que nos cerca”(Texto Base da CF 2017, nº 21.).
Reconhecer o próprio pecado foi o que fez Davi no Salmo que se reza na quaresma:
Tende piedade, ó meu Deus, misericórdia!  
Na imensidão de vosso amor, purificai-me!
Lavai-me todo inteiro do pecado,
e apagai completamente a minha culpa! 

Eu reconheço toda a minha iniqüidade,
o meu pecado está sempre à minha frente.
Foi contra vós, só contra vós, que eu pequei,

pratiquei o que é mau aos vossos olhos!

Criai em mim um coração que seja puro,

dai-me de novo um espírito decidido.
Ó Senhor, não me afasteis de vossa face,

nem retireis de mim o vosso Santo Espírito! 
Dai-me de novo a alegria de ser salvo
e confirmai-me com espírito generoso!
Abri meus lábios, ó Senhor, para cantar,
e minha boca anunciará vosso louvor! 

Esta oração de Davi, e que se faz oração de todos neste inicio de quaresma tem sua inspiração nas palavras do Profeta Joel: Agora, diz o Senhor, voltai para mim com todo o vosso coração, com jejuns, lágrimas e gemidos; rasgai o coração, e não as vestes; e voltai para o Senhor, vosso Deus; ele é benigno e compassivo, paciente e cheio de misericórdia, inclinado a perdoar o castigo”.
E cada pessoa, sobretudo os cristãos do terceiro milênio são de novo convidados a se reconhecer o que disse São Paulo: “Em nome de Cristo, nós vos suplicamos: deixai-vos reconciliar com Deus. Como  colaboradores de Cristo, nós vos exortamos a não receberdes em vão a graça de Deus, pois ele diz: No momento favorável, eu te ouvi e no dia da salvação, eu te socorri”.
Iniciar a quaresma com a celebração da imposição das cinzas implica fazer morrer aos enganos e renascer para a vida na Páscoa de Jesus comprometendo-se em “Cultivar e guardar a criação”


quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

HOMILIA PARA O DIA 26 DE FEVEREIRO DE 2017

DEUS JAMAIS ESQUECE OS SEUS FILHOS


Esta semana a imprensa aproveitou para fazer audiência e claro criar polêmica usando palavras do Papa Francisco. Na Missa da quinta feira 23 de fevereiro, quando leu o Evangelho de Marcos que trata do escândalo do pecado, o Papa foi claro e objetivo ao afirmar que existem pessoas para quem falta coerência, mencionou aqueles que tem uma vida dupla, como por exemplo: rezar muito, mas ser desonesto nos negócios ou no trato com as pessoas.

Nesta direção está também a palavra de Paulo aos coríntios na segunda leitura de hoje: Irmãos: Que todo o mundo nos considere como servidores de Cristo e administradores dos mistérios de Deus. A este respeito, o que se exige dos administradores é que sejam fiéis”.

Aquele que é fiel pode ter certeza de uma coisa: a seu tempo Deus lhe fará perceber que dele nunca se esquece, é isso que afirma o profeta Isaias: Acaso pode a mulher esquecer-se do filho pequeno, a ponto de não ter pena do fruto de seu ventre? Se ela se esquecer, eu, porém, não me esquecerei de ti”.

Aqueles que são fieis, cuja existência não se constitui em uma vida dupla, podem cantar como se faz no Salmo deste domingo: “Só em Deus a minha alma tem repouso, só ele é meu rochedo e salvação”.

E isto reafirma Jesus no Evangelho de hoje: Ninguém pode servir a dois senhores: pois, ou odiará um e amará o outro, ou será fiel a um e desprezará o outro. Vós não podeis servir a Deus e ao dinheiro. Pelo contrário busquem em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça”.

Em outras palavras foi o que disse o Papa Francisco: Uma pessoa não pode levar uma vida dupla, dizer que vai sempre a missa, que reza muito, que participa dos movimentos e das pastorais da Igreja, mas não é justo nos negócios. Uma pessoa que age desta maneira não merece o título de cristã.


Celebrar em comunidade é fortalecer o desejo e firmar um compromisso de ser coerente entre aquilo que se acredita, aquilo que se reza e aquilo que se faz. Que a oração, a Palavra e a Eucaristia nos fortaleçam nesta missão. 

sábado, 18 de fevereiro de 2017

HOMILIA PARA O DIA 19 DE FEVEREIRO DE 2017

A NOVIDADE DO REINO...


A sociedade contemporânea marcada pelo stress e pelo ativismo vai criando frequentemente propostas para melhorar os relacionamentos e a convivência nos diversos ambientes. Basta digitar a expressão gentileza, na rede mundial de computadores e irá aparecer uma centena de alternativas. Em resumo, trata-se de compreender o significado da expressão: “Gentileza gera gentileza”. Há mais de 200 anos o filósofo François Voltaire já havia falado sobre isso quando escreveu o chamado tratado da tolerância.
Entretanto todas essas situações são ainda muito mais antigas e tem seu fundamento na lei dada a Moisés, muito cedo, porém, o povo de Israel já havia ampliado a compreensão e isto é o que se lê no livro do Levítico, de onde a liturgia tira primeira leitura de hoje: Sede santos, porque eu, o Senhor vosso Deus, sou santo. Não tenhas no coração ódio contra teu irmão. Não procures vingança, nem guardes rancor dos teus compatriotas”. A lei dada a Moisés fez o povo compreender e cantar como se faz no salmo: “Bendize ó Minh ‘alma, ao Senhor, pois ele é bondoso e compassivo! Ele te perdoa toda culpa, não nos trata como exigem nossas faltas, Como um pai se compadece de seus filhos”.
E muito mais tarde, Jesus reinterpreta a lei do Talião: “Não enfrenteis quem é malvado! Pelo contrário, amai os vossos inimigos e rezai por aqueles que vos perseguem! Assim, vos tornareis filhos do vosso Pai que está nos céus, porque ele faz nascer o sol sobre maus e bons, e faz cair a chuva sobre justos e injustos. Portanto, sede perfeitos como o vosso Pai Celeste é perfeito”.
Com um ensinamento desta natureza a constatação não poderia ser outra se não o que São Paulo escreve aos coríntios: “Acaso não sabeis que sois santuário de Deus e que o Espírito de Deus mora em vós? Tudo é vosso. Mas vós sois de Cristo, e Cristo é de Deus”.
Reunidos em assembleia de oração onde se houve a Palavra e se partilha a Eucaristia não há outra atitude possível que não seja: fazer de tudo para ser semelhante a Deus amar com gratuidade, empenhar-se para que o jeito de ser de Deus se concretize em ações humanas todos os dias.
Reaprendendo a prática da tolerância e da gentileza se vai construindo uma comunidade transformada pelo perdão e pela misericórdia onde todos aprendem a cuidar de todos e de tudo.


sábado, 11 de fevereiro de 2017

HOMILIA PARA O DIA 12 DE FEVEREIRO DE 2017

PARA ALÉM DO QUE FOI DITO AOS ANTIGOS


Nas rodas de conversa é comum se usar a expressão: “fulano é surdo para aquilo que ele quer... ou ainda beltrano enxerga só o que lhe interessa... aquela outra pessoa faz as coisas sempre que pode levar vantagem.
Todas estas situações tem uma relação muito direta com a leitura do Eclesiástico proclamada neste domingo: Diante de ti, Ele colocou o fogo e a água; para o que quiseres, tu podes estender a mão. Diante do homem estão a vida e a morte, o bem e o mal; ele receberá aquilo que preferir”. O texto deixa mais do que claro que tudo na vida se trata de uma questão de escolha e seja ela qual for exige daquele que toma uma certa direção, arcar com as consequências.
É isto que São Paulo afirma aos coríntios: “Como está escrito,  o que Deus preparou para os que o amam é algo que os olhos jamais viram nem os ouvidos ouviram nem coração algum jamais pressentiu”. Aqui também fica muito claro que a misteriosa sabedoria de Deus permite as pessoas aceitar aquilo que se ensina.
Jesus, no Evangelho deste domingo, vai além daquilo que prescreve a lei: Muito mais do que pode não pode, do certo e do errado Jesus apresenta um processo educativo das relações humanas, espécie de itinerário que passa pelo equilíbrio, cordialidade, respeito, sinceridade. As relações entre as pessoas pedem muito mais do que se limitar às prescrições legais, pede a capacidade de construir a partir do espírito de Deus:  Se a vossa justiça não for maior que a justiça dos mestres da Lei e dos fariseus, vós não entrareis no Reino dos Céus. Vai primeiro reconciliar-te com o teu irmão. Seja o vosso 'sim': 'Sim', e o vosso 'não': 'Não'.”.
Em resumo, a condição para viver bem e garantir que todos vivam bem consiste em nunca cansar de procurar uma maneira mais completa e adequada para construir relações de amor e solidariedade com todos. A Palavra de Deus sugere, mais uma vez ouvir a voz da consciência e deixar-se orientar pelo amor de Cristo.
É por isso que rezamos: Dai-nos a graça de ser sua morada e buscar sempre aquilo que traz a verdadeira vida. Isso significa ir muito além de ouvir, ver e fazer aquilo que lhe seja vantajoso ou interesseiro.