segunda-feira, 19 de abril de 2010

PEDAGOGIA DO CUIDADO

QUEM AMA CUIDA...

(Contribuições do Professor Elcio Alberton para
a reflexão da terça feira 06 de abril 2010 no projeto PROINFANTIL).

No contexto das reflexões éticas na atualidade a expressão CUIDADO, tem sido muitas vezes compreendido como capacidade de amar o que significa também permitir que o ser em relação desenvolva suas habilidades em todos os sentidos.
Na leitura do texto em questão (Daniela Guimarães) a autora parece tratar do termo sob esta ótica.
Fazendo um passeio pelos conceitos de educar, instruir, cuidar, e da finalidade das creches e centros de educação infantil a autora faz uso da palavra CUIDADO permitindo que esta seja entendida como a capacidade de facilitar o crescimento e a interação entre os distintos envolvidos no processo.
É de amplo conhecimento a idéia equivocada que permeou as creches durante muito tempo, sendo elas entendidas e muitas vezes de fato conduzidas como depósito de crianças a quem faltava cuidados. E neste recinto e condição elas eram de fato apenas cuidadas, isto é, atendidas no mínimo das necessidades de permanência no local.
O reconhecimento dos espaços conhecidos como Creches, dentro do processo da educação infantil permitiu que um novo olhar fosse voltado para todo o processo e prática do CUIDADO em relação as crianças que participam destas instituições.
A primeira atitude que aos poucos, vai se tornando indispensável é superar a dicotomia entre cuidar e educar. Alias a comunhão (sinonímia) destes dois termos responde exatamente ao conceito atual da expressão: QUEM AMA CUIDA!
Não faltam autores que compreendem esta interação como resultado de outra necessidade de todo ser humano: Sentir-se acolhido e valorizado na sua condição no local onde escolhe para estabelecer relacionamentos. A expressão, a meu ver, muito feliz, "forma menor de educação" longe de adquirir sentido pejorativo precisa ser lido como possibilidade de modos alternativos de estar com as crianças e consequentemente valorizá-las na sua individualidade.
Longe de compreender o processo educativo como uma disciplinarização o uso da expressão cuidado educacional adquire uma perspectiva muito importante na medida em que qualifica a condição de quem promove e facilita o sujeito de manifestar seus saberes socializando-os e interagindo com os demais saberes e seres. É neste sentido que a pessoa envolvida no processo de CUIDADO passa a ser visto como sujeito único que se coloca na relação com o outro.
Dito isso fica possível compreender CUIDADO como o processo que dá início a toda forma de sadio relacionamento. É assim que Bakhtin , compreende o processo de crescimento (não somente físico) da criança desde as suas relações de imitação com a mãe, fazendo suas as palavras e atitudes do outro.
Há de se convir que só muito recentemente nossas creches voltaram seu foco para a criança e seus direitos, isto é, estas estão na creche não como necessitadas de "cuidados" mas como seres de "CUIDADO", situação que pode ser compreendida como inserção na coletividade com facilitação para a socialização.
Na medida em que nossas crianças passaram a ser vistas nas creches como sujeitos da ação de educar foi largamente ampliado o conceito de transmitir saberes para o incremento da sociabilidade dos conhecimentos. Nesta ótica a missão do professor em muito se amplia e recebe nova valorização, ela deixa de ser uma distribuidora de "trabalhinhos" para ser promotora de "valores".
Esta parece ser a realidade que a autora constata na pesquisa conhecida como observação participante realizada em dois distintos centros de educação. A educação infantil entendida a partir do CUIDADO faz do adulto uma ponte para construção de novos saberes os quais são processados pela própria criança com um consequente engrandecimento de possibilidades.
A isso eu chamo de Mistagogia da educação infantil ou capacidade de quebrar os grilhões que prendem as crianças ao fundo da caverna da ignorância, para fazer um paralelo com o mito platônico da caverna.
Parece ser muito feliz a apropriação do termo italiano "didática do fazer' para qualificar este novo modo de facilitar o desenvolvimento educacional da criança.

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