segunda-feira, 12 de outubro de 2009

I - SALMOS: A ORAÇÃO DA IGREJA

Epitáfio (Sérgio Britto)

1.Devia ter amado mais, ter chorado mais
ter visto o sol nascer devia ter arriscado mais
e até errado mais Ter feito o que eu queria fazer.
Queria ter aceitado as pessoas como elas são
cada um sabe a alegria e a dor que traz no
coração o acaso vai me proteger.
Enquanto eu andar distraído o acaso
vai me proteger enquanto eu andar.
Devia ter complicado menos,
trabalhado menos ter visto o sol se pôr.
Devia ter me importado menos com problemas
pequenos ter morrido de amor.
Queria ter aceitado a vida como ela é a
cada um cabe alegrias e a tristeza que vier.

2.A letra desta canção serve apenas como exemplo. Mas, todos sabem que a música tem um poder extraordinário para dizer aquilo que muitas vezes não se consegue fazer com palavras pronunciadas fora da musicalidade.

3.Obviamente que a compreensão de uma determinada mensagem feita por meio da música depende de vários fatores, tais como: letra, musica, harmonia, ritmo, etc. Além disso, uma determinada canção pode transmitir mensagens diferentes para situações diferentes e para pessoas em distintas condições.

4.Normalmente a intenção do autor ao compor uma canção é revelar algum sentimento e dizer algo muito importante e que julga ser mais bem compreendido por meio da poesia musicada. Isto é, a música nasce do chão da vida de quem compõe e para quem compõe.

5.Os salmos não são diferentes. Em sua motivação eles nasceram da realidade de um povo. Eles nos transmitem a espiritualidade de um povo tiveram sua origem no chão da vida de pessoas muito concretas com todas as suas alegrias e tristezas, conquistas e realizações. Nos salmos temos gritos de dor, gemidos, choros, silêncios, sonhos, esperanças, louvores, etc. A grandeza dos salmos consiste precisamente no modo como os celebramos. Os Salmos foram feitos originariamente para serem cantados. A palavra salmo vem de um verbo grego que significa tocar num instrumento de cordas. Embora fossem utilizados outros instrumentos, o que acompanhava antigamente os Salmos era provavelmente parecido com uma harpa.

6. São Cipriano, recolhendo um pensamento partilhado pelos padres, recorda: “Quando rezas, falas com Deus; quando lês, é Deus que fala contigo” (Ad Donatum, 15). Santo Agostinho fala assim: "Quando o Salmo ora, ore com ele, quando chora, chore com ele, quando dança ou bate palmas, dance e bata palmas com ele e aí ele se tornará não apenas oração do passado, mas a expressão viva de sua oração". Os 150 salmos são uma coletânea de canções que podem ser classificadas de um modo muito simples em três categorias:
1. Louvores.
2. Orações de pedido de socorro, de confiança e ação de graças.
3. Salmos de instrução.

7.A respeito do conteúdo dos salmos se pode dizer que eles são a Bíblia rezada, a dificuldade em rezá-los parece que consiste na pouca formação bíblica que se tem.

8.Nas celebrações litúrgicas (missa, celebração da palavra, sacramentos, sacramentais), a norma litúrgica propõe, em todos os casos, um salmo responsorial.

9.Mas, o que significa isso e como melhor compreender?

10.Na introdução ao lecionário nos lemos que o Salmo “é parte integrante da liturgia da palavra; preferencialmente deve ser cantado” e sugere duas modalidades “forma responsorial e a forma direta”. A palavra responsorial está mais do que clara: trata-se de uma resposta. Um solista propõe e assembléia responde. Entretanto, não está excluída a forma direta ou contínua de cantar. O lecionário usa uma expressão óbvia quando diz que o “canto contribui muito para compreender o sentido espiritual do salmo”. Como se trata da Palavra de Deus a orientação litúrgica é que o Salmo seja proclamado do ambão ou mesa da Palavra. E para que estas pequenas observações sejam mais bem compreendidas é importante promover uma catequese com os fiéis sobre a oração dos salmos.

11.Segundo respeitáveis autores (liturgistas e biblistas) o salmo é uma ressonância poética cuja função é interiorizar a palavra. Numa expressão mais simples é o ECO da PALAVRA no CORAÇÃO DA ASSEMBLÉIA.

12.Dito isto fica mais do que claro que o salmo merece ser cantado de modo solene, por uma pessoa distinta daquela que proclama a primeira leitura; que ele seja proclamado de um lugar próprio - no caso a mesa da palavra – e de tal modo que a assembléia ouça e participe cantando. No salmo, mais ainda do que em outros cantos é preciso levar em conta a comunidade reunida. O documento A música litúrgica no Brasil (Estudos da CNBB 79) escreve assim sobre o salmo e o salmista: “É importante valorizar a função do salmista na assembléia, com seu ministério específico, expressão do dom de Deus para a comunidade. Durante o canto da Assembléia, o salmista cante sempre a melodia principal, evitando uma segunda voz ou contracanto, a fim de não dificultar o canto da assembléia ou inibí-la em sua participação, principalmente ao usar o microfone. Não se deve, por hipótese alguma, admitir ‘cantores profissionais’ apenas para ‘dar show’ na celebração. Isso desmerece totalmente o trabalho das equipes de celebração, além de transformar a própria celebração em mera formalidade social, sem significado litúrgico verdadeiro”. (Cf. números 249, 250, 251).

13.Como nas outras partes da celebração, também no salmo responsorial merece uma palavra especial sobre o uso dos instrumentos. Este texto tem como orientação o documento da CNBB, já mencionado, e nele se lê: “Os instrumentos podem ser de grande utilidade na liturgia, quer acompanhando o canto quer sem ele, à medida que prestam serviço à Palavra cantada. O instrumento usado seja tocado sempre de forma adequada ao momento celebrativo e à natureza da assembléia, nunca abafando a sua voz. É mister recordar a necessidade de considerar a proporcionalidade entre os instrumentos e o espaço da celebração”. (Cf. 263,266).

14.Feitas estas considerações parece necessário dar uma palavra sobre a música em geral. E neste caso cabe aqui duas citações que ajudam a entender o papel do canto e da música também na sua relação com os salmos.

15.Na introdução do subsídio Canto e música na liturgia,da CNBB se lê: “O tempo é de muita dispersão e deturpação. Uma enxurrada de coisas produzidas sem melhores critérios e divulgadas sem maiores cuidados, com força devastadora, invade as mentes e os corações dos fiéis menos avisados, solapando os fundamentos sólidos da fé e da piedade”.

16.Para encerrar parece obvio que as palavras do Papa são mais do que necessárias: “Na história bimilenária a igreja criou música e cânticos que constituem um patrimônio de fé e amor que não se deve perder. Verdadeiramente em liturgia, não se pode dizer que tanto vale um cântico como outro: a propósito, é necessário evitar a improvisação genérica ou a introdução de gêneros musicais que não respeitem o sentido da liturgia. Enquanto elemento litúrgico, o canto deve integrar-se na forma própria da celebração; consequentemente tudo – no texto, na melodia, na execução – deve corresponder ao sentido do mistério celebrado, às várias partes do rito e aos diferentes tempos litúrgicos”. (Sacramentum Caritatis, 42).

II - OUTRAS ORIENTAÇÕE PASTORAIS SOBRE O CANTO

17.A conferência dos Bispos do Brasil, tem se manifestado muitas vezes sobre o papel do canto, da música e dos instrumentos na liturgia. Um dos documentos mais importantes faz parte da coleção estudos da CNBB número 79. Deste documento são extraídas as orientações que apresentamos neste texto.

18.A primeira coisa a se levar em conta nas celebrações são as pessoas e isto fica muito claro que a liturgia é um encontro de pessoas. Assembléia da terra e Assembléia do céu.

19.A reunião das pessoas se dá pela graça de Deus que os quer fazer mais santos e como conseqüência ela louva aquele que a reuniu. Esta assembléia deve ser a referência mais importante dos autores, compositores e demais agentes litúrgico-musicais.

20.Por isso mesmo a música litúrgica católica insiste no PRIMADO DA ASSEMBLÉIA. Servir é a base de toda liturgia verdadeiramente pastoral. Para isto é importante que a comunidade seja sempre mais introduzida nos mistérios de Cristo. Por assembléia não é entendido apenas a soma dos indivíduos que aí estão. A palavra assembléia significa Igreja e quem serve, serve a Igreja. “Não tem sentido, por exemplo, escolher os cantos de uma celebração em função de alguns que se apegam a um repertório tradiconal, ou ainda de outros que cantam somente músicas próprias de seu grupo ou movimento, nem outros que querem cantar exclusivamente cantos ligados à realidade sócio política”(175). “O pior que pode acontecer é achar que tudo se resolve entre quem preside e o regente ou animador de canto. E o melhor será uma prática comunitária e democrática, em que as pessoas recebem informações e a formação necessárias em matéria de liturgia e música, trocam seus pontos de vista e com critérios e bom senso fazem seu discernimento, avaliam permanentemente sua prática e vão encontrando a feição musical e litúrgica mais adequada para sua comunidade.

21.Para a celebração do mistério de Cristo na liturgia é necessário o serviço de muitas pessoas. Estas nós chamamos Equipe de Liturgia. São membros da equipe de liturgia: O ministro ordenado; os encarregados da limpeza e ornamentação; os responsáveis para acolher o povo na entrada da igreja; leitores e animadores; cantores e instrumentistas; o que faz as preces da comunidade. É importante compreender bem a diferença entre equipe e grupo.

22.Sobre a letra dos cantos a instrução fala que se deve dar prioridade àquelas que falam da vida do povo, conforme o documento do Concílio Vaticano II que diz: “As alegrias e as tristezas, as angústias e as esperanças dos seres humanos de hoje são também as alegrias e as esperanças dos discípulos de Cristo”. Sobre a missão dos cantores e compositores vale ainda o que já tinha dito o papa PIO XII: “Tenham em conta as exigências da assembléia, mais do que o gosto pessoal dos artistas”.

23.Sobre os instrumentos musicais o documento a que estamos consultando é muito mais acessível que outros documentos da Igreja. Os números 263 e 264 falam sobre eles dizendo: “os instrumentos podem ser de grande utilidade na liturgia, quer acompanhando o canto, quer sem ele. Além de ser usados para ACOMPANAHR o canto, os instrumentos podem ser executados sozinhos, em alguns momentos tais como: antes da celebração para criar clima de recolhimento, durante a procissão das oferendas, após a comunhão; no final da celebração. Já o recurso de fundo musical durante as leituras e na oração eucarística será sempre inoportuna. O instrumento usado seja tocado sempre de forma adequada ao momento celebrativo, nunca abafando a voz da assembléia ou dos cantores. É necessário recordar a necessidade de considerar a proporcionalidade entre o volume dos instrumentos e o espaço celebrativo” (266).

24.Os cantos na missa são organizados em três graus de importância na seguinte ordem:
a) “Primeiro grau – Saudação do presidente; O Oremos, Aclamação ao evangelho, A oração sobre as oferendas, O diálogo com o prefácio e o santo e o Amém final. O convite para o Pai Nosso e a conclusão dele, a saudação da paz, a oração depois da comunhão, bênção e a fórmula de envio.
b) Segundo grau – O Senhor tende piedade, o glória, o creio e o cordeiro.
c) Terceiro grau – Entrada e comunhão, oferendas e Salmo”(293).

25.A grande vantagem dos cantos das partes fixas é que a legra não muda e podem ser cantados de cor, dispensando outros recursos que tanto dificultam a comunicação entre os participantes. Essa vantagem, no entanto, é eliminada quando os cantos fixos são substituídos por paráfrases de todo o gênero (295).

26.Nas celebrações litúrgicas é preciso deixar claro que os cantos não tem a função de animar a missa. Eles fazem parte do rito que está sendo celebrado. Por isso mesmo a letra, a melodia, o ritmo são muito importantes de acordo com cada momento. Vejamos mais algumas orientações sobre alguns cantos.

27.“Em cada celebração eucarística, cinco aclamações, necessariamente, sejam cantadas, mesmo naquelas celebrações em que nenhuma outra parte for cantada: Aclamação ao Evangelho, Santo, Aclamação memorial, o Amém, e o vosso é o Reino.”(301).

28.Cantar o aleluia significa acolhimento solene do Cristo que esta realmente presente na proclamação do evangelho. É de bom costume repetir o aleluia depois do evangelho.

29.O santo é uma proclamação invocativa. A assembléia reconhece que Deus é Santo, e pede que ele Venha por favor (Hosana) e que é bendito o que vem em nome daquele que é santo. Este canto pertence à comunidade, por esta razão não é bom que sua melodia tenha arranjos e vozes que impeçam a assembléia de participar cantando. Sua letra também não deve ser modificada (303).

30.O missal romano oferece três fórmulas da aclamação memorial e expressam o abaixamento e a glorificação do Senhor ao mesmo tempo que pedem a sua volta. Neste momento da missa não cabem outros cantos de adoração ao santíssimo nem tampouco substituir essa aclamação por outro canto eucarístico. Como as demais sua letra e música não deve variar em cada missa(304).

31.Mediante o AMÉM a assembléia proclama que está de acordo com tudo o que Foi dito por aquele que preside (305). O vosso é o Reino conclui a oração do Pai Nosso.

32.Os cantos de segundo grau podem ser explicados da seguinte maneira: O Ato penitencial deve expressar o encontro da comunidade com o Pai das misericórdias. Por sua vez o Hino de glória não é um hino trinitário, mas uma homenagem a Jesus Cristo. O hino de glória não seja substituído por qualquer hino de louvor ou por paráfrases que se distanciem do seu sentido original (308).

33.A função do cordeiro é acompanhar o gesto de partir o pão. Não deve ser usado como artifício para encerrar o movimento criado durante o abraço da paz (310).

34.Entre os cantos de terceiro grau está o de abertura cuja finalidade é preparar a assembléia para a celebração. É importante que seja cantado por todos e sua função não é receber o presidente da celebração. Seu mérito consiste em convocar a assembléia a juntar os corações no encontro com o ressuscitado (313).

35.O canto de apresentação das oferendas é chamado de canto suplementar, assim como o canto depois da comunhão. Ambos são dispensáveis (318 – 320).

36.As aclamações da oração eucarística são o jeito mais significativo do povo participar do grande louvor, da solene ação de graças, da bênção das bênçãos. Curtas aclamações feitas para serem cantadas. Podem ser propostas por um solista e repetidas pela assembléia (323).

37.Canto Final deve haver? Normalmente não tem sentido. A última palavra é despedida: “vão em paz”.

38.Muitas vezes o silêncio fala mais do que muitas palavras e na missa se propõe um sagrado silêncio no ato penitencial, no convite para a oração, no intervalo das leituras e antes da homilia, depois da comunhão (325).

FONTES CONSULTADAS:
Vaticano II - Constituição Sacrossanto Concílio; Introdução geral do lecionário; Instrução geral do Missal Romano; Canto e música na liturgia – texto da CNBB; A música litúrgica no Brasil – Estudos da CNBB 79; Guia litúrgico Pastoral – CNBB; Sacramentum Caritatis – Bento XVI.

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