segunda-feira, 19 de abril de 2010

PEDAGOGIA DO CUIDADO

QUEM AMA CUIDA...

(Contribuições do Professor Elcio Alberton para
a reflexão da terça feira 06 de abril 2010 no projeto PROINFANTIL).

No contexto das reflexões éticas na atualidade a expressão CUIDADO, tem sido muitas vezes compreendido como capacidade de amar o que significa também permitir que o ser em relação desenvolva suas habilidades em todos os sentidos.
Na leitura do texto em questão (Daniela Guimarães) a autora parece tratar do termo sob esta ótica.
Fazendo um passeio pelos conceitos de educar, instruir, cuidar, e da finalidade das creches e centros de educação infantil a autora faz uso da palavra CUIDADO permitindo que esta seja entendida como a capacidade de facilitar o crescimento e a interação entre os distintos envolvidos no processo.
É de amplo conhecimento a idéia equivocada que permeou as creches durante muito tempo, sendo elas entendidas e muitas vezes de fato conduzidas como depósito de crianças a quem faltava cuidados. E neste recinto e condição elas eram de fato apenas cuidadas, isto é, atendidas no mínimo das necessidades de permanência no local.
O reconhecimento dos espaços conhecidos como Creches, dentro do processo da educação infantil permitiu que um novo olhar fosse voltado para todo o processo e prática do CUIDADO em relação as crianças que participam destas instituições.
A primeira atitude que aos poucos, vai se tornando indispensável é superar a dicotomia entre cuidar e educar. Alias a comunhão (sinonímia) destes dois termos responde exatamente ao conceito atual da expressão: QUEM AMA CUIDA!
Não faltam autores que compreendem esta interação como resultado de outra necessidade de todo ser humano: Sentir-se acolhido e valorizado na sua condição no local onde escolhe para estabelecer relacionamentos. A expressão, a meu ver, muito feliz, "forma menor de educação" longe de adquirir sentido pejorativo precisa ser lido como possibilidade de modos alternativos de estar com as crianças e consequentemente valorizá-las na sua individualidade.
Longe de compreender o processo educativo como uma disciplinarização o uso da expressão cuidado educacional adquire uma perspectiva muito importante na medida em que qualifica a condição de quem promove e facilita o sujeito de manifestar seus saberes socializando-os e interagindo com os demais saberes e seres. É neste sentido que a pessoa envolvida no processo de CUIDADO passa a ser visto como sujeito único que se coloca na relação com o outro.
Dito isso fica possível compreender CUIDADO como o processo que dá início a toda forma de sadio relacionamento. É assim que Bakhtin , compreende o processo de crescimento (não somente físico) da criança desde as suas relações de imitação com a mãe, fazendo suas as palavras e atitudes do outro.
Há de se convir que só muito recentemente nossas creches voltaram seu foco para a criança e seus direitos, isto é, estas estão na creche não como necessitadas de "cuidados" mas como seres de "CUIDADO", situação que pode ser compreendida como inserção na coletividade com facilitação para a socialização.
Na medida em que nossas crianças passaram a ser vistas nas creches como sujeitos da ação de educar foi largamente ampliado o conceito de transmitir saberes para o incremento da sociabilidade dos conhecimentos. Nesta ótica a missão do professor em muito se amplia e recebe nova valorização, ela deixa de ser uma distribuidora de "trabalhinhos" para ser promotora de "valores".
Esta parece ser a realidade que a autora constata na pesquisa conhecida como observação participante realizada em dois distintos centros de educação. A educação infantil entendida a partir do CUIDADO faz do adulto uma ponte para construção de novos saberes os quais são processados pela própria criança com um consequente engrandecimento de possibilidades.
A isso eu chamo de Mistagogia da educação infantil ou capacidade de quebrar os grilhões que prendem as crianças ao fundo da caverna da ignorância, para fazer um paralelo com o mito platônico da caverna.
Parece ser muito feliz a apropriação do termo italiano "didática do fazer' para qualificar este novo modo de facilitar o desenvolvimento educacional da criança.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

HOMILIA PARA O DIA 11 DE ABRIL 2010

SEGUNDO DOMINGO DA PÁSCOA

Leituras: Atos5,12-16; Salmo 117(118);
Apocalipse 1, 9-13.17-19; João 20,19-31.

Normalmente quando um acontecimento é importante para nós marcamos a data e recordamos o fato de modo bastante significativo. Isso vale para o aniversário da pessoa que a gente quer bem, a data da formatura, do casamento,etc... Recordar a data que algo nos aconteceu é uma forma de reviver o fato no cotidiano da história.
A mesma situação foi vivida pela comunidade dos discípulos de Jesus. O primeiro dia da semana se tornou uma data importante. Recordando a Ressurreição de Jesus eles passaram a se reunir neste dia. Juntos faziam memória de tudo o que haviam aprendido e vivido na companhia de Jesus.
Este fato se tornou tão importante que pouco tempo depois recebeu o nome de Domingo, que quer dizer: Dia do Senhor! Desde aquele tempo nós continuamos celebrando a ressurreição de Jesus e nos reunimos de domingo a domingo para fazer memória deste extraordinário acontecimento pascal.
As leituras deste segundo domingo da páscoa nos ajudam a compreender melhor o sentido da reunião e da missão. No evangelho temos a narrativa de um encontro dos discípulos, ocasião em que recordavam os ensinamentos do mestre. Dentre eles um não estava.
Jesus aparece, se dá a conhecer, anuncia o seu mais excelso desejo: A paz esteja com vocês. Como o Pai me enviou eu também envio vocês. E os discípulos se alegraram e contaram para todos o que lhes tinha acontecido.
Tomé não acreditou. Uma semana depois Jesus reaparece, agora Tomé está aí e Jesus lhe confia a missão e faz a devida advertência: Você acreditou porque viu!
As lições da liturgia deste domingo estão nesta direção para nossas comunidades: Primeiro: O domingo é o dia do Senhor, o dia da reunião dos irmãos e nada deverá nos desviar deste importante e necessário encontro; Segundo: é na reunião que experimentamos o Dom de Deus: A Paz esteja com vocês! Terceiro: somos também enviados em missão em vista de um mundo melhor e que experimente também o que Deus tem a oferecer por nosso intermédio.
Quarto: longe da comunidade reconhecer Jesus fica quase impossível.
Peçamos a graça de nunca negligenciar o domingo e o que dele podemos usufruir na medida que nos reunimos com a comunidade para celebrar o Senhor.
Que esta Palavra e a Eucaristia sejam nossa força na jornada.

sábado, 3 de abril de 2010

LICENCIATURA OU BACHARELADO?


FORMAÇÃO OU PREPARAÇÃO PARA O TRABALHO?



Elcio Alberton
Licenciado em Filosofia, Especialista em Gestão Educacional,

Mestrando em Educação. Professor no Programa PROINFANTIL,

Diretor pedagógico da UNIANDRADE, Curitiba.

Texto produzido sob a orientação da professora

Joana Paulin Romanowski,

na disciplina Formação de professores do

programa de Mestrado da PUCPR 2010.





No comentário que fizemos sobre saberes docentes, escrevemos assim: “De qualquer modo é claro que os profissionais da educação necessitam desenvolver e promover saberes que alcancem o campo da cientificidade daquilo que especificamente se propõe ensinar sem, contudo, descuidar de saberes que se ampliem para as demais ciências sociais e do conhecimento do ser humano”.


Na perspectiva da nossa pesquisa estamos também preocupados com a formação de docentes que vislumbre muito mais do que a preparação para o trabalho e a aquisição de instrumentais conteudistas, didáticos e pedagógicos que visem primariamente a transmissão de conhecimentos.


Os distintos autores, propostos para leitura na cadeira de Formação de Docentes do programa de Mestrado da PUCPR no ano de 2010, pautam suas reflexões e questionamentos em relação ao parecer 05/2005 precisamente no que se refere à amplitude que mereceria ter a compreensão do termo “formação de docentes”, nos cursos de Pedagogia regulamentados por este parecer.


Com seus limites no que se refere ainda a nomenclatura (licenciatura/bacharelado), o parecer aponta para uma solução de continuidade para um impasse que se estende por mais de duas décadas. No documento em questão a formação dos docentes é entendida de modo bastante mais amplo na medida em contempla a formação de docentes não no sentido restrito de ministrar aulas para esta ou aquela faixa etária. A expressão docência tem seu conceito ampliado para todo o trabalho pedagógico a ser desenvolvido no mundo da educação, seja ele restrito ao ambiente escolar ou não. E neste sentido pode ser considerado um avanço no campo da normatização dos cursos de Pedagogia. Obviamente que esta conquista não veio sem boa dose de participação da sociedade organizada.


O parágrafo a que nos referimos acima reza textualmente:
“Entende-se que a formação do licenciado em pedagogia se fundamenta no trabalho pedagógico realizado em espaços escolares e não escolares, que tem a docência como base. Nesta perspectiva, a docência é compreendida como ação educativa e processo pedagógico metódico e intencional, construído em relações sociais, étnico-raciais e produtivas, as quais influenciam conceitos, princípios e objetivos da pedagogia. Dessa forma, a docência, tanto em processos educativos escolares como nãoescolares, não se confunde com a utilização de métodos e técnicas pretensamente pedagógicos, descolados de realidades históricas específicas. Constitui-se na confluência de conhecimentos oriundos de diferentes tradições culturais e das ciências, bem como de valores, posturas e atitudes éticas, de manifestações estéticas, lúdicas, laborais. (Parecer CNE/CP n. 05/2005, p. 7)”.

Com esta regulamentação, finalmente, os profissionais da educação podem experimentar seus anseios adquirirem abrangência na medida em que os cursos de pedagogia deverão alargar a concepção de educação, de escola, de docência, de licenciatura, etc. situação que implica evoluir para muito além do que a simples preparação para o trabalho, título que damos a este comentário.


Na medida em que acontece este alargamento de conceito e de finalidade os cursos de formação de professores caminham para uma nova epistemologia e superam a visão pragmática e tecnicista de preparadores para o trabalho. Quanto mais se for alargando a visão de formação científica dos cursos de pedagogia, mas será possível ganhar no conceito de práxis educativa.


A crítica que cabe ao parecer se foca na questão da falta de clareza sobre o que significa mesmo preparação para o trabalho didático e formação para a pesquisa que consequentemente se direciona também para o cotidiano da educação. Parece importante que o parecer seja lido sob uma ótica muito mais abrangente do que o desenvolvimento de competências e habilidades para realizar tarefas no campo da escola.


Nossa concepção é também direcionada para a compreensão da formação do profissional da educação com uma ampla interação entre teoria e prática. A formação precisa partir dos conhecimentos já dominados, ampliar o leque de cientificidade e para lá voltar. Este processo parece se moldar melhor ao termo “práxis” usada também por outras ciências humanas.


O parecer, visto sob a ótica que estamos apontando, indica que a formação pedagógica e muito mais ampla do que a preparação para o magistério e alcança a produção e difusão do conhecimento. Conforme dissemos parece que o limite do parecer persiste no fato de manter a nomenclatura que em princípio aponta para um reducionismo da função do que se chama licenciatura. Certamente será necessário estabelecer uma formação teórica sólida que seja muito mais ampla do que um mero pragmatismo pedagógico.


Na medida em que a nomenclatura não se tornar pressuposto para a formação de um profissional do tipo “segunda linha” será possível construir uma política de formação que seja compreendida na linha da formação continuada se estendendo a todos os níveis de formação.


A compreensão que temos desta regulamentação, no sentido que ela melhora substancialmente a possibilidade de formação com a superação da mera preparação para o trabalho, aparece textualmente no documento quando se lê: “As DCN-Pedagogia definem a sua destinação, sua aplicação e a abrangência da formação a ser desenvolvida nesse curso. Aplicam-se: a) à formação inicial para o exercício da docência na educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental; b) aos cursos de ensino médio de modalidade normal e em cursos de educação profissional; c) na área de serviços e apoio escolar; d) em outras áreas nas quais sejam previstos conhecimentos pedagógicos. A formação assim definida abrangerá integradamente à docência, a participação da gestão e avaliação de sistemas e instituições de ensino em geral, a elaboração, a execução, o acompanhamento de programas e as atividades educativas" (Parecer CNE/CP n.05/2005, p. 6).

HOMILIA PARA O DIA 04 DE ABRIL 2010



DOMINGO DA PÁSCOA DA RESSURREIÇÃO DO SENHOR



O início deste ano foi marcado por uma série de catástrofes naturais que comoveram o mundo. Avalanches, desmoronamento, enchentes, terremotos. Em todas estas situações a morte se fez presente de maneira assustadora. Entretanto, para pelo menos uma pessoa, e para os que puderam reconhecer o seu trabalho a morte foi um sinal claro de tudo o que significou a sua vida. Lembro neste momento a Dra. Zilda Arns. Morreu sob os escombros de um terremoto, como tantas vítimas indefesas e inocentes.
Mas a morte dela ganhou outra conotação em virtude do seu trabalho pela vida das nossas crianças. Podemos dizer que Ela não morreu, e não morreu porque sua obra é viva e facilita a vida.
Neste sentido celebrar o Cristo ressuscitado significa celebrar a alegre esperança que também nós com Ele ressuscitaremos. A verdade do que aconteceu com Jesus não foi uma situação fácil de ser entendida pelos seus seguidores. Assim temos na narrativa do Evangelho, nominadas algumas pessoas: Maria Madalena, Simão Pedro, o outro discípulo. Ambos tinham estado com Jesus durante todo o processo da sua condenação e morte, mas ainda não tinham assimilado o que isso poderia significar. E continuam procurando-o no lugar onde estão os mortos.
O modo como o evangelho nos conta a ressurreição indica exatamente aquilo que professamos e celebramos. O que com Ele aconteceu não foi um episódio isolado e sem explicação. Tudo aí faz parte do plano de salvação que Deus tinha, desde muito, planejado.
Nós, como os primeiros discípulos se acreditamos nesta verdade temos a missão de proclamá-la com a vida.
Aqui reunidos fazendo memória deste fato salvador pedimos com insistência que o Senhor nos faça destemidos no que concerne dar a vida por meio de lutas e tarefas que transformem o mundo.
Que nossa vida seja expressão concreta e real do Amém que professamos ao participar da comunhão com o corpo e o sangue do Senhor Jesus.

HOMILIA PARA O DIA 03 DE ABRIL 2010


VÍGILIA PASCAL 2010




A longa celebração desta noite, com suas quatro partes bem distintas, com direito foi chamada por Santo Agostinho de “Mãe de todas as vigílias”. A Liturgia da Igreja nos convida a celebrar recordando a ação de Deus que salvou e libertou seu povo e a reposta nem sempre coerente daqueles que foram escolhidos pelo Pai.
Os sinais do fogo e da água dispensam maiores comentários é fácil perceber que eles indicam o princípio de todas as coisas e sua presença simbólica pode ser reconhecida nos diversos momentos da ação de Deus em favor do seu povo.
A longa Liturgia da Palavra nos ajuda a percorrer o caminho que Deus fez e os descaminhos que as criaturas percorreram até a vinda do Messias.
Em resumo, as leituras do antigo testamento no aponta a obra criadora e salvadora de Deus com a respectiva promessa que nos vem pela boa do profeta.
Já São Paulo no texto de hoje nos faz compreender o sentido último da morte e ressurreição do Senhor. Tendo participado com ele, somos agora herdeiros de tudo o que Ele nos mereceu.
Não é sem razão que entre as leituras do antigo e do novo testamento nós cantamos o hino de louvor e o fazemos convencidos que o Senhor Ressuscitou e que sua vida agora nos aproxima ainda mais e de modo definitivo do mundo que Deus Pai quis para todos.
As palavras do Evangelho são confirmadas pela renovação das promessas do batismo, aceitar esta verdade implica estar disposto a trabalhar por um mundo novo e muito melhor. É obvio se fomos também nós renovados pelo Cristo, porque não dedicar-nos na realização daquilo que Ele começou.
Aqui viemos para “fazer tudo isso em memória do Senhor”. Isto significa dizer que com Jesus queremos passar da antiga à nova vida.

SABERES DOCENTES

COMENTÁRIOS AO TEXTO SABERES PROFISSIONAIS DOS
PROFESSORES E CONHECIMENTOS UNIVERSITÁRIOS



Elcio Alberton, Licenciado em Filosofia, Especialista em Gestão Educacional,
Mestrando em Educação.
Professor no Programa PROINFANTIL, Diretor pedagógico da UNIANDRADE, Curitiba.
Texto produzido sob a orientação da professora Joana Paulin Romanowski, na disciplina
Formação de professores do programa de Mestrado da PUCPR 2010.



Tardif, Maurice. Saberes Docentes
Formação Profissional.
Petrópolis, Vozes, 2008


Os inúmeros desafios do cotidiano da docência exigem que os profissionais respondam a algumas questões que são sempre pertinentes e presentes na arte de mediar saberes.
Conforme comentamos no texto que trata do professor como um profissional da contradição, parece oportuno tratemos da questão dos saberes sob a mesma ótica. Isto é, ao perguntar-se sobre quais saberes são necessários há que responder em primeiro lugar a partir de onde o docente está fazendo esta pergunta. E mais ainda para onde ele quer caminhar com tais questionamentos.
A prática da docência está inserida numa conjuntura social que se modifica a velocidade da luz e que exige sempre novas respostas. Sem precisar nos alongar poderíamos discorrer muito sobre a modalidade de saberes cuja perspectiva se abre com o ensino a distância.
Sob este ponto de vista com toda a obviedade o profissional da educação terá um sem número de novos desafios e porque não dizer de necessidade de novos saberes.
De qualquer modo é claro que os profissionais da educação necessitam desenvolver e promover saberes que alcancem o campo da cientificidade daquilo que especificamente se propõe ensinar sem, contudo, descuidar de saberes que se ampliem para as demais ciências sociais e do conhecimento do ser humano.
Aceitar ser avaliado por quem partilha dos mesmos ideais e angústias é um elemento importante posto que esta condição ajude o professor ampliar sua bagagem de conhecimento que se estenda para além da tecnicidade. A isto o autor chama de formação continuada e contínua, os dois termos que parecem exprimir o mesmo resultado são, todavia, distintos e se completam. Uma abertura para formação contínua será muito mais do que aprender para colocar em prática. Bastante vezes a formação se resume a aquisição de novas técnicas e quiçá métodos para ensinar. Com absoluta certeza isso não pode ser entendido como formação contínua. Este vocábulo parece expressar muito mais que o professor merece estar sempre pronto a adquirir novos saberes os quais o projetarão para novas aventuras na “arte da docência”.
Os questionamentos da contemporaneidade, o advento de novas tecnologias e de incontáveis outros desafios geraram no mundo da docência uma crise, diria sem precedentes. Crise no sentido de quebra de referenciais uma vez que os chamados saberes estáveis foram sendo desqualificados ou, em outras palavras, cotidianamente superados.
A crise a que o autor se refere não me parece que deva ser tomada sob a ótica do pessimismo ou como uma situação necessariamente negativa, mas parece ser uma crise no sentido do acrisolamento que provoca mudanças e novas perspectivas.
Experimentar esse tipo de crise faz com que os profissionais da docência tenham a determinação para questionar o tipo e os limites de formação oferecidos pelas instituições, posto que estas também vivenciem os conflitos que permeiam toda a sociedade. O autor parafraseia Kant, dizendo que os questionamentos em torno da docência se comparam ao um processo que exige despertar do sono dogmático da razão profissional. Com esta afirmação nós concordamos na sua totalidade.
O complexo mundo da formação contínua aponta para o que o autor chama de epistemologia da prática profissional ou o conjunto de saberes dos quais o docente se utiliza para o trabalho cotidiano. Este processo consiste em constante reconstrução e reordenamento de competências visando responder às novas exigências e os novos desafios. Nesta linha o trabalho vai se tornando uma construção e não um mero objeto.
Quanto mais o profissional reduzir sua condição de educador à dimensão da praticidade mais ele alarga a possibilidade de se tornar um “idiota do conhecimento”, que não é capaz de recompor o repertório dos saberes.
Um elemento importante a ser considerado no que concerne aos saberes é a história de vida, aquilo que aprendeu por osmose, mas na medida em que nesta altura encontrar limites o aprendizado deixa de ser transformador e, consequentemente, perde parte significativa da sua razão de ser.
Mais do que qualquer outra ocupação o docente tem necessidade de enriquecer-se de recursos e competências muito mais do que técnicas conceituais. É sobre esta última afirmação que nossa dissertação vai se pautar no que concerne à mistagogia da formação do docente.

SABERES DOCENTES

COMENTÁRIOS AO TEXTO SABERES PROFISSIONAIS DOS
PROFESSORES E CONHECIMENTOS UNIVERSITÁRIOS


Elcio Alberton, Licenciado em Filosofia, Especialista em Gestão Educacional, Mestrando em Educação. Professor no Programa PROINFANTIL, Diretor pedagógico da UNIANDRADE, Curitiba. Texto produzido sob a orientação da professora Joana Paulin Romanowski, na disciplina Formação de professores do programa de Mestrado da PUCPR 2010.


Tardif, Maurice. Saberes Docentes
Formação Profissional.
Petrópolis, Vozes, 2008

Os inúmeros desafios do cotidiano da docência exigem que os profissionais respondam a algumas questões que são sempre pertinentes e presentes na arte de mediar saberes.
Conforme comentamos no texto que trata do professor como um profissional da contradição, parece oportuno tratemos da questão dos saberes sob a mesma ótica. Isto é, ao perguntar-se sobre quais saberes são necessários há que responder em primeiro lugar a partir de onde o docente está fazendo esta pergunta. E mais ainda para onde ele quer caminhar com tais questionamentos.
A prática da docência está inserida numa conjuntura social que se modifica a velocidade da luz e que exige sempre novas respostas. Sem precisar nos alongar poderíamos discorrer muito sobre a modalidade de saberes cuja perspectiva se abre com o ensino a distância.
Sob este ponto de vista com toda a obviedade o profissional da educação terá um sem número de novos desafios e porque não dizer de necessidade de novos saberes.
De qualquer modo é claro que os profissionais da educação necessitam desenvolver e promover saberes que alcancem o campo da cientificidade daquilo que especificamente se propõe ensinar sem, contudo, descuidar de saberes que se ampliem para as demais ciências sociais e do conhecimento do ser humano.
Aceitar ser avaliado por quem partilha dos mesmos ideais e angústias é um elemento importante posto que esta condição ajude o professor ampliar sua bagagem de conhecimento que se estenda para além da tecnicidade. A isto o autor chama de formação continuada e contínua, os dois termos que parecem exprimir o mesmo resultado são, todavia, distintos e se completam. Uma abertura para formação contínua será muito mais do que aprender para colocar em prática. Bastante vezes a formação se resume a aquisição de novas técnicas e quiçá métodos para ensinar. Com absoluta certeza isso não pode ser entendido como formação contínua. Este vocábulo parece expressar muito mais que o professor merece estar sempre pronto a adquirir novos saberes os quais o projetarão para novas aventuras na “arte da docência”.
Os questionamentos da contemporaneidade, o advento de novas tecnologias e de incontáveis outros desafios geraram no mundo da docência uma crise, diria sem precedentes. Crise no sentido de quebra de referenciais uma vez que os chamados saberes estáveis foram sendo desqualificados ou, em outras palavras, cotidianamente superados.
A crise a que o autor se refere não me parece que deva ser tomada sob a ótica do pessimismo ou como uma situação necessariamente negativa, mas parece ser uma crise no sentido do acrisolamento que provoca mudanças e novas perspectivas.
Experimentar esse tipo de crise faz com que os profissionais da docência tenham a determinação para questionar o tipo e os limites de formação oferecidos pelas instituições, posto que estas também vivenciem os conflitos que permeiam toda a sociedade. O autor parafraseia Kant, dizendo que os questionamentos em torno da docência se comparam ao um processo que exige despertar do sono dogmático da razão profissional. Com esta afirmação nós concordamos na sua totalidade.
O complexo mundo da formação contínua aponta para o que o autor chama de epistemologia da prática profissional ou o conjunto de saberes dos quais o docente se utiliza para o trabalho cotidiano. Este processo consiste em constante reconstrução e reordenamento de competências visando responder às novas exigências e os novos desafios. Nesta linha o trabalho vai se tornando uma construção e não um mero objeto.
Quanto mais o profissional reduzir sua condição de educador à dimensão da praticidade mais ele alarga a possibilidade de se tornar um “idiota do conhecimento”, que não é capaz de recompor o repertório dos saberes.
Um elemento importante a ser considerado no que concerne aos saberes é a história de vida, aquilo que aprendeu por osmose, mas na medida em que nesta altura encontrar limites o aprendizado deixa de ser transformador e, consequentemente, perde parte significativa da sua razão de ser.
Mais do que qualquer outra ocupação o docente tem necessidade de enriquecer-se de recursos e competências muito mais do que técnicas conceituais. É sobre esta última afirmação que nossa dissertação vai se pautar no que concerne à mistagogia da formação do docente.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

HOMILIA PARA O DIA 01 DE ABRIL DE 2010


QUINTA FEIRA SANTA – 01/04/2010


Leituras: Êxodo 12, 1-8. 11-14;

Salmo Responsorial 115,12-13.15-18;

1cor. 11,23-26; João 13,1-15.




A Celebração do Lava-pés, conforme denominamos a noite de hoje, antes de tudo, é um reconhecimento da capacidade de servir e da dimensão de serviço que se esconde na Eucaristia.
O texto do Evangelho do João que ouvimos na noite de hoje é um jeito diferente que o Evangelista usa para narrar a instituição da Eucaristia. Jesus que se entrega nas espécies do pão e do vinho é aquele que se põe a serviço de todos. O gesto de Jesus, de um extraordinário valor simbólico tem uma dimensão fantástica de hospitalidade, atitude própria de quem parte e reparte.
Com esta celebração nós iniciamos o tríduo pascal, isto e, os três dias que antecedem o domingo da ressurreição. Neste período revivemos a memória central da nossa fé: O extraordinário amor de Jesus pelo mundo. Sua radical aceitação ao projeto do Reino de Deus.
O texto do evangelho, narrando o episódio do lava-pés confirma o que ouvimos na primeira leitura: “Este dia será para vocês uma festa memorável em honra do Senhor, que haveis de celebrar por todas as gerações”. Jesus conclui o seu gesto recomendando aos discípulos: “Se Eu o mestre e Senhor lavei os seus pés, vocês devem fazer a mesma coisa”.
Inspirados por esta palavra. Iluminados pelo mesmo espírito que guiou Jesus nós continuamos nos reunindo em sua memória, repetimos os seus gestos, atualizamos a Palavra e elevamos nossa ação de Graças a Deus Pai.
Nisto tudo pedimos que o Senhor nos ajude a viver a mesma dimensão de alegria e de gratuidade que o Serviço da Eucaristia nos indica.
Repetimos as palavras de São Paulo: “comemos e bebemos da Eucaristia anunciando a morte do Senhor até que ele Venha”.
Que este gesto, com toda a penitência da quaresma, nos ensine a vivenciar nossas tribulações e angústias à luz da ressurreição e da Páscoa.

domingo, 28 de março de 2010

HOMILIA PARA O DIA 28 DE MARÇO 2010


DOMINGO DE RAMOS DA PAIXÃO DO SENHOR




Leituras: Lucas 19,28-40 (Bênção dos Ramos); Isaias 50,4-7;
Salmo 21(22); Filipenses 2, 6-11; Lucas 23,1-49. (Versão breve)




Todos estamos convencidos que o tempo da quaresma ganha pleno sentido na medida em que é relacionado com a Páscoa e a transformação que esta solenidade faz acontecer.



De domingo a domingo fomos caminhando com Jesus e enfim chegamos com Ele em Jerusalém. Reunidos, celebramos a Páscoa de Jesus revivendo os momentos derradeiros de sua entrega ao Pai em vista da nossa salvação.



Com a celebração dos Ramos encerramos também a Campanha da Fraternidade, que neste ano, reuniu diversas Igrejas com a mesma motivação: cultivar o sentimento de solidariedade e corresponsabilidade para um mundo mais humano e menos desigual.


A longa liturgia da palavra na celebração de hoje começa narrando a entrada solene de Jesus em Jerusalém. Não obstante o aspecto festivo que os conterrâneos e amigos de Jesus se encarregam de fazer, Ele entra montado num jumentinho cumprindo assim o que o profeta anunciou na primeira leitura: “Rei messiânico, humilde e pacífico”. Sua atitude é típica daquele que veio para servir e não se servir do poder.


A entrada na cidade santa culmina todo o caminhar de Jesus e suas ações nos três anos que ensinou e se fez conhecer por toda a região. Suas palavras são confirmadas por seu jeito de ser: “sinal do Reino de Deus”. Isto é, Ele é um Rei diferente. A religião que ele pregou, longe de ritualismos vazios e leis inumeráveis, é fundada no espírito de na verdade.


Nos dias que se sucedem ao domingo festivo de Ramos Ele experimenta seus últimos momentos de tentação e de sujeição à fragilidade humana. Poderia ter desistido de tudo, servindo-se da popularidade provocar reação violenta. Entretanto confirma a razão da sua missão: “Pai não seja feita a minha, mas a sua vontade”.


Tal qual Jesus, na condição de cristãos, seguidores do seu projeto e do seu ensinamento somos desafiados a tomar a mesma atitude. A quaresma foi um tempo de preparação e a Páscoa, para onde caminhamos, é a confirmação da nossa aceitação. Também nós poderemos fazer como Jesus: “Pai, contudo, não seja feita a minha, mas a sua vontade”.


Nós começamos a quaresma e cantamos todos os domingos na abertura das nossas celebrações a expressão de Jesus: “Deixai-vos reconciliar com Deus”. Peçamos, hoje de novo, a graça de aceitar e experimentar esta força reconciliadora da Páscoa de Jesus que, conforme rezamos na missa de hoje diz: “Sua morte apagou nossos pecados e sua ressurreição nos trouxe vida nova”.

segunda-feira, 22 de março de 2010

COMENTÁRIOS, APLICAÇÕES E CONSIDERAÇÕES SOBRE O ARTIGO AS PESQUISAS DENOMINADAS DO TIPO
“ESTADO DA ARTE” EM EDUCAÇÃO



Diálogo Educ., Curitiba, v. 6, n.19, p.37-50, set./dez. 2006.

Joana Paulin Romanowski; Romilda Teodora Ens



"Na área de formação de professores os estudos realizados apontam a ampliação na última década do interesse pelo tema." Esta afirmação das autoras encontra plena guarida no que se refere ao tema que escolhemos para nossa dissertação. Aliás a preocupação com a formação docente nas suas mais diversas vertentes parece que foi contemplada por Cristóvão Buarque, no lançamento do programa nacional de certificação de professores (2006). Na ocasião o então ministro da educação declarou que a "Formação de professores exige investimentos na cabeça, no coração e no bolso dos educadores".

Nosso trabalho se encaixa no grupo de pesquisa Paradigmas Educacionais e Formação de Professores enfocando a questão da Formação de Professores no Contexto da Metamorfose Civilizatória Contemporânea. Decidimos tratar da mística na formação docente. Com o título: Mistagogia na formação do docente, queremos ir na direção de provocar o interesse pelo que se denomina investimentos no coração.

"Parece que o interesse pelos temas educacionais não tem sido suficiente para que mudanças significativas
ocorram nos espaços de formação, sejam escolares ou não escolares." Esta afirmação bastante acentuada no texto que estamos comentando é mais uma razão que serve de sustentação para nossa investigação. Vamos insistir na questão que não se trata simplesmente de assimilar ou repassar conteúdos técnicos mas provocar mudanças significativas na questão da formação docente.

Considerando a dificuldade apresentada pelas autoras para produzir um "estado da arte" no que se refere ao tema em questão, levamos em consideração o que a expressão quer significar na origem do termo: "tem por objetivo realizar levantamentos do que se conhece sobre um determinado assunto a partir de pesquisas realizadas em uma determinada área."Embora tenhamos nos limitado a considerar pesquisas realizadas no limite da PUCPR, decidimos nos embrenhar nesta direção considerando que o tema, conforme delimitamos, não se encontra em nenhum trabalho desta instituição.

Nossa preocupação visa colaborar para que a questão da formação supere a dicotomia teoria X práxis. Conforme afirmam as autoras do texto: "Em um estado da arte está presente a possibilidade de contribuir com a teoria e prática” de uma área do conhecimento."

Tratar da mistagogia na formação do docente exige dar atenção para uma temática que está quase que totalmente silenciada e que no entanto é intrínseca ao cotidiano do educador, tanto mais nestes tempos em que as questões éticas e de valorização da vida sob a forma de sustentabilidade são cada vez mais consideradas como preocupações pertinentes.

A problemática se enquadra no eixo formação continuada para o qual o artigo constata que apenas 26% dos trabalhos parecem se direcionar. A definição da nossa linha de pesquisa não seguiu o rigor dos 8 procedimentos indicados por Romanowski, conforme citado no artigo, mas é resultado de uma pesquisa que leva em conta a necessidade de "investimentos no coração." Por essa afirmação queremos insistir que não se trata apenas de políticas educacionais ou de questões curriculares, mas que o tema da "Mística" precisa perpassar todas as inciativas de formação de docentes.

Parece-nos oportuno desejar que nossa preocupação venha, em algum tempo, fazer parte das pesquisas de "estado da arte" como eixo integrador entre teoria e prática ou se quiser qualificar de "cotidiano do educador".
COMENTÁRIOS, APLICAÇÕES E CONSIDERAÇÕES SOBRE O ARTIGO AS PESQUISAS DENOMINADAS DO TIPO
“ESTADO DA ARTE” EM EDUCAÇÃO



Diálogo Educ., Curitiba, v. 6, n.19, p.37-50, set./dez. 2006.

Joana Paulin Romanowski; Romilda Teodora Ens



"Na área de formação de professores os estudos realizados apontam a ampliação na última década do interesse pelo tema." Esta afirmação das autoras encontra plena guarida no que se refere ao tema que escolhemos para nossa dissertação. Aliás a preocupação com a formação docente nas suas mais diversas vertentes parece que foi contemplada por Cristóvão Buarque, no lançamento do programa nacional de certificação de professores (2006). Na ocasião o então ministro da educação declarou que a "Formação de professores exige investimentos na cabeça, no coração e no bolso dos educadores".

Nosso trabalho se encaixa no grupo de pesquisa Paradigmas Educacionais e Formação de Professores enfocando a questão da Formação de Professores no Contexto da Metamorfose Civilizatória Contemporânea. Decidimos tratar da mística na formação docente. Com o título: Mistagogia na formação do docente, queremos ir na direção de provocar o interesse pelo que se denomina investimentos no coração.

"Parece que o interesse pelos temas educacionais não tem sido suficiente para que mudanças significativas
ocorram nos espaços de formação, sejam escolares ou não escolares." Esta afirmação bastante acentuada no texto que estamos comentando é mais uma razão que serve de sustentação para nossa investigação. Vamos insistir na questão que não se trata simplesmente de assimilar ou repassar conteúdos técnicos mas provocar mudanças significativas na questão da formação docente.

Considerando a dificuldade apresentada pelas autoras para produzir um "estado da arte" no que se refere ao tema em questão, levamos em consideração o que a expressão quer significar na origem do termo: "tem por objetivo realizar levantamentos do que se conhece sobre um determinado assunto a partir de pesquisas realizadas em uma determinada área."Embora tenhamos nos limitado a considerar pesquisas realizadas no limite da PUCPR, decidimos nos embrenhar nesta direção considerando que o tema, conforme delimitamos, não se encontra em nenhum trabalho desta instituição.

Nossa preocupação visa colaborar para que a questão da formação supere a dicotomia teoria X práxis. Conforme afirmam as autoras do texto: "Em um estado da arte está presente a possibilidade de contribuir com a teoria e prática” de uma área do conhecimento."

Tratar da mistagogia na formação do docente exige dar atenção para uma temática que está quase que totalmente silenciada e que no entanto é intrínseca ao cotidiano do educador, tanto mais nestes tempos em que as questões éticas e de valorização da vida sob a forma de sustentabilidade são cada vez mais consideradas como preocupações pertinentes.

A problemática se enquadra no eixo formação continuada para o qual o artigo constata que apenas 26% dos trabalhos parecem se direcionar. A definição da nossa linha de pesquisa não seguiu o rigor dos 8 procedimentos indicados por Romanowski, conforme citado no artigo, mas é resultado de uma pesquisa que leva em conta a necessidade de "investimentos no coração." Por essa afirmação queremos insistir que não se trata apenas de políticas educacionais ou de questões curriculares, mas que o tema da "Mística" precisa perpassar todas as inciativas de formação de docentes.

Parece-nos oportuno desejar que nossa preocupação venha, em algum tempo, fazer parte das pesquisas de "estado da arte" como eixo integrador entre teoria e prática ou se quiser qualificar de "cotidiano do educador".

terça-feira, 16 de março de 2010

PROFESSOR UM TRABALHADOR...

COMENTÁRIOS E OBSERVAÇÕES AO TEXTO :
O PROFESSOR NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA:
UM TRABALHADOR DA CONTRADIÇÃO




Bernard Charlot
Revista da FAEEBA – Educação e Contemporaneidade,
Salvador, v. 17, n. 30, p. 17-31, jul./dez. 2008 17


No texto em questão o autor argumenta sobre a necessidade de definir a missão do professor e da escola em meio às contradições. Para isso ele começa desmistificando o que chamamos de contradições da escola e da profissão e ajudando a perceber que estas são contradições da sociedade como um todo e que por consequencia a escola não estaria imune delas, posto que aí esteja inserida.

Fica bastante clara na posição do autor que os “problemas” na escola não podem ser tratados apenas sob o ponto de vista do pedagógico. Esta afirmação fazemos questão de transcrevê-la textualmente: “As contradições relativas à escola são contradições sociais a respeito da escola e não contradições dentro da escola”.

E a partir desta convicção ele faz uma longa fundamentação sobre o papel social da escola e vice versa e conclui dizendo que esta interação contraditória é responsável pela desestabilização da função do docente.

No contexto da globalização aparece também no âmbito escolar e em alta escala a questão da eficácia, do resultado e da autonomia. Esta última é bastante mais ampla do que em outras épocas, mas por outro lado trouxe consigo a responsabilidade pelo sucesso ou pelo fracasso.

O mundo globalizado “quebrou as imagens” e também a do professor que agora já não é mais uma referência para os alunos que muitas vezes nem o incluem entre as fontes para obter informações sobre o mundo.

A sociedade de contradições torna o professor um indivíduo também contraditório. Por mais que ele sonhe com uma nova forma de se relacionar com os educandos continua repetindo práticas e conceitos já desacreditados e altamente questionados. Entre os exemplos pode ser citada a prática de atribuir nota como critério último para o processo avaliativo.

É verdade também que a missão de educar tem uma projeção simbólica e é sobre esta imagem que são projetadas todas as contradições sociais na maioria das vezes como se fossem restritas ao mundo da escola e da educação.

Ao longo da história não faltam ficções e até algumas situações reais de escolas ideais. Há as que são narradas a partir da realidade e delas temos livros, filmes portfólios e assim por diante. Há as que são produzidas a partir da ficção de autores e que tomo a liberdade de mencionar como a que vimos no filme “Sociedade dos poetas mortos” da década de 1990; ou Escritores da liberdade de 2007. Nesta última professor e aluno são considerados impossíveis e estabelecem um processo de transformação que se dá por meio da busca de algo que modifique suas vidas. Comentanto este filme Hannah Arendt, “aponta duas causas que podem ter relação profunda com a crise da educação em nossa época: a incapacidade de a escola levar os alunos para pensar e a perda da autoridade dos pais e professores”.

A partir destas narrativas parece ser possível ir além do que aponta Charlot, isto é, o professor não pode ser colocado nem na posição de vítima muito menos de herói. Retomo para isso as palavras de Hannah Arendt : “Uma educação que não exercita o ato de pensar, com todos os seus riscos, além da própria ausência de pensamento, tem como efeito o não comprometimento, o não tomar decisões, ou não se responsabilizar por elas. “A tarefa fundamental do pensar é descongelar as definições que vão sendo produzidas, inclusive pelo conhecimento e pela compreensão e que vão sendo cristalizados na história". A tarefa do pensar é abrir o que os conceitos sintetizam, é permitir que aquilo que ficou preso nos limites da sua própria definição seja liberado. É livrar o sentido e o significado dos acontecimentos e das coisas da camisa-de-força dos conceitos” (CRITELLI, 2006, p. 80).

A nosso ver a afirmação de Hannah Arendt supera o que chamamos de “caça as bruxas” ou de quem é a culpa. Aberta esta consciência será possível compreender que o professor é aquele que aceita a dinâmica da sociedade e a incorpora no seu mundo. Neste contexto “negocia, gere a contradição, não desiste de ensinar e, apesar de tudo, mas nem sempre, consegue formar os seus alunos”.

Com certeza essa compreensão haverá de superar as dicotomias entre o que se costuma chamar de tradicional ou construtivista. Superada essa contradição ficará muito mais fácil fugir ao simplismo da busca de culpados ou da taxação de responsabilidades. Neste novo conceito professores e alunos, ora de mãos dadas ora por caminhos distintos compreenderão que “ensinar é ao mesmo tempo mobilizar a atividade dos alunos para que construam saberes” muitos deles apenas reescritos a partir do legado das gerações.

As contradições da sociedade na qual a escola está inserida parece ser bastante reproduzida no interior da escola na medida em que todos os envolvidos no processo “interiorizam a notação como função central do ensino”.

Sob esta ótica não se pode fugir da realidade das escolas cuja missão é universalista, mas que trabalha com indivíduos na sua particularidade. Isto significa dizer que a função universal da escola não é precisamente ensinar, mas facilitar que os alunos aprendam. Por conta da universalidade da escola não se pode imaginar que esta seja uma instituição sem regras ou normas, mas acima de tudo há que se compreendê-la como lugar no qual é facilitado ao ser humano tornar-se membro de uma sociedade e de uma cultura na condição de sujeito singular e insubstituível.

Com certeza sob esta ótica será possível fugir do que chamamos de dicotomia simplista, isso é, de quem é a culpa, ou qual a imagem do professor. Parece certo que se trata de um trabalhador da contradição. Ele vive entre a função de facilitar ao aprendente ir ao encontro da universalidade que permita compreender a vida e garantir a aprovação nas barreiras imediatas que a sociedade impõe como limites de crescimento.

Com toda a carga ideológica que a sentença pode ter, gosto muito do texto:

“Professor(a)!
Trago-te um recado de muitas pessoas.
Houve gente que praticou uma boa ação e manda-te dizer
que foi porque teu exemplo convenceu.
Houve alguém que venceu na vida e manda-te dizer
que foi porque tuas lições permaneceram.
E houve mais alguém que superou a dor e manda-te dizer
que foi a lembrança da tua coragem que o ajudou.
Por isso que és importante. O teu trabalho é o mais nobre.
De ti nasce a razão e progresso, a união e harmonia de um povo.
E agora... Sorri!!!
Esquece o cansaço e a preocupação porque há muita gente
pedindo a Deus para que sejas muito feliz.” (Autor desconhecido).

FORMAÇÃO DE PROFESSORES


COMENTÁRIOS AO TEXTO
ESTRUTURA CONCEPTUAL
DA FORMAÇÃO DE PROFESSORES
DE CARLOS MARCELO GARCIA.



Elcio Alberton
Reflexões sobre o tema
Em vista da disciplina de
Ética e Filosofia da Ciência.
Programa de mestrado 2010 PUCPR
Sob a Orientação da Professora
Joana Paulin Romanowski


Nossa reflexão a partir da leitura do texto em questão nos leva a fazer alguns observações de caráter bastante pessoal. Concordamos de modo significativo com o conceito de formação adotado pelo autor e o identificamos com nossa proposta de dissertação que trata da Mistagogia na Formação do docente.
A questão da formação do docente é parte de um complexo conjunto de fenômenos formativos e a inda não suficientemente esclarecidos. Muito além de transmissão de conteúdos e técnicas o processo formativo exige envolvimento por inteiro do formando. Trata-se de uma dimensão pessoal que tem a ver com vontade humana e implica em mudança pessoal e comportamental.
Concordamos com o autor na afirmação que a perspectiva formativa é um dos pilares da renovação da educação e que, neste sentido, deve consistir numa matriz disciplinar. Parece oportuno entender a expressão matriz muito mais abrangente do que uma simples relação de conteúdos. Reproduzimos na íntegra o conceito apresentado pelo autor sobre a formação de professores:
“A formação de professores é a área de conhecimentos, investigação e de propostas teóricas e práticas que, no âmbito da Didática e da Organização Escolar, estuda os processos através dos quais os professores – em formação ou em exercício – se implicam individualmente ou em equipe, em experiências de aprendizagem através das quais adquirem ou melhoram os seus conhecimentos, competências e disposições. Este processo lhes permite intervir profissionalmente no desenvolvimento do seu ensino, do currículo e da escola, com o objetivo de melhorar a qualidade da educação que os alunos recebem.”
Este conceito é a afirmação da primeira expressão do nosso trabalho ao dizer que o professor ensina muito pela sua experiência de vida, isto é, na condição de mistagogo. Nosso trabalho, como o texto em questão, contempla a formação como um enriquecimento de competências não exclusivamente acadêmicas. Em outras palavras a formação é um processo que necessariamente acaba nos alunos. (Se não houve aprendizagem não aconteceu o ensino).
O autor ajuda a entender a formação desde um ponto de vista personalista, no sentido de desenvolver estratégias e competências para um processo de mudança. E aí se delineia a imagem do professor que se aproxima do modelo eficaz sendo um ser humano com todas as vicissitudes próprias da sua condição, mas que se forma em vista do outro. Em outras palavras se poderia dizer que a formação de professores estabelece uma “pedagogia de resultado”.
Então está suficientemente claro que o desenvolvimento pessoal é o eixo da formação docente e um bom professor será aquele que caminha na direção de ser sempre mais um facilitador para criar condições de aprendizagem nos seus alunos a quem ele conhece na integridade. Esta figura não está longe do modelo de filósofo criado por Sócrates com a maiêutica e a ironia.
Neste sentido é mais fácil compreender o professor muito além de ser um técnico, mas construtor, como diria outro autor um “polidor de corações”, pois é das mãos do professor que nasce o ser humano, disse Rosseau. Então, para aquele que deseja ser bom professor pede-se pouco: “fazer o que fazem os bons mestres”, isto é, ser um mistagogo da educação.
A formação entendida como processo de mudança implica na aplicação das novas idéias que se configura num processo de desenvolvimento pessoal e profissional envolvente. Neste contexto toda o processo formativo passa pelo viés da colaboração e para isso o autor cria a expressão: “andragogia” – arte e ciência de ajudar adultos a aprender.
No mundo cristão católico adota-se a prática da lectio divina como uma forma de melhor viver o mistério da Palavra de Deus. Este método é basicamente o que o autor apresenta nas três últimas possibilidades que ele apresenta como as mais eficazes para compreender a formação.
Na Lectio Divina se usa as expressões: LECTIO (leitura), MEDITATIO (meditação), ORATIO (oração), CONTEMPLATIO (contemplação), COMMUNICATIO (comunicação). Aqui o autor apresenta sob os termos: contemplação, prática reflexiva, aprendizagem experimental.
Uma formação que não estabeleça um processo de transformação aborta o sonho dos educadores na maturidade e porque não dizer de outros profissionais. O que o autor chama de quarta etapa no exercício da missão de educar é denominado por um psicólogo da religião com o termo: Generatividade. Esta expressão quer indicar que a esta altura da missão o profissional precisa ver os “filhos dos seus filhos”, isto é o fruto do seu trabalho. Na falta deles, porque ele mesmo não produziu para em si reside a causa da frustração e do desencanto como conseqüência do desestímulo para os jovens o seguirem nesta missão.
Não será sem razão que nosso velhos cunharam a frase: "É preferível um triste santo a um santo triste”.
Evolução é a meta!

DISCORRENDO SOBRE ÉTICA

ÉTICA E MORAL


Elcio Alberton
Reflexões sobre o tema
Em vista da disciplina de
Ética e Filosofia da Ciência.
Programa de mestrado 2010 PUCPR
Sob a Orientação do Porfessor
Dr. Jorge Visenteiner



Para tratar deste tema a primeira posição a se de ter é atitude de Jesus. Não podemos reduzir as questões morais a casos isolados. É preciso que tomemos o tema na sua relação com a totalidade da existência do ser humano. E para isso partimos de algumas citações da Sagrada escritura:
- “Qual o homem que não ama a sua vida e não quer ser feliz todos os dias? (Sl 34,12);
- “E preciso obedecer antes a deus do que aos homens” (At 5, 29);
- “Não faço o bem que quero, mas pratico o mal que não quero” ( Rm 7 ,19);
“Tudo o que quereis que os outros os façam fazei-o também a eles”. (Mt 7, 12)
– “Foi para a liberdade que cristo nos libertou” (Gl 5,1);


E Santo Agostinho escreveu assim:
“Há dois modos de renunciar a liberdade: a submissão e alienação. Do ponto de vista ético, há frequentemente na modernidade um equívoco: o de pensar a liberdade como simples autonomia da pessoa, que não se sujeitaria a nada e a ninguém. Na realidade a pessoa humana se torna livre enquanto não está submetida a outro indivíduo humano, mas principalmente quando aceita a voz da consciência, o apelo a uma vida ética, em que são reconhecidos direitos e deveres de todos. Além disso, se é verdade que a liberdade humana é uma liberdade a ser realizada, que pode e deve crescer, ela exige o empenho permanente da libertação, a luta contra a alienação. Contra a situação de quem está impedido de realizar suas possibilidades. A liberdade se realiza plenamente no amor oblativo”.


Há uma lenda grega que fala de um anel misterioso capaz de tornar invisível aquele que virasse para dentro o engaste. Conta a lenda sobre certo pastor de nome Giges que estava a serviço do rei, depois de ter se salvado de um abalo sísmico, retirou de um cadáver o referido anel. Percebendo que podia ficar invisível quando quisesse, nesta condição entrou no castelo e seduziu a rainha tramando com ela a morte do rei e obteve o poder.
Essa lenda nos leva a pensar sobre os motivos que estimulam ou coíbem uma ação. Por exemplo, se alguém pudesse se tornar invisível e entrar numa loja e ali praticar pequenos ou grandes roubos, isso não seria problema já que o flagrante estaria descaracterizado.
De algum modo esta é uma prática na sociedade moderna na qual facilmente as pessoas se comportam BEM para serem recompensadas, ou para parecerem justas ao olhar dos outros. É bastante normal ouvirmos as mães aconselharem seus filhos a viver e se portar bem porque os “vizinhos podem ver”, o “padre ficará bravo”, a “polícia vai te pegar”.
Mais comum ainda é abusar da velocidade, ou cometer infração de qualquer forma de lei quando a autoridade responsável não está nos vigiando. Este tipo de comportamento não pode ser entendido como atitude moral, posto que seja realizada por medo e sob pressão. Há um provérbio popular que diz mais ou menos assim: “Os bons meninos vão para o céu e os maus...” Todas estas formas de pautar a vida é um modo errôneo de compreender o significado das palavras moral e ética. A pessoa age mais por medo do que por convicção.
Uma primeira condição para o comportamento moral é a questão da autonomia, à qual não pode ser confundida como individualismo, no sentido que a pessoa age como se os seus atos digam respeito exclusivamente a si próprio. Autonomia está muito além de fechar-se em si mesmo. Nenhum ser humano é uma ilha, as pessoas vivem num mundo de relações e de inter-subjetividade.
Dito isto fica fácil compreender moral como uma via de mão dupla na qual será preciso ter presente o que é bom para si e o compromisso com o outro. Este outro não necessariamente é uma pessoa. Considerando esta ótica quebramos uma barreira significativa no conceito de moral, indo muito além da compreensão de subjugação e constrangimento.
Podemos concluir esta introdução dando um conceito para o vocábulo:
“A moral responde à pergunta: o que devo fazer? É o conjunto dos meus deveres os quais reconheço como legítimos. É a lei que me imponho independente do olhar de terceiros ou de qualquer recompensa ou reprimenda”.
É mais ou menos sob está ótica que Santo Agostinho explica Deus e a sua morada. “Aquele que não é contido em nenhum lugar tem por morada a consciência dos justos”. Ou no dizer de Santo Tomás: “A consciência é a norma última do pecado”. Em resumo moral responde à pergunta: Qual a minha responsabilidade diante da vida? E não o que os outros devem fazer?
Parece ser sob esta ótica que Manfredo começa falando sobre a ética: “Não se trata de um código de deveres, em um fardo pesado que torne a vida diminuída, sem gosto, sem qualidade” (OLIVEIRA 2001, P. 5). Toda a reflexão que o aturo desenvolve no primeiro capítulo tem pó finalidade mostrar que o ser humano tem e pode transcender a simples temática do pode não pode, permitido proibido.
Neste sentido a ética se configura numa reflexão crítica que supera os casuísmos e o que com ela se quer é estabelecer critérios para a dignidade da vida humana que tem como valor fundamental a liberdade segundo o conceito que já mencionamos acima.

domingo, 14 de março de 2010

COMENTÁRIOS E OBSERVAÇÕES

COMENTÁRIOS E OBSERVAÇÕES AO TEXTO :
O PROFESSOR NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA:
UM TRABALHADOR DA CONTRADIÇÃO


Bernard Charlot
Revista da FAEEBA – Educação e Contemporaneidade,
Salvador, v. 17, n. 30, p. 17-31, jul./dez. 2008 17


No texto em questão o autor argumenta sobre a necessidade de definir a missão do professor e da escola em meio às contradições. Para isso ele começa desmistificando o que chamamos de contradições da escola e da profissão e ajudando a perceber que estas são contradições da sociedade como um todo e que por consequência a escola não estaria imune delas, posto que aí esteja inserida.

Fica bastante clara na posição do autor que os “problemas” na escola não podem ser tratados apenas sob o ponto de vista do pedagógico. Esta afirmação fazemos questão de transcrevê-la textualmente: “As contradições relativas à escola são contradições sociais a respeito da escola e não contradições dentro da escola”.

E a partir desta convicção ele faz uma longa fundamentação sobre o papel social da escola e vice versa e conclui dizendo que esta interação contraditória é responsável pela desestabilização da função do docente.

No contexto da globalização aparece também no âmbito escolar e em alta escala a questão da eficácia, do resultado e da autonomia. Esta última é bastante mais ampla do que em outras épocas, mas por outro lado trouxe consigo a responsabilidade pelo sucesso ou pelo fracasso.

O mundo globalizado “quebrou as imagens” e também a do professor que agora já não é mais uma referência para os alunos que muitas vezes nem o incluem entre as fontes para obter informações sobre o mundo.

A sociedade de contradições torna o professor um indivíduo também contraditório. Por mais que ele sonhe com uma nova forma de se relacionar com os educandos continua repetindo práticas e conceitos já desacreditados e altamente questionados. Entre os exemplos pode ser citada a prática de atribuir nota como critério último para o processo avaliativo.

É verdade também que a missão de educar tem uma projeção simbólica e é sobre esta imagem que são projetadas todas as contradições sociais na maioria das vezes como se fossem restritas ao mundo da escola e da educação.

Ao longo da história não faltam ficções e até algumas situações reais de escolas ideais. Há as que são narradas a partir da realidade e delas temos livros, filmes portfólios e assim por diante. Há as que são produzidas a partir da ficção de autores e que tomo a liberdade de mencionar como a que vimos no filme “Sociedade dos poetas mortos” da década de 1990; ou Escritores da liberdade de 2007. Nesta última professor e aluno são considerados impossíveis e estabelecem um processo de transformação que se dá por meio da busca de algo que modifique suas vidas. Comentanto este filme Hannah Arendt, “aponta duas causas que podem ter relação profunda com a crise da educação em nossa época: a incapacidade de a escola levar os alunos para pensar e a perda da autoridade dos pais e professores”.

A partir destas narrativas parece ser possível ir além do que aponta Charlot, isto é, o professor não pode ser colocado nem na posição de vítima muito menos de herói. Retomo para isso as palavras de Hannah Arendt : “Uma educação que não exercita o ato de pensar, com todos os seus riscos, além da própria ausência de pensamento, tem como efeito o não comprometimento, o não tomar decisões, ou não se responsabilizar por elas. “A tarefa fundamental do pensar é descongelar as definições que vão sendo produzidas, inclusive pelo conhecimento e pela compreensão e que vão sendo cristalizados na história". A tarefa do pensar é abrir o que os conceitos sintetizam, é permitir que aquilo que ficou preso nos limites da sua própria definição seja liberado. É livrar o sentido e o significado dos acontecimentos e das coisas da camisa-de-força dos conceitos” (CRITELLI, 2006, p. 80).

A nosso ver a afirmação de Hannah Arendt supera o que chamamos de “caça as bruxas” ou de quem é a culpa. Aberta esta consciência será possível compreender que o professor é aquele que aceita a dinâmica da sociedade e a incorpora no seu mundo. Neste contexto “negocia, gere a contradição, não desiste de ensinar e, apesar de tudo, mas nem sempre, consegue formar os seus alunos”.

Com certeza essa compreensão haverá de superar as dicotomias entre o que se costuma chamar de tradicional ou construtivista. Superada essa contradição ficará muito mais fácil fugir ao simplismo da busca de culpados ou da taxação de responsabilidades. Neste novo conceito professores e alunos, ora de mãos dadas ora por caminhos distintos compreenderão que “ensinar é ao mesmo tempo mobilizar a atividade dos alunos para que construam saberes” muitos deles apenas reescritos a partir do legado das gerações.

As contradições da sociedade na qual a escola está inserida parece ser bastante reproduzida no interior da escola na medida em que todos os envolvidos no processo “interiorizam a notação como função central do ensino”.

Sob esta ótica não se pode fugir da realidade das escolas cuja missão é universalista, mas que trabalha com indivíduos na sua particularidade. Isto significa dizer que a função universal da escola não é precisamente ensinar, mas facilitar que os alunos aprendam. Por conta da universalidade da escola não se pode imaginar que esta seja uma instituição sem regras ou normas, mas acima de tudo há que se compreendê-la como lugar no qual é facilitado ao ser humano tornar-se membro de uma sociedade e de uma cultura na condição de sujeito singular e insubstituível.

Com certeza sob esta ótica será possível fugir do que chamamos de dicotomia simplista, isso é, de quem é a culpa, ou qual a imagem do professor. Parece certo que se trata de um trabalhador da contradição. Ele vive entre a função de facilitar ao aprendente ir ao encontro da universalidade que permita compreender a vida e garantir a aprovação nas barreiras imediatas que a sociedade impõe como limites de crescimento.

Com toda a carga ideológica que a sentença pode ter, gosto muito do texto:

“Professor(a)!
Trago-te um recado de muitas pessoas.
Houve gente que praticou uma boa ação e manda-te dizer
que foi porque teu exemplo convenceu.
Houve alguém que venceu na vida e manda-te dizer
que foi porque tuas lições permaneceram.
E houve mais alguém que superou a dor e manda-te dizer
que foi a lembrança da tua coragem que o ajudou.
Por isso que és importante. O teu trabalho é o mais nobre.
De ti nasce a razão e progresso, a união e harmonia de um povo.
E agora... Sorri!!!
Esquece o cansaço e a preocupação porque há muita gente
pedindo a Deus para que sejas muito feliz.” (Autor desconhecido).

sábado, 13 de março de 2010

HOMILIA PARA O DIA 14 DE MARÇO 2010

QUARTO DOMINGO DA QUARESMA

Leituras: Josué 5,9a.10-12; Salmo 33(34, 2-3.4-5.6-7;
2Coríntios 5,17-21; Lucas 15, 1-3. 11-32.


A reunião de cada domingo para nós Cristãos é uma renovação da presença de Deus em nossa vida. Viemos para celebrar na convicção que este encontro nos aproxima do Pai de toda a vida e nos faz participantes da sua alegria.
As leituras deste domingo revelam o rosto de Deus que se congratula com as vitórias humanas. Assim na primeira leitura vemos o povo celebrando a presença salvadora de Deus com um banquete já conhecido como páscoa. A festa, nesta leitura, recorda a ação de Deus ajudando-os na saída da escravidão e na entrada da terra prometida.
São Paulo na segunda leitura conclama a todos para a festa e o faz com as palavras: Deixem-se reconciliar com Deus e diz mais, isto lhes peço em nome de Cristo. Estas duas situações de alegria nos levaram a cantar no salmo: Provem e vejam como é bom o Senhor!
Com tudo isso nossa reunião não seria plenamente cristã se não fosse um encontro festivo e ainda muito mais pela proximidade da páscoa. O caráter jubiloso da celebração dominical está plenamente relatado na parábola do Evangelho. A pessoa de Jesus, cuja vida, missão e tarefa foi essencialmente mostrar quem é Deus e como ele age, hoje mostra mais uma vez a sua face misericordiosa.
Sendo criticado por aqueles que se consideram perfeitos e melhores que os demais Jesus cria o episódio que conhecemos como o Filho Pródigo, o que certamente pode ser melhor nominado como a História do Pai Misericordioso.
Coloquemo-nos na condição do Pai que reparte tudo o que tem e vê seu filho desperdiçar todo o suor e todo esforço. Senta-se a espera que algum dia isso poderá ser revertido. O Sonho do Pai enfim se concretiza: Eis que o Filho volta e vem arrependido e disposto a uma vida nova.
A festa acontece com tudo o que um reencontro pode permitir, esbarra apenas na prepotência do filho mais velho que se julga melhor e mais perfeito. Apesar de tudo o pai não se deixa convencer pela intransigência e lhe mostra como o perdão e a acolhida é fundamental. Esta figura de linguagem Jesus utiliza para ajudar aos doutores da lei compreender quem é Deus e como ele age.
Neste quarto domingo da quaresma estas leituras são, também para nós, um convite a reconhecer o rosto bondoso do Pai que nos ama e a nos perguntar: Com qual dos dois filhos nos assemelhamos? Somos capazes da atitude do que se arrepende e busca a misericórdia ou nos parecemos mais com o que se julga bom e perfeito e até incapazes de perdoar.
Ainda é tempo, aproveitemos o tempo da quaresma para nos prepararmos para a festa do perdão, para a vida nova da páscoa.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

TEXTOS PARA A ESCOLA DIACONAL IV

RITO E RITUALIDADE


Frei José Ariovaldo da Silva

‘Tudo mudou. Tudo está mudando. E muita gente, no meio do impacto de mudanças muito rápidas, hoje se questiona sobre as nossas celebrações litúrgicas. Há inquietações no ar. Parece que está faltando alguma coisa. Tem algum vazio em nossas celebrações não dizem nada. São muito frias. Numa palavra não tocam. Nossas liturgias tem muita falação e muito pouco de celebração. Muitas palavras que enchem os ouvidos e a cabeça e pouca ação que toque o coração. E quando tem ação é mal feita, artificial, ou realizada com desleixo. Sem contar com objetos litúrgicos mal usados, posturas desajeitadas e até inconvenientes. Em muitas comunidades ainda usam folhetos para proclamar a Palavra de Deus. Em minhas andanças por esse Brasil afora, já vi ministros, também ordenados, levarem a âmbula com o Santíssimo de qualquer jeito durante a celebração, como se estivessem carregando qualquer coisa. E também de qualquer jeito dão a comunhão. Já vi padre rezando as orações como uma máquina de debulhar milho, e rezando mais para o missal do que para Deus. Já vi padre, todo paramentado, sentado de pernas cruzadas durante a celebração. Já vi o altar entulhado de flores como se fosse um balcão... Já vi músicos tocando e cantando como se fosse um show...Na verdade não tomamos consciência que a liturgia tem uma linguagem simbólica. Tudo deve expressar a presença deDeus’

TEXTOS PARA A ESCOLA DIACONAL III

OLHA O MICROFONE AÍ, GENTE!

Pe. Carlos Gustavo Haas


Fizeram-me a pergunta: “para entoar e sustentar os cantos na liturgia, os cantores devem usar microfone?” A resposta parecia óbvia, mas comecei a observar as equipes de músicos e cantores que animam nossas celebrações, para responder melhor.
Não quero generalizar, mas, em muitos lugares, se está confundindo grupo de animação do canto litúrgico com banda para animação de shows. Sem se dar conta, o grupo adota uma prática que se afasta da verdadeira função do canto litúrgico e prejudica a participação da assembléia.
Trata-se do costume de cada cantor ter um microfone (já vi igrejas com 10 microfones para o grupo de cantos – e não era uma igreja grande, não!). O problema não está no número de microfones, mas no fato de as pessoas permanecerem usando os microfones, enquanto a assembléia também canta. Assim o canto do povo de Deus é completamente abafado.
Este é o verdadeiro problema. Um instrumento técnico, o microfone, deve servir para animar a assembléia e não para abafar, esconder, suprimir as vozes do povo santo que se reúne para cantar as maravilhas do Senhor.
Então não devemos mais usar o microfone? – alguém pergunta. É óbvio que, na maioria de nossas igrejas, precisamos de microfones. Mas o grupo de cantores deve usar este instrumento APENAS para iniciar o canto. Para tanto, não bastaria 1 ou 2 microfones?
Se o grupo dispõe de cantores bem preparados, pode fazer um ou outro canto “a vozes”, precisando então de algum microfone a mais. Isto, porém, não abafaria o canto da assembléia. Depois que o povo começa a cantar, o cantor se afasta do microfone, deixando que apareça claramente a voz da assembléia. O que deve ser ouvido é o canto da assembléia litúrgica, povo sacerdotal, família de Deus, Corpo de Cristo, e não a voz de 1, 2 ou 5 pessoas apenas.
O mesmo vale para os instrumentos musicais, alguns com imensas e potentes caixas de som. Para quê? Se for para animar uma missa ao ar livre, num estádio, tudo bem. Mas JAMAIS numa capela pequena ou média, que não necessita de muita ampliação de som.
Infelizmente, o que muitas vezes se constata é um barulho (ruído) excessivo que perturba e tira a calma e a serenidade indispensáveis para que a assembléia possa ouvir a própria voz e tenha momentos de silêncio que favoreçam a escuta da Palavra e o louvor que brota de nosso coração agradecido. Depois, façam a experiência: como é bonito o som de um violão sem amplificação! O ideal seria mais violões e menos amplificadores.
Nossa reflexão não quer, de forma alguma, desconsiderar a boa vontade, o empenho e a solicitude de tantos e tantos animadores de cantos, músicos e instrumentistas de nossas comunidades. Eles são uma bênção para as nossas comunidades. O que queremos é alertar para certos exageros e apontar para a função específica deste ministério: “garantir a devida execução das partes que lhe são próprias, conforme os vários gêneros de canto, e auxiliar a ativa participação dos fiéis no canto” (Instrução Geral sobre o Missal Romano, n. 103).
Como subsídio de formação, vejam o DVD produzido por Verbo Filmes, Paulus e Rede Celebra, com o apoio da CNBB, intitulado: CANTO E MÚSICA NA LITURGIA.

Perguntas para os grupos:
1. Como avaliamos a presença e a atuação dos animadores de cantos, músicos e instrumentistas de nossa comunidade?
2. A sua atuação ajuda a comunidade a celebrar bem o mistério pascal?
3. Quais as dificuldades que encontramos?
4. Como podemos ajudá-los a bem exercer seu ministério?
5. Por que os cantores e instrumentistas não devem abafar a voz da assembléia?

TEXTOS PARA A ESCOLA DIACONAL 2010 II

CELEBRAR É UMA ARTE...


A dignidade da celebração transparece também na forma como se realiza a presidência, por isso, com gestos e palavras a equipe que preside deve deixar transparecer a presença do ressuscitado.
O presidente deve estar atento de não se fazer o centro da celebração, desviando a atenção daquele que verdadeiramente é o celebrado. Em outras palavras, na presidência não há lugar para vedetismo. Uma celebração que, ao contrário de levar os fiéis ao encontro com o Senhor, atrai a atenção dos fiéis sobre aquele que preside ou outra pessoa da equipe, é uma celebração jogada fora, e deixam de ser sinal do Cristo ressuscitado.

Como cabeça, a equipe não está acima da Assembléia, mas é guia e estímulo da comunidade orante, e sinal de Cristo cabeça da Igreja. A celebração litúrgica é graça e arte: graça porque é o espírito do ressuscitado que reúne os filhos dispersos para formar uma comunidade celebrante; arte porque a celebração é uma ação ritual e simbólica; que para ser eficaz deve respeitar as regras da comunicação.

A equipe de presidência deve agir com graça e arte. A instrução geral do Missal Romano, no número 60, pede “ dignidade no presidir”.Tal exigência se pode traduzir como: decoro das pessoas e do comportamento, gestos apropriados, flexibilidade da voz, olhar expressivo, capacidade de atacamento, senso de ritmo, gosto do belo. Em uma palavra: as melhores qualidades naturais de uma pessoa devem ser colocadas a serviço da graça.

1. Quando presidir?
A presidência se exercita já antes do início de uma celebração, uma vez que ela não é improvisada, mas preparada em todos os seus particulares, de forma que tudo aconteça de maneira ordenada, respeitando o ritmo celebrativo.

Romano Guardini escreve: “O verdadeiro estilo celebrativo, também nas suas formas mais exatas, conserva a força sugestiva de uma expressão madura. O mero celebralismo, o ‘nu’ esquema não possui afeto. Estilo, portanto, é discurso claro, movimento comedido, disposição adequada do espaço, dos objetos, das cores e do som”.

Se o presidente ou algum outro membro se deixar levar pela mania da pressa ou da paciência, reduz a celebração a um puro ritualismo e formalismo. Santo Afonso, chamava a pressa de “praga mortal da oração”.
Uma verdadeira presidência deve ter:
- senso vivo de fé;
- disponibilidade e atenção que faz perceber o diálogo entre o céu e a terra;
- interventos discretos e oportunos capazes de sustentar o ritmo celebrativo.

Mesmo depois da celebração se exercita a presidência, com a realização de uma avaliação humilde. É preciso deixar claro que a principal finalidade do ministério da presidência não é o epicentrismo, mas a glória de Deus e santificação do povo.

A equipe é um instrumento do Espírito Santo, por isso mesmo, tem o dever de tornar vivo o texto das orações presidenciais, para tanto deve fazer também uma preparação próxima da celebração. A presidência deve ser exercida de corpo e alma, carregando os gestos e palavras de interioridade.

Quem preside exerce um ministério dinâmico e deve ter presente que a Igreja não é um museu, mas uma comunidade viva, esposa e corpo de Cristo. Por isso, especialmente no momento da celebração, não pode limitar-se a fazer gestos, repetir fórmulas e palavras distraidamente e aprendidas de qualquer jeito.

É necessário dar unidade e harmonia a toda a celebração, sem cair no explicacionismo, por isso é importante pôr-se na escuta da palavra de Deus. Uma das mais belas partes da celebração é a homilia, esta revela a personalidade, a fé, a carga humana, a preparação cultural, teológica e espiritual, a sensibilidade e a capacidade comunicativa. Daí é importante falar na primeira pessoa, isto é sinal de humildade e participação no grupo dos exortados; falar como ministro e não como professor. O Verbalismo é sufocante e provoca reação contrária a que se deseja.

A IGMR, no número 39 recomenda: “É necessário que aquele que preside conheça com perfeição a estrutura do ritual, para estar em condições de suscitar frutos no coração dos fiéis”. E Santo Agostinho dizia: “falemos não como professores, mas como ministros. De fato um só é nosso mestre; sua escola é na terra e sua cadeira é no céu”.

Certamente, por ser a homilia uma das mais belas partes da celebração, deve se falar menos ali e mais com os outros elementos da celebração: silêncio apropriado, gestos calmos, recitação substanciosa dos textos, espírito orante.

Em síntese: Cada sinal celebrativo deve conduzir para além do rito e introduzir no mistério e assim sendo quem preside deve dar vida a celebração do contrário a liturgia será como “pólvora molhada”. (Cf. L’Arte de Presidere – Antônio Sorrentino – San Paolo, Milano, 1997).

Textos para a Escola Diaconal 2010

1 – ASSEMBLEIA CELEBRANTE


18 Por esse motivo, no próprio dia de Pentecostes, no qual a Igreja se manifestou ao mundo, “os que receberam a palavra” de Pedro “foram batizados”. E “perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comum fração do pão e na oração… louvando a Deus e sendo bem vistos por todo o povo” (At 2,41-47). Desde então, a Igreja jamais deixou de reunir-se para celebrar o mistério pascal: lendo “tudo quanto nas Escrituras a ele se referia” (Lc 24,27), celebrando a eucaristia na qual “se representa a vitória e o triunfo de sua morte”19 e, ao mesmo tempo, dando graças “a Deus pelo seu dom inefável” (2Cor 9,15) em Cristo Jesus, “para louvor de sua glória” (Ef 1,12) por virtude do Espírito Santo.


1.1 Reunião do povo de Deus

A assembleia litúrgica é um grupo humano que se reúne em vista de uma atividade religiosa. Por isso mesmo é importante que seus membros sintam-se reconhecidos e aceitos como membros da comunidade.

Reunir-se em assembleia não é um privilégio dos cristãos. No Antigo Testamento podemos encontrar diversas situações nas quais os líderes do povo organizaram distintas assembleias com finalidade litúrgica. Citamos apenas um dos diversos textos: “Reúna esse povo na minha presença para que escutem o que vou dizer, a fim de que aprendam a temer-me a vida inteira e ensinem os seus filhos”(Dt. 4,10). Mas podemos fazer outras referências Josué 24 – Assembleia de Siquem; Jeremias 31,33; Oséias 2, 25; Ezequiel 34,11; Exôdo 19,24; Neemias 8,9.

No Novo Testamento a Imagem da assembleia coincide com a reunião dos irmãos vindos das diversas partes, da sua dispersão missionária, da sua presença no meio do mundo. Algumas citações estão em João 7,35; 11,52; (motivo da morte de Jesus). Tiago 1,1 (saudação ao povo espalhado). 1Pedro 1,1 (saudação aos dispersos). Logo no inicio da Igreja encontramos o texto de São Justino: "Nós depois de ter batizado aquele que tem fé e se incorporou a nós, o levamos aos chamados irmãos onde estão reunidos. Fazemos orações comuns por nós mesmos, pelo que foi iluminado e por todos os outros que há por toda a parte, para que sejamos dignos de ser chamados perfeitos conhecedores da verdade pelas boas obras, cidadãos e cumpridores dos mandamentos, de sorte que consigamos a salvação eterna. Acabadas as preces, saudamo-nos com o ósculo. Em seguida se apresenta ao que preside sobre os irmãos pão e um cálice de água e vinho misturados. Ao receber estes dons, eleva ao Pai de todas as coisas louvor e glória pelo nome do Filho e do Espírito Santo e faz uma grande ação de graças, porque por ele fomos feitos dignos destas coisas. Tendo ele terminado as orações e a ação de graças, todo o povo presente aclama dizendo: amém. Amém significa, em hebraico, assim seja. Quando o presidente deu graças e todo o povo aclamou, os que entre nós se chamam diáconos dão aça um dos presentes participar do pão e do vinho e da água eucaristizados, que também levam aos ausentes. Os ricos que querem, cada um segundo a sua vontade , dão o que lhes parece, e o que se arrecada é colocado a disposição do que preside e ele socorre os órfãos e as viúvas e os que por enfermidade ou qualquer outra causa se encontram abandonados, e os encarcerados e os peregrinos: numa palavra, ele cuida dos que padecem necessidades. E celebramos esta reunião no dia chamado do sol, por ser o primeiro dia, em que Deus, transformando as trevas e a matéria, fez o mundo, e também o dia em que Jesus Cristo, nosso Salvador ressuscitou dentre os mortos" (Cf. cap. 65 e 67).

Desde muito cedo a reunião dos irmãos recebeu o nome de ekklesía, conforme lemos em Lumen gentium 26: “O bispo, revestido da plenitude do sacramento da ordem, é o administrador da graça do sumo sacerdócio,48 especialmente na eucaristia que ele mesmo oferece ou manda oferecer,49 e pela qual a Igreja vive e cresce continuamente. Esta Igreja de Cristo está verdadeiramente presente em todas as legítimas assembléias locais de fiéis, que, unidas aos seus pastores, recebem, elas também, no Novo Testamento, o nome de igrejas”.

Essa convocação tem, como outrora, sua origem em Deus, ele quem tomou a iniciativa de escolher um povo para fazê-lo sua propriedade e neste povo reunir todos os povos da terra, fato que veio se concretizar na pessoa do Filho.

A primeira verdade a ser admitida por nossas assembleias consiste em compreender que sua concretização se dá na pregação do Evangelho. A Igreja se solidifica e se torna santa na proclamaçaõ da Palavra, conforme lemos na Introdução ao lecionário: “A igreja cresce e se constroi ao escutar a Palavra de Deus...Deus, por sua vez, vale-se da comunidade dos fiéis que celebra a liturgia, para que sua palavra se propague e seja conehcida, e seu nome seha louvado por todas as nações”(OLM 7).

De São João Crisóstomo temos a seguinte visão da assembleia: “Embora a cinquentena tenha terminado, a festa não terminou. Toda assembleia é uma festa. Provam-na as palavras de Cristo que dizem: onde dois ou tres estiverem reunidos eu estou alí no meio deles. Temos a maior prova de que se trata de uma festa nessa presença de Cristo em meio a seus fiéis reunidos.”(Sermón quinto sobre Ana I).

A Sacrossanto Concilio número 7 define a reunião dos irmãos como sinal da Igreja, e o faz com as seguintes palavras: “Realmente, nesta grandiosa obra, pela qual Deus é perfeitamente glorificado e os homens são santificados, Cristo sempre associa a si a Igreja, sua amadíssima esposa, que invoca seu Senhor, e por ele presta culto ao eterno Pai.”

Deste modo também se compreende a assembleia reunida para a liturgia das horas: “84. O ofício divino, segundo a antiga tradição cristã, destina-se a consagrar, pelo louvor a Deus, o curso diurno e noturno do tempo. E quando são os sacerdotes que cantam esse admirável cântico de louvor, ou outros para tal deputados pela Igreja, ou os fiéis quando rezam juntamente com o sacerdote segundo as formas aprovadas, então é verdadeiramente a voz da esposa que fala com o esposo ou, melhor, é a oração que Cristo unido ao seu corpo eleva ao Pai.”

Deste modo mais facilmente podemos compreender a celebração litúrgica como obra de Cristo total de cuja assembleia Ele é a cabeça. Assim nos texto patrísticos não faltam admoestações que visam garantir a realização das reuniões: “Quando ensinares, exortarás o povo a ser fiel à assembleia da Igreja. Que não falte, mas, muito pelo contrário, que seja fiel a reunir-se em assembleia. Que ninguem diominua a Igreja por não assistir a ela e que, assim, não diminua e um membro o Corpo de Cristo” (Didascália 13).
Mais uma vez fica claro que a assembleia liturgia se realiza na condição de comunidade com caráter sacerdotal por conta da sua condição de esposa do cordeiro, sua visibilização e realização se dá na comunidade dos batizados. Conforme lemos em Lumen Gentium 10 “Cristo Senhor, Pontífice tomado de entre os homens (cf. Hb 5,1-5), fez do novo povo “um reino de sacerdotes para Deus, seu Pai” (cf. Ap 1,6; cf. 5,9-10). Com efeito, pela regeneração e unção do Espírito Santo, os batizados são consagrados para serem edifício espiritual e sacerdócio santo, a fim de, por todas as obras do cristão, oferecerem sacrifícios espirituais e proclamarem as grandezas daquele que das trevas os chamou para a sua luz maravilhosa (cf. 1Pd 2,4-10). Assim, todos os discípulos de Cristo, perseverando juntos na oração e no louvor de Deus (cf. At 2,42-47), ofereçam-se a si mesmos como hóstia viva, santa, agradável a Deus (cf. Rm 12,1); dêem testemunho de Cristo em toda a parte; e, àqueles que por isso se interessarem, falem da esperança, que está neles, da vida eterna (cf. 1Pd 3,15).”

Estas assembleias são dirigidas por aqueles, por meio de quem Cristo desejou ser representado como cabeça e santificador: “O mesmo Senhor, porém, para que os fiéis formassem um só corpo, no qual “nem todos os membros têm a mesma função” (Rm 12,4), constituiu, entre eles, alguns ministros que, na sociedade dos fiéis, possuíssem o sagrado poder de Ordem para oferecer o sacrifício e perdoar os pecados,6 e desempenhassem publicamente o ofício sacerdotal em nome de Cristo a favor dos homens. E assim, enviando os apóstolos, assim como ele tinha sido enviado pelo Pai,7 Cristo, mediante os mesmos apóstolos, tornou participantes da sua consagração e missão os sucessores deles, os bispos8 cujo múnus de ministério, em grau subordinado, foi confiado aos sacerdotes,9 para que, constituídos na Ordem do presbiterato, fossem cooperadores da Ordem do Episcopado10 para o desempenho perfeito da missão apostólica confiada por Cristo”(Presbyterorum Ordinis 2).

O fato de ser representado pelos ministros ordenados em nada diminui sua presença ou valor da assembleia cujo sacerdócio comum se faz necessário para realizar o culto verdadeiro como vemos na Presbyterorum Ordinis 5: “Nela, os pastores e os fiéis são convidados a corresponderem generosamente ao dom daquele que pela sua humanidade continuamente infunde a vida divina nos membros do seu corpo.19 Procurem os presbíteros cultivar retamente a ciência e a arte litúrgica, para que, no seu ministério litúrgico, Deus, Pai e Filho e o Espírito Santo, seja louvado cada vez mais perfeitamente pelas comunidades a eles confiadas.”

A Igreja é um mistério de graça cuja realidade aparece nas reuniões locais como diz a Sacrossanto Concilio 41: “Por isso, todos devem dar a maior importância à vida litúrgica da diocese que gravita em torno do bispo, sobretudo na igreja catedral: convencidos de que a principal manifestação da Igreja se faz numa participação perfeita e ativa de todo o povo santo de Deus na mesma celebração litúrgica, especialmente na mesma eucaristia, numa única oração, num só altar a que preside o bispo rodeado pelo seu presbitério e pelos seus ministros.”

A reunião dos fiéis em nome do Senhor, num determinado lugar é um fato público que realiza a Igreja na história. É um sinal sagrado, uma manifestação da sacramentalidade da Igreja. As assembleias cristãs, desde o seu início desempenham um papel decisivo na experiência pascal que se concretiza no reconhecimento do Cristo ressuscitado. (Cf. Lucas 24 e João 20). Progressivamente estas reuniões foram ganhando o rosto de cada lugar. Assim vemos os capítulos 1 a 6 dos Atos dos apóstoloas a configuração da assembleia de Jerusalém. Ainda podemos ver as reuniões de Antioquia, Trôade e Corinto. (Cf. Atos 13, 1 -3; 20, 7 -11; 1Conríntios 11,14). É verdade também que a comunidade cristã é muito mais ampla do que a assembleia litrugica e isto se percebe nas distintas formas de reunião em uma mesma região.

1.2 Características das assembleias

Por sua vez as assembléias litúrgicas são presença do Senhor Ressuscitado como lemos em Mateus 18, 20 cuja virtude se pode ver na condição de santa, católica e apostólica conforme descreve a Lumen Gentium 26. Como resposta a essa presença a comunidade professa a sua fé cujo resultado também faz crescer a fé. Ela é reconhecida como católica por sua virtude de abertura as demais comunidades e nunca é uma reinvenção, ou algo que começa do zero. Nossas assembleias tem um passado e estão abertas ao futuro.

Outra característica é o seu caráter festivo coforme lemos em Atos 2,46. E que São João Crisóstomo expressa com as seguintes palavras: “Toda assembleia é uma festa. Qual a prova? As próprias palavras de Jesus Cristo: onde dois ou tres estiverem reunidos em meu nome, aí estarei eu no meio deles. Que maior prova quereis vos para acreditar que a assembleia é uma festa?”(Homilia sobre pentecostes).

Nem por isso ela esta imune às preocupações e tensões próprias do seu caráter específico mas é uma comunidade que supera tensões entre indivíduos e grupos, entre subjetivo e objetivo, entre particular e o que é patrimônio comum, entre o que é local e o que é universal. Ela é um centro de polarização de meios de comunicação e de sentimentos por mais contrastantes que possa parecer.

Reunida num determinado lugar e tempo é composta por um número de pessoas é também santa e pecadora razão porque nunca é dispensável uma atitude penitêncial. Faz a experiência da unidade na pluralidade conforme se lê em Galátas 3,28 não há distinção e menos ainda pode haver preferência conforme recomenda Tiago 2, 1-4. Isto não significa que pessoa não seja diferente e viva suas particularidades.

Nossas assembleias são carismáticas e hierárquicas esta última condição como serviço de caridade. (Cf. 1Coríntios 12, 4 -11; Efésios 4, 11-16). Isto significa dizer que a assembleia é conjugação de distintos ministérios e serviços cuja finalidade é o seu fortalecimento e animação os quais não são privilégios, dignidades, mas compromisso.

Por fim são assembleias missionárias: “É da própria liturgia que surge a missão. Convergem para a assembléia todos os que ouviram o chamado de Cristo. Da assembléia partem todos os que nela receberam a missão de anunciar as maravilhas de Deus. A ação missionária que não se integra à Igreja é estéril, e a assembleia que não se abre ao envio missionário é moribunda e carente de autenticidae”


1.3 – A participação litúrgica

A assembleia é o sujeito e com Cristo seu ato principal celebra ao Pai pelo Filho no Espírito Santo. Este conceito deixa mais do que claro o que o Concílio quis ao qualificar a ação litúrgica como consciente, ativa e frutuosa.

Por participação liturgia a Sacrossanto Concilio entende como a reta disposição que sintoniza corpo e alma, isto é, o indivíduo na sua totalidade, para não receber em vão a graça divina que a liturgia oferece.

Precisa ficar claro que participação ativa não consiste em todos fazer tudo. O número 28 da SC é muito expressivo neste sentido: “28. Nas celebrações litúrgicas, seja quem for, ministro ou fiel, exercendo o seu ofício, faça tudo e só aquilo que pela natureza da coisa ou pelas normas litúrgicas lhe compete.”

Todas as funções e responsabilidades exigem sincera piedade e ordem adequada, uma exigência que mais do que legal é necessidade do próprio povo de Deus reunido em nome do Senhor. Que a celebração envolve o ser todo e todo o ser a SC 11 também deixa muuito claro: “11. Para chegar a essa eficácia plena, é necessário que os fiéis se acerquem da sagrada liturgia com disposições de reta intenção, adaptem a mente às palavras, e cooperem com a graça divina para não recebê-la em vão.28 Por isso, é dever dos sagrados pastores vigiar para que, na ação litúrgica, não só se observem as leis para a válida e lícita celebração, mas que os fiéis participem dela conscientemente, ativa e frutuosamente.”

De algum modo se pode dizer que toda a assembleia e celebrante e ministerial na medida em que cada um atua de acordo com a sua função sempre na unidade do Espírito Santo. Obviamente que para isto acontecer será imprescindível uma boa formação litúrgica.

A participação não é um acessório que pode ser dispensado ou modificado ao gosto de cada assembleia, mas são intervenções do povo de Deus, de acordo com a sua condição que faz fa liturgia fonte e ápice de toda a vida da Igreja.(Cf. SC 10).

Os distintos ministérios ou serviços na assembleia precisam se compreender como estando a serviço uns dos outros, eles são um sinal da ação do Senhor que deles se serve para santificar a todos. Organizar equipes e distribuir srviços não é uma simples estratégia para funcionar bem, mas um fator essencial de comunhão e sinal de eclesialidade.