ACOLHEI-VOS
UNS AOS OUTROS COMO CRISTO ACOLHEU VOCÊS
Quando a gente quer contar algum
acontecimento com certa complexidade para ser compreendido normalmente se
recorre a lendas, parábolas, contos, historietas e assim por diante. Este tipo
de recurso também foi utilizado pelo autor sagrado em diversas ocasiões. Os
capítulos 12 a 36 do livro do Gênesis são uma série de parábolas que faziam
parte da cultura dos povos primitivos e foram aplicadas a Abraão. No texto de
hoje o autor utiliza uma lenda em que três visitantes divinos são acolhidos por
um migrante anônimo e como recompensa este último recebe a dádiva de ter um
filho. Ora, Abraão e sua esposa Sara já em idade avançada ainda esperavam o
cumprimento da promessa que Deus lhes havia feito em relação a numerosa
descendência e neste caso as visitas já não se dão mais a pessoa anônima, mas o
personagem Abraão se torna o Herói desta história.
As leituras deste domingo fazem um convite
e um alerta pertinente para todos na atualidade no sentido de não descuidar de
um valor fundamental para a qualidade das relações humanas e que consiste na
prática da hospitalidade e do acolhimento. Naturalmente que a principal forma
de acolhimento é a que se dá entre Deus e a humanidade e que Ele pôs em prática
primeiro quando veio ao encontro da humanidade enviando seu Filho.
No caso, Abraão é apresentado como um
modelo de acolhimento e cuidado com quem precisa de atenção e hospedagem. O
gesto do Patriarca recebe como recompensa a efetivação da promessa que é o
nascimento do filho e que será a sementeira da descendência numerosa que Deus
lhe havia prometido: “Voltarei, sem falta, no ano que vem, por este tempo, e
Sara, tua mulher, já terá um filho”.
O Evangelho retrata mais uma cena de
acolhimento e hospitalidade, neste caso das irmãs Marta e Maria. O diálogo de
Jesus com Marta é um indicativo para os cristãos da atualidade: Receber Deus em
casa não é sinônimo de ativismo desenfreado, de muitas atividades e correrias
incansáveis, mas implica também na capacidade de sentar e ouvir como Maria.
Obvio que o ouvir consiste também em prontidão para sair. Acolher a Palavra é
um caminho que não permite a passividade inerte de quem não se comove com as
necessidades alheias: “Marta, Marta! Tu te preocupas e
andas agitada por muitas coisas. Porém, uma só coisa é necessária. Maria escolheu a melhor parte e
esta não lhe será tirada”.
Paulo, falando aos Colossenses deixa bem
claro o que significa aceitar a visita que Deus nos faz por meio do seu Cristo.
A vida e as palavras de Jesus são uma referência fundamental para a construção
de qualquer valor que implique respeito e atenção para com todos: “Irmãos: Alegro-me de tudo o que já sofri por vós
e procuro completar na minha própria carne o que falta
das tribulações de Cristo, em solidariedade com o seu corpo, isto é, a Igreja. A ela eu sirvo, exercendo o
cargo que Deus me confiou de vos transmitir a palavra de Deus em sua plenitude:
o mistério escondido por séculos e gerações, mas agora revelado aos seus santos”.
Convenhamos
que nós vivemos numa correria frenética para ganhar alguns minutos, porque
‘tempo é dinheiro’, mudamos de faixa no trânsito, passamos o sinal vermelho,
comemos de pé ao lado da mesa, não temos tempo de brincar com os filhos. Sim,
tudo isso é exigência da vida moderna, mas o que poderia ser feito para
encontrar tempo de sentar aos pés de Jesus e acolhê-lo na pessoa dos irmãos
necessitados.
Também
em nossas comunidades algumas pessoas assumem muitos serviços se dão
completamente nas pastorais e nos movimentos e sobram pouco ou nada de tempo
para doar-se até mesmo para os próprios filhos e familiares. O desafio é
encontrar um tempo para acolher e escutar Jesus perceber os novos desafios que Deus
e o mundo nos apresentam. Por exemplo, como pensamos e agimos diante de tantos
migrantes que chegam diariamente às nossas cidades e que precisam de atenção e
de partilha de perceber que estamos preocupados com ele e com sua situação. É
certo que o problema da migração não é uma responsabilidade de algumas pessoas,
mas a solução pode passar pelo empenho de todos. Afinal de contas quem quer
morar na casa de Deus tem como máxima o salmo deste domingo: “O que não faz mal ao
seu próximo, nem ultraja o seu semelhante, o que tem por desprezível o ímpio, mas
estima os que temem o Senhor”.
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