quarta-feira, 22 de maio de 2024

HOMILIA PARA O DIA 26 DE MAIO DE 2024 - DOMINGO DA SANTÍSSIMA TRINDADE - ANO B

 


TRINDADE, COMUNIDADE DE AMOR

A Trindade, perfeita comunidade de amor, serve como modelo para todos os seguidores de Jesus, que são chamados a formar comunidades acolhedoras, onde se vive o amor fraterno e a sinodalidade. A caminhada conjunta do povo de Deus, reflete a unidade e a comunhão da Trindade.

O texto do Deuteronômio apresenta Deus que vai ao encontro das pessoas, falando de uma maneira que elas podem entender, apontando caminhos seguros nos quais Ele mesmo intervém quando aqueles que Ele ama se sentem ameaçados e inseguros nas travessias: “Existe, porventura, algum povo que tenha ouvido a voz de Deus falando-lhe do meio do fogo, ou terá jamais algum Deus vindo escolher para si um povo entre as nações, por meio de provações, de sinais e prodígios, por meio de combates, com mão forte e braço estendido, e por meio de grandes terrores, como tudo o que por ti o Senhor vosso Deus fez. Reconhece, pois, hoje, e grava-o em teu coração, que o Senhor é o Deus lá em cima do céu e cá embaixo na terra, e que não há outro além dele”.

É importante que nos perguntemos sobre nossa relação com Deus. Compreendemos e recorremos a Ele como um Deus amoroso e sensível ao nosso cotidiano e às nossas fraquezas, ou cultivamos a imagem de um Deus intolerante, duro e insensível, sempre disposto a castigar e vingar sem piedade os deslizes humanos? Celebrar a Santíssima Trindade implica um convite para descobrir o verdadeiro rosto de Deus, um Deus que caminha conosco sinodalmente, compartilhando nossa jornada e nos guiando com amor.

São Paulo escreve aos Romanos: “Todos aqueles que se deixam conduzir pelo Espírito de Deus são filhos de Deus. De fato, vós não recebestes um espírito de escravos, para recairdes no medo, mas recebestes um espírito de filhos adotivos, no qual todos nós clamamos: Abá - ó Pai”. Estas palavras confirmam que o Deus em quem acreditamos não é alguém que vê de longe e com indiferença os dramas e sofrimentos humanos, mas acompanha com paixão a caminhada da humanidade.

No Evangelho, Jesus esclarece a vinculação das pessoas com a Santíssima Trindade: “Portanto, ide e fazei discípulos meus todos os povos, batizando-os em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo, e ensinando-os a observar tudo o que vos ordenei! Eis que eu estarei convosco todos os dias, até ao fim do mundo”. Este mandato reflete a essência da sinodalidade, uma Igreja que caminha junto, em comunidade, compartilhando a missão de anunciar o Evangelho.

 

Jesus envia os discípulos, e a nós hoje, com a missão de fazer discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. O batismo, que insere os filhos e filhas de Deus na comunidade cristã, realizado em nome da Trindade santa, recorda a cada cristão que a unidade de amor existente em Deus é um ideal a ser buscado aqui na terra. Essa unidade é vivida na caminhada sinodal, onde todos participam ativamente da missão da Igreja.

Ao celebrarmos a Trindade, celebramos a perfeita comunhão de amor de Deus e nossa própria missão de batizados. Marcados no batismo pelo selo do amor divino, somos chamados a vivenciar em comunidade esse amor, acolhendo todos, especialmente os esquecidos e abandonados.

A sinodalidade nos convida a participar dessa dinâmica divina do amor, onde nossa missão é vivida em comunidade, construindo relações transformadas pelo amor infinito da Trindade. Não há outro caminho para entrar na misteriosa dinâmica do amor de Deus, senão através da nossa caminhada conjunta, onde cada um contribui para a edificação do Corpo de Cristo na unidade e no amor.

quarta-feira, 15 de maio de 2024

HOMILIA PARA O DIA 19 DE MAIO DE 2024 - DOMINGO DE PENTECOSTES - ANO B

 

VEM ESPÍRITO SANTO DE AMOR

 

Certamente, para a maioria de nós, o avanço das tecnologias e a facilidade da inteligência artificial é um marco no que se refere ao domínio e alcance do conhecimento. Sentimos, sem dúvida, o poder de nos conectar com o mundo. Os avanços da tecnologia e da ciência parecem estar em nossas mãos. Temos a sensação de ter todas as respostas ao nosso alcance. O desejo de compreender e ser compreendido é latente ao mesmo tempo somos acometidos de medo e incertezas. Tal como os seguidores de Jesus sentimos grande entusiasmo diante de toda a novidade, mas ao mesmo tempo inseguros com tudo o que acontece ao nosso redor situações para as quais não temos explicações e justificativas.

Numa análise livre das limitações desta comparação, podemos refletir sobre a celebração de Pentecostes. Hoje, celebramos o dom do Espírito Santo, que representa a abertura da Igreja a todas as nações. Por meio deste dom inefável, Deus fez com que a Palavra do Filho alcançasse todas as nações conhecidas de outrora.

Na Igreja de hoje, pedimos também que o mesmo Espírito Santo abra os nossos corações para a unidade na diversidade. Oramos para que o Espírito Santo nos transforme e transforme o mundo. Que, mais uma vez, pela Sua graça, a solidariedade, a justiça e todo bem prevaleçam.

Nas Escrituras, o Espírito de Deus é comparado ao sopro de Jesus sobre os apóstolos, com o objetivo de conceder-lhes o poder de levar o perdão e uma nova vida a todos. Na primeira leitura, podemos aprender com o povo da primeira aliança, lá a incapacidade de compreender os caminhos de Deus resultou na construção da Torre de Babel, levando à confusão de línguas e nações. No entanto, com o Pentecostes, pessoas de todas as raças e línguas se compreendem, dando origem à Igreja, aberta e ecumênica capaz de caminhar juntos.

São Paulo, na segunda leitura, confirma a promessa feita por Jesus: o Espírito Santo é o advogado que revela a presença de Jesus no mundo, não necessariamente de forma física, mas real por meio da Sua palavra e, sobretudo, pela vivência dos Seus ensinamentos.

Em nossas celebrações, é comum entoarmos um cântico litúrgico que expressa: 'No povo renasce a confiança, ó Espírito Santo de Deus.' Desde Unidos como irmãos, suplicamos para que o extraordinário acontecimento de Pentecostes se repita em nossa sociedade hoje. Que através de nossas palavras e testemunho de vida, a verdadeira comunhão se estabeleça em todos os lugares. Que a unidade da Eucaristia e da Palavra se manifeste em nossas igrejas, famílias, sociedades e em nossa relação com toda a criação.

Assim como os cristãos de outrora, nós, os cristãos contemporâneos, vivemos em um mundo tumultuado, marcado pela violência e arrogância, e todos temos a missão de proclamar e construir a paz. Precisamos de pessoas capazes de promover a alegria, o dinamismo, o perdão, e semear esperança diante dos desafios do mundo atual.

Que o Espírito Santo nos capacite a ser promotores de uma vida cada vez mais humana e de melhor qualidade para todos, em todos os lugares. Este pedido é repetido em diferentes momentos de nossas celebrações, especialmente na oração Eucarística, quando o sacerdote diz: 'Ao comungarmos o corpo e o sangue do Vosso Filho, que sejamos repletos do Espírito Santo e nos tornemos um só corpo e um só Espírito.'


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Que o perdão dos pecados prometido por Jesus signifique a tarefa de todos empenhados na organização de uma sociedade fraterna, responsável, justa e cuidadora de todos e da Casa Comum.

quinta-feira, 9 de maio de 2024

HOMILIA PARA O DIA 12 DE MAIO DE 2024 - ASCENÇAÕ DO SENHOR - ANO B

 

TODOS CONTINUADORES DA MISSÃO DE JESUS

A Igreja celebra nesse domingo a Ascenção de Jesus ao céu. A Palavra de Deus neste domingo mais do que relatar o distanciamento físico de Jesus do grupo dos discípulos, tem por objetivo lhes indicar a missão e a responsabilidade que lhes cabe depois de o terem conhecido e com ele partilhado a experiência de fazer a vontade do Pai. Na mesma medida para nós cristãos, celebrar a Ascenção significa visualizar a meta da nossa vida na condição de continuadores da tarefa que Jesus confiou aos discípulos.

Somos todos missionários da boa noticia de Jesus, na caminhada da vida continuamos encontrando Jesus nas pessoas com quem convivemos e tal como ele somos desafiados a diminuir o sofrimento daqueles que experimentam na sua própria carne as duras realidades contemporâneas. Somos chamados a ser sinais de esperança dando continuidade à ação de Jesus.

Nossa tarefa é facilitada por muitos recursos modernos de comunicação e compartilhamento de saber e de informação. Dentre eles nos recorda o Papa Francisco, podemos contar com a colaboração da Inteligência Artificial. Na Mensagem para o dia mundial das comunicações sociais Francisco escreveu: “Os sistemas de inteligência artificial podem contribuir para o processo de libertação da ignorância e facilitar a troca de informações entre diferentes povos e gerações. Por exemplo, podem tornar acessível e compreensível um patrimônio enorme de conhecimentos, escrito em épocas passadas, ou permitir às pessoas comunicarem em línguas que lhes são desconhecidas”. Para que os recursos da tecnologia cumpram o seu papel todos somos convidados a manter um “coração incorruptível em relação a tudo o que ferir a dignidade da pessoa”.

Tal como os discípulos também nós fomos formados na “escola” de Jesus e temos como missão levar sua palavra para todas as criaturas, por sua vez, Ele nos acompanha e nos mostra o caminho.

A conversa de despedida que Jesus faz com seus discípulos se dá ao redor de uma mesa, que sugere também para nós participantes da mesa da Eucaristia reconhecer a missão e o tipo de vida que devemos transmitir ao mundo pela palavra e pelo testemunho. Quem abraçar esta causa fará coisas extraordinárias: expulsarão demônios, falarão novas línguas, por suas mãos os doentes serão curados. Estas realizações maravilhosas poderiam ser ditas em outras palavras: Na condição de missionários dos novos tempos os cristãos serão uma presença de paz e de entendimento, sinais de esperança e de vida nova, e ninguém precisa ter medo porque o Senhor mesmo estará nos acompanhando: “Os discípulos então saíram e pregaram por toda parte. O Senhor os ajudava e confirmava sua palavra por meio dos sinais que a acompanhavam”.

De modo que podemos tomar para nós as palavras ditas aos apóstolos pelo autor da primeira leitura: “Apareceram então dois homens vestidos de branco, que lhes disseram: "Homens da Galileia, por que ficais aqui, parados, olhando para o céu? Esse Jesus que vos foi levado para o céu, virá do mesmo modo como o vistes partir para o céu".

sexta-feira, 3 de maio de 2024

HOMILIA PARA O DIA 05 DE MAIO DE 2024 - 6º DOMINGO DA PÁSCOA - ANO B

 

SOMOS GENTE TRANSFORMADA PELO AMOR

A palavra AMOR é uma das mais faladas e cantadas em todos os estilos de música e poesia. No repertório sertanejo uma delas tem a seguinte letra:

Só o amor vale tudo na vida Só o amor é a inspiração Sem amor a esperança é perdida Por amor escrevi esta canção.

As três leituras deste domingo nos colocam diante de uma peça de amor cujo tecelão é Deus nele tudo começa e nele tudo tem sua culminância. Essa manifestação é tão extraordinária que se concretiza na entrega do seu Filho e que mostrou por gestos e palavras o amor de Deus levado ao extremo, nele toda a humanidade é sempre renovada e transformada em gente nova e repetidamente enviada a multiplicar a experiência de amor que Deus nos revela em Jesus Cristo.

Essa verdade está muito clara no texto da segunda leitura quando afirma: Porque o amor vem de Deus e todo aquele que ama nasceu de Deus e conhece Deus. Quem não ama, não chegou a conhecer a Deus, pois Deus é amor”. E o amor de Deus pela humanidade não é uma troca de favores, ele nos ama de modo gratuito, desinteressado, nos ama apesar das nossas escolhas, da nossa indiferença, das nossas revoltas. Obviamente, que diante de uma tão grandiosa manifestação da parte de Deus não nos resta outra coisa que não seja amar as pessoas segundo os mesmos critérios, porque todo aquele que ama conhece a Deus!

Uma das primeiras exigências que precisamos fazer a nós mesmos consiste em compreender e superar os limites que costumamos colocar para amar alguém. Em outras palavras, o amor que Deus nos implica numa mudança dos nossos esquemas mentais e organizacionais. Facilmente amamos aqueles que nos retribuem, aqueles que constam dos nossos registros e círculos de relacionamento, que pertencem ao nosso clube, ao nosso movimento, a nossa paróquia e assim por diante.

Na condição de filhos somos provocados a praticar gestos desinteressados de cuidado, de solidariedade que abra portas e permita caminhar juntos. Não basta manifestar nosso amor dentro da sacristia e nas nossas igrejas, não basta cabeça inclinada olhando para o céu, não basta ter amor pelas coisas da religião e não perceber os pobres, os sofredores, os que não pensam como nós. Ser filho de Deus implica compreender o que significa: Somos todos irmãos!

O que o autor da segunda leitura nos propõe não é outra coisa senão as palavras de despedida que Jesus dirige aos discípulos no Evangelho: “amem-se como eu os amei”! Isto significa gente que sai ao encontro que abre portas só assim poderemos produzir frutos como quem permanece conectado com Jesus. Deve ficar clara uma verdade: amar como Jesus implica lutar contra as forças que produzem dor, sofrimento e morte e ter a certeza que nessas ocasiões Jesus caminha ao nosso lado.

Um dos gestos concretos que podemos aprender com os discípulos está no discurso de Pedro na primeira leitura: “Pedro tomou a palavra e disse: De fato, estou compreendendo que Deus não faz distinção entre as pessoas. Pelo contrário, ele aceita quem o teme e pratica a justiça, qualquer que seja a nação a que pertença".

 

 Em resumo, “só o amor vale tudo na vida”!