quinta-feira, 12 de agosto de 2010

SABER SER E SABER FAZER

UNIVERSIDADE DO OESTE DE SANTA CATARINA
Campus de Joaçaba - Curso de Pedagogia
Componente Curricular: Educação e Multimeios
Educador: Professor Elcio Alberton
E-mail: professor.elcio@hotmail.com
Blog: www.padreelcio.blogspot.com
Fone: 41 32750578 ou 99219804


DIDÁTICOS, TECNOLÓGICOS OU OS DOIS?

1 – NOÇÕES PRELIMINARES

Para tratar de recursos didático-tecnológicos na educação, não se pode prescindir do objetivo colocado. Conforme já foi dito a primeira condição será delimitar os conteúdos e os objetivos que se pretende alcançar antes de abrir mão dos recursos tecnológicos na educação. De nada adiantaria modernos hardware e software serem disponibilizados se aqueles que dele se servirem não sabem o que fazer com os recursos.
Neste caso vale a máxima do Filósofo Sêneca : “para o barco que não sabe em qual porto quer atracar qualquer vento é favorável”. Qual seja o recurso aplicado sem uma finalidade específica será mais um tiro com “pólvora molhada”.
Sempre partindo do princípio que o aluno é o centro de todo o processo educativo há que se considerar que os recursos precisam estar a serviço deste e não o contrário. Já se afirmou que o principal recurso tecnológico na educação são as pessoas envolvidas: Alunos e professores.
É preciso então considerar que o Ser Humano não aprende/ensina apenas com o pensamento ou com as palavras. É todo o corpo do ser humano que está envolvido quando se trata de aprender/ensinar. A arte de educar é um ato de toda a pessoa e se realiza mais plenamente quando toda a sua corporeidade estiver envolvida.
Por mais belas, que sejam as palavras, por mais modernos que forem os recursos eles não serão capazes de garantir a efetivação do aprendizado. É preciso levar em conta que os movimentos e posições do corpo exprimem os diversos modos da pessoa se colocar diante de outro. Daí é importante reconhecer que ensinar/aprender exige gestos simples, espontâneos e elementares, por meio dos quais o ser humano manifesta as suas necessidades fundamentais.
Os gestos são meios de comunicação pelos quais o homem se dá a conhecer aos seus semelhantes e neles o aprendizado assume uma dimensão social. Não resta dúvida que para ensinar/aprender a participação do corpo é indispensável.
A educação é um ato que se dá com a totalidade do ser humano. É importante destacar a função do corpo como uma espécie de ‘instrumento da alma’. Assim como um músico se serve do seu instrumento para expressar os seus sentimentos, o corpo humano é o instrumento para manifestar os desejos interiores, no caso da educação o desejo de aprender/ensinar. É bem verdade que o ser humano é uma unidade intrínseca, cuja comparação com o instrumento é sempre falha, o primeiro é o instrumento que registra com segurança a interioridade do seu espírito.
Considerando, pois que criaturas corpóreas e que o corpo também se modifica mediante o conhecimento por ele apreendido não deverá ser motivo de nenhuma admiração que seja dada importância decisiva aos gestos e porte do corpo como instrumento que se pode chamar de alta complexidade tecnológica para a aprendizagem.

1.1 – Corporeidade e educação
Os equipamentos (hardware/software) são a maneira visível da relação de aprendizagem. O efeito dos recursos se realiza no corpo mediante os gestos e palavras. É evidente que aquilo que se processa, com o ensinante/aprendente, tem uma originalidade muito particular quase como força de um mistério.
Talvez, nenhuma outra época da história tenha valorizado tanto o corpo e seus gestos como o nosso tempo. É possível afirmar que a cultura da globalização e da tecnificação está exigindo relacionamentos mais densos de calor humano e de razões humanas, até então não exploradas. A riqueza simbólico-espiritual dos gestos e do porte do copo faz o ser humano penetrar com mais intensidade nos mistérios do seu ser.
Cada parte do corpo mereceria um estudo mais aprofundado das suas manifestações e significações da comunicabilidade entre os seres, fato que se realiza de modo muito denso no processo da aprendizagem.
Considerando o propósito desta aula é mister tratar do corpo sob a ótica do principal e mais extraordinário recurso tecnológico. Assim, por exemplo, mencionamos os pés que nos assentam no chão, permitem uma postura vertical, são o lugar do contato do homem com a terra e daí com toda a natureza e naturalmente com o transcendente. O indivíduo que aprende é alguém que se coloca de pé no nível das relações. Diante de toda a capacidade intelectual e do desenvolvimento de tantos recursos porque não se pode ter a certeza absoluta que todos eles dependem da única máquina que não é fabricada, mas que se fabrica a si mesmo. De modo que se deveria ter a certeza de que os recursos tecnológicos tem a função de garantir que o ser humano desfrute deles sem ser aniquilado por eles.
Os pés estão na extremidade das pernas, e sua finalidade é conduzir o ser humano ao encontro com o outro ser humano, com a natureza, com o saber, com o divino. Praticamente não existe ação humana que não seja marcada, delimitada pela capacidade de locomoção resultado das vontades. Vontades que são obedecidas cegamente, mas decididamente e sabendo para onde vai. Andando pelos caminhos como um “aprendente”. As pernas levam o homem a inúmeras experiência e possibilidades, elas são como os sinais de trânsito, o indicativo de que o ser humano está disposto a mudar o sentido de sua vida. Os acidentes e contratempos da estrada não são percalços para que um determinado ato impeça o ser humano de ser feliz.
É a disposição do nosso corpo que nos permite compreender quando Miguel Arroyo escreve:
As figuras dos professores aparecem para além de uma docência neutra. Não dá para separar a imagem do docente da imagem humana. Nem como separar os saberes apreendidos dos valores, dos comportamentos, das condutas e dos hábitos, da ética, da autoestima, do o orgulho ou da humilhação, do estímulo ou do preconceito. Estamos na escola na totalidade da nossa condição humana. Os alunos nos veem como gente, entram na relação docente como totalidades humanas. (Arroyo 2009).

Ora, mobilizar o corpo balancear para frente ou para trás, para a esquerda e para a direita é uma excelente forma de unir a ideia com a experiência. O gesto não mente, ao contrario da palavra ele compromete. As mãos e os gestos cumprem um importante papel simbólico, assim a postura das mãos do professor exercem uma “simboloterapia”, se eliminada esta possibilidade, o processo pode ficar comprometido.


2.0 – A sala de aula
O aluno não é um navegador solitário, um herói que enfrenta sozinho a tempestade do oceano. Ele pertence a um povo, chamado a viver uma relação nova entre si e a humanidade a partir das pessoas que o cercam. Educadores e educandos servem-se do corpo para dar e receber saberes. Antes e acima de tudo este grupo precisa de um corpo, precisa de coração que tenha o desejo de relação. O corpo no processo educativo precisa disponibilidade para “perder tempo” que o leve a mudar de vida. A sala de aula não é uma improvisação, mas exige espaço e tempo para que o aluno possa se sentir importante, acolhido no seu todo, corpo e espírito, é muito mais eficaz a educação que faz o sujeito se sentir reconhecido, também no seu corpo. O ambiente que cerca o aluno tem altíssima importância no processo da aprendizagem. Diante da exigência da sustentabilidade se pode até falar de uma ecologia da aprendizagem. E nisto aparecerão os recursos tecnológicos disponibilizados junto com as pessoas.
3.0 – A capacidade de compreensão
Os estudiosos da retenção costumam dar distintos valores para a capacidade de compreensão de determinados saberes. Assim se diz que a mente humana é capaz de fixar com facilidade:
1% do paladar
1,5% do tato
3.5% do olfato
11% da audição
83% da visão.
Sendo esta uma verdade, no que toque algumas diferenças percentuais de uns e outros estudos, há que se considerar que na arte de educar é muito necessária a combinação entre oral e visual. Sempre tendo em conta que o primeiro a ser visualizado é o próprio sujeito que deve ter a primazia sobre qualquer outro recurso.
Não parece fora de propósito que o ser humano teve sempre necessidade de associar o seu ser ao seu fazer.

Referência bibliográfica
ARROYO, Miguel G. Imagens quebradas. Petrópolis, Vozes, 2009.
FERREIRA, Oscar Manoel de Castro. Recursos audiovisuais para o ensino. São Paulo, Editora Pedagógica Universitária, 1975.

Nenhum comentário:

Postar um comentário