sábado, 2 de julho de 2016

IGUAIS EM DIGNIDADE


Diversos fatos ajudam melhor entender a Palavra de Deus proclamada na liturgia deste domingo em que a Igreja recorda São Pedro e São Paulo. Uma das situações diz respeito a intolerância religiosa e ao martírio de muitos, sobretudo, no oriente médio. Sobre a situação daqueles que são mortos por intolerância religiosa perseguidos por grupos extremistas o Papa Francisco chama “Martírio com luvas Brancas”.

No Brasil, diante da crise ética e política que o país está enfrentando também é possível perceber como a incapacidade para aceitar as diferenças tem levado pessoas e grupos a intolerância e incapacidade para o diálogo. Sobre isso o secretário geral da CNBB afirmou em recente entrevista: “Aceitar quem pensa diferente, nos leva a uma maturação maior. Sem isso nós não cresceremos, não teremos um Brasil melhor"

O País está vivendo e se preparando para o maior evento esportivo do mundo, com a realização das olímpiadas no Rio de Janeiro. A passagem da tocha olímpica em diversas cidades e regiões, momento no qual milhares de pessoas se mobilizam e correm para ver o símbolo do evento, leva a compreender "Que temos um compromisso com o mundo, com tantas delegações, de proporcionarmos boas olimpíadas"

No tempo de Pedro e Paulo situações desta natureza também existiam. A história conta como Pedro e Paulo foram torturados e martirizados exatamente porque pensavam diferentes e com seu modo de vida testemunhavam outra forma de ver e compreender o mundo e as pessoas. Na segunda leitura Paulo, diante da eminência da sua execução compara a sua vida como uma maratona: “Combati o bom combate terminei a minha corrida, guardei a fé, só me resta a coroa da Justiça que o Senhor me dará, não somente a mim, mas também a todos os que esperam com amor a sua manifestação gloriosa”. 

A missão que Jesus confiou a Pedro, se estende a cada pessoa e a todas as comunidades cristãs: Construir uma Igreja firme e forte, capaz de dialogar com diferente, acolher e perdoar com misericórdia e caridade. 

Eis que as comunidades se reúnem para celebrar a misericórdia de Deus e pedem que o Espírito Santo ajude a todos a viver de maneira que o ensinamento dos apóstolos, a fração do pão, o amor dos primeiros cristãos, faça de todos um só coração e uma só alma.


Que cada cristão seja no seu ambiente de trabalho e de vida um exemplo de coragem, de compreensão e diálogo superando medos e preconceitos. 

quinta-feira, 23 de junho de 2016

JESUS TOMOU A FIRME DECISÃO!

Tomar decisões na vida costuma ser uma das maiores dores de cabeça que uma pessoa enfrenta na vida. Sobre decisões e oportunidades, costuma-se usar um provérbio popular que diz mais ou menos assim: “A oportunidade é como um cavalo encilhado que só passa uma vez na vida”.  E se isto é verdadeiro há que se aprender a tomar decisões e ter a coragem de assumir as consequências das escolhas que se faz. Já quando uma pessoa desiste de algum projeto se diz que “pendurou a chuteira” ou que “jogou a toalha.

No livro dos Reis, cujo texto é proclamado neste domingo, o profeta Elias faz um gesto inusitado para provocar uma tomada de decisão do jovem Eliseu. Sentindo-se enviado por Deus o profeta percebe que é hora de “pendurar a chuteira” e sai à procura de um seu sucessor. O convite para ocupar o seu lugar não é feito com nenhum discurso nem pratica de convencimento. Vendo o jovem Eliseu, que não é um sujeito incapaz para nada, pelo contrário, está arando a terra com 12 juntas de bois, o profeta lhe oferece o manto, isto é, lhe oferece uma outra oportunidade, a qual Eliseu não tem medo de aceitar. Não só aceita seguir, como oferece os bois em sacrifício como sinal da sua adesão e da sua coragem para encarar um novo modelo de vida.

Aos Gálatas, São Paulo vai repetir o que já vem falando em outras ocasiões: O centro de toda a vida é a pessoa de Jesus Cristo, com sua morte e ressurreição. E hoje Paulo afirma: “Foi para a liberdade que Cristo nos libertou”, portanto deixem-se conduzir pelo Espírito de Cristo.

E qual é o Espírito de Cristo senão aquele que ele mesmo dá a conhecer no Evangelho: “Jesus tomou a firme decisão de partir para Jerusalém”.  Neste caminho não faltam dificuldades, provações e provocações, mas Jesus faz exatamente o que disse a Pedro no domingo passado: “quem quiser ganhar a sua vida vai perde-la, mas quem perder a sua vida por causa do Evangelho, este a salvará”.  Hoje ele faz um diálogo com outras pessoas e as interpela dizendo “o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça”, e exatamente por isso nada lhe prende, nem mesmo uma moradia estável.

Também os cristãos destes tempos vivem a mesma condição de Eliseu, da comunidade de são Paulo e dos seguidores de Jesus. Trata-se de compreender quais são os verdadeiros laços que prendem e que libertam e quando é hora de tomar decisões, como quem “põe a mão no arado e não olha para traz”.


Seguir Jesus Cristo com as causas que ele também defendeu exige a coragem e a determinação que ele mesmo ensinou. Permitam-me concluir dizendo que carregar a cruz de cada implica compreender o que disse um compositor gaúcho em uma de suas canções: “Olha, guri, lá o povo é diferente e certamente faltará o que tens aqui. Eu só te peço, não esqueças de tua gente. De vez em quando, manda uma carta, guri.  Se vais embora, por favor não te detenhas. Sigas em frente e não olhes para trás”

sábado, 18 de junho de 2016

REFLETINDO A PALAVRA NO DOMINGO 19 DE JUNHO DE 2016

TODOS SÃO UM EM CRISTO JESUS

Nesta semana o Papa Francisco abriu um congresso em Roma e no discurso inicial afirmou: “É a fé que nos impele a não cansarmos de buscar a presença de Deus nas mudanças da história”. O papa tem clareza que o mundo e as situação das pessoas no mundo vai sofrendo transformações que nem sempre são bem entendidas por todos.
Isso também acontecia com as pessoas cuja história está relatada nas páginas da Sagrada Escritura e que a comunidade cristã ouve cada vez que se reúne na assembleia de oração. Para este domingo a liturgia prevê um texto do profeta Zacarias, a continuação da carta de São Paulo aos Gálatas, e um texto do Evangelho de Lucas.
No antigo testamento o profeta faz um anúncio da ação de Deus dizendo: “Derramarei sobre a casa de Davi e sobre os habitantes de Jerusalém um espírito de graça e de oração; eles olharão para mim”. Essa promessa é um sinal da misericórdia de Deus a todos os que aí vivem independente da sua condição, sejam eles bons, perfeitos, pecadores, não importa. O que conta é que Deus está presente no meio deles, como disse o Papa, nas mudanças da História.
A mesma certeza tem São Paulo falando aos moradores da Galácia. O apóstolo afirma que na morte e ressurreição de Jesus foram sepultadas definitivamente todas as diferenças e que por conta disso cada pessoa é convidada a exercer o amor e a solidariedade de modo que Deus e sua misericórdia possam ser reconhecidos e experimentados por todos.
No evangelho, Jesus desafia os discípulos a afirmar sua fé na pessoa dele e no mistério que envolve sua missão no mundo. Ele não recusa o título de Messias de Deus, mas ao mesmo tempo aponta as consequências desta condição: “O Filho do Homem deve sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e doutores da Lei, deve ser morto e ressuscitar no terceiro dia.”

Como lição para a vivência desta palavra permanece um claro convite: Nada de se apegar às próprias verdades e certezas. Nada de se considerar melhor e mais perfeito que os demais. Pelo contrário, ontem como hoje cada pessoa é chamada a continuar renunciando-se a si mesmo tomando sua cruz e seguindo. Neste contexto tem ainda mais sentido rezar o Salmo deste domingo: “Sois vós, ó Senhor, o meu Deus! Desde a aurora ansioso vos busco! A minh'alma tem sede de vós, minha carne também vos deseja. Como terra sedenta e sem água, venho, assim, contemplar-vos no templo, para ver vossa glória e poder. Vosso amor vale mais do que a vida: e por isso meus lábios vos louvam”.  Agindo deste modo será mais fácil enxergar Deus presente no cotidiano da história e das pessoas, como recorda Francisco. 

sábado, 11 de junho de 2016

REFLETINDO A PALAVRA DE DEUS NO DIA 12 DE JUNHO DE 2016

EXULTEM DE ALEGRIA NO SENHOR...

Conta-se uma historieta que pode ser muito interessante para entender a Palavra de Deus deste domingo.  Diz a historieta que “certa mulher observava com frequência quando sua vizinha estendia os lençóis no varal e comentava com sua funcionária: Nossa veja como a vizinha estende roupas sujas no seu varal. Acho que você deve ir falar com a ela e se prontificar a ensiná-la a lavar as roupas, ou pelo menos oferecer-lhe o sabão que você usa em nossa casa, onde nossas roupas estão sempre limpinhas. Este comentário se repetiu diversas vezes, até que um certo dia a mulher com um misto de surpresa chamou a funcionária dizendo – Você ensinou nossa vizinha lavar as roupas? Veja como estão brancas e brilhantes! A bondosa servente respondeu; não senhora, eu apenas limpei os vidros de nossa janela”.
Pois, “limpar os vidros da própria janela” é o que se pode compreender da Palavra de Deus proclamada na liturgia deste domingo: Nos versículos que antecede a primeira leitura de hoje, o profeta Natã pede uma opinião a Davi sobre a punição que deveria ser aplicada a quem faz o mal a outra pessoa. O Rei, sem dificuldade, garante que deveria ser aplicado um duro castigo. Então o profeta lhe diz; pois bem este sujeito é Você. Tens todas as facilidades e possibilidades ao seu alcance e para possuir a mulher do outro mandaste matar um dos teus colaboradores. Davi assustado reconhece seu pecado e arrependido pede perdão. Obvio que a misericórdia de Deus se realiza e o profeta conclui: “'De sua parte, o Senhor perdoou o teu pecado...”
No evangelho a situação é muito semelhante, o Fariseu, que se considerava justo, perfeito e melhor que todos os outros, convida Jesus para uma refeição em casa. Dispensa todas as gentilezas que habitualmente se fazia para um convidado ilustre. Surpreendido pela presença da “pecadora pública” faz um juízo de valor sobre a pessoa de Jesus e sobre a mulher, cujos pecados são conhecidos por todos na cidade.
Sabiamente Jesus lhe conta a história dos devedores ajudando o Fariseu compreender a misericórdia de Deus e ao mesmo tempo o seu próprio pecado.  Declarando à mulher: “Teus pecados estão perdoados” Jesus quebra os paradigmas de justiça daquela sociedade habituada a excluir e condenar. Então Jesus continua: “Sua fé lhe salvou. Vá em paz! ”.
Esta é também a lição que São Paulo dá aos Gálatas na segunda leitura: “Eu vivo, mas não eu, é Cristo que vive em mim. Esta minha vida presente, na carne, eu a vivo na fé, crendo no Filho de Deus, que me amou e por mim se entregou. Eu não desprezo a graça de Deus”.
Os cristãos que se reúnem para fazer memória de Cristo e da misericórdia do Pai que ele revelou são convidados a ter as mesmas atitudes de Davi e do Fariseu do Evangelho, isto é, reconhecer o próprio pecado e rezar com o Salmista: Feliz o homem que foi perdoado e cuja falta já foi encoberta! Feliz o homem a quem o Senhor 
não olha mais como sendo culpado, e em cuja alma não há falsidade

À guisa de conclusão se pode dizer que a Palavra de Deus convida cada pessoa a “lavar a própria janela antes de enxergar a roupa suja na casa do vizinho reconhecendo a misericórdia de Deus que limpa as janelas da sua cassa”. 

sexta-feira, 3 de junho de 2016

HOMILIA PARA O DIA 05 DE JUNHO 2016

LEVANTE-E ANDA...

Nesta semana um horário nobre da televisão brasileira começou com esta frase: “A notícia que abre a edição desta quinta-feira (2) é daquelas que dá gosto de ouvir. É uma notícia boa. E como não é todo dia que surge uma chance de contar uma história como essa, a gente até lembrou de recuperar, no fundo de algum armário, uma vinheta que não aparece há muito tempo por aqui”.

Tal como esta notícia pode ser compreendida a Palavra de Deus deste domingo. Seja na primeira leitura, seja no evangelho são contados dois fatos que se realizaram num contexto de sofrimento, de exclusão social e de sentimento de abandono. É importante entender que tanto na época do profeta, quanto no tempo de Jesus a viuvez era considerada um castigo de Deus e a mulher viúva não recebia nenhum tipo de ajuda de quem quer que fosse. Somente poderia contar com a ajuda dos filhos que lhe eram a única herança.

As duas desiludidas podem experimentar a misericórdia de Deus que age em favor daqueles que já não tem mais a quem recorrer. Elias e Jesus, em tempos e locais diferentes e por distintas maneiras garantem que Deus seja reconhecido. A viúva de Sarepta proclama: “Vejo que és um homem de Deus”. A multidão em Naim proclama: “Deus veio visitar o seu povo”.

Tal como a manchete da semana a ressurreição dos dois jovens é uma Boa Notícia.  Jesus se dá a conhecer como o enviado de Deus, sua missão pode ser resumida nas três palavras que o Papa Francisco deu aos padres nesta semana: “procurar, incluir e alegrar-se”. Claro que serve aos padres, mas serve também para todos que se reconhecem como São Paulo, seguidores do mandamento de Jesus.

Que a Eucaristia e reunião de irmãos ajude também a todos nestes tempos difíceis que rondam o nosso país: “a exemplo de Cristo ter olhos para ver as necessidades e sofrimentos de todos e faça que se realize palavras e ações para confortar os desanimados e oprimidos. 

sexta-feira, 27 de maio de 2016

HOMILIA PARA O 9º DOMINGO DO TEMPO COMUM - 29 DE MAIO DE 2016

É NECESSÁRIO ABRIR, PORTAS E CORAÇÕES


Em 2013, quando Jorge Bergoglio foi eleito Papa, no seu primeiro discurso ao mundo, fez uma brincadeira que cativou a todos, disse ele: “Nós nos reunimos para eleger um novo Papa e parece que meus irmãos cardeais foram busca-lo quase no fim do mundo”. Depois desta declaração fez diversas outras falas sobre a necessidade de abrir portas e de acolher as pessoas que pensam diferente ou que tem professam outra fé e até nem mesmo acreditam na Igreja. Numa de suas homilias na Casa Santa Marta, onde ele mora, declarou: “É necessário não engaiolar o Espírito Santo, ele é soberano. Na Igreja precisamos de mais pessoas que exerçam o ministério de “Abrir portas”.
Abrir portas é umas das importantes lições que se pode tirar da Palavra de Deus proclamada neste 9º domingo do tempo comum. O Texto do livro dos Reis a oração de Salomão é mais do que clara: Salomão rezou no Templo, dizendo: Senhor, pode acontecer que até um estrangeiro que não pertence a teu povo, Israel, escute falar de teu grande nome, de tua mão poderosa e do poder de teu braço.
Se, por esse motivo, ele vier de uma terra distante, para rezar neste templo, Senhor, escuta então do céu onde moras e atende a todos os pedidos desse estrangeiro, para que todos os povos da terra conheçam o teu nome e o respeitem”.
Muito mais tarde, é São Paulo quem anuncia a boa notícia com uma certeza que serve também para a atualidade, isto é, nada de se preocupar em agradar a quem quer seja a não ser cumprir a vontade de Jesus Cristo. Vontade esta que foi manifestada por Ele de muitos modos e em diversas ocasiões. No texto do Evangelho de hoje, mais uma vez Jesus está abrindo portas.
Atendendo ao pedido do oficial romano, que não era judeu, nem professava a religião dos judeus Jesus mostra aos que o seguiam a importância de não discriminar ninguém, nem tampouco excluir quem quer que seja, pelo contrário declara sua admiração dizendo: “Nem mesmo em Israel encontrei alguém com tanta fé”.
Estas palavras são mais do que claras e vem de encontro com o convite do Papa Francisco: Na Igreja precisamos de mais pessoas que exerçam o ministério de - Abrir portas”.
Não sem razão a igreja inteira também canta como se faz hoje no Salmo:Cantai louvores ao Senhor, todas as gentes, povos todos, festejai-o! Pois comprovado é seu amor para conosco, para sempre ele é fiel”.
           




quarta-feira, 25 de maio de 2016

A PALAVRA SE FEZ CARNÊ - CORPO E SANGUE DE CRISTO

TODOS COMERAM E FICARAM SATISFEITO

Há algum tempo em um desses programas de reportagem extraordinárias que as redes de TV veiculam com regularidade,  chamava atenção para um diálogo estabelecido entre um viajante e um comerciante de uma grande cidade neste imenso Brasil. O diálogo tem tudo a ver com o texto do Evangelho que se proclama no dia da Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo. Dizia a reportagem que o viajante estranhou ao entrar na cidade não vendo mais crianças pedindo esmolas nos estacionamentos, jovens fazendo malabarismos nos semáforos das esquinas, pessoas vendendo água, suco, doces e etc. nas filas que se formavam ao longo da rodovia. Ao abordar o primeiro dos seus clientes o viajante perguntou: “Onde foram parar os pobres desta cidade que não os vejo em nenhuma parte?”  A resposta imediata foi: “Nós somos cristãos, estamos seguindo o evangelho e damos de comer a todos os necessitados” O homem estranhou e perguntou, “Mas quanto vocês investem para alimentar tantas pessoas durante tanto tempo?” “Nenhum centavo” respondeu o cliente e concluiu: “Nossas crianças estão na escola o dia inteiro, os jovens que faziam malabarismos nos semáforos foram contratados para o trabalho, os que vendiam `nas margens da rodovia estão cuidando dos jardins e da limpeza dos pátios das escolas e assim todos podemos viver em paz”.
A provocação do texto de Lucas desafiando os discípulos a não mandar embora ninguém com fome  é apenas mais uma que Jesus fez aos seus conterrâneos propondo dar de comer a quem tem fome e eliminar a pobreza e as diferenças sociais.
Ontem como hoje, certamente não se trata de uma atitude simples como dar esmola e comida para a solução da pobreza e das desigualdades sociais. Trata-se sim de mudanças estruturais na sociedade e para que elas aconteçam precisam do empenho de todos.
Jesus continua no Evangelho dizendo: “mandem o povo se organizar em grupos de cinquenta”. Esta frase aponta para mais uma possível ação para os tempos modernos, em lugar de dar comida, garantir organização e participação de todos naquilo que é uma necessidade e direito de todos.
São João Crisóstomo, conhecido como o santo “Boca de ouro” apelido que recebeu por causa de suas sábias palavras disse uma frase que pode ser muito bem aplicada à adoração a Eucaristia que se faz na solenidade do Corpo de Cristo, disse o santo: “Queres honrar o corpo de Cristo com vestes de seda e taças de ouro, fazes bem! Mas não esqueça que o mesmo Jesus que disse Isto é meu Corpo e Isto é meu Sangue foi o que falou: Tudo o que fizerdes ao menor dos meus irmãos foi a mim que fizestes. Portanto, vai primeiro dar de comer a quem tem e vestir quem está nu e com aquilo que sobra faça as honras a corpo de Cristo”.
Que a celebração litúrgica deste dia seja a oração da Igreja para converter os corações de todos em favor de uma vida mais humana, digna e justa para todos em todos os lugares.


sábado, 21 de maio de 2016

PALAVRA MEDITADA NO DOMINGO DA SANTÍSSIMA TRINDADE

UNIDADE NA CARIDADE


A turbulência econômica, política, social e moral que o Brasil está vivenciando nos últimos tempos tem inúmeras respostas e explicações. Cada cientista político, analista econômico, palpiteiro de plantão tem uma opinião para justificar os escândalos que se tornam públicos a cada dia. Tudo o que se fala tem seu fundo de verdade, mas não resta dúvida que uma coisa é absolutamente certa: Entre todos os envolvidos em tudo o que está acontecendo não aparece uma condição simples e absoluta: Deixar-se guiar pela verdade.
Os discípulos de Jesus viveram noutro contexto situações muito semelhantes. O Evangelho de deste domingo faz parte dos chamados “discursos de despedida” e Jesus lhes adverte e promete uma solução ou pelo menos uma maneira diferente de encarar o mundo e os problemas que seus seguidores ainda não compreendiam: “Tenho ainda muitas coisas a dizer-lhes, mas não são capazes de compreender agora. Quando, porém, vier o Espírito da Verdade, ele lhes conduzirá à plena verdade”.
No discurso de hoje não é primeira vez que Jesus fala da relação dele com o Pai e da caridade que os une. Nesta passagem, porém, ele reforça que o Espírito Santo veio com uma tarefa muito específica: Glorificar a comunhão e a unidade que existe entre o Pai e o Filho.
A experiência de comunhão entre as três pessoas faz entender que essa atitude pode garantir obras muito maiores do que aquelas que os discípulos viram Jesus realizar.
A comunhão da Trindade não é outra coisa senão aquilo que a primeira leitura chama de Sabedoria que está antes e acima de toda e qualquer realização, conforme diz o livro dos provérbios: “O Senhor me possuiu como primícia de seus caminhos, eu estava ao seu lado como mestre-de-obras; eu era seu encanto, dia após dia, brincando, todo o tempo, em sua presença, brincando na superfície da terra, e alegrando-me em estar com os filhos dos homens”
Por isso mesmo e sem medo todos rezam com o Salmo: “Ó Senhor nosso Deus, como é grande vosso nome por todo o universo!”. Só quem se deixa guiar pelo Espírito de Deus é capaz de viver na verdade e na unidade, pode ter  certeza que nenhuma tribulação, angústia, perseguição, ou outra qualquer provação  é maior do que a graça e a esperança que não decepciona.

Como igreja reunida também os cristãos do terceiro milênio podem compreender a misericórdia de Deus revelada na Unidade da Trindade e deixando-se guiar por ela vencer todos os medos e trabalhar pela construção da fraternidade e da verdade em todos os lugares. 

quinta-feira, 5 de maio de 2016

MEDITAÇÃO DA PALAVRA DE DEUS NO DIA DA ASCENÇÃO DO SENHOR

ELEVADO AOS CÉUS À VISTA DE TODOS

Em uma de suas declarações recentes o Papa Francisco disse: “Não consigo imaginar um cristão que não saiba sorrir” e concluiu: “Procuremos dar um testemunho alegre de nossa fé”. Tem ainda um antigo provérbio popular que diz assim: “Um santo triste é um triste santo”.

Estas duas expressões são suficientes para ajudar entender a última frase do Evangelho deste domingo quando fala da atitude dos discípulos depois que Jesus subiu aos céus: Em seguida voltaram para Jerusalém, com grande alegria. E estavam sempre no Templo, bendizendo a Deus” A esta altura dos acontecimentos os amigos de Jesus já estavam suficientemente esclarecidos sobre o que tinha acontecido e como seria a vida deles depois que Jesus não estava mais com eles.

As três leituras deste domingo apenas reforçam a certeza para todos os que creem no Cristo, e o reconhecem como Senhor e guia. A estes não é permitido ficar “Olhando para o céu” pois uma vez que compreendem a palavra de Jesus que disse: “O Consolador que lhes enviarei, também ensinará todas as coisas”. Daí é que ficam também claras as palavras da Paulo aos Efésios e que podem ser aplicadas a cada cristão da atualidade: “O Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai a quem pertence a glória, vos dê um espírito de sabedoria que vo-lo revele e faça verdadeiramente conhecer. Que ele abra o vosso coração à sua luz, para que saibais qual a  esperança que o seu chamamento vos dá, qual a riqueza da glória que está na vossa herança com os santos”

Ser um alegre discípulo de Jesus não é a mesma coisa que ser um “bobo alegre”, mas alguém capaz de compreender que anunciar Jesus e suas propostas implica aceitar também a cruz sem deixar de assumir com alegria os desafios que a vida apresenta.


Acreditar em Jesus presente e ao mesmo tempo sentado a direita de Deus, conforme se reza no credo, implica compreender o que se reza no salmo: “Deus reina sobre todas as nações, está sentado no seu trono glorioso”. 

sábado, 30 de abril de 2016

MEDITAÇÃO DA PALAVRA DE DEUS NO DIA PRIMEIRO DE MAIO DE 2016

O AMOR É O VÍNCULO DA PERFEIÇÃO

Neste primeiro de maio o mundo inteiro para e celebra o dia do trabalhador. Já no ano 500 AC. Confúcio, sábio chinês, declarou: “Escolha um trabalho que lhe dê prazer e nunca mais terás que trabalhar um só dia na vida”. É claro que ele estava compreendendo a expressão trabalhar diferente de como ela é entendida na origem da palavra Tripalium que significa sofrimento e dor. Celebrar o dia do trabalhador implica compreender a ação de homens e mulheres do modo como entendeu o sábio chinês: Trabalhar, para ele, significava encontrar a realização plena e a felicidade.
É neste sentido que também a liturgia deste domingo apresenta a ação do Espírito Santo de Deus, e a ação de Jesus que enviou o seu Espírito. O Papa Francisco também chama o Espirito santo de Trabalhador e afirma que é pelo seu trabalho que Ele revela quem é Jesus Cristo.
As comunidades que se reúnem celebrando o mistério da páscoa de Jesus podem ter certeza que já conheceram o Espírito Santo trabalhador, aquele que Jesus anuncia aos apóstolos como o “defensor”, presença que dá assistência e que ilumina a estrada daqueles que caminham no seu amor e que guardam a sua Palavra.
Não há dúvida que a presença do Espírito Santo sempre foi para a Igreja e para aqueles que acreditam o sinal do amor de Deus. Neste sentido se pode ter a certeza que Ele é verdadeiramente um trabalhador, que não se cansa e nem descansa, ele continua mostrando a estrada por onde deve andar aquele que se diz seguidor de Jesus Cristo.
A comunidade dos apóstolos, desde o princípio teve certeza que sua força e suas decisões estavam nas mãos do Espírito Santo trabalhador. A primeira leitura conta o episódio de uma das dificuldades iniciais da Igreja nascente. A conclusão do Concílio dos Apóstolos, não poderia ser outra: decidimos, o Espírito Santo e nós, não vos impor nenhum fardo...” esta expressão dos apóstolos não precisa ser mais clara pois ela confirma: “O amor é o vínculo da perfeição”.
É neste sentido que se pode compreender também as palavras de Jesus no Evangelho: Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e o meu Pai o amará, e nós viremos e faremos nele a nossa morada”.
Eis que então, nestes dias em que a situação de insegurança ronda com mais intensidade a casa e a vida dos trabalhadores, mais do que nunca se faz necessário dar importância aquilo que realmente merece.
A hora é de amar mais, porque só o amor é capaz de resistir às dificuldades e provações que a vida e o mundo apresentam ao cotidiano das pessoas. Amar mais implica sim abraçar com entusiasmo o próprio trabalho e trabalhar na certeza de que o Espírito que Jesus vai enviar não deixará ninguém à mercê da própria sorte.


sexta-feira, 15 de abril de 2016

PALAVRAS DE MISERICÓRDIA NO 4º DOMINGO DA PÁSCOA

JESUS, O PASTOR MISERICORDIOSO


Pouco a pouco a solenidade da páscoa vai ficando na memória e o resultado daquele extraordinário dia permite ir compreendendo melhor quem é Jesus e quais são suas principais ações em favor do seu povo. Do mesmo jeito que Jesus, “Todos os cristãos, incluindo os Pastores, são chamados a se preocupar com a construção de um mundo melhor”, disse o Papa Francisco.

Os bispos do Brasil reunidos em Aparecida também falaram sobre a importância de trabalhar em favor do povo e numa carta aberta falaram sobre a crise em que o Brasil está mergulhado e reafirmaram que a  Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB): “acompanha atentamente esse processo e espera o correto procedimento das instâncias competentes, respeitado o ordenamento jurídico do Estado democrático de direito”. Ao mesmo tempo em que recordam aos políticos que: “O bem da nação requer de todos a superação de interesses pessoais, partidários e corporativistas”.

A situação brasileira permite compreender com uma facilidade incrível o que significa agir como “bom pastor”. As palavras do Evangelho: As minhas ovelhas escutam a minha voz, eu as conheço e elas me seguem”. Neste momento particular da história brasileira, qual é a voz que se pode dar crédito diante da avalanche de corrupção que enlameia a vida política nacional em todos os níveis. Acaso será possível acreditar que alguma voz dos que se levantam neste momento tem real interesse de não continuar transformando o povo brasileiro em “Mártires da corrupção”?

Na condição de cristãos todos são convidados a repetir o gesto de Paulo e Barnabé: Então os apóstolos sacudiram contra eles a poeira dos pés”. Pois, além dos supostos “salvadores da Pátria” há ainda uma multidão  que ninguém pode contar, como nos diz a segunda leitura, e estes são honestos, justos, coerentes, “lavaram e alvejaram suas vestes no sangue do cordeiro”.

Apóstolo de Jesus, cidadão do Reino, que conhece e reconhece a voz do verdadeiro e único pastor, cada pessoa é convidada a trabalhar com honestidade, cumprir com suas obrigações, fazer o dever de casa, cuidar da casa de todos, em resumo: fazer a sua parte na construção de uma sociedade justa e humana, na qual o amor de Deus se torne mais evidente.


A Palavra de Deus, com a graça do Espírito Santo e a Eucaristia que participa, leva a se reconhecer  reunidos e escolhidos pelo amor de Cristo e por ele enviados para levar a paz em todos os lugares aonde sua presença for importante. 

sábado, 9 de abril de 2016

PALAVRAS DE MISERICÓRDIA NO TERCEIRO DOMINGO DA PÁSCOA 2016

OS APÓSTOLOS VIVIAM MUITO CONTENTES...

Ser capaz de distinguir entre o que é importante e o que é acessório, o que merece maior atenção e as necessidades menos urgentes, os investimentos indispensáveis e aqueles que podem ficar na lista de espera, são sinais de sabedoria. Quando uma pessoa sabe organizar a sua vida dando mais importância aquilo que realmente exige mais, normalmente sua vida é mais disciplinada e administra melhor os desafios e dificuldades.
A primeira leitura e o evangelho do terceiro domingo da páscoa são uma ajuda preciosa quando se trata de fazer uma escala de valores, e mesmo que para isso seja necessário algum sacrifício e certa dose de coragem.
Os Atos dos Apóstolos relatam as provações enfrentadas por eles por causa da sua confiança nas palavras e nas ações de Jesus. Diante dos grandes do Sinédrio, que lhes ameaçavam por causa do que vinham realizando em nome do Senhor, Pedro responde: É preciso obedecer a Deus, antes que aos homens. O Deus de nossos pais ressuscitou Jesus. A centralidade que os Apóstolos dão ao nome de Jesus lhes causou muitos sofrimentos: “Então mandaram açoitar os apóstolos e proibiram que eles falassem em nome de Jesus”; apesar disso: “Os apóstolos saíram do Conselho, muito contentes, por terem sido considerados dignos de injúrias, por causa do nome de Jesus”.
O texto do Evangelho que foi escrito cerca de 60 anos depois da morte de Jesus, narra um momento no qual Pedro e seus companheiros tinham perdido o foco da sua condição de seguidores do mestre e voltam desiludidos para o mar da vida. Trabalham a noite inteira e não obtiveram sucesso na sua ação.
Ao amanhecer do dia, um “desconhecido” aparece na praia e lhes desafia: “Lancem a rede a direita do barco e acharão peixes”. Confiantes nesta palavra repetem o gesto que haviam feito diversas vezes e eis que o resultado aparece.
Nem é preciso perguntar quem era o “desconhecido” que estava à margem, todos tinham entendido onde estava o “cerne” da questão: Quando Jesus está no centro das preocupações, o resultado é certo e unidade garantida. Apesar da quantidade de peixes a rede não se rompeu.
Eu resumo, nenhuma dificuldade, nenhum problema, mas igualmente nenhuma ação humana terá sucesso enquanto confiar nas próprias forças e na sua única capacidade de solução. Colocar Jesus e sua palavra no centro de toda a vida é a condição para o sucesso de qualquer ação.
Neste domingo, reunidos em oração a Igreja é confiada a provar do banquete preparado pelo seu único mestre e Senhor, ao mesmo que tempo em que recebe o mesmo convite que foi dado a Pedro: “Tu me amas mais do que todos? Apascenta minhas ovelhas”.

Agindo desta maneira será possível cantar como se faz no salmo hoje: Escutai-me, Senhor Deus, tende piedade! Sede, Senhor, o meu abrigo protetor! Transformastes o meu pranto em uma festa, Senhor meu Deus, eternamente hei de louvar-vos! ”.

domingo, 3 de abril de 2016

REFLETINDO A PALAVRA NO SEGUNDO DOMINGO DA PÁSCOA 2016

DESTA CASA DO SENHOR VOS BENDIZEMOS

Faz parte da condição humana, facilmente sentir-se impulsionada e atraída pela ideia de espetáculo, de movimentos extraordinários de coisas grandiosas. Nestes dias em que o Brasil experimenta momentos de “fecunda democracia” os meios de comunicação social facilitam a mobilização maciça das pessoas que vão às ruas manifestar a sua opinião, não importa se a favor ou contra as verdadeiras necessidades e urgências a sociedade. Segundo a grande mídia parece importante fazer uma demonstração de força e ocupar as ruas, mostrar quem pode mais não se importando com o resultado de tudo isso.
Em Jerusalém, na sexta feira da morte de Cristo a população foi levada para a rua e sem ter muito claro o que estava acontecendo pediu a morte de Jesus. Pouco tempo depois, e isto faz parte da primeira leitura deste domingo: “Chegavam a transportar para as praças os doentes em camas e macas, a fim de que, quando Pedro passasse, pelo menos a sua sombra tocasse alguns deles. A multidão vinha até das cidades vizinhas de Jerusalém, trazendo doentes e pessoas atormentadas por maus espíritos. E todos eram curados”.
Porém, esta não é a maneira mais clara de reconhecer Jesus e o seu projeto. Pelo contrário, diz o Evangelho: “Ao anoitecer daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas, por medo dos judeus, as portas do lugar onde os discípulos se encontravam, Jesus entrou e pondo-se no meio deles, disse: 'A paz esteja convosco”.
Os discípulos compreendendo quem Ele era, não tiveram dificuldades de contar: “Nós vimos o Senhor”. Somente, Tomé, o incrédulo, o que não participava, aquele que considerava pouco importante o encontro fraterno, que não estava reunido com os irmãos, insistiu em duvidar. Até que o próprio Jesus, não de uma maneira extraordinária, nem fazendo alarde em praça pública, mas no encontro pessoal e no interior da comunidade, se dá a conhecer fazendo um pedido a Tomé: “Não seja incrédulo, mas tenha fé”.
Ainda hoje cada cristão continua recebendo a mesma advertência dada por Jesus naquele tempo: “Bem-aventurados os que creram sem ter visto”.  A cruz de Jesus, sua vitória sobre a morte continua sendo para o mundo um sinal que o “juízo de Deus é a certeza de uma vida nova”.
Neste segundo domingo da páscoa, e no contexto das manifestações por um país justo e fraterno, à luz da Palavra de Deus, todos os cidadãos e cidadãs, comunidades, partidos políticos e entidades da sociedade civil organizada, são convidados a fazer sua parte ... adotando, em suas manifestações, a busca permanente de soluções pacíficas e o repúdio a qualquer forma de violência, convictos de que a força das ideias, na história da humanidade, sempre foi mais bem sucedida do que as ideias de força”.

Que esta prática seja a maneira mais coerente e participativa de proclamar a Ressurreição de Jesus e a responsabilidade de todos e cada um no “cuidado com a casa que é de todos”. 

quinta-feira, 24 de março de 2016

DOMINGO DE PÁSCOA - RESSURREIÇÃO DO SENHOR

COMEMOS E BEBEMOS COM ELE...

Fatos extraordinários no dia a dia das pessoas e da sociedade costumam ganhar as manchetes de jornais e dos noticiários em todos os meios de comunicação social. Sobretudo quando se tratam de situações que diminuem e denigrem a vida das pessoas e das comunidades, estes sim ganham muito tempo, muitas páginas e acabam caindo no gosto popular sendo comentados em todas as rodas de amigos e mais ainda nas redes sociais.

Ora, a morte de Jesus foi um prato cheio para as comunidades daquele tempo. Seja para os que nele acreditavam, seja para aqueles que desejam ver o seu fim. Eis que o noticiário sobre o evento da sexta feira que antecedeu a páscoa ganha novos contornos no amanhecer do primeiro dia da semana.

O primeiro dia já é simbólico por si mesmo, ele indica o começo de tudo mais uma vez. E neste caso ele vem como a vitória da vida. Os sinais encontrados no lugar onde estava o corpo de Jesus não deixam dúvida: Os panos que envolviam um corpo sem vida, estão jogados ao chão, já não servem mais. O véu que impedia de ver e ser visto foi colocado a parte. Aos amigos de Jesus faltava apenas uma coisa: Compreender o que significa que Ele devia ressuscitar dos mortos.

A carta de Paulo permite reconhecer que a união com o ressuscitado garante aos que nela acreditam que a morte não tem a última palavra e que a maneira mais adequada de reconhecer a Ressurreição do Senhor é procura-lo nas coisas novas que se fazem ver desde o primeiro dia da semana.

Jesus que andou por toda a parte fazendo o bem, está agora em toda parte por meio das pessoas que se prontificam a fazer o bem.  É Jesus ressuscitado quem resgata a vida da morte e preenche a vida de todos com sua ternura.


Na ressurreição de Jesus, o Senhor cura os corações feridos e ampara os humildes. Na manhã da ressurreição a Igreja se reúne em oração e experimenta a presença do ressuscitado que lhe  convida a manifestar a sua misericórdia contribuindo “para que a grande família humana possa viver com dignidade e justiça em um ambiente bem cuidado” (Texto Base CF 2016. P. 52). 

SÁBADO SANTO - RESSURREIÇÃO DO SENHOR

GENTE NOVA PARA UM MUNDO NOVO

Os sinais de morte estão bem presentes na sociedade contemporânea. Mas não é nestes sinais que se deve procurar o Senhor. Nem tampouco, é ali o lugar para encontrar os irmãos. Deus que não se cansa de retomar o seu projeto na história, está mais do que nunca presente na sociedade atual. Deus jura seu amor eterno usando de misericórdia com o pecador e resgatando do túmulo a vida de todos. A celebração do Sábado Santo é uma maneira de fortalecer a Igreja e todas as pessoas a reconhecer Jesus Cristo que continua fazendo novas todas as coisas.
As leituras e os salmos proclamados nas celebrações do sábado santo fazem uma recordação de toda a história desde a criação até a redenção definitiva em Jesus Cristo. A fragilidade humana levou os homens e mulheres em todos os tempos a se afastar de Deus e do seu projeto, situação que se assemelha muito ao que acontece no mundo contemporâneo. Porém, é certo que Deus não abandona o seu povo.
Celebrar a páscoa de Cristo implica perceber que a ressurreição de Jesus acontece de novo cada vez que as pessoas e as comunidades trabalhem de modo decisivo no cuidado com a vida como disse o Papa Francisco no documento: Laudato Si: “Desta forma cuida-se do mundo e da qualidade de vida dos mais pobres, com um sentido de solidariedade que é, ao mesmo tempo, consciência de habitar na casa comum que Deus nos confiou. Estas ações comunitárias, quando exprimem um amor que se doa, podem transformar-se em experiências espirituais intensas” (232).

Rezar no sábado santo unindo as vozes de todos os que creem é uma forma de reconhecer a vitória da ressurreição de Jesus e o convite que continua a ser feito: trabalhar para que a história e o mundo sejam transformados. A palavra dita às mulheres na sepultura ressoa para cada pessoa neste sábado de aleluia: “Não procurem entre os mortos aquele que está vivo”. 

SEXTA FEIRA DA PAIXÃO DO SENHOR

Ele foi ferido por causa de nossos pecados.

O Cuidado com a “casa do comum” se apresenta na atualidade uma das maiores exigências para todos. Em 2016, a celebração da sexta feira da paixão está inserida no contexto da defesa e do cuidado com a vida em todas as formas. As preocupações com a saúde e com as doenças transmitidas por conta do descaso com o ambiente em que se vive. As denúncias de corrupção que envolvem toda a nação brasileira e algumas centenas de pessoas e instituições. Questões relativas a solidariedade e o respeito para com a pessoa humana. São todos sinais de que a cruz de Cristo continua presente no meio do mundo.
Porém, Jesus Misericordioso, servo sofredor na interpretação do profeta Isaías continua sendo para todos na atualidade fonte de alegria, de serenidade e de paz.
A longa narrativa da paixão, neste ano, proclamada segundo João, faz entender que o Rei morto na cruz não é um fato do passado, ao mesmo tempo que sua ressurreição não ficou na história.
A cruz carregada por Jesus até o limite da morte se assemelha às cruzes da sociedade contemporânea. Celebrar esta verdade permite aos cristãos compreender que os sofrimentos existem, que são reais na vida do povo, mas que não tem em si mesmo a última palavra.
É Deus quem se une com a humanidade, fortalece o coração dos que acreditam renova-os na esperança e não considera o pecado, mas a coragem para superar as cruzes de cada dia e construir solidariamente uma comunidade muito melhor.

Rezar como irmãos na assembleia reunida é uma maneira de crescer na solidariedade e no compromisso com a ressurreição responsabilizando-se pela qualidade da vida de todos em todos os lugares.  

quarta-feira, 23 de março de 2016

HOMILIA PARA A QUINTA FEIRA DA SEMANA SANTA 2016

LAVA PÉS, PODER DA TERNURA.


Dom Orlando Brandes, Arcebispo de Londrina, descreveu o significado social do lava pés em 30 frases. Numa delas ele afirma que o gesto mostra o poder da ternura e a fraqueza da violência.
Na quinta-feira santa a Igreja repete o gesto de Jesus durante a última ceia. Na liturgia deste dia também se proclama o Evangelho de João que conta como Jesus realizou esta ação. Compreendendo que João escreveu este texto para as comunidades que já celebravam a Eucaristia há quase 50 anos sendo assim uma prática habitual. O autor procura associar o serviço de Jesus lavando os pés, ao que Ele fez durante toda a vida e que vai ter seu ponto mais alto no calvário. E por causa desta prática recebe o título de Mestre e Senhor, nome que Jesus afirma que pode ser dado a todos os que também são capazes de fazer de suas vidas um serviço para o bem de todos.
O texto pode também ser entendido como uma espécie de síntese com todos os ensinamentos que a revelação da Palavra fez conhecer ao longo dos tempos.  A narrativa da Páscoa dos judeus é marca de um novo tempo que se dá no compromisso solidário e de comunhão entre todos os que foram libertos da escravidão do Egito.
Paulo, conta como se deu a instituição da Eucaristia, não para fazer uma simples memória, mas para deixar claro que celebrar a memória do Senhor implica praticar a comunhão fraterna.
Ontem, como hoje, é Jesus quem repete o gesto de lavar os pés e continua pedindo a cada pessoa, a cada Igreja e a todas as instituições que sua ação seja uma contínua misericórdia que se traduza na prática das obras de caridade, no cuidado com a vida das pessoas e do mundo. Em outras palavras: recordar a ação de Jesus significa praticar a misericórdia de Deus cuidando da vida de todos e da vida no planeta, casa comum de todos,  a fim de que seja também morada digna de todos.

É neste sentido que a celebração da quinta-feira Santa afirma o poder da ternura e a fragilidade da violência. 

sábado, 19 de março de 2016

HOMILIA PARA O DIA 20 DE MARÇO DE 2016

O MISERICORDIOSO VEM REVELAR O 

SENHOR E SUA VONTADE

Aqueles que querem bem a outra pessoa, que acreditam nas suas ideias e projetos costumam “vestir a camisa” pela causa que acreditam. A confiança nas palavras que apontam para um novo estilo de vida é sempre mais forte que qualquer provação e dificuldade. Pois é isso que aconteceu com Jesus e com seus discípulos e muitos que o seguiam. No tempo em que Jesus viveu em Jerusalém não lhe faltaram provações e dificuldades, as quais foram também vivenciadas pelos que o seguiam. E finalmente ele entra solenemente em Jerusalém, proclamado como aquele que vem em nome do Altíssimo.
Reviver a Semana Santa significa caminhar com Jesus do presépio ao calvário. As expectativas que Jesus criou por todos os lugares aonde passou apontam para uma nova maneira de Deus se relacionar com a humanidade. Neste domingo, as comunidades, em todas as partes se reúnam e repetem a mesma aclamação feita a Jesus em Jerusalém: Hosana no mais alto dos céus!
Esta não é uma forma extraordinária de proclamação da realeza de um homem cujo modelo são os reinados daqueles tempos, o Messias do domingo de Ramos é aquele que caminha livremente ao encontro de toda provação e sacrifício para garantir uma vida nova àqueles que nele confiaram.
Montado no jumentinho ele afirma o reconhecimento que o povo lhe dá: “Se eles se calarem as pedras gritarão”.  Por outro lado, a recordação da paixão de Cristo confirma o que o Pai preparou para o filho: O Crucificado será para todo o sempre Senhor e Cristo.
Humanos e sujeitos as fraquezas do cotidiano, todos proclamam com o salmo:  “Meu Deus, Meu Deus, por que me abandonastes?”. Viver longe da dor e do sofrimento é o desejo de toda pessoa humana, porém o Messias em quem os Cristãos acreditam ensina que é necessário ter a coragem de suportar as provações próprias da condição humana.
Para todas as comunidades e para cada pessoa em particular o domingo de ramos se constitui num misto de realeza e de sofrimento que enquanto peregrinos neste mundo todos são convidados a provar, aceitar e transformar.
É com esse pensamento que a Igreja inicia a Semana Santa cujo ponto mais alto é a manhã da Ressurreição.  Aquele que apagou os pecados da humanidade é também o que garante a vida nova e renova a alegria e a esperança em meio a todas as dificuldades.
Os ramos abençoados que se leva para as casas são uma recordação da presença do “rosto misericordioso do Pai” que ajuda a todos “cuidar da casa comum” e ser responsável para que a morte não triunfe sobre nada e sobre ninguém.


domingo, 13 de março de 2016

REFLEXÃO SOBRE A PALAVRA DE DEUS - MULHER ADÚLTERA

MISERICORDIOSOS COMO JESUS     ...

Andar com pedras na mão, estar muitas vezes na defensiva, pronto para atacar e condenar é uma atitude bastante comum na sociedade contemporânea. Faz-se julgamentos, condenações, denuncias, até em nome da ética e dos bons costumes. Mesmo cristãos de missa dominical facilmente servem-se desta prática para auto afirmar sua honestidade e seriedade diante da sua família, da sua comunidade, da Igreja e da sociedade em geral.
Cada ano a festa da páscoa, que é preparada pela vivência da quaresma, se apresenta como uma oportunidade renovada para cuidar do coração, das ações do coração, do rancor, do ódio, da tentação de se julgar participantes do grupo dos justos e melhores que os demais.
Neste ano, a Campanha da Fraternidade faz um apelo insistente a todos no sentido de cuidar de todas as pessoas e da sociedade por inteiro. O apelo pelo cuidado com a casa comum é a extensão das sete obras de misericórdia e trata-se de vivenciar o evangelho que diz: “Tudo o que Você fizer ao menor dos meus irmãos é a mim que você fará”.
A leitura do profeta Isaias faz ouvir um grito por libertação. O povo de Israel que já tinha sido escravo no Egito e que agora era exilado encontra-se desorientado e sonha com um novo tempo. O profeta faz um convite: “Não relembreis coisas passadas, não olheis para fatos antigos. Eis que eu farei coisas novas, e que já estão surgindo: acaso não as reconheceis? Pois abrirei uma estrada no deserto e farei correr rios na terra seca”.
São Paulo, da prisão, escreve para a Igreja que está em Filip os e recorda a sua escolha pelo Evangelho e por Jesus Cristo e garante a todos que deixou para traz muitas coisas em vista da sua nova vida centrada na pessoa de Jesus: “Na verdade, considero tudo como perda diante da vantagem suprema que consiste em conhecer a Cristo Jesus, meu Senhor. Por causa dele eu perdi tudo. Considero tudo como lixo,
para ganhar Cristo e ser encontrado unido a ele”.
E o próprio Jesus no texto da mulher adúltera apresenta uma proposta totalmente nova. Ele não discute com os fariseus sobre a importância e legitimidade da lei, pelo contrário, convida todos e cada um fazer um exame de consciência em relação às pedras que carrega para sua autodefesa.
O que ocorreu com o povo de Israel, que pode ver uma nova oportunidade na vida, se repetiu com São Paulo, com a mulher adúltera e pode se realizar em cada pessoa nestes tempos.
Antes de armar-se com pedras para julgar e condenar trata-se de olhar para as escolhas que se faz, reconhecer a própria fragilidade e os próprios pecados, levantar-se e procurar ser melhor a cada dia.
Este é o convite e a oportunidade da quaresma. Olhar para frente, ter coragem de mudar de vida, esquecer os rancores do passado e renovar o coração.
Para isso muito ajuda a oração da Igreja que se faz na assembleia de cada domingo.  A hora é de acolher e perdoar em lugar de eliminar aqueles que se julga pecadores e indignos da misericórdia. Que o Senhor ajude a todos pela oração e pela penitência.