domingo, 25 de julho de 2010

HOMILIA PARA O DIA 25 DE JULHO 2010

17° DOMINGO DO TEMPO COMUM



Leituras: Gênesis 18, 20-32; Salmo 137(138);
Colossenses 2, 12-14; Lucas 11,1-13

Certamente já experimentamos a sensação de estabelecer um diálogo com uma pessoa que está hierarquicamente superior a nós na escala profissional ou social e porque não também familiar. Começar uma conversa com o diretor, supervisor, superior imediato, com o Pai ou a mãe, em muitas ocasiões é sempre um desafio e está cercado de diversos mitos e muitas vezes medos. Em todas estas situações é necessário medir bem as palavras que se pretende usar e obviamente calcular os efeitos de cada uma delas.
Pois é isto o que acabamos de ouvir nas leituras deste domingo. Abrãao precisou intervir em favor do povo que não correspondeu à aliança que havia estabelecido com Deus. Embora ele saiba que Deus é justo e misericordioso ele também reconhece que Deus abomina o ímpio e o pecador. No final do diálogo, bem sucedido, o patriarca alcança aquilo que esperava: Deus perdoa a todos por conta dos poucos que lhe foram fiéis. Uma vez mais ele se revela exatamente aquilo que é: Compassivo e cheio de misericórdia.
Já São Paulo na carta aos Colossenses, faz um pedido firme e corajoso: Se Deus perdoou as nossas faltas porque não somos capazes de viver conforme esta graça?
E na narrativa de Lucas o Pai nosso é ensinado no contexto do reconhecimento de quem é Deus e do que ele é capaz de fazer em favor dos que a ele recorrem com confiança. Na medida em que o ser humano reconhece os atributos divinos o coração de Deus se compara ao amigo que atende aquele que bate a qualquer dia e qualquer hora. O ensinamento se conclui com a expressão: Deus sabe dar coisas boas àqueles que lhe pedirem. Isso certamente coloca Deus muito acima dos nossos interesses imediatos e mesquinhos. Nossos incessantes pedidos do tipo “barganha”, “negócio”, “toma lá da cá” do tipo Teologia da prosperidade, certamente não encontra espaço neste diálogo e nesta forma de reconhecer Deus e a sua misericórdia.
Em resumo parece que as leituras nos ensinam a fazer nossas orações numa estreita sintonia com a vida, com nossa prática cotidiana. Nossa oração não encontra fundamento fora da dimensão do fazer e do ser. Nossa oração é complemento de tudo o que somos e fazemos. Ou como diz um velho provérbio da Igreja A gente reza aquilo que acredita e acredita conforme aquilo que reza.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

HOMILIA PARA O DIA 18 DE JULHO 2010

HOMILIA PARA O DÉCIMO SEXTO DOMINGO COMUM



1ª Leitura - Gn 18,1-10ª; Salmo - Sl 14,2-3a.3cd-4ab.5 (R. 1a)
2 ª Leitura - Cl 1,24-28; Evangelho - Lc 10,38-42


“Falar é prata escutar é ouro”, diz um ditado popular muito usado lá em Santa Catarina. De fato quantas vezes já experimentamos isso em nossa vida. De diversos modos percebemos que o silêncio fala mais alto e cala mais profundo quase sempre trazendo melhores benefícios.
Pois é sobre a arte de escutar que tratam as leituras deste domingo. No texto do Antigo Testamento é Abraão quem escuta a voz de Deus e por meio de uma visita inusitada vê cumprida a promessa segundo a qual seria Pai de uma descendência numerosa. Acolhendo os peregrinos desconhecidos, ouvindo o que estes tem a dizer, eis que se realiza a maravilha da vida em sua esposa Sara.
Já na segunda leitura São Paulo, referindo-se aos que ouvem a Palavra de Deus, afirma: “A estes Deus quis manifestar como é rico e glorioso entre as nações este mistério: a presença de Cristo em vós, a esperança da glória”. Esta atitude os torna perfeitos em si mesmos e na união com Cristo.
Da nossa parte rezamos com o Salmista: Vai morar na casa de Deus quem é capaz de viver segundo a palavra que ouviu. Vai morar na casa de Deus aquele que não se mistura com a corrupção e toda forma de desrespeito para com a pessoa no cotidiano das relações humanas.
E finalmente na palavra do Evangelho Jesus conclui com um convite ao mesmo tempo em que uma chamada de atenção à Marta que se preocupa com tantas coisas menos em ouvir aquilo que interessa no momento oportuno: “Marta, Marta, tu te preocupas com tantas coisas, uma só é necessária. Maria Escolheu a melhor parte e esta não lhe será tirada”.
Esta celebração de ação de graças nos convida a fazer um balanço das nossas escutas e das nossas respostas. A quem e a que tipo de palavra costumamos dar ouvido e quiçá até colocar na prática cotidiana? Nossa preocupação está centrada em receber orientações seguras ou nos colocamos de modo atabalhoado num ativismo desenfreado como se o mundo fosse acabar amanhã e dependesse do nosso corre-corre cotidiano como se fôssemos os novos salvadores da pátria.
Que a palavra nos converta e nos faça mais e melhores ouvintes das boas noticias que o Senhor nos dá a cada dia e de muito modos.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

HOMILIA PARA O DIA 11 DE JULHO 2010

VAI VOCÊ E FAÇA A MESMA COISA...




Leituras: Deuteronômio 30,10-14; Salmo 68(69);
Colossenses 1,15-20; Lucas 10, 25-37.

Não é raro encontrar pessoas no semáforo fazendo malabarismo, crianças brincando de estátua nos cruzamentos movimentados da cidade, cadeirantes solicitando esmola no ponto de ônibus. E assim por diante! Nossa sensação é que somos impotentes para resolver tantas situações de humilhação e desrespeito da dignidade que vemos por todo o canto.
Por outro lado são muitas as iniciativas que visam promover e devolver a dignidade perdida a muitos irmãos e irmãs. São serviços da Igreja, entre eles vale lembrar a Pastoral da Criança, são serviços de outras instituições, clubes e associações.
São pessoas que por própria força de vontade mudam a sua condição de vida. Há algum tempo vi num jornal de Curitiba o exemplo do professor de Filosofia, portador de uma doença degenerativa que o levou a cegueira. Nesta condição ele andava no ônibus ensinando filosofia e ajudando os passageiros a filosofar.
Diante de tudo isso cabe a cada um de nós a mesma resposta que Jesus deu ao doutor da lei: Vai Você e faça a mesma! Certamente não basta dar uma esmola, fazer uma caridade, já é alguma coisa, mas existe ainda muita iniciativa ao nosso alcance para que não fiquemos nos perguntando quem é o meu próximo, e pelo contrário nos façamos próximo do nosso irmão.
Ao apresentar a atitude dos três personagens no Evangelho Jesus nos ajuda a compreender o que é o cerne da sua mensagem: “a oração não pode ser separada da vida de cada dia”.
Isso já estava na lei, como nos foi proclamado na primeira leitura de hoje: “a palavra está bem ao teu alcance, está em tua boca e em teu coração para que possas cumprir”. E nós respondemos no salmo: Suas palavras Senhor são mais doces que o mel.
Cumprir a palavra de Deus foi o maior ensinamento de Jesus e isso ele o fez com a sintonia entre o que fez e aquilo que falou.
Daí que nunca nos cansamos de pedir sempre ao Pai que nos ajude a viver com coerência aquilo que professamos com palavras.

sábado, 3 de julho de 2010

HOMILIA PARA O DIA 04 DE JULHO


SOLENIDADE DE SÃO PEDRO
E SÃO PAULO





Leituras: Atos dos Apóstolos 12, 1-11; Salmo 33(34);
2ª.Timóteo 4,6 -8.17-18; Mateus 16,13-19.




Pronto. A copa terminou. O hexa foi adiado de novo. Talvez seja 2014 a nossa vez. Mas a responsabilidade por essa frustração recai sobre as costas do treinador, ou será por conta da expulsão do Filipe Melo. Quem sabe não foram os erros dos juízes. Bom, as possibilidades, explicações e justificativas são tantas que certamente nem vale a pena gastar tempo procurando explicações ou culpados. O fato é que nossa seleção foi pra África com a intenção, o apoio e a garra para fazer jus ao título de seleção favorita.
Quem sabe poderíamos aplicar as Palavras de São Paulo aos jogadores da nossa seleção e de todas as que se despediram da África antes mesmo do que esperavam: “Combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé”.
Esta afirmação de Paulo na segunda leitura de hoje ele faz já na prisão pouco antes de ser executado. Estava convencido que tudo aquilo que havia feito teve um único objetivo: Manifestar a convicção que tinha nas palavras e na pessoa de Jesus de quem ele se fez apóstolo. Tal como Paulo é possível dizer que também a nossa condição de cristãos se compara a uma copa do mundo. Jogamos num time não por causa de nós mesmos e de nossos interesses, jogamos por causa do Reinado de Deus. Entramos em campo no dia do nosso Batismo. Naquela ocasião nossos pais falaram por nós tal como Pedro proclamou no evangelho de hoje: “Eu creio que tu és messias o Filho de Deus vivo”. De lá para cá viemos nos esforçando para aperfeiçoar em nossas vidas as certezas que nossos pais nos transmitiram.
Jogar na seleção de Jesus Cristo, certamente impõe pra todos muitos desafios, maiores até do que as forças parecem suportar. Eis que se apresenta o testemunho de Pedro, que ouvimos na primeira leitura: “Agora sei que o Senhor enviou seu anjo para me livrar”.
A esta altura da competição não basta ficar procurando quem são os culpados pelas derrotas do nosso cotidiano, nem muito menos centrar atenção em nossas fragilidades ou nas fraquezas alheias, nem muito menos nos pecados da nossa Igreja. Certamente será importante reconhecê-las sim, mas não perder tempo com elas.
Pedro e Paulo superaram diversas dificuldades e isso só foi possível graças ao amor que tinham por Cristo e a determinação do seu testemunho. Nossa Igreja é santa e pecadora, dela e de todas as suas virtudes e fracassos somos participantes. Nós, os membros ordenados, que desempenham tarefas e serviços na Igreja entre eles, e de modo especial, a pessoa do Papa Bento XVI. O momento e a condição não é a de atirar pedras e encontrar culpados é procurar saídas e pedir que Deus mesmo continue nos ajudando a viver de tal modo que perseveremos no ensinamento dos apóstolos e sejamos um só coração e uma só alma.
Que esta Eucaristia nos torne cada vez mais disponíveis para Deus e para nossos irmãos.

sábado, 26 de junho de 2010

Homilia para o dia 27 de junho 2010

13° DOMINGO DO TEMPO COMUM



Leituras: 1Rs 19, 16b.19-21; Salmo 15(16);
Gálatas 5, 1.13-18; Lucas 9, 51-62.



Em tempos de copa do mundo é comum ouvirmos da boca dos comentaristas esportivos e dos próprios atletas afirmações do tipo: O adversário é uma equipe coesa, é preciso jogar com determinação, uma vacilada do ataque ou da defesa vão comprometer o resultado da partida. E assim por diante. Ontem, em entrevista sobre sua trajetória desportiva o ex-técnico da seleção brasileira recordava os sucessos e insucessos de sua carreira e do futebol brasileiro. Como resumo de suas declarações se pode concluir que tudo no futebol dependeu e obviamente depende do espírito de equipe e da determinação dos que estão à frente de cada jogada.
É mais ou menos esta a lição que nos dá a liturgia da Palavra deste domingo. No Evangelho é Jesus mesmo quem coloca em xeque algumas das práticas mais sagradas para o povo judeu: “deixa que os mortos enterrem seus mortos”. Ou “quem põe a mão no arado e olha para trás não é digno de mim”. Nas duas circunstâncias não estão sendo colocadas em dúvida os deveres familiares e a piedade em relação aos mortos. Pelo contrário, o que Jesus quer que fique entendido é a determinação para a missão. Se estivesse fazendo um comparativo com a seleção brasileira talvez pudesse dizer “quem não tem espírito de equipe em favor da camisa amarela não merece ser escalado”.
O que Jesus disse aos seus discípulos e, de certo modo, exigiu de cada um deles continua sendo um convite e desafio para cada um de nós: Em se tratando do projeto do reinado de Deus formamos uma grande família, ou vestimos a camisa em favor de todos , ou permanecemos insistindo em jogadas que já são conhecidas dos nossos adversários e corremos o risco de entrar em campo e fazer vexame.
Em outras palavras foi isso o que ouvimos na primeira leitura. Eliseu não duvidou em seguir os passos de Elias. Compreendeu o espírito que animava a atitude do profeta ao lhe dirigir o chamado, seguiu com determinação os passos do profeta deixando para trás tudo o que não era condizente com este novo estivo de viver.
É isso também o que fala São Paulo na segunda leitura. Quem foi libertado por Cristo tem agora uma única atitude: Viver de acordo com a condição que experimentou pois tudo isso foi uma conquista realizada por meio da graça de Deus na pessoa de Jesus.
Deus já fez quase tudo, a nós resta correspondermos aos dons que recebemos por meio de vida correta e santa. A assembleia dominical, a Eucaristia e a Palavra que participamos nos transmitam uma vida nova que nos faça produzir frutos.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

IDENTIDADE E CRISE DO SER PROFESSOR


“TO BE OR NOT TO BE THAT IS THE QUESTION”




Elcio Alberton
Comentários ao texto
A Identidade e a crise do profissional docente
De Liliana Lemus Sepúlveda Pereira e
Zildete Inácio de Oliveira Martins


A pergunta outrora formulada por Shakespeare, e para outras circunstâncias bem pode ser aplicada aos questionamentos levantados no texto em questão. A intenção das autoras consiste em buscar algumas respostas que possam apontar uma identidade para o ser professor.
A primeira afirmação reside em constatar que as mudanças tecnológicas, sociais, econômicas e comportamentais exigem reconsiderações em relação ao papel da escola e do professor e a influência destes entes no corpo mesmo da sociedade em mudanças. A nosso modo de ver, a expressão “mudanças vertiginosas”, usada pelas autoras bem caracteriza o que estamos vivenciando no cotidiano. Talvez não se possa dizer que a escola não acompanha, mas que o modo de fazer escola e de se professor não tem acompanhado. Naturalmente estas circunstâncias afetam o todo da docência e isto não pode ser compreendido apenas a partir do indivíduo, mas do conjunto da ocupação do SER PROFESSOR, como que fazendo uma afirmação: Nas veias do professor corre sangue de “professorado”.
Nesta perspectiva a afirmação de Nóvoa (1992) “Identidade consiste em ser e sentir-se professor” culmina com a “construção de maneiras de ser e de estar na profissão” cuja abrangência é muito maior do que o puro exercício da docência em regência escolar. Ser e estar professor implica na compreensão profissional capaz de superar a dicotomia entre transmitir conhecimentos e produzir saberes (regência e pesquisa).
Estas circunstâncias se aproximam da compreensão da sociedade em contínua transformação na qual a identidade docente, de modo algum, pode ser compreendida como algo estático, fixo e não suscetível de mudanças posto que inserida no contexto tal como já afirmamos ao tratar do profissional em tempos de mudança. O desafio que persegue a questão da identidade é facilitar ao educador acompanhar o ritmo veloz das transformações do mundo contemporâneo.
Ser professor e dar significado à docência é uma arte que exige constante avaliação na totalidade do existir como tal, isto é, a identidade merece ser vista segundo “os valores, história de vida, representações, saberes, angústias, anseios e sentido que tem o professor em sua vida”.
A frase que cunhamos acima (Nas veias do professor, corre sangue de professorado), parece se enquadrar na questão da identidade e dos relacionamentos. Em outras palavras o professor é autor de sua identidade e ator dela na medida em que atua como membro do “professorado”.
Ele se dá a conhecer como tal na medida em que conhecendo, seja também capaz de produzir conhecimentos e criar condições para que o conhecimento aconteça. Este modelo de professor é o que pode ser chamado de profissional em contínuo processo de formação que alcança a vida, a profissão e a escola.
Sem dificuldade de se constatar uma nuance que dificulta dar uma identidade à profissão da docência reside na situação do profissional da educação, que por “N” razões não pode ser enquadrado numa categoria profissional e nem muito menos possa gozar do amparo legal de um órgão que lhe represente como são os chamados “conselhos” de profissões. O docente vive entre o limite da identidade e da impossibilidade, sobretudo, por conta das distintas atividades que exerce, muitas vezes fazendo da tarefa de ensinar um “bico” cuja finalidade subliminar reside unicamente num reforço para o orçamento.
Outra verdade a ser considerada exige das universidades e cursos de formação de professores que sejam efetivamente lugares de preparo de professores para muito além do que já denominamos regente de classe. Nossos cursos de formação para o magistério precisam “desconstruir a figura do professor não pesquisador e sem produção própria, criativa e continuada”.
Em síntese é preciso afirmar que a identidade docente passa pelo processo de crise, no sentido de “acrisolamento” entendida como situação positiva por meio da qual o profissional enfrenta os desafios típicos da profissão e da sociedade contemporânea.
É pertinente compreender a questão da identidade a partir da constatação que o professor é um intermediário de três mundos (objetivo, subjetivo e produtos do espírito humano). Neste sentido ele se deparará com a outra função profissional que é a “tomada de decisões subjacentes aos fenômenos observáveis do ensino aprendizagem”.
Para concluir parecem ser pertinentes as afirmações de Libâneo (1998) enumerando as atitudes docentes diante do mundo, às quais sintetizamos nos itens a seguir:
1) Assumir o ensino como mediação;
2) Ultrapassar o conceito de pluridisciplinaridade para interdisciplinaridade;
3) Fazer da educação um espaço para ensinar a pensar e ensinar a aprender;
4) Ser um facilitador da apropriação crítica da realidade;
5) Melhorar sempre no que se refere ao aspecto da interatividade e da comunicação;
6) Reconhecer a importância e a força das novas tecnologias no mundo da educação;
7) Conviver com a diversidade e a diferença;
8) Assumir a atualização como ingrediente indispensável do SER PROFESSOR;
9) Além de “profissional do ensino” o docente precisa ser “Mestre de humanidades”;
10) Ser o primeiro a manter uma postura ética diante das pessoas e de toda a existência.

Dito isto é possível concluir que a crise de identidade é realmente um “acrisolamento” no sentido que motivam a “reflexão o senso crítico, a liberdade de atuação, e os movimentos em vista de uma nova visibilidade para a categoria”.
A nova imagem da docência e o do profissional se delineará na medida em que os envolvidos deixarem de ser executores de decisões tornando-se sujeitos da “arte de fazer educação” a qual se caracteriza pela capacidade de manejar conhecimentos diante dos desafios que se lhe apresentam cotidianamente.
Este processo redundará numa nova imagem do magistério que se valorizará a si mesmo por meio de uma atividade crítica, reflexiva, transformadora capaz de prestar serviços que construirá cidadãos que gozem daquilo que no nosso projeto de pesquisa denominamos “Policidadania”.



sábado, 19 de junho de 2010

HOMILIA PARA O DIA 20 DE JUNHO 2010

12° DOMINGO DO TEMPO COMUM
Leituras: Zacarias 12, 10-11;13,1; Salmo 62 (63);
Gálatas 3,26-29; Lucas 9, 18-24


Estamos acostumados com a condição de nos responsabilizar por nossas escolhas. Isto é, na medida em que tomamos alguma decisão temos igualmente a certeza que precisamos arcar com as consequências das escolhas que fazemos. Bem sabemos que muitas das nossas opções acabam exigindo da gente esforços até maiores do que nossas próprias forças. Entretanto nem por isso deixamos de agir segundo os ditames de nossa consciência.
Esta prática mais ou menos corriqueira para nós não parece ter sido diferente na época de Jesus. No Evangelho que acabamos de ouvir os discípulos manifestam sua convicção e, por meio da palavra de Pedro, atestam que Jesus é o Messias filho do Deus Vivo. Naturalmente que Jesus aceita essa adesão voluntária e decidida deles não sem antes acrescentar como conclusão: Este que Vocês manifestam ser o Filho de Deus vai sofrer muito, morrer e ressuscitar. Quem se arrisca a fazer a afirmação que declaram precisa ter a coragem de tomar a sua cruz de cada dia e seguir os passos do messias.
Este que os discípulo reconhecem como Messias é o que foi anunciado na primeira leitura: Servo sofredor sobre quem o Espírito de Deus fará descer graça e salvação às quais serão distribuídas para todos os que creem. E isto fica claro nas palavras de São Paulo, na segunda leitura: Não há mais judeu nem grego, nem escravo nem livre, todos estão revestidos de Cristo pela graça do batismo.
O que se deu com os discípulos de certo modo continua se repetindo em cada um de nós. Se proclamamos que Jesus Cristo é o Senhor somos também desafiados a carregar nossas cruzes cotidianas. Em meio a tantas dificuldades e provações responder sobre nossas convicções em relação à pessoa de Jesus implica em praticar o que afirmamos. E, nesse caso, realizar as mesmas obras de Jesus conforme rezamos há pouco: “Senhor, nosso Deus dai-nos por toda a vida a graça de vos amar e temer, pois nunca cessais de conduzir os que firmais no vosso amor”.
Que esta Eucaristia e palavra assim nos ajudem!

sexta-feira, 4 de junho de 2010

FORMAÇÃO DOCENTE: DESAFIOS PERPESPECTIVAS



Para fazer o relato da experiência, servi-me das reflexões em aula, de leituras e da entrevista com dois professores de cursos de licenciatura. Ouvi diversos alunos do projeto PROINFANTIL, programa do governo federal de formação em exercício, do qual participo na condição de professor formador.
Particularmente o texto do professor Julio Emilio Diniz Pereira (1999) faz algumas afirmações com as quais concordo integralmente, tanto mais que elas se enquadram no nosso projeto de pesquisa.
A primeira afirmação que julgo importante está expressa do seguinte modo: “Outro equívoco consiste em acreditar que para ser bom professor basta o domínio da área do conhecimento específico que se vai ensinar”. O autor discorre sobre essa sua convicção e conclui dizendo que uma necessidade da qual não se pode prescindir será fazer investimentos na formação considerando o professor na sua vivência de trabalho coletivo; no contexto do ser professor desde a sua prática teorizada e vice-versa e que parta para ensinar desde as demandas dos alunos e da escola.
A certeza do autor reside em fazer dos cursos de licenciatura lugares de cultura colaborativa e de responsabilidade em relação à qualidade, muito mais do que reprodutores de demandas programadas e pré-determinadas, mas que em nada, ou quase nada tem de relação com o cotidiano da escola e da vida dos seus formandos.
O autor a que nos referimos cita Magda Becker Soares fazendo suas palavras às da professora quando afirma: “as universidades cumprem sua função pública ao preparar um tipo diferenciado de professor, e não, necessariamente, ao atender as demandas de mercado”. O professor será tanto mais coerente com a sua missão quanto mais “incorporar a postura de investigador em seu trabalho cotidiano na escola e na sala de aula”.
Concluindo o pensamento do autor somos integralmente de acordo que “formar professores é uma tarefa bastante complexa” e que mais do que responder ao “O QUE” será necessário responder ao “COMO” do processo. Este salto de uma para outra pergunta poderá facilitar a compreensão do que significa formar professores investigadores e agentes de mudança na educação brasileira.
É nesta perspectiva que está o nosso projeto, o qual pensamos poder resumir com as seguintes palavras: “O texto tem por objetivo apresentar uma proposta de política pública para a formação de docentes que leve em conta muito mais do que os aspectos intelectuais e cognitivos na formação de docentes. As expressões “policidadania” e “mistagogia” empregadas ao longo das reflexões têm o intuito de ajudar a perceber que a proposta em questão adquire uma impostação particular e bastante nova no mundo da educação. Os dois vocábulos são conceituados e descritos como uma nova feição em relação à formação e às políticas públicas para as quais todos são chamados a se voltar quando se trata de estabelecer um processo formativo e de gestão na educação. No conjunto do texto é possível perceber que uma coerente política de formação de professores exige superar a mera transmissão de conhecimentos e tende necessariamente a se abrir para uma nova forma de ver o sistema educativo como instrumento formador de cidadãos integrados e integradores. No decorrer do processo formativo e ao longo do exercício profissional mais do que receptáculos de conteúdo os educadores merecem ser reconhecidos e tratados como pessoas antes que vistos na condição de profissionais. O eixo integrador da proposta está fundamentado no ensino social da Igreja Católica e sua participação no campo da educação e formação do cidadão em sua função de educador e formador”.
Sob esta ótica também analisamos as repostas que obtivemos dos dois professores entrevistados e que anexamos a este trabalho. Fazemos questão de comentar duas das respostas oferecidas por nossos colaboradores. O professor que trabalha com a curso de matemática falou sobre a relação entre formação e campo de trabalho na questão 6 com as seguintes palavras: “Contempla principalmente na disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso, a qual todos os alunos devem fazer, onde o tema é escolhido pelo aluno e orientado por um professor. Consiste em que o aluno possa no decorrer da sua prática fazer uma pesquisa do tipo pesquisa-ação”.
Já o professor de pedagogia no curso da mesma licenciatura escreveu: “O curso de Pedagogia tem que contemplar a formação para a pesquisa, pois não se concebe um profissional de educação que não se debruce sobre sua prática, que não questione suas ações, metodologia e estratégias, que não busque aperfeiçoar-se continuamente. Procuro apresentar questões-problema, para que os acadêmicos reflitam, pesquisem, discutem, posicionem-se, construam argumentos e sintam a necessidade de não aceitar passivamente o que se diz, mas que procurem comprová-lo, levantando e testando hipóteses”.
Pode-se notar nas respostas dos dois professores que o segundo tem uma visão mais continuada do processo formativo e da relação com a prática, já o primeiro se restringe ao momento do curso, como que culminando com o “temeroso TCC” o qual eu prefiro ironicamente qualificá-lo de “cavernoso” no sentido que muitas vezes se limita a cumprir um preceito legal e avaliativo do formando, mais do que expressar sua convicção em referência ao objeto pesquisado.
Já por sua vez no programa PROINFANTIL, cuja formação se dá no exercício é muito mais fácil perceber a relação que se estabelece entre o processo formativo e o cotidiano da ação procurando responder às exigências dos Centros de Educação Infantil e dos que ali participam do processo formativo. Embora o programa seja uma imposição legal o seu desenrolar foi pensado e é executado facilitando ao ‘professor cursista’ encontrar uma nova identidade para a função de SER EDUCADOR.
É neste contexto que reafirmamos a importância de desenvolver no processo de formação de docentes uma mística policidadã que facilite aos nossos educandos/educadores rever cotidianamente a sua condição de “professores/educadores” muito mais do que distribuidores de verdades, saberes e conhecimentos.

SABERES DOCENTES

COMENTÁRIOS AO TEXTO SABERES PROFISSIONAIS DOS
PROFESSORES E CONHECIMENTOS UNIVERSITÁRIOS



Tardif, Maurice. Saberes Docentes
Formação Profissional.
Petrópolis, Vozes, 2008


Os inúmeros desafios do cotidiano da docência exigem que os profissionais respondam a algumas questões que são sempre pertinentes e presentes na arte de mediar saberes.
Conforme comentamos no texto que trata do professor como um profissional da contradição, parece oportuno que tratemos da questão dos saberes sob a mesma ótica. Isto é, ao perguntar-se sobre quais saberes são necessários há que responder em primeiro lugar a partir de onde o docente está fazendo esta pergunta. E mais ainda para onde ele quer caminhar com tais questionamentos.
A prática da docência está inserida numa conjuntura social que se modifica a velocidade da luz e que exige sempre novas respostas. Sem precisar nos alongar poderíamos discorrer muito sobre a modalidade de saberes cuja perspectiva se abre com o ensino a distância.
Sob este ponto de vista com toda a obviedade o profissional da educação terá um sem números de novos desafios e porque não dizer de necessidade de novos saberes.
De qualquer modo é claro que os profissionais da educação necessitam desenvolver e promover saberes que alcancem o campo da cientificidade daquilo que especificamente se propõe ensinar sem, contudo, descuidar de saberes que se ampliem para as demais ciências sociais e do conhecimento do ser humano.
Aceitar ser avaliado por quem partilha dos mesmos ideais e angústias é um elemento importante posto que esta condição ajude o professor ampliar sua bagagem de conhecimento que se estenda para além da tecnicidade. A isto o autor chama de formação continuada e contínua, os dois termos que parecem exprimir o mesmo resultado são, todavia, distintos e se completam. Uma abertura para formação contínua será muito mais do que aprender para colocar em prática. Bastantes vezes a formação se resume a aquisição de novas técnicas e quiçá métodos para ensinar. Com absoluta certeza isso não pode ser entendido como formação contínua. Este vocábulo parece expressar muito mais que o professor merece estar sempre pronto a adquirir novos saberes os quais o projetarão para novas aventuras na “arte da docência”.
Os questionamentos da contemporaneidade, o advento de novas tecnologias e de incontáveis outros desafios geraram no mundo da docência uma crise, diria sem precedentes. Crise no sentido de quebra de referenciais uma vez que os chamados saberes estáveis foram sendo desqualificados ou, em outras palavras, cotidianamente superados.
A crise a que o autor se refere não me parece que deva ser tomada sob a ótica do pessimismo ou como uma situação necessariamente negativa, mas parece ser uma crise no sentido do acrisolamento que provoca mudanças e novas perspectivas.
Experimentar esse tipo de crise faz com que os profissionais da docência tenham a determinação para questionar o tipo e os limites de formação oferecidos pelas instituições, posto que estas também vivenciem os conflitos que permeiam toda a sociedade. O autor parafraseia Kant, dizendo que os questionamentos em torno da docência se comparam ao um processo que exige despertar do sono dogmático da razão profissional. Com esta afirmação nós concordamos na sua totalidade.
O complexo mundo da formação contínua aponta para o que o autor chama de epistemologia da prática profissional ou o conjunto de saberes dos quais o docente se utiliza para o trabalho cotidiano. Este processo consiste em constante reconstrução e reordenamento de competências visando responder às novas exigências e os novos desafios. Nesta linha o trabalho vai se tornando uma construção e não um mero objeto.
Quanto mais o profissional reduzir sua condição de educador à dimensão da praticidade mais ele alarga a possibilidade de se tornar um “idiota do conhecimento”, que não é capaz de recompor o repertório dos saberes.
Um elemento importante a ser considerado no que concerne aos saberes é a história de vida, aquilo que aprendeu por osmose, mas na medida em que nesta altura encontrar limites o aprendizado deixa de ser transformador e, consequentemente, perde parte significativa da sua razão de ser.
Mais do que qualquer outra ocupação o docente tem necessidade de enriquecer-se de recursos e competências muito mais do que técnicas conceituais. É sobre esta última afirmação que nossa dissertação vai se pautar no que concerne à mistagogia da formação do docente.

HOMILIA PARA O DIA 06 DE JUNHO DE 2010

X DOMINGO DO TEMPO COMUM
Leituras: 1Reis 17,17-24; Salmo 29 (30)
Gálatas 1, 11-19; Lucas 7, 11-17


Poucas situações na nossa vida nos deixam tão deprimidos como a tentativa de buscar soluções para as quais nossas forças não estão a altura. E quando isso acontece procuramos descarregar a responsabilidade em alguém. Deus, quase sempre, acaba sendo culpado pelos nossos limites e fragilidades.
Essa situação é a que assistimos no caso da primeira leitura, ocasião em que a Viúva está prestes a perder a sua única esperança, encarando a morte do próprio filho. O grito de súplica levantado pela mulher: “O que há entre mim e ti homem de Deus” é o sinal claro da compreensão de que Deus castiga, cobra e se vinga. Todavia, uma vez mais, o profeta mostra quem é Deus. Devolvendo o Filho com vida para a sua mãe, não resta se não a atitude do salmista: “eu vos exalto Senhor, pois preservastes minha vida da morte”. Em resumo, Deus não se alegra com a morte e nem muito menos quer a morte dos que lhe são queridos.
É neste sentido que também São Paulo afirma: “Asseguro-lhes que o Evangelho por mim pregado não tem critérios humanos”. E que por esta razão as vicissitudes do cotidiano não podem ser atribuídas a Deus e a seus projetos.
O que se disse nas duas primeiras leituras vem confirmada pela ação de Jesus, no encontro com a caravana Fúnebre do filho da viúva de Naim. De um lado o Senhor da vida e do outro a morte. A atitude do primeiro não poderia ser diferente: vê a situação, consola e devolve a vida.
Nos três textos de hoje Deus nos é mostrado com toda a sua compaixão e misericórdia, sobre tudo para com aqueles que se encontram em situação de risco ou indefesas. No meio de todas as provações e da “industria da morte” a que foi transformada a sociedade violentada pela droga, pela corrupção, pelo desrespeito aos mais elementares valores humanos, pela exclusão de populações inteiras, somos chamados a seguir o testemunho de Paulo: Anunciar a boa noticia de Jesus é um imperativo do qual não podemos nos eximir.
Em todas as provações: Deus é quem conserva a nossa vida e isto aponta para um decidido empenho na construção de um mundo melhor.

CURITIBA 04 DE JUNHO 2010

CONGRESSO LATINO AMERICANO DE EDUCADORES
DA REDE DE ENSINO SAGRADO CORAÇÃO




Do lado aberto de Cristo saiu sangue e água! Na doutrina sacramental católica esta situação dá origem aos sacramentos da Igreja. Sacramentos que são compreendidos como sinais da presença real de Jesus no meio daqueles que acreditam. Participando de tudo isso ali, ao lado da cruz, estavam a mãe de Jesus, a irmã de sua mãe e outras mulheres.
Não me parece ser fora de propósito, por ocasião de um congresso de educadores, da magnitude deste que estamos fazendo, dizer que o Sangue e água que jorraram do lado aberto de Cristo na Cruz, fizeram jorrar também a missão dos educadores na condição de sacramentos do projeto de Deus Pai. A presença da Mãe e das outras mulheres é um testemunho que daquele momento em diante a relação do Filho com o mundo e com os seus não é mais a mesma. Ganha uma dimensão de selo, de compromisso, de doação.
Creio ser possível afirmar que Ser professor, regado pelo Sangue de Nosso Jesus Cristo, consiste em ser também um sacramento dele para o mundo, e neste caso para o mundo presente em nossas comunidades escolas.
Os obstáculos que a educação experimenta a cada dia, se encarados como realmente eles podem ser, meios para alcançar os fins a que se propõe a comunidade escolar vai se tornando a cada dia mais sacramental, mais sinal e melhor oportunidade de encontro pessoal com Jesus Cristo fato que se dá na pessoa de cada professor.
É neste sentido que faço questão de usar aqui uma citação que já tenho citado em outras ocasiões cuja origem está no documento Evangelização no mundo contemporâneo do saudoso Papa Paulo VI, lá ele afirma: “O mundo moderno ouve com melhor boa vontade os testemunhas do que os mestres, e se ouve a estes é porque eles também são testemunhas”.
Por causa dessa convicção aplicamos a expressão: Mistagogia para falar da missão do professor. Isto significa dizer o professor precisa ser para a comunidade escolar alguém em quem possa ser depositada a confiança e a capacidade para solucionar muitos e grandes problemas da educação. Na condição de Mistagogos, os professores são a “lucidez intelectual, a coragem moral, cada um no seu posto, são a condição necessária para superar a invasão ideológica e subtrair-nos a uma decadência do pessoal que está ameaçando a vida humana”.
Concluindo reafirmo que do lado aberto de Cristo nasceu os sacramentos da Igreja, e nasceu também o sacramento vivo que é a vocação para o magistério cujo modelo de vida propicia para muitos o conhecimento de Jesus Cristo como a única verdade que não necessita ser contestada, mas vivida sacramentalmente nas relações da sociedade como condição para um mundo mais solidário e fraterno.

domingo, 30 de maio de 2010

FORMAÇÃO DE PROFESSORES

A QUESTÃO DO TRABALHO DOCENTE
Texto disponibilizado para professores formadores
e tutores da AGF Curitiba do Programa Proinfantil - maio 2010


A condição docente trabalhada pelas autoras em questão tem ampla abrangência no cotidiano profissional dos que se entregam à docência nas escolas brasileiras. Sendo a profissão regulamentada pelas leis trabalhistas em vigor e regida pela legislação educacional, é bastante fácil de compreender o significado da expressão “precarização” amplamente usada nos três textos. As reformas educacionais impetradas com a nova LDB e outras leis regulamentadoras do setor não foram suficientes para impedir que a profissão do educador estivesse vulnerável ao avanço da globalização com sua força despersonalizadora das relações do trabalho e da formação.
A educação, como de resto, toda a atividade de docência fez parte do avanço da teoria de resultados impetrada pelos organismos internacionais e também neste particular apareceu de modo muito claro a questão da transformação produtiva com equidade.
O objetivo primordial da educação e da função dos educadores teve seu foco voltado para formar indivíduos cujas competências fossem interessantes para o mercado do trabalho, isto é, para o emprego formal. Na esteira desta finalidade aparece uma segunda intenção e destinação da arte de educar: desempenhar papel de política compensatória com foco na contenção da pobreza. Seria insano acreditar que este conceito deixasse de ter papel decisivo no trabalho docente.
Diante deste quadro o professor se vê desafiado a dar respostas desde o campo próprio da sua formação para as mais diversas exigências apresentadas pelos diferentes níveis dos educandos. Esta situação transforma o educador em profissional de muitas funções e poucas habilidades. Isto é descrito pelas autoras com o termo: “desprofissionalização” com a consequente perda de identidade, posto que socializar conhecimentos já não será mais seu papel fundamental.
Não obstante esta realidade ser aviltante no contexto das escolas brasileiras, em todos os níveis de educação (infantil ao ensino superior), pouco aparece com fenômeno discutido pelo debate acadêmico. Diferentemente das décadas de 1970 e 1980 nas quais o debate pelo reconhecimento dos direitos e deveres dos trabalhadores da educação fazia parte das lutas sindicais e reinvidicatórias.
No que concerne ao conceito de profissionalização da profissão docente especificamente no ensino superior, tomo como exemplo as matérias veiculadas pelo Informativo do SIMPES no número 25, Ano VII. Todas as matérias desta edição estão concentradas no desrespeito de alguns aspectos da legislação que regulamenta a profissão docente os quais são patrocinados por pelo menos 9 IES de Curitiba e região Metropolitana. No período outubro 2009 a março de 2010 se deram 340 desligamentos de docentes em 25 instituições, na absoluta maioria por desacordo entre as partes. O informativo em questão transcreve as palavras de um profissional que se expressa assim: “É difícil participar de atividades nas quais não se notem ideias e ideais, em que não se alcancem razões de entusiasmo...”.
Sem sombra de dúvida a constituição de 1988 trouxe um avanço significativo no campo da valorização da profissão, como resultado das lutas da classe. A valorização se dá claramente pelo dispositivo constitucional que abre a possibilidade de gestão democrática do ensino público:
Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber;
III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e coexistência de instituições públicas e privadas de ensino;
IV - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais;
V - valorização dos profissionais do ensino, garantidos, na forma da lei, planos de carreira para o magistério público, com piso salarial profissional e ingresso exclusivamente por concurso público de provas e títulos;
VI - gestão democrática do ensino público, na forma da lei;
VII - garantia de padrão de qualidade.
Infelizmente, como já afirmamos, a valorização docente está muito aquém do que prevê a legislação e, sobretudo, do cotidiano da profissão. Facilmente é negado ao educador o sentido de profissionalismo uma vez que a arte de educar parece ser tarefa de todos e de qualquer um sob este ângulo pode-se dizer que o magistério sequer pode ser denominado profissão. De fato, conforme já constatamos nos textos sobre identidade docente não existe um Conselho Regional para o magistério como estão constituídos para outras profissões.
É verdade que os cursos de graduação, desde sua origem, têm como objetivo intrínseco formar profissionais, assim os títulos “bacharel e licenciado” parecem indicar uma espécie de licença para exercer a profissão. Não podemos negar que nos últimos anos houve um progresso significativo no concerne à imagem da escola e das universidades, mas é bem verdade que ainda estamos longe do reconhecimento do trabalho coletivo como indicador de qualidade.
O texto a seguir parece resumir o que entendemos da preocupação das autoras: “Valores como autonomia, participação, democratização foram assimilados e reinterpretados por diferentes administrações públicas, substantivados em procedimentos normativos que modificaram substancialmente o trabalho escolar. O fato é que o trabalho pedagógico foi reestruturado, dando lugar a uma nova organização escolar, e tais transformações, sem as adequações necessárias, parecem implicar processos de precarização do trabalho docente”.
Entre os claros sinais de tudo o que estamos afirmando sobre desprofissionalização e precarização, um dado parece ser suficiente para melhor ajudar compreender. É alarmante o número de contratos temporários no campo de educação. Basta ver, no caso do estado do Paraná, a enorme lista de professores participantes do chamado processo seletivo simplificado, todavia isto não se resume ao serviço público, nem tampouco à educação básica. Conforme já citamos o informativo do SINPES, que indica alta rotatividade da mão de obra na educação superior, tudo isso associado ás perdas incontáveis no que se refere á profissionalização e ao respeito pelo SER do educador.
Como não ver esta situação afetando diretamente as práticas curriculares, artigo que tem por finalidade levar a perceber o efeito dominó que exercem as condições econômicas sobre todo o trabalho docente. Entre as situações mais críticas podemos destacar a falta de familiaridade com a bibliografia, com os conteúdos, com metodologia do ensino e, sobretudo com o plano de curso e a ementa dos cursos em questão dos professores que entram ao longo dos semestres e anos assumindo a função de terceiros. É muito comum em determinadas instituições, públicas ou privadas, a substituição de professores até 3 vezes durante o período letivo. Podemos afirmar sem medo que estas realidades fazem da docência apenas mais “posto de trabalho”.
É mister que se recupere a ideia primeira da condição docente, isto é, a relação social entre docente e discente no sentido em que um não encontra razão de ser sem a existência do outro.
Faço minhas as palavras das autoras Maria das Mercês Ferreira Sampaio e Alda Junqueira Marin: “Na textura da relação docente estão, pois, imbricados o velho e o novo, o projeto e a memória, o havido e o devenir, o atrás e o adiante. Por isso, a relação docente/discente contém sempre a esperança”. O que importa é a existência desta relação forte e interativa a qual será sempre maior e melhor do que todos os recursos tecnológicos que estiverem sendo disponibilizados.
É neste sentido que trabalhamos nosso projeto de pesquisa: o Ser professor exige mais do que tudo considerar a sua condição de SER PESSOA, o que em nosso projeto denominamos Mistagogia da docência. Nas palavras das autoras queremos observar a docência a partir da matéria prima de que é feita.

FORMAÇÃO DE PROFESSORES

COMENTÁRIOS AO TEXTO ESTRUTURA CONCEPTUAL
DA FORMAÇÃO DE PROFESSORES
DE CARLOS MARCELO GARCIA


Texto oferecido aos participantes do programa
PROINFANTIL - AGF - Curitiba maio 2010


Nossa reflexão a partir da leitura do texto em questão nos leva a fazer alguns observações de caráter bastante pessoal. Concordamos de modo significativo com o conceito de formação adotado pelo autor e o identificamos com nossa proposta de dissertação que trata da Mistagogia na Formação do docente.
A questão da formação do docente é parte de um complexo conjunto de fenômenos formativos e a inda não suficientemente esclarecidos. Muito além de transmissão de conteúdos e técnicas o processo formativo exige envolvimento por inteiro do formando. Trata-se de uma dimensão pessoal que tem a ver com vontade humana e implica em mudança pessoal e comportamental.
Concordamos com o autor na afirmação que a perspectiva formativa é um dos pilares da renovação da educação e que, neste sentido, deve consistir numa matriz disciplinar. Parece oportuno entender a expressão matriz muito mais abrangente do que uma simples relação de conteúdos. Reproduzimos na íntegra o conceito apresentado pelo autor sobre a formação de professores:
“A formação de professores é a área de conhecimentos, investigação e de propostas teóricas e práticas que, no âmbito da Didática e da Organização Escolar, estuda os processos através dos quais os professores – em formação ou em exercício – se implicam individualmente ou em equipe, em experiências de aprendizagem através das quais adquirem ou melhoram os seus conhecimentos, competências e disposições. Este processo lhes permite intervir profissionalmente no desenvolvimento do seu ensino, do currículo e da escola, com o objetivo de melhorar a qualidade da educação que os alunos recebem.”
Este conceito é a afirmação da primeira expressão do nosso trabalho ao dizer que o professor ensina muito pela sua experiência de vida, isto é, na condição de mistagogo. Nosso trabalho, como o texto em questão, contempla a formação como um enriquecimento de competências não exclusivamente acadêmicas. Em outras palavras a formação é um processo que necessariamente acaba nos alunos. (Se não houve aprendizagem não aconteceu o ensino).
O autor ajuda a entender a formação desde um ponto de vista personalista, no sentido de desenvolver estratégias e competências para um processo de mudança. E aí se delineia a imagem do professor que se aproxima do modelo eficaz sendo um ser humano com todas as vicissitudes próprias da sua condição, mas que se forma em vista do outro. Em outras palavras se poderia dizer que a formação de professores estabelece uma “pedagogia de resultado”.
Então está suficientemente claro que o desenvolvimento pessoal é o eixo da formação docente e um bom professor será aquele que caminha na direção de ser sempre mais um facilitador para criar condições de aprendizagem nos seus alunos a quem ele conhece na integridade. Esta figura não está longe do modelo de filósofo criado por Sócrates com a maiêutica e a ironia.
Neste sentido é mais fácil compreender o professor muito além de ser um técnico, mas construtor, como diria outro autor um “polidor de corações”, pois é das mãos do professor que nasce o ser humano, disse Rosseau. Então, para aquele que deseja ser bom professor pede-se pouco: “fazer o que fazem os bons mestres”, isto é, ser um mistagogo da educação.
A formação entendida como processo de mudança implica na aplicação das novas idéias que se configura num processo de desenvolvimento pessoal e profissional envolvente. Neste contexto toda o processo formativo passa pelo viés da colaboração e para isso o autor cria a expressão: “andragogia” – arte e ciência de ajudar adultos a aprender.
No mundo cristão católico adota-se a prática da lectio divina como uma forma de melhor viver o mistério da Palavra de Deus. Este método é basicamente o que o autor apresenta nas três últimas possibilidades que ele apresenta como as mais eficazes para compreender a formação.
Na Lectio Divina se usa as expressões: LECTIO (leitura), MEDITATIO (meditação), ORATIO (oração), CONTEMPLATIO (contemplação), COMMUNICATIO (comunicação). Aqui o autor apresenta sob os termos: contemplação, prática reflexiva, aprendizagem experimental.
Uma formação que não estabeleça um processo de transformação aborta o sonho dos educadores na maturidade e porque não dizer de outros profissionais. O que o autor chama de quarta etapa no exercício da missão de educar é denominado por um psicólogo da religião com o termo: Generatividade. Esta expressão quer indicar que a esta altura da missão o profissional precisa ver os “filhos dos seus filhos”, isto é o fruto do seu trabalho. Na falta deles, porque ele mesmo não produziu para em si reside a causa da frustração e do desencanto como conseqüência do desestímulo para os jovens o seguirem nesta missão.
Não será sem razão que nosso velhos cunharam a frase: "É preferível um triste santo a um santo triste”.
Evolução é a meta!

FORMAÇÃO DOCENTE

FORMAÇÃO OU PREPARAÇÃO PARA O TRABALHO?


Texto disponibilizado aos professores e tutores do projeto
PROINFANTIL, AGF CURITIBA MAIO 2010

No comentário que fizemos sobre saberes docentes, escrevemos assim: “De qualquer modo é claro que os profissionais da educação necessitam desenvolver e promover saberes que alcancem o campo da cientificidade daquilo que especificamente se propõe ensinar sem, contudo, descuidar de saberes que se ampliem para as demais ciências sociais e do conhecimento do ser humano”. Na perspectiva da nossa pesquisa estamos também preocupados com a formação de docentes que vislumbre muito mais do que a preparação para o trabalho e a aquisição de instrumentais conteudistas, didáticos e pedagógicos que visem primariamente a transmissão de conhecimentos.
Os distintos autores, propostos para leitura na cadeira de Formação de Docentes do programa de Mestrado da PUCPR no ano de 2010, pautam suas reflexões e questionamentos em relação ao parecer 05/2005 precisamente no que se refere à amplitude que mereceria ter a compreensão do termo “formação de docentes”, nos cursos de Pedagogia regulamentados por este parecer.
Com seus limites no que se refere ainda a nomenclatura (licenciatura/bacharelado), o parecer aponta para uma solução de continuidade para um impasse que se estende por mais de duas décadas. No documento em questão a formação dos docentes é entendida de modo bastante mais amplo na medida em contempla a formação de docentes não no sentido restrito de ministrar aulas para esta ou aquela faixa etária. A expressão docência tem seu conceito ampliado para todo o trabalho pedagógico a ser desenvolvido no mundo da educação, seja ele restrito ao ambiente escolar ou não. E neste sentido pode ser considerado um avanço no campo da normatização dos cursos de Pedagogia. Obviamente que esta conquista não veio sem boa dose de participação da sociedade organizada.
O parágrafo a que nos referimos acima reza textualmente:
“Entende-se que a formação do licenciado em pedagogia se fundamenta no trabalho pedagógico realizado em espaços escolares e não escolares, que tem a docência como base. Nesta perspectiva, a docência é compreendida como ação educativa e processo pedagógico metódico e intencional, construído em relações sociais, étnico-raciais e produtivas, as quais influenciam conceitos, princípios e objetivos da pedagogia. Dessa forma, a docência, tanto em processos educativos escolares como nãoescolares, não se confunde com a utilização de métodos e técnicas pretensamente pedagógicos, descolados de realidades históricas específicas. Constitui-se na confluência de conhecimentos oriundos de diferentes tradições culturais e das ciências, bem como de valores, posturas e atitudes éticas, de manifestações estéticas, lúdicas, laborais. (Parecer CNE/CP n. 05/2005, p. 7)”.

Com esta regulamentação, finalmente, os profissionais da educação podem experimentar seus anseios adquirirem abrangência na medida em que os cursos de pedagogia deverão alargar a concepção de educação, de escola, de docência, de licenciatura, etc. situação que implica evoluir para muito além do que a simples preparação para o trabalho, título que damos a este comentário.
Na medida em que acontece este alargamento de conceito e de finalidade os cursos de formação de professores caminham para uma nova epistemologia e superam a visão pragmática e tecnicista de preparadores para o trabalho. Quanto mais se for alargando a visão de formação científica dos cursos de pedagogia, mas será possível ganhar no conceito de práxis educativa.
A crítica que cabe ao parecer se foca na questão da falta de clareza sobre o que significa mesmo preparação para o trabalho didático e formação para a pesquisa que consequentemente se direciona também para o cotidiano da educação. Parece importante que o parecer seja lido sob uma ótica muito mais abrangente do que o desenvolvimento de competências e habilidades para realizar tarefas no campo da escola.
Nossa concepção é também direcionada para a compreensão da formação do profissional da educação com uma ampla interação entre teoria e prática. A formação precisa partir dos conhecimentos já dominados, ampliar o leque de cientificidade e para lá voltar. Este processo parece se moldar melhor ao termo “práxis” usada também por outras ciências humanas.
O parecer, visto sob a ótica que estamos apontando, indica que a formação pedagógica e muito mais ampla do que a preparação para o magistério e alcança a produção e difusão do conhecimento. Conforme dissemos parece que o limite do parecer persiste no fato de manter a nomenclatura que em princípio aponta para um reducionismo da função do que se chama licenciatura. Certamente será necessário estabelecer uma formação teórica sólida que seja muito mais ampla do que um mero pragmatismo pedagógico.
Na medida em que a nomenclatura não se tornar pressuposto para a formação de um profissional do tipo “segunda linha” será possível construir uma política de formação que seja compreendida na linha da formação continuada se estendendo a todos os níveis de formação.
A compreensão que temos desta regulamentação, no sentido que ela melhora substancialmente a possibilidade de formação com a superação da mera preparação para o trabalho, aparece textualmente no documento quando se lê: “As DCN-Pedagogia definem a sua destinação, sua aplicação e a abrangência da formação a ser desenvolvida nesse curso. Aplicam-se: a) à formação inicial para o exercício da docência na educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental; b) aos cursos de ensino médio de modalidade normal e em cursos de educação profissional; c) na área de serviços e apoio escolar; d) em outras áreas nas quais sejam previstos conhecimentos pedagógicos. A formação assim definida abrangerá integradamente à docência, a participação da gestão e avaliação de sistemas e instituições de ensino em geral, a elaboração, a execução, o acompanhamento de programas e as atividades educativas" (Parecer CNE/CP n.05/2005, p. 6).

FORMAÇÃO DOCENTE

DESAFIOS PERPESPECTIVAS
COMENTÁRIOS PARA O ENCONTRO DE FORMAÇÃO DO PROJETO PROINFANTIL
E SOCILIZADO COM PROFESSORES E TUTORES DO GRUPO III - AGF CURITIBA EM ABRIL 2010.

Para fazer o relato da experiência, servi-me das reflexões em aula, de leituras e da entrevista com dois professores de cursos de licenciatura. Ouvi diversos alunos do projeto PROINFANTIL, programa do governo federal de formação em exercício, do qual participo na condição de professor formador.
Particularmente o texto do professor Julio Emilio Diniz Pereira (1999) faz algumas afirmações com as quais concordo integralmente, tanto mais que elas se enquadram no nosso projeto de pesquisa.
A primeira afirmação que julgo importante está expressa do seguinte modo: “Outro equívoco consiste em acreditar que para ser bom professor basta o domínio da área do conhecimento específico que se vai ensinar”. O autor discorre sobre essa sua convicção e conclui dizendo que uma necessidade da qual não se pode prescindir será fazer investimentos na formação considerando o professor na sua vivência de trabalho coletivo; no contexto do ser professor desde a sua prática teorizada e vice-versa e que parta para ensinar desde as demandas dos alunos e da escola.
A certeza do autor reside em fazer dos cursos de licenciatura lugares de cultura colaborativa e de responsabilidade em relação à qualidade, muito mais do que reprodutores de demandas programadas e pré-determinadas, mas que em nada, ou quase nada tem de relação com o cotidiano da escola e da vida dos seus formandos.
O autor a que nos referimos cita Magda Becker Soares fazendo suas palavras às da professora quando afirma: “as universidades cumprem sua função pública ao preparar um tipo diferenciado de professor, e não, necessariamente, ao atender as demandas de mercado”. O professor será tanto mais coerente com a sua missão quanto mais “incorporar a postura de investigador em seu trabalho cotidiano na escola e na sala de aula”.
Concluindo o pensamento do autor somos integralmente de acordo que “formar professores é uma tarefa bastante complexa” e que mais do que responder ao “O QUE” será necessário responder ao “COMO” do processo. Este salto de uma para outra pergunta poderá facilitar a compreensão do que significa formar professores investigadores e agentes de mudança na educação brasileira.
É nesta perspectiva que está o nosso projeto, o qual pensamos poder resumir com as seguintes palavras: “O texto tem por objetivo apresentar uma proposta de política pública para a formação de docentes que leve em conta muito mais do que os aspectos intelectuais e cognitivos na formação de docentes. As expressões “policidadania” e “mistagogia” empregadas ao longo das reflexões têm o intuito de ajudar a perceber que a proposta em questão adquire uma impostação particular e bastante nova no mundo da educação. Os dois vocábulos são conceituados e descritos como uma nova feição em relação à formação e às políticas públicas para as quais todos são chamados a se voltar quando se trata de estabelecer um processo formativo e de gestão na educação. No conjunto do texto é possível perceber que uma coerente política de formação de professores exige superar a mera transmissão de conhecimentos e tende necessariamente a se abrir para uma nova forma de ver o sistema educativo como instrumento formador de cidadãos integrados e integradores. No decorrer do processo formativo e ao longo do exercício profissional mais do que receptáculos de conteúdo os educadores merecem ser reconhecidos e tratados como pessoas antes que vistos na condição de profissionais. O eixo integrador da proposta está fundamentado no ensino social da Igreja Católica e sua participação no campo da educação e formação do cidadão em sua função de educador e formador”.
Sob esta ótica também analisamos as repostas que obtivemos dos dois professores entrevistados e que anexamos a este trabalho. Fazemos questão de comentar duas das respostas oferecidas por nossos colaboradores. O professor que trabalha com a curso de matemática falou sobre a relação entre formação e campo de trabalho na questão 6 com as seguintes palavras: “Contempla principalmente na disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso, a qual todos os alunos devem fazer, onde o tema é escolhido pelo aluno e orientado por um professor. Consiste em que o aluno possa no decorrer da sua prática fazer uma pesquisa do tipo pesquisa-ação”.
Já o professor de pedagogia no curso da mesma licenciatura escreveu: “O curso de Pedagogia tem que contemplar a formação para a pesquisa, pois não se concebe um profissional de educação que não se debruce sobre sua prática, que não questione suas ações, metodologia e estratégias, que não busque aperfeiçoar-se continuamente. Procuro apresentar questões-problema, para que os acadêmicos reflitam, pesquisem, discutem, posicionem-se, construam argumentos e sintam a necessidade de não aceitar passivamente o que se diz, mas que procurem comprová-lo, levantando e testando hipóteses”.
Pode-se notar nas respostas dos dois professores que o segundo tem uma visão mais continuada do processo formativo e da relação com a prática, já o primeiro se restringe ao momento do curso, como que culminando com o “temeroso TCC” o qual eu prefiro ironicamente qualificá-lo de “cavernoso” no sentido que muitas vezes se limita a cumprir um preceito legal e avaliativo do formando, mais do que expressar sua convicção em referência ao objeto pesquisado.
Já por sua vez no programa PROINFANTIL, cuja formação se dá no exercício é muito mais fácil perceber a relação que se estabelece entre o processo formativo e o cotidiano da ação procurando responder às exigências dos Centros de Educação Infantil e dos que ali participam do processo formativo. Embora o programa seja uma imposição legal o seu desenrolar foi pensado e é executado facilitando ao ‘professor cursista’ encontrar uma nova identidade para a função de SER EDUCADOR.
É neste contexto que reafirmamos a importância de desenvolver no processo de formação de docentes uma mística policidadã que facilite aos nossos educandos/educadores rever cotidianamente a sua condição de “professores/educadores” muito mais do que distribuidores de verdades, saberes e conhecimentos.

HOMILIA PARA O DOMINGO DA SANTÍSSIMA TRINDADE

Dia 31 de maio de 2010


Leituras: Provérbios 8, 22-31; Salmo 8;
Romanos 5, 1-5; João 16, 12-15.


Na linguagem pedagógica atual se diz que fazer uma escola atingir bons resultados e oferecer educação de qualidade é uma responsabilidade complexa demais para ficar na mão apenas de uma pessoa e a mesma pedagogia propõe um trio coeso e bem articulado.
No vocabulário popular costuma-se usar a expressão: “duas ou mais pessoas tem visão mais perfeita das coisas do que um sozinho”.
Há poucos dias um famoso cientista americano anunciou a criação de uma célula sintética apontando tal descoberta como resposta para um sem número de necessidades relacionadas à saúde e ao desenvolvimento da qualidade de vida. Não obstante ser o resultado de uma acurada pesquisa científica, a descoberta não é uma unanimidade na comunidade científica e nem tampouco imediatamente colocada para o uso público. Muitos outros estudos ainda serão realizados antes que seja confirmada e adotada a descoberta.
Imaginemos, pois a complexidade da obra criada por Deus! É neste sentido que encontra razão a Solenidade da Santíssima Trindade que a Igreja nos convida a celebrar neste domingo. Aqui estamos porque Deus comunhão nos reuniu no seu amor.
No Evangelho é o próprio Jesus quem promete o Espírito da Verdade, aquele que vindo do Pai, revela a verdade que Jesus ensinou e orienta as comunidades para permanecerem nesta verdade. Eis aí a missão do Espírito na magnífica obra do Pai e do Filho. Ensinando toda a verdade o Espírito liberta do medo e enche os discípulos de vigor profético, restabelece a fé que, de certo modo, havia sido abalada com a morte de Jesus, reascende a esperança e recria a comunhão.
A primeira leitura nos fez recordar a maravilhosa obra de Deus para que o ser humano pudesse viver com dignidade e com alegria. Por conta disso nós rezamos no salmo 8: Teu nome é Senhor Maravilhoso.
Já São Paulo, na segunda leitura, confirma tudo o que já era conhecido, porém atribui isso à obra do Espírito Santo: “A esperança não decepciona, porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo”.
Eis aí o convite que nos é renovado a cada domingo: quando perdemos a capacidade de amar e de fazer comunhão perdemos também a direção e isto nos faz colocar em risco projetos valiosos. Aqui viemos convocados pelo amor da Trindade Santa e viemos com o desejo de nos deixar conduzir pelo jeito de ser de Deus: “Ser comunhão e formar comunhão”.
Ó Trindade vos louvamos, vos louvamos pela vossa comunhão. Que esta mesa favoreça nossa vida como irmãos.

domingo, 23 de maio de 2010

HOMILIA PARA O DIA 23 DE MAIO 2010

DOMINGO DE PENTECOSTES


Leituras: Atos dos Apóstolos 2, 1-11; Salmo Responsorial 103(104;
1Cor 12,3b-7.12-13; João 20, 19-23.


Imagino que para quase todos no momento em que entramos no chamado mundo virtual, por meio da rede mundial de computadores, tenha sido um momento importante. Por certo tivemos a sensação de poder falar com o mundo. De fato os avanços tecnológicos e científicos parecem estar em nossas mãos. Em resumo temos a impressão de alcançar respostas para quase tudo. Compreender e ser compreendido.
Excluindo-se todos os limites desta comparação ela pode ser um modo de compreender a celebração de Pentecostes. Celebramos hoje o dom do Espírito Santo, isto é, a abertura da Igreja para todas as nações. Por meio deste presente inefável Deus fez com que a Palavra do Filho alcançasse todos os povos outrora conhecidos.
Na Igreja hoje também pedimos que o mesmo Espírito abra nossos corações para a unidade e a diversidade, rezamos a fim de que o mesmo Espírito nos modifique e modifique o mundo. Que, uma vez mais, por sua graça, aconteçam a solidariedade, a justiça e todo bem.
Nas palavras do Evangelho o espírito de Deus é comparado ao sopro dado por Jesus sobre os apóstolos que por meio deste sinal são incumbidos de levar a todos o perdão e a vida nova. No texto da primeira leitura se pode fazer um paralelo com o povo de Israel acampado no Sinai. Lá, porém, a incapacidade de compreender os caminhos de Deus levou os homens a se ocupar no projeto da torre de Babel cujo resultado é a confusão total de línguas e nações. Aqui, com o Pentecostes, gente de todas as raças e línguas se entendem: nasce a Igreja aberta para o mundo e ecumênica.
Já são Paulo na segunda leitura confirma a promessa que havia sido feita por Jesus: O Espírito Santo é o advogado, o que faz reconhecer a presença de Jesus no meio do mundo. Presença que não é necessariamente física, mas é real por meio da sua palavra e, sobretudo, da vivência de tudo aquilo que havia dito e ensinado.
É bastante comum em nossas assembleias um canto litúrgico onde se reza as seguintes palavras: “No povo renasce a confiança ó Espírito Santo de Deus.” De fato desde o dia do Pentecostes, e com muito pouco espaço de tempo todo o mundo outrora conhecido já havia ouvido falar no nome de Jesus e tomava ciência dos seus ensinamentos.
Como irmãos reunidos, peçamos também que o feito extraordinário de pentecostes se repita hoje em nossa sociedade. Que por nossa voz, pelo testemunho de nossa vida aconteça em todos os lugares verdadeira comunhão. Que a unidade da Eucaristia e da Palavra se realize em nossas Igrejas, em nossas famílias, nas sociedades e na relação com toda a obra criada.
Que o Espírito Santo nos faça promotores de condições de vida cada vez mais humanas e com melhor qualidade para todos em todos os lugares. Este nosso pedido se repete em diferentes momentos de nossas celebrações. Recordo de modo particular na oração Eucarística quando o padre diz: “comungando o corpo e o sangue do Vosso Filho sejamos repletos do Espírito Santo e nos tornemos um só corpo e um só Espírito.”

sexta-feira, 14 de maio de 2010

HOMILIA PARA O DOMINGO 16 DE MAIO 2010

DOMINGO DA ASCENSÃO DO SENHOR




Leituras: Atos dos apóstolos 1,1-11; Salmo Responsorial 46(47);
Efésios 1,17-23; Lucas 24, 46-53.

A partida de alguém que amamos, por qualquer que seja o motivo é sempre marcado por situações de emoção. Pode ser de alegria ou de tristeza. Em ambos os casos nossa expectativa é de algum modo poder reencontrar. Dizemos até que não existe um adeus definitivo, mas apenas um até logo. Em dialeto friuliano, (do norte da Itália) se usa a expressão MANDI, (In mani Dio) para dizer a alguém que se vá e que permaneça guiado pelas mãos de Deus.

Neste domingo, depois de termos percorrido o caminho pascal com Jesus, chegamos ao momento solene da despedida. Ele, como havia dito, se vai para junto de seu Pai e nosso Pai. Ao mesmo tempo ele afirma que estará conosco. Obviamente não se trata mais da presença física, a partir de agora ele estará com seus seguidores mediante o modo de viver de cada um deles. Vejam como eles se amam!

Os discípulos começam a constituir uma comunidade marcada pelo jeito de viver de Jesus. Esta é a meta, este é o desejo, esta será a maneira de reconhecer que tudo o que o Mestre havia dito se torna realidade e por meio desta prática todos poderão reconhecer que Jesus está aí.

As palavras de despedida que Jesus usa no Evangelho tem a intenção clara de recordar aos discípulos o que já lhes havia ensinado. Agora seu ensinamento tem a força de missão com a finalidade específica de fazer cumprir tudo o que fora dito por Ele e por aqueles que vieram antes d’Ele. Jesus também entendia de sentimentos e de sofrimentos e de fraquezas, por isso mesmo, promete aos seus uma força do alto: “O Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome”.

Já no trecho dos Atos dos Apóstolos pode se ver que a tarefa de fazer conhecer quem é Jesus começa exatamente na sua terra onde ele é conhecido, mas não reconhecido. Ele apresenta uma proposta ambiciosa: torná-lo conhecido e reconhecido até os confins da terra. Daí que a leitura termina com uma espécie de reprovação pelo comportamento dos discípulos: “Homens da Galileia o que vocês fazem aí olhando para o céu?”

Fernando Sabino (escritor e jornalista) escreveu assim: “No fim tudo dará certo, se não deu certo ainda é porque ainda não chegou ao fim”. Pois ora, a festa da Ascensão, marca o fim da presença de Jesus fisicamente no meio do mundo. Isso significa dizer: Sua missão foi cumprida, tudo deu certo e agora volta para a casa de onde veio.

E eis que começa o cristianismo. Ontem como hoje, nós que acreditamos na Palavra de Jesus temos a mesma e única tarefa: Testemunhar tudo o que ele fez e ensinou! O alerta que foi dado aos moradores da Galileia pode ser aplicado a cada cristão no século XXI: O que vocês fazem aí parados?

No meio do mundo angustiado com tantos problemas o que vocês fazem continua a clamar o Evangelho. Não basta que venhamos para a celebração, não basta que esperemos um milagre do céu. Não basta articular alguma troca de favores entre o céu e a terra. É Preciso fazer da vitória de Cristo a nossa vitória. Confiemos também na força do Espírito Santo de Deus que nos fará testemunhas por toda a terra.

HOMILIA PARA O DIA 16 DE MAIO 2010

DOMINGO DA ASCENSÃO DO SENHOR




Leituras: Atos dos apóstolos 1,1-11; Salmo Responsorial 46(47);
Efésios 1,17-23; Lucas 24, 46-53.


A partida de alguém que amamos, por qualquer que seja o motivo é sempre marcado por situações de emoção. Pode ser de alegria ou de tristeza. Em ambos os casos nossa expectativa é de algum modo poder reencontrar. Dizemos até que não existe um adeus definitivo, mas apenas um até logo. Em dialeto friuliano, (do norte da Itália) se usa a expressão MANDI, (IN mani Dio) para dizer a alguém que se vá e que permaneça guiado pelas mãos de Deus.


Neste domingo, depois de termos percorrido o caminho pascal com Jesus, chegamos ao momento solene da despedida. Ele, como havia dito, se vai para junto de seu Pai e nosso Pai. Ao mesmo tempo ele afirma que estará conosco. Obviamente não se trata mais da presença física, a partir de agora ele estará com seus seguidores mediante o modo de viver de cada um deles. Vejam como eles se amam!


Os discípulos começam a constituir uma comunidade marcada pelo jeito de viver de Jesus. Esta é a meta, este é o desejo, esta será a maneira de reconhecer que tudo o que o Mestre havia dito se torna realidade e por meio desta prática todos poderão reconhecer que Jesus está aí.


As palavras de despedida que Jesus usa no Evangelho tem a intenção clara de recordar aos discípulos o que já lhes havia ensinado. Agora seu ensinamento tem a força de missão com a finalidade específica de fazer cumprir tudo o que fora dito por Ele e por aqueles que vieram antes d’Ele. Jesus também entendia de sentimentos e de sofrimentos e de fraquezas, por isso mesmo, promete aos seus uma força do alto: “O Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome”.


Já no trecho dos Atos dos Apóstolos pode se ver que a tarefa de fazer conhecer quem é Jesus começa exatamente na sua terra onde ele é conhecido, mas não reconhecido. Ele apresenta uma proposta ambiciosa: torná-lo conhecido e reconhecido até os confins da terra. Daí que a leitura termina com uma espécie de reprovação pelo comportamento dos discípulos: “Homens da Galileia o que vocês fazem aí olhando para o céu?”


Fernando Sabino (escritor e jornalista) escreveu assim: “No fim tudo dará certo, se não deu certo ainda é porque ainda não chegou ao fim”. Pois ora, a festa da Ascensão, marca o fim da presença de Jesus fisicamente no meio do mundo. Isso significa dizer: Sua missão foi cumprida, tudo deu certo e agora volta para a casa de onde veio.


E eis que começa o cristianismo. Ontem como hoje, nós que acreditamos na Palavra de Jesus temos a mesma e única tarefa: Testemunhar tudo o que ele fez e ensinou! O alerta que foi dado aos moradores da Galileia pode ser aplicado a cada cristão no século XXI: O que vocês fazem aí parados?


No meio do mundo angustiado com tantos problemas o que vocês fazem continua a clamar o Evangelho. Não basta que venhamos para a celebração, não basta que esperemos um milagre do céu. Não basta articular alguma troca de favores entre o céu e a terra. É Preciso fazer da vitória de Cristo a nossa vitória. Confiemos também na força do Espírito Santo de Deus que nos fará testemunhas por toda a terra.

domingo, 2 de maio de 2010

HOMILIA PARA O QUINTO DOMINGO DA PASCOA

AMEM-SE MUTUAMENTE...


Leituras: Atos 14, 21b - 27; Salmo 144(145) 8 - 13


Apocalipse 21, 1- 5; João 13, 31- 35





Por Diversas razões algumas pessoas marcam a nossa vida e as nossas relações. Cultivamos atitudes de respeito, de admiração, tecemos elogios a determinadas pessoas normalmente por conta da maneira como elas se dão a conhecer. Assim dizemos que esta ou aquela pessoa é um “anjo em pessoa”; este ou aquele é alguém que “ama muito”; Beltrano ou sicrano ‘é responsável e dedicado’. E assim por diante. Em outras palavras o que marca alguém são suas atitudes, seu modo de viver, seu testemunho de ser e de existir.
Pois é isto que a Palavra de Deus nos aponta e sugere neste domingo. As palavras de Jesus indicam o “amor total e desprendido como o cartão de visita” daquele que se declara cristão.
Vivemos numa cidade em que os meios de comunicação apontam uma crescente onda de violência e outras formas de desrespeito pelo ser humano e violação da dignidade está cada vez mais aviltante. Neste contexto o evangelho nos convida a viver e a praticar o amor, o colhimento e o serviço à luz do jeito de ser de Jesus.
Antes de se despedir dos seus amigos, Jesus lhes dá algumas últimas orientações e uma recomendação incisiva e pertinente: “Filhinhos... dou-lhes um novo mandamento. Amem-se uns aos outros”. A designação de filhinhos retrata a proximidade que Jesus tem com os seus seguidores, uma relação que ultrapassa todas as formalidades e adquire uma marca registrada. Isto é, só quem é discípulo será capaz de agir segundo o mestre. E Jesus conclui: As pessoas lhes reconhecerão pela prática deste amor.
É óbvio que tudo isso, exige uma nova forma de enfrentar as dificuldades do cotidiano e daí vem a recomendação que Paulo faz na primeira leitura: “permaneçam firmes na fé”. Tal advertência, sem sombra de dúvida, é também aplicável a cada um de nós, tal como a recomendação de Jesus: “Amem-se uns aos outros”.
Se este modo de ser for efetivamente concretizado poderemos experimentar o que se promete na segunda leitura: “As lágrimas, o luto e a dor deixarão de existir”.
Peçamos então mais uma vez que nossa participação nesta eucaristia nos mantenha firmes naquilo que ouvimos e alimentados pela Eucaristia sejamos fortalecidos para “amar mutuamente”.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

PEDAGOGIA DO CUIDADO

QUEM AMA CUIDA...

(Contribuições do Professor Elcio Alberton para
a reflexão da terça feira 06 de abril 2010 no projeto PROINFANTIL).

No contexto das reflexões éticas na atualidade a expressão CUIDADO, tem sido muitas vezes compreendido como capacidade de amar o que significa também permitir que o ser em relação desenvolva suas habilidades em todos os sentidos.
Na leitura do texto em questão (Daniela Guimarães) a autora parece tratar do termo sob esta ótica.
Fazendo um passeio pelos conceitos de educar, instruir, cuidar, e da finalidade das creches e centros de educação infantil a autora faz uso da palavra CUIDADO permitindo que esta seja entendida como a capacidade de facilitar o crescimento e a interação entre os distintos envolvidos no processo.
É de amplo conhecimento a idéia equivocada que permeou as creches durante muito tempo, sendo elas entendidas e muitas vezes de fato conduzidas como depósito de crianças a quem faltava cuidados. E neste recinto e condição elas eram de fato apenas cuidadas, isto é, atendidas no mínimo das necessidades de permanência no local.
O reconhecimento dos espaços conhecidos como Creches, dentro do processo da educação infantil permitiu que um novo olhar fosse voltado para todo o processo e prática do CUIDADO em relação as crianças que participam destas instituições.
A primeira atitude que aos poucos, vai se tornando indispensável é superar a dicotomia entre cuidar e educar. Alias a comunhão (sinonímia) destes dois termos responde exatamente ao conceito atual da expressão: QUEM AMA CUIDA!
Não faltam autores que compreendem esta interação como resultado de outra necessidade de todo ser humano: Sentir-se acolhido e valorizado na sua condição no local onde escolhe para estabelecer relacionamentos. A expressão, a meu ver, muito feliz, "forma menor de educação" longe de adquirir sentido pejorativo precisa ser lido como possibilidade de modos alternativos de estar com as crianças e consequentemente valorizá-las na sua individualidade.
Longe de compreender o processo educativo como uma disciplinarização o uso da expressão cuidado educacional adquire uma perspectiva muito importante na medida em que qualifica a condição de quem promove e facilita o sujeito de manifestar seus saberes socializando-os e interagindo com os demais saberes e seres. É neste sentido que a pessoa envolvida no processo de CUIDADO passa a ser visto como sujeito único que se coloca na relação com o outro.
Dito isso fica possível compreender CUIDADO como o processo que dá início a toda forma de sadio relacionamento. É assim que Bakhtin , compreende o processo de crescimento (não somente físico) da criança desde as suas relações de imitação com a mãe, fazendo suas as palavras e atitudes do outro.
Há de se convir que só muito recentemente nossas creches voltaram seu foco para a criança e seus direitos, isto é, estas estão na creche não como necessitadas de "cuidados" mas como seres de "CUIDADO", situação que pode ser compreendida como inserção na coletividade com facilitação para a socialização.
Na medida em que nossas crianças passaram a ser vistas nas creches como sujeitos da ação de educar foi largamente ampliado o conceito de transmitir saberes para o incremento da sociabilidade dos conhecimentos. Nesta ótica a missão do professor em muito se amplia e recebe nova valorização, ela deixa de ser uma distribuidora de "trabalhinhos" para ser promotora de "valores".
Esta parece ser a realidade que a autora constata na pesquisa conhecida como observação participante realizada em dois distintos centros de educação. A educação infantil entendida a partir do CUIDADO faz do adulto uma ponte para construção de novos saberes os quais são processados pela própria criança com um consequente engrandecimento de possibilidades.
A isso eu chamo de Mistagogia da educação infantil ou capacidade de quebrar os grilhões que prendem as crianças ao fundo da caverna da ignorância, para fazer um paralelo com o mito platônico da caverna.
Parece ser muito feliz a apropriação do termo italiano "didática do fazer' para qualificar este novo modo de facilitar o desenvolvimento educacional da criança.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

HOMILIA PARA O DIA 11 DE ABRIL 2010

SEGUNDO DOMINGO DA PÁSCOA

Leituras: Atos5,12-16; Salmo 117(118);
Apocalipse 1, 9-13.17-19; João 20,19-31.

Normalmente quando um acontecimento é importante para nós marcamos a data e recordamos o fato de modo bastante significativo. Isso vale para o aniversário da pessoa que a gente quer bem, a data da formatura, do casamento,etc... Recordar a data que algo nos aconteceu é uma forma de reviver o fato no cotidiano da história.
A mesma situação foi vivida pela comunidade dos discípulos de Jesus. O primeiro dia da semana se tornou uma data importante. Recordando a Ressurreição de Jesus eles passaram a se reunir neste dia. Juntos faziam memória de tudo o que haviam aprendido e vivido na companhia de Jesus.
Este fato se tornou tão importante que pouco tempo depois recebeu o nome de Domingo, que quer dizer: Dia do Senhor! Desde aquele tempo nós continuamos celebrando a ressurreição de Jesus e nos reunimos de domingo a domingo para fazer memória deste extraordinário acontecimento pascal.
As leituras deste segundo domingo da páscoa nos ajudam a compreender melhor o sentido da reunião e da missão. No evangelho temos a narrativa de um encontro dos discípulos, ocasião em que recordavam os ensinamentos do mestre. Dentre eles um não estava.
Jesus aparece, se dá a conhecer, anuncia o seu mais excelso desejo: A paz esteja com vocês. Como o Pai me enviou eu também envio vocês. E os discípulos se alegraram e contaram para todos o que lhes tinha acontecido.
Tomé não acreditou. Uma semana depois Jesus reaparece, agora Tomé está aí e Jesus lhe confia a missão e faz a devida advertência: Você acreditou porque viu!
As lições da liturgia deste domingo estão nesta direção para nossas comunidades: Primeiro: O domingo é o dia do Senhor, o dia da reunião dos irmãos e nada deverá nos desviar deste importante e necessário encontro; Segundo: é na reunião que experimentamos o Dom de Deus: A Paz esteja com vocês! Terceiro: somos também enviados em missão em vista de um mundo melhor e que experimente também o que Deus tem a oferecer por nosso intermédio.
Quarto: longe da comunidade reconhecer Jesus fica quase impossível.
Peçamos a graça de nunca negligenciar o domingo e o que dele podemos usufruir na medida que nos reunimos com a comunidade para celebrar o Senhor.
Que esta Palavra e a Eucaristia sejam nossa força na jornada.

sábado, 3 de abril de 2010

LICENCIATURA OU BACHARELADO?


FORMAÇÃO OU PREPARAÇÃO PARA O TRABALHO?



Elcio Alberton
Licenciado em Filosofia, Especialista em Gestão Educacional,

Mestrando em Educação. Professor no Programa PROINFANTIL,

Diretor pedagógico da UNIANDRADE, Curitiba.

Texto produzido sob a orientação da professora

Joana Paulin Romanowski,

na disciplina Formação de professores do

programa de Mestrado da PUCPR 2010.





No comentário que fizemos sobre saberes docentes, escrevemos assim: “De qualquer modo é claro que os profissionais da educação necessitam desenvolver e promover saberes que alcancem o campo da cientificidade daquilo que especificamente se propõe ensinar sem, contudo, descuidar de saberes que se ampliem para as demais ciências sociais e do conhecimento do ser humano”.


Na perspectiva da nossa pesquisa estamos também preocupados com a formação de docentes que vislumbre muito mais do que a preparação para o trabalho e a aquisição de instrumentais conteudistas, didáticos e pedagógicos que visem primariamente a transmissão de conhecimentos.


Os distintos autores, propostos para leitura na cadeira de Formação de Docentes do programa de Mestrado da PUCPR no ano de 2010, pautam suas reflexões e questionamentos em relação ao parecer 05/2005 precisamente no que se refere à amplitude que mereceria ter a compreensão do termo “formação de docentes”, nos cursos de Pedagogia regulamentados por este parecer.


Com seus limites no que se refere ainda a nomenclatura (licenciatura/bacharelado), o parecer aponta para uma solução de continuidade para um impasse que se estende por mais de duas décadas. No documento em questão a formação dos docentes é entendida de modo bastante mais amplo na medida em contempla a formação de docentes não no sentido restrito de ministrar aulas para esta ou aquela faixa etária. A expressão docência tem seu conceito ampliado para todo o trabalho pedagógico a ser desenvolvido no mundo da educação, seja ele restrito ao ambiente escolar ou não. E neste sentido pode ser considerado um avanço no campo da normatização dos cursos de Pedagogia. Obviamente que esta conquista não veio sem boa dose de participação da sociedade organizada.


O parágrafo a que nos referimos acima reza textualmente:
“Entende-se que a formação do licenciado em pedagogia se fundamenta no trabalho pedagógico realizado em espaços escolares e não escolares, que tem a docência como base. Nesta perspectiva, a docência é compreendida como ação educativa e processo pedagógico metódico e intencional, construído em relações sociais, étnico-raciais e produtivas, as quais influenciam conceitos, princípios e objetivos da pedagogia. Dessa forma, a docência, tanto em processos educativos escolares como nãoescolares, não se confunde com a utilização de métodos e técnicas pretensamente pedagógicos, descolados de realidades históricas específicas. Constitui-se na confluência de conhecimentos oriundos de diferentes tradições culturais e das ciências, bem como de valores, posturas e atitudes éticas, de manifestações estéticas, lúdicas, laborais. (Parecer CNE/CP n. 05/2005, p. 7)”.

Com esta regulamentação, finalmente, os profissionais da educação podem experimentar seus anseios adquirirem abrangência na medida em que os cursos de pedagogia deverão alargar a concepção de educação, de escola, de docência, de licenciatura, etc. situação que implica evoluir para muito além do que a simples preparação para o trabalho, título que damos a este comentário.


Na medida em que acontece este alargamento de conceito e de finalidade os cursos de formação de professores caminham para uma nova epistemologia e superam a visão pragmática e tecnicista de preparadores para o trabalho. Quanto mais se for alargando a visão de formação científica dos cursos de pedagogia, mas será possível ganhar no conceito de práxis educativa.


A crítica que cabe ao parecer se foca na questão da falta de clareza sobre o que significa mesmo preparação para o trabalho didático e formação para a pesquisa que consequentemente se direciona também para o cotidiano da educação. Parece importante que o parecer seja lido sob uma ótica muito mais abrangente do que o desenvolvimento de competências e habilidades para realizar tarefas no campo da escola.


Nossa concepção é também direcionada para a compreensão da formação do profissional da educação com uma ampla interação entre teoria e prática. A formação precisa partir dos conhecimentos já dominados, ampliar o leque de cientificidade e para lá voltar. Este processo parece se moldar melhor ao termo “práxis” usada também por outras ciências humanas.


O parecer, visto sob a ótica que estamos apontando, indica que a formação pedagógica e muito mais ampla do que a preparação para o magistério e alcança a produção e difusão do conhecimento. Conforme dissemos parece que o limite do parecer persiste no fato de manter a nomenclatura que em princípio aponta para um reducionismo da função do que se chama licenciatura. Certamente será necessário estabelecer uma formação teórica sólida que seja muito mais ampla do que um mero pragmatismo pedagógico.


Na medida em que a nomenclatura não se tornar pressuposto para a formação de um profissional do tipo “segunda linha” será possível construir uma política de formação que seja compreendida na linha da formação continuada se estendendo a todos os níveis de formação.


A compreensão que temos desta regulamentação, no sentido que ela melhora substancialmente a possibilidade de formação com a superação da mera preparação para o trabalho, aparece textualmente no documento quando se lê: “As DCN-Pedagogia definem a sua destinação, sua aplicação e a abrangência da formação a ser desenvolvida nesse curso. Aplicam-se: a) à formação inicial para o exercício da docência na educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental; b) aos cursos de ensino médio de modalidade normal e em cursos de educação profissional; c) na área de serviços e apoio escolar; d) em outras áreas nas quais sejam previstos conhecimentos pedagógicos. A formação assim definida abrangerá integradamente à docência, a participação da gestão e avaliação de sistemas e instituições de ensino em geral, a elaboração, a execução, o acompanhamento de programas e as atividades educativas" (Parecer CNE/CP n.05/2005, p. 6).

HOMILIA PARA O DIA 04 DE ABRIL 2010



DOMINGO DA PÁSCOA DA RESSURREIÇÃO DO SENHOR



O início deste ano foi marcado por uma série de catástrofes naturais que comoveram o mundo. Avalanches, desmoronamento, enchentes, terremotos. Em todas estas situações a morte se fez presente de maneira assustadora. Entretanto, para pelo menos uma pessoa, e para os que puderam reconhecer o seu trabalho a morte foi um sinal claro de tudo o que significou a sua vida. Lembro neste momento a Dra. Zilda Arns. Morreu sob os escombros de um terremoto, como tantas vítimas indefesas e inocentes.
Mas a morte dela ganhou outra conotação em virtude do seu trabalho pela vida das nossas crianças. Podemos dizer que Ela não morreu, e não morreu porque sua obra é viva e facilita a vida.
Neste sentido celebrar o Cristo ressuscitado significa celebrar a alegre esperança que também nós com Ele ressuscitaremos. A verdade do que aconteceu com Jesus não foi uma situação fácil de ser entendida pelos seus seguidores. Assim temos na narrativa do Evangelho, nominadas algumas pessoas: Maria Madalena, Simão Pedro, o outro discípulo. Ambos tinham estado com Jesus durante todo o processo da sua condenação e morte, mas ainda não tinham assimilado o que isso poderia significar. E continuam procurando-o no lugar onde estão os mortos.
O modo como o evangelho nos conta a ressurreição indica exatamente aquilo que professamos e celebramos. O que com Ele aconteceu não foi um episódio isolado e sem explicação. Tudo aí faz parte do plano de salvação que Deus tinha, desde muito, planejado.
Nós, como os primeiros discípulos se acreditamos nesta verdade temos a missão de proclamá-la com a vida.
Aqui reunidos fazendo memória deste fato salvador pedimos com insistência que o Senhor nos faça destemidos no que concerne dar a vida por meio de lutas e tarefas que transformem o mundo.
Que nossa vida seja expressão concreta e real do Amém que professamos ao participar da comunhão com o corpo e o sangue do Senhor Jesus.

HOMILIA PARA O DIA 03 DE ABRIL 2010


VÍGILIA PASCAL 2010




A longa celebração desta noite, com suas quatro partes bem distintas, com direito foi chamada por Santo Agostinho de “Mãe de todas as vigílias”. A Liturgia da Igreja nos convida a celebrar recordando a ação de Deus que salvou e libertou seu povo e a reposta nem sempre coerente daqueles que foram escolhidos pelo Pai.
Os sinais do fogo e da água dispensam maiores comentários é fácil perceber que eles indicam o princípio de todas as coisas e sua presença simbólica pode ser reconhecida nos diversos momentos da ação de Deus em favor do seu povo.
A longa Liturgia da Palavra nos ajuda a percorrer o caminho que Deus fez e os descaminhos que as criaturas percorreram até a vinda do Messias.
Em resumo, as leituras do antigo testamento no aponta a obra criadora e salvadora de Deus com a respectiva promessa que nos vem pela boa do profeta.
Já São Paulo no texto de hoje nos faz compreender o sentido último da morte e ressurreição do Senhor. Tendo participado com ele, somos agora herdeiros de tudo o que Ele nos mereceu.
Não é sem razão que entre as leituras do antigo e do novo testamento nós cantamos o hino de louvor e o fazemos convencidos que o Senhor Ressuscitou e que sua vida agora nos aproxima ainda mais e de modo definitivo do mundo que Deus Pai quis para todos.
As palavras do Evangelho são confirmadas pela renovação das promessas do batismo, aceitar esta verdade implica estar disposto a trabalhar por um mundo novo e muito melhor. É obvio se fomos também nós renovados pelo Cristo, porque não dedicar-nos na realização daquilo que Ele começou.
Aqui viemos para “fazer tudo isso em memória do Senhor”. Isto significa dizer que com Jesus queremos passar da antiga à nova vida.