quarta-feira, 11 de maio de 2011

SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO IV


EDUCAR PARA A ALDEIA GLOBAL
Reflexões do professor a partir do tema.

               A expressão "O mundo é uma aldeia global", foi usada pelo pensador canadense Marshall McLuhan, na segunda metade do século XX. À época ainda nem se podia sonhar na revolução tecnológica que experimenta a sociedade contemporânea com todos os efeitos decorrentes da globalização econômica, política e social provocada pelo advento das Novas Tecnologias de Comunicação e Informação (NTCI).
A par da globalização mercantilista pela qual passam os povos e que  redunda numa complexa metamorfose civilizatória, cresce também um fenômeno positivo que pode ser chamado de solidariedade planetária com buscas de soluções globais para os problemas que renovam as esperanças num mundo equilibrado e socialmente justo.
               Neste contexto desponta a educação holística como ajuda para uma nova irmandade planetária baseada em valores que dignificam a vida e confirmam a busca por sustentabilidade com a consequente convivência pacífica entre as diversidades. No centro destes questionamentos estão duas correntes mais ou menos extremas e identificadas como: antropocentrismo e biocentrismo. A educação holística não tem por objetivo entrar na discussão dos limites, pelo contrário aponta para a visão de sustentabilidade.
              Na medida em que se reconhece que o planeta vive uma crise ambiental que compromete a sobrevivência futura há que compreender que ela começa na crise da humanidade e por isso exige de todos um repensar cultural a partir dos alicerces. A nova forma de educação que se deslumbra no inicio deste século XXI aponta para a necessidade que precisamos de uma ética política que não esteja ligada às identidades alienadas do individualismo ou do coletivismo, o entendimento de nós mesmos como pessoas, cada uma única, possuidora de um destino imprevisível.
Estamos numa confluência histórica que exige mais do que nunca uma união de forças entre o "ad intra" e o "ad extra" que se mal compreendidas e mal trabalhadas pode criar uma nova contradição histórica muito mais potente que as contradições classistas do marxismo e a disputa cerrada da guerra fria ou a luta atual entre o "ocidente do bem" e o "oriente terrorista".
               Uma busca desenfreada pelo subjetivismo individualista e burguês facilmente se corrompe pelo egocentrismo cujo papel da educação consiste em superar.
                Neste contexto surge uma dimensão ética do existir humano, isto é, todas as pessoas nascem para serem indivíduos antes que ficções coletivas. É exatamente esta consciência ética que o planeta quer de nós. Na medida em que é cultivada uma cultura de exploração e de irresponsabilidade com o planeta ela pode ser sinonimada com a expressão "proletariado explorado equivale a dizer direitos do planeta nas mesmas condições".
               O que impulsiona o ser humano para uma luta diferenciada é também a mesma força que destrói o planeta e perpetua a injustiça. Roszak conclui sua convicção com a frase: "as necessidades do planeta são as necessidades da pessoa, e os direitos da pessoa são os direitos do planeta".  
O novo modelo de preocupação global e solidariedade planetária que se delineia neste inicio de milênio  traz como preocupação principal os direitos da pessoa. Em outras palavras o ser humano criado  para cultivar e dominar a terra está em primeiro lugar na ordem do que precisa ter preservação garantida. De modo que preocupar-se com o planeta não é senão querer garantir a qualidade de vida das pessoas que nele vivem. 
Ter preocupação com trabalho, segurança, alimentação, educação não é senão garantir que o ambiente em que essas realidades acontecem está preservado e sustentável.  E isso não se trata de mera tolerância ou em preocupação com o outro por que ele é indefeso, ou algo que o valha,trata-se sim do que se pode chamar de fascinação pela dignidade humana cuja inviolabilidade preocupa mais do que o próprio bem estar do meio ambiente. (Exemplo  do Japão e outras catástrofes).
O gigantismo que se estabeleceu nas relações no fazer acontecer põe em risco o cotidiano da existência humana e nisso não se pode apenas estabelecer uma espécie de “caça às bruxas”  tentando encontrar culpados para a situação, pelo contrário, como já se afirmou trata-se de um conjunto global cuja preocupação  precisa ser mais qualitativa do que quantitativa. A perspectiva de sustentabilidade pede uma estreita conexão entre o humano e o habitat e isso é papel da educação para o século XXI.
Para os grandes defensores da teoria da sustentabilidade é clara a preocupação com a dimensão espiritual da relação ecológica. Esta preocupação aponta para amplas reformas que ampliem a consciência ecológica. Educar, sob esta ótica pede uma aproximação mística que pressupõe responder sobre os grandes temas do existir humano.  Uma ecologia profunda implica num estudo sobre o conjunto orgânico de todas as formas de vida.
Duas verdades fazem parte do processo educativo do século XXI: autorrealização e igualdade biocêntrica este reconhecimento mais do que intelectual é espiritual e realça alguns princípios importantes:
1)                 As formas de vida tem valor em si mesmo;
2)                 A diversidade das formas contribui para a realização dos valores;
3)                 O homem não tem direito de reduzir a diversidade em vista das suas exclusivas necessidades;
4)                 A prosperidade da vida e das culturas humanas é compatível com um decréscimo da população humana (percentual).
5)                 O homem violou princípios de inviolabilidade  na relação com outras formas de vida;
6)                 A educação precisa provocar uma mudança de atitude mesmo que estas afetem  estruturas econômicas, tecnológicas e ideológicas já consagradas;
7)                 Trata-se de mudar o conceito:  qualidade de vida;
8)                 Ninguém pode se omitir destas responsabilidades.
Em resumo, trata-se de ver os problemas sob a ótica da globalidade local e mais uma vez a educação tem uma função ímpar por conta da sua estreita relação com a cultura. A educação é o reflexo de todas as estruturas da sociedade, não sem razão se diz que a educação não é a solução de todos os problemas, mas faz parte da solução de todos.
Mais do que quando foi cunhada por McLuhan a frase: “O mundo é uma aldeia global”  é hoje uma realidade que afeta diretamente a educação.  Há que se reconhecer que a revolução tecnológica, não é em si mesma nem boa, nem má! É importante reconhecer a sua contribuição na integridade das respostas e soluções.
Cada vez mais a comunidade escolar é convidada a tomar decisões mais complexas e mais éticas  porque abrangem a totalidade das relações humanas.  É aqui que entra a importância da Educação holística na sua visão interdisciplinar e diante desta realidade será importante estimular mais a sabedoria do que a inteligência, posto que a primeira é mais abrangente do que a última.
Para uma resposta coerente em relação ao século XXI não resta a menor dúvida de que é importante uma “alfabetização ecológica”,  no sentido de um componente curricular centrado na terra e nas condições de sobrevivência nela.  Não se trata simplesmente de administrar os bens da terra, mas de cuidar deles, alias como foi a proposta inicial, segundo as teorias criacionistas. A aldeia global em que estamos metidos não pode ignorar em se tratando de educação holística que o nosso “lar é planetário” e é nele que se cria ou se mutila a família humana. A sociedade é desafiada a construir pontes de paz.
Para concluir é importante não fugir à responsabilidade que recai sobre os educadores do novo milênio “contribuir para a boa sobrevivência e boa administração de nosso lar e das espécies planetárias e isso não se dará sem uma melhora nos hábitos pessoais”.

terça-feira, 10 de maio de 2011

SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO III


RESENHA DO CAPÍTULO
OS PROFESSORES: INSTRUTORES OU EDUCADORES?[1]
Elcio Alberton
O autor parte da afirmação que educar se constitui numa tarefa muito mais excelsa do que o simples processo de instruir.  Ao longo do texto leva a compreender que a missão de educador equivale a um sacerdócio que transforma o professor em verdadeiro mestre de vida.  Desde esta perspectiva também a escola tem uma função muito além de local para a instrução. E educar consiste em transmitir valores, posturas, condutas, comportamentos, ao passo que instruir é uma redução a produção de conteúdos e competências específicas.
Uma escola que reduza sua função ao campo da instrução poderá ser uma boa preparadora para o mercado de trabalho e até desenvolverá competências e habilidades, mas não formará para a vida. (Caso da Escola Municipal Tasso da Silveira – Realengo). Neste sentido já se expressou Paulo Freire e o fez com as seguintes palavras: “Transformar a experiência educativa em puro treinamento técnico é amesquinhar o que há de fundamentalmente humano no exercício educativo: o seu caráter formativo”[2]
Outro expoente que trata da educação sobre a mesma ótica é Gusdorf[3]: “Se a instituição escolar na sua totalidade tem por fim a aprendizagem da humanidade pela pessoa é evidente que o sistema pedagógico deveria ter como tal um valor formativo” (Apud. Juliatto, 2010, p. 58).
Algumas condições são indispensáveis para que a escola desenvolva mais plenamente seu potencial formativo e um deles será a capacidade de desenvolver no seu interior o conceito de comunidade seja no seu todo, seja em suas partes, compreendendo a sala de aula, os espaços de lazer, a biblioteca, sala dos professores e etc.
Ninguém pode por em dúvida que a realização do ser humano e o seu modo de SER e fazer no mundo se deve à formação que se estabeleceu no período escolar. A influência desta instituição sobre as pessoas é tal que todos os governos totalitários tomam como primeiras medidas o controle dos sistemas educacionais.
Neste sentido cabe com exatidão a qualificação de educador para designar a missão de ensinar e o papel do professor uma vez que este tem uma tarefa especial que consiste em formar o caráter dos seus alunos, em repassar-lhes valores e lições de vida. Não se excluí é obvio da tarefa do professor o papel de facilitador no processo de aprendizagem. Isso claro que é importante, mas a missão do professor é muito mais complexa e dele se espera muito mais do que capacidade técnica e preparo intelectual.
Parece claro que o professor que resume sua função à tarefa de transmitir e facilitar habilidades e competências tem seus dias contados, sobretudo diante dos inúmeros meios eletrônicos que vão paulatinamente ocupando esse espaço.  Mas há uma condição que nenhum recurso tecnológico é capaz de suprir: a condição de educador, aquele que inspira, orienta e influência.
É o mesmo Gusdorf, na obra Professores para que? Quem afirma que do professor - instrutor se espera apenas conhecimento, do mestre educador se pede que seja capaz de interpretar o que ensina aplicando o saberes ao cotidiano das relações.
A ideia de professor como “un insegnante” é de longe comparada com a figura do “maestro de vita”  presente nas pequenas comunidades interioranas do norte da Itália pré-unificada. Aliás, foi esta figura que mais tarde acompanhou os imigrantes na saga de “colonizar o Brasil” no final do século XIX.
Por aí se pode ver que educação se constitui num sacerdócio, ou seja, é um elemento de vocação, mais que de simples profissão, para ser tal exige-se virtude e cultivo de hábitos que moldem o coração.
George Steiner[4] afirma que “ensinar seriamente é tocar no ponto mais vital de um ser humano... É buscar um acesso à integridade mais viva e íntima de uma criança ou de um adulto... Um ensino de má qualidade é um assassinato e, metaforicamente, um pecado” (Apud Juliatto, 2010, p.62).
Considerando este quesito há de se compreender que nunca nenhum docente está pronto na sua condição de educador, assim como também nenhum estudante é perfeito discípulo. Em ambos os casos a vida pede abertura para um aprendizado constante. Neste sentido não se pode falar de uma educação para o futuro, mas sempre sob a ótica presentista.
As instituições educacionais, escolas e universidades tem uma responsabilidade insubstituível que consiste em oferecer educação integral, a qual como se disse é muito mais do que facilitar a produção de saberes. Dentre os educadores de renome, merece citação o popular: Tristão de Ataíde, (Alceu Amoroso Lima) o qual declarou que o compromisso da Universidade “é promover a humanização integral entre pessoas, também entre classes e povos” (LIMA, 1961, p.12).
Já se disse que a função do professor é mais uma vocação do que uma tarefa a ser exercida e nesta direção já falava também Gandhi, afirmando que a verdadeira educação consiste em fazer aflorar o que há de melhor dentro das pessoas. A isso se denomina cultivar valores, que no dizer de Juliatto 2010, “são aqueles elementos que dão significado à vida. E o trato com os valores é responsabilidade do educador. Ele não considera importante somente proporcionar uma formação integral e humanista do futuro profissional, mas, sobretudo, sabe que tem o  compromisso de melhorar a alma humana” (p.65-66).
Nesta mesma direção se expressou o papa João Paulo II, falando aos universitários em Roma: “Como homens de ciência interrogai-vos continuamente sobre o valor da pessoa humana” (nove set. 2010). O descuido no que se refere ao cultivo de valores favorece a deformação dos alunos passando assim uma ideia que eles não são importantes. Neste sentido fica bem falar de educação integral como integradora da educação profissional.
Para que estas realidades sejam reconhecidas não é difícil compreender o conceito de praticidade que envolve o processo de ensino/aprendizagem. É por meio desta condição que alunos e professores têm condições de se adaptar às novas situações e enfrentá-las com serenidade. O educador é uma espécie de engenheiro do conhecimento, neste sentido estando preparado para fazer sempre novas articulações.
Os problemas existem para serem resolvidos e esta é a segunda ótica que precisa ser reconhecida na função do professor, diante das urgências e dificuldades o professor pragmático adora postura positiva, isto é, olhar clinico e sereno de quem sabe que poderá encontrar a solução de descontinuidade para o problema.
A terceira arte do professor educador reside na capacidade de organização, e neste sentido também ele é digno de ser imitado. A organização é o que se pode chamar de princípio de clareza entre aquilo que sabe e o que sabe fazer e dizer.
Seria também ilusório tratar a educação só a partir dos aspectos pragmáticos e presentistas, ou seja, o processo se dá no presente, mas com um olhar no horizonte e neste sentido o educador é um semeador de utopias. Nesta direção se expressa a escritora mexicana Monique Zepeda:
A escolha de ser professor supõe sonhos e riscos. O sonho de moldar o outro, quase criá-lo segundo o próprio desejo, transformando-o para que se pareça o mais possível a uma imagem ideal de ser humano, (...) para que chegue mais longe do que ele próprio tem chegado, para que alcance o que ainda não conseguiu (...) O risco de desconhecer que o desejo é motor de toda a ação pedagógica; o perigo de atuar com os olhos fechados. Existe o sonho de uma comunicação fluída com os alunos e o temível desencanto de não consegui-lo (Apud Juliatto, 2010, p. 69).
Educar para a utopia é muito diferente de formar a partir do viés ideológico, quem, verdadeiramente educa, assim o faz, bem sabendo em que direção faz. O que na linguagem de Rubem Alves consiste em plantar esperanças. Essa realidade faz do educador  um sedutor, e aquele que seduz também encanta e vai alimentando a dimensão espiritual e mística que acompanha o ato de educar.
Educar com a perspectiva de transformar o homem e a sociedade implica dar vazão à sensibilidade social  capaz de olhar com carinho para os mais necessitados seja econômico seja necessitado de solidariedade, neste sentido cabe o provérbio Hindu: “É quando o discípulo está pronto que o mestre aparece”.
O que se chama em outra linguagem de professores marcantes é que se denomina aqui de modelos e isso não exatamente porque sabem muito, dominam todas as técnicas pedagógicas ou conhecem todo o conteúdo, mas pelo contrário são educadores que cultivam o entusiasmo, a alegria e o otimismo.
Não sem razão retornamos ao início da Filosofia Grega quando o velho e sábio Sócrates  compara a função de ensinar ao trabalho da parteira. Ou seja o mestre facilita o crescimento do amor pelo saber e incentiva relações que facilitem o “dar a luz”. Na esteira da clássica afirmação socrática “Só sei que nada sei” destaca-se Picasso ao dizer: “Meu orgulho aos 80 anos é saber a metade do que pensava saber aos 20 anos...”.
Nada nem ninguém diz Paulo Freire pode sepultar o sonho de novos tempos para a educação e isso se pode compreender na afirmação: “divinizar ou diabolizar a tecnologia ou a ciência é uma forma altamente negativa e perigosa de pensar errado”(Freire, 2001, p. 37). Ao lado da tecnologia e das novas formas de ensinar o educador é desafiado a associar a sensibilidade para tratar as pessoas.
Na arte de educar alguns perigos são iminentes e um deles deixar-se dominar pelo dogmatismo, ou seja por certezas absolutas, do outro lado está o relativismo, posição que considera tudo como certo e correto dependendo do interesse e da ocasião. Nem tampouco pode se deixar envolver pelo ceticismo o qual reduz ao niilismo e incapacidade de saber e conhecer qualquer coisa.
Não se pode pensar educação sem compreender a missão da instituição e a filosofia que ela cultiva, ou seja, qual a ideia de ser humano é cultivada no seu interior. Muitas questões não tem necessidade de ser tratada, basta que sejam executadas. Entre elas o senso de justiça, que fala muito mais forte o fato de o professor ser uma pessoa justa do que todos os demais discursos.
Educar é uma questão de apontar para o bom, o bem o justo e o correto e isso se faz não exatamente pela titulação, como se expressa o reitor da PUCPR  “nós formamos o cidadão para ser bom profissional e para ser  gente boa” (Juliatto). Ou com outra formulação “As palavras serão vãs se o aluno não perceber, na vida do mestre, dentro e fora da universidade, o exemplo que arrasta” (apud, Juliatto,  2010, p. 87).
Com todas essas afirmações não há como fugir da compreensão de que a espiritualidade precisa fazer parte da atmosfera da educação. Aqui entra o desejo de Kant, que a educação produza pessoas civilizadas. Deixar de cultivar Deus e a concepção de pessoa ética e transcendente é deformar a educação.  Sem ilusão, abrir-se ao transcendente não pode ser entendido como negação da racionalidade pelo contrário esta abertura significa a expressão da capacidade mistagógica do próprio educador.
A mistagogia do educador está muito mais presente no modo como ele encara a vida do que nas distintas maneiras de como pode falar sobre ela. Neste sentido cabe a expressão de Einstein:
Não é suficiente ensinar ao homem uma especialidade. Através dela ele poderá tornar-se um tipo de máquina útil, mas não uma personalidade  harmoniosamente desenvolvida. É essencial que o estudante tenha uma compreensão e um sentimento vivo em relação aos valores. Ele deve adquirir um senso vivo do belo e do moralmente bom  (Apud Juliatto, 2010, p.92).


[1] JULIATTO, Clemente Ivo. Parceiros Educadores, Curitiba: Champagnat, 2010,  p. 55 – 91.
[2] FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 2011. P.37
[3] Filósofo e epistemólogo Francês falecido no ano 2000.

SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO II

CONSIDERAÇÕES A RESPEITO DO TEMA:
A EDUCAÇÃO QUE TEMOS
E A EDUCAÇÃO QUE QUEREMOS[1]

Elcio Alberton

I - PÉS NO CHÃO E OLHAR NO HORIZONTE
A proposição de educação para o futuro está calcada nas imagens do passado e na realidade presente. Já se falou que a educação é reprodutora de sistemas, mas que, entretanto, sua face moderna consiste em construir homens e mulheres melhores e com mais qualidade de vida.
Olhar para o futuro da educação é abrir-se para um horizonte metafórico, pois ele ainda não existe, ou seja, não é mais do que uma projeção. É também verdade que as mudanças atuais, decorrentes da globalização tecnológica apontam para um futuro sempre mais iminente e que urge ser perseguido.
Por outro lado não se pode menosprezar que a Educação tem sempre uma perspectiva presentista, posto que a partir desta realidade se construa o futuro. A dimensão futurista da educação igualmente apressa o presente e diminui o passado apontando para o mundo que não está ao alcance de qualquer controle. Por conta da utopia modernista, o ser humano é um ser insatisfeito.
Pensar a educação que queremos consiste em projetar o que não foi sonhado, em outras palavras significa dizer que popularizar a educação tornou-se um sonho real e que há muito deveria ter sido concretizado. É papel da educação no hoje pensar o sujeito de amanhã de modo que seja capaz de controlar suas ações desde a experiência.
A aprendizagem não é uma exclusividade da escola, de modo que o SER do indivíduo é uma condição “sine qua non” para o terceiro milênio. Sob a ótica futurista é imprescindível recordar as origens e revitalizar as esperanças. Kant já ensinou alguns critérios que permitem reconhecer um modelo educacional presentista que seja também garantidor do futuro:
a)     Homens disciplinados – condição capaz de submeter a barbárie;
b)     Homens cultivados -  faculdade capaz de levar a alcançar os fins;
c)     Homens civilizados – prudentes e capazes de adaptação;
d)    Homens moralizados – capazes de escolher distinguindo entre o que é bom e o que é mau.
O desenvolvimento dos indivíduos e sua adequação a estas condições é um fator cultural subjetivado graças à indeterminação da natureza humana. Neste sentido é importante superar o conceito de educação como preparação para o depois (Estudar para ser alguém na vida – ou educar a criança para ser um adulto bom, etc.) e compreendê-la como formação para o agora.
O indivíduo não nasce educado, ele vai se fazendo, isso não é sinônimo de dizer que é uma “tabula rasa”, mas vai adequando os seus saberes com os outros com os quais vai se socializando e fazendo a interação de saberes e valores.  Não é bom falar em acumulação de saberes, mas em saber de acordo com o tempo. Por isso mesmo não existe uma etapa na vida em que o processo de aprendizado tenha um fim (Já terminei meus estudos). Só um processo de aprendizado contínuo permite não limitar o horizonte da vida.
II - EIXO DE UM PROJETO PARA O FUTURO
Dentre as condições básicas para um projeto de educação maduro e coerente dois elementos são indispensáveis:
1)                 Ler e escrever – somente por meio deles pode haver uma reconstrução cultural e social. Pela leitura o indivíduo estabelece um processo de desenvolvimento da racionalidade e na medida em que escreve desdobra os significados. Ler é o que se pode chamar de transcendência da escola, naturalmente que esta precisa cultivar no aluno o gosto pela leitura, superando os paradigmas de que leitura é castigo.
Escrever com prazer é um desafio que as Novas Tecnologias de Informação e Comunicação apresentam e exigem de todos os que dela se aproximam. As NTCI podem ser qualificadas como uma espécie de segunda língua e quem delas se apropria necessariamente lê e escreve de um modo que se faz entender noutra linguagem. É verdade também que o acesso ou não às NTCI pode criar também um fosso abissal entre os que tem acesso e os excluídos digitais. Mas as NTCI estabelecem um alicerce para a educação permanente.
III - EDUCAÇÃO = ACERVO ACUMULADO
            Ao dizer que a educação é um acervo acumulado não se está afirmando que o processo de aprendizado seja um amontoado de conhecimentos, muito pelo contrário, trata-se de um processo que ultrapassa limites e espaços. A educação é plural (O saber não ocupa lugar). O acúmulo de saberes se dá muito mais por aquilo que se estabelece no seu entorno do que propriamente com aquilo que se julga possuir. Deste modo é importante que a escola e todas as outras instituições que de algum modo são veiculadoras do saber estabeleçam parcerias que se constituam em pluralismo de conhecimento.
Pluralismo consiste em defender a ideia de que há muitos fins distintos que o homem pode perseguir e mesmo assim ser plenamente racionais, homens completos, capazes de entender entre si e de simpatizar e extrair luz uns dos outros. Porque, se não tivéssemos nenhum valor em comum com essas personalidades remotas, cada civilização estaria encerrada em sua própria bolha impenetrável e não poderíamos entendê-la em absoluto. A intercomunicação das culturas no tempo e no espaço só é possível porque o que torna os homens humanos é comum a elas e age como ponte entre elas (Imbernon, 2000 p. 50).

Eis aí uma alternativa para reconhecer os espaços e tempos dos saberes, trata-se de estabelecer um diálogo que mantenha o estímulo, a liberdade e a independência. Tal processo se dá por meio de uma relação de abertura entre sujeitos que cultivam a razão e que atribuem autoridade a quem de fato tem: a Educação.
Não há dúvida que apesar de todos os mecanismos de aprendizado que a modernidade põe ao alcance do ser humano a escola continua insubstituível, todos os demais apenas ajudam para que esta se aperfeiçoe e se adeque aos novos tempos.
Somente a certeza de que a educação, que se constitui num direito de todos esteja efetivamente ao alcance daqueles a quem ela é de direito fará com que os saberes estejam ao alcance de todos. Tal profecia ou desejo já foi apontado por Comenius com sua Didática Magna, que faz uma das afirmações mais contundentes sobre a necessidade de ampliar o conceito de ensinar.

Processo seguro e excelente de instruir, em todas as comunidades de qualquer reino cristão, cidades, aldeias, escolas tais que toda a juventude de um e de outro sexo sem excetuar ninguém em parte alguma, possa ser formada nos estudos, educada nos bons costumes, impregnada de piedade, e, desta maneira, possa ser nos anos da puberdade, instruída em tudo o que diz respeito à vida presente e à futura, com economia de tempo e de fadiga, com agrado e com solidez. (Comênius, 1985, p. 43).

O método de Comenius propõe uma formação progressiva e ordenada na qual também seja dada atenção aos conteúdos. Sob esta ótica a didática deixa de ser ‘teológica’ isso é submissa à teologia e à igreja, para ser sociológica. Aqui aparece pela primeira vez a relação professor aluno, centrando a preocupação no último, condição que virá a ser reforçada com o movimento da escola nova. As posições de Comênius constituem o que se pode chamar de primeira revolução pedagógica.
Se se quer pensar numa educação para o futuro há que se reencantar a educação no presente atendendo as demandas atuais como caminho para superação do que se chama crise da educação.



[1] SACRSITAN, José Gimeno. In IMBERNÓN, F. A Educação no século XXI. Porto Alegre: Artmed, 2000.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

HOMILIA PARA O DIA 15 DEMAIO DE 2011


4° DOMINGO DA PÁSCOA
Leituras:  Atos dos Apóstolos  2,14a.36-41; Salmo22,1-3a.3b-4.5.6 (R.1);
1Pedro 2,20b-25; João 10,1-10

Nas relações sociais,  comunitárias,  institucionais, familiares,  e até mesmo no trabalho é bastante comum que algumas pessoas sejam identificadas e reconhecidas por suas habilidades e competências. Em função disso são qualificadas como se fosse seu próprio nome. É bem comum que por conta do modo como realizam alguma atividade elas sejam procuradas por todos dentro das instituições e comunidades em que vivem. Assim, por exemplo, reconhecemos a “D. Maria Benzedeira”, “O Seu João da Padaria”, “D. Joana da creche”. Quando se fala sobre alguma destas necessidades automaticamente vem à mente a pessoa que assim é identificada.
Ora, com a pessoa de Jesus Cristo, e na relação conosco e com seus conterrâneos não foi diferente. A comunidade de Israel  o reconhecia como Mestre, Messias, Filho de Davi, Carpinteiro e etc. No Evangelho de hoje ele mesmo se dá outros dois adjetivos: Bom Pastor e Porta do Redil.
Na condição de Bom Pastor se apresenta como aquele que cuida com a mais absoluta paixão por seu rebanho. Afirma com convicção tudo o que está disposto a realizar pelo seu rebanho: é capaz de entregar a própria vida.
Na condição de porta se apresenta como única passagem segura para a vida e para o encontro com o Senhor da vida.  E por isso mesmo tanto ele, quanto os que o seguem reconhecem  sua voz e se chamam pelo próprio nome.
Por causa dessa certeza os apóstolos não tiveram medo de proclamar que Ele foi o enviado do Pai, o que assumiu as dores e os riscos por causa daqueles que o mesmo Pai lhe havia confiado.
Já na segunda leitura a comunidade percebe que o jeito de ser de Jesus, pode ser também imitado por cada um dos seus seguidores. Ou seja, como o Mestre ter a coragem de carregar as dores e os sofrimentos na convicção de que eles fortalecem, purificam e garantem a realização do bem maior. Não se trata de procurar sofrimentos e provações, trata-se sim de compreender os sofrimentos que a vida exige como Cristo mesmo assumiu a cruz na perspectiva da ressurreição.
Eis a razão da Oração que fizemos no Salmo:  O Senhor é o pastor que me conduz; não me falta coisa alguma. Mesmo que eu passe pelo vale tenebroso, nenhum mal eu temerei;  estais comigo com bastão e com cajado; eles me dão a segurança!”.
Confiantes no cuidado do Pastor, também cada um de nós é novamente convidado a carregar a cruz de cada dia partilhando também as provações de cada pessoa com quem convivemos. Podemos ter certeza, Ele nos conhece pelo nome e se dá a nós na Palavra, na Eucaristia e está conosco na oração da Igreja reunida e “Pelos prados e campinas verdejantes ele nos leva a descansar”.