sábado, 31 de março de 2012

POR UMA IGREJA MAIS HUMANA

O TEXTO A SEGUIR É PARTE DE UM ARTIGO MAIOR NO QUAL TRATO DE QUESTÕES ÉTICAS DENTRO E FORA DA IGREJA.  TODAVIA,  APROVEITANDO A SEMANA SANTA E FACILITANDO A LEITURA COLOCO A SUA DISPOSIÇÃO APENAS UM TÓPICO DO TEXTO MAIOR, CUJA REFLEXÃO PODE AJUDAR A TODOS, LEIGOS, PADRES, CATÓLICOS E NÃO CATÓLICOS CELEBRAR A SEMANA SANTA COMO GRANDE MISTÉRIO DA FÉ CRISTA. tAL MISTÉRIO  DIZ RESPEITO AO MILHÃO DE HABITANTES DO PLANETA QUE ACEITA A VERDADE SOBRE JESUS EMBORA MUITAS VEZES, E COM TODA A RAZÃO, NÃO ACEITA A PALAVRA DA IGREJA.

Tratar das questões de moral pessoal sempre foi um marco forte de toda a doutrina da Igreja. O Concílio Vaticano II e recentemente a  Conferência de Aparecida insistem que a Igreja precisa e pode ir muito além desta dimensão no processo de instrumento a servilço do Reinado de Deus no mundo.

Certamente a Igreja tem olhado e aventado tais situações e possibilidades. Na mesma proporção em que tem silenciado sobre os escândalos no que se refere à moral pessoal, ela evita de fazer aparecer a crise ética que afeta outras instâncias e que alcança a moral social. Silenciar não é sinônimo de não enxergar, pelo contrário, muitas vezes buscar respostas no interior de si mesma ou com a ajuda da sociedade. Nessa direção se pode aplicar as palavras de VIESENTEINER 2010:

"Por fim, pensemos também na condição do homem consigo mesmo. Vivenciamos um processo de esgotamento generalizado de novas possibilidades com a vida, ou ainda, a falência da potencialidade humana em criar novas estimativas de valor. Através das palavras do “Adivinho” em Assim Falou Zaratustra, Nietzsche descreve muito bem o sintoma niilista de esgotamento de vida: “E vi uma grande tristeza descer sobre os homens. Os melhores deles cansaram-se de suas obras. Proclamou-se uma doutrina: ‘tudo é vazio, tudo é igual, tudo foi’. [...] Inútil foi todo o trabalho, veneno tornou-se o nosso vinho, um mau-olhado engelhou e amarelou nossos campos e nossos corações. Tornamo-nos todos secos; e, se caísse fogo sobre nós, seríamos reduzidos a cinza... Todas as fontes se nos enxugaram, também o mar retirou-se. O solo quer fender-se, mas o abismo não nos quer tragar! ‘Ah, onde há um mar, ainda, no qual possamos afogar-nos?’: assim soa o nosso lamento... Em verdade, já estamos cansados demais para morrer; agora continuamos acordados e vivendo – em câmaras mortuárias!” (Z, “O adivinho”). Nessa condição, o homem não apenas compra uma vida artificial ou violenta a natureza, mas também banaliza a si mesmo, tornando-se incapaz de resistir e inventar novas formas de vida. Incapazes de construir nossa própria felicidade, preferimos comprá-la em cápsulas na farmácia! Impotentes para criar nossos próprios valores, preferimos a massificação ditatorial e perversa dos valores com valor de nada!"

A começar pelo Santo Padre não faltam considerações a respeito das divisões no interior de Igreja que denotam a crise ética pela qual está passando, embora, como se sabe ainda não explorada pela imprensa. Este tema foi tratado de modo explícito no discurso que o Papa fez aos Bispos catarinenses e gaúchos por ocasião da  Visita Ad Limina , no ano de 2010:  

"Neste sentido, amados Irmãos, vale a pena lembrar que em agosto passado, completou 25 anos a Instrução Libertatis nuntius da Congregação da Doutrina da Fé, sobre alguns aspectos da teologia da libertação, nela sublinhando o perigo que comportava a assunção acrítica, feita por alguns teólogos de teses e metodologias provenientes do marxismo. As suas seqüelas mais ou menos visíveis feitas de rebelião, divisão, dissenso, ofensa, anarquia fazem-se sentir ainda, criando nas vossas comunidades diocesanas grande sofrimento e grave perda de forças vivas. Suplico a quantos de algum modo se sentiram atraídos, envolvidos e atingidos no seu íntimo por certos princípios enganadores da teologia da libertação, que se confrontem novamente com a referida Instrução, acolhendo a luz benigna que a mesma oferece de mão estendida; a todos recordo que «a regra suprema da fé [da Igreja] provém efetivamente da unidade que o Espírito estabeleceu entre a Sagrada Tradição, a Sagrada Escritura e o Magistério da Igreja, numa reciprocidade tal que os três não podem subsistir de maneira independente» (João Paulo II, Enc. Fides et ratio, 55). Que, no âmbito dos entes e comunidades eclesiais, o perdão oferecido e acolhido em nome e por amor da Santíssima Trindade, que adoramos em nossos corações, ponha fim à tribulação da querida Igreja que peregrina nas Terras de Santa Cruz"
.
 Parece que vão nesta direção as indicações de ajuda vindas dos mais diversos setores da sociedade, proferidas por pessoas que já estivarem nas fileiras eclesiásticas e por tantos outros filósofos e teólogos contemporâneos. O limite deste artigo impede a citação de muitos textos e nomes, mas é oportuno citar BOFF 2007 :

"As guerras não existem apenas no mundo. Dentro da igreja há também uma guerra de baixa intensidade. Ela faz muitas vítimas, com os instrumentos adequados da guerra religiosa, escondidos sob palavras não raro, piedosas e espirituais".

E diante dessa afirmação continua:

"Há bondade no mundo, como há maldade na Igreja. Importa é dialogar, intercambiar e aprender um do outro. A Igreja que evangeliza deve ela mesma ser evangelizada por tudo aquilo que de bom, honesto, verdadeiro e sagrado puder ser identificado na história humana. Somos naturalmente sincréticos na convicção de que em todos os caminhos espirituais há bondade para além dos desvios e que, definitivamente, tudo acaba em Deus. Por isso, a Igreja precisa renunciar a certa arrogância, ser mais humilde e confiar que o Espírito e o Cristo cósmico dirijam seus passos e os da humanidade por caminhos com sentido e vida".

Ou como afirma o teólogo Victor Codina :

"Todos desejaríamos que a Igreja fosse jovem, forte, vigorosa, ousada, criativa, primaveril, atraente… mas nós a encontramos cansada, pressionada, silenciosa, medrosa, quase muda. Parece-nos muito velha, às vezes quase tememos que tenha Alzheimer: recorda o passado, repete-o, mas parece que o que ocorre no momento lhe escapa, é quase míope para compreender as novas luzes que brilham e que exigem resposta. Outras vezes nos parece surda, não escuta os gritos e o vozerio de um mundo agitado e turbulento. Os jovens a abandonam cansados de ver seu estado deplorável; tão calada, tão passiva, tão torpe, tão pouco acolhedora. Outros a atacam violentamente, ferem-na, inclusive anunciam sua morte próxima: "é questão de tempo, é do passado, é uma relíquia anacrônica, é um objeto de antiquário". Outros querem rejuvenescê-la com técnicas artificiais, antioxidantes, contra as rugas. Mas ela não se deixa. Outros a veem suja, manchada, descuidada, abandonada, desprezada, como se ninguém cuidasse dela, tentando ajudá-la com carinho, é tão velha a pobre… Mas ela fica calada, medita em seu interior, recorda o passado, quando era jovem e pobre, quando a perseguiram, quando a coroaram como rainha e mestra, quando a uniram a príncipes e reis, quando todos diziam ser seus filhos. E ela sorri, pois sempre quis ser como no começo, fiel ao Espírito, singela, pobre, transparente, aberta a todos, fecunda, livre, evangélica, como seu Esposo, o Senhor. Agradece a seus filhos que quiseram que ela voltasse às suas origens, aos seus filhos fiéis, que nunca procuravam seu próprio proveito senão o do Senhor. É sábia, cheia de experiência, experiente em humanidade, sabe que há primaveras e também invernos; agora é inverno".

Certamente as palavras do teólogo em referência podem ser aplicadas a Igreja na atualidade:

"Quer abrir janelas, sacudir o pó de imperadores e reinos passados, quer respirar ares novos repletos de oxigênio mesmo sendo muito velha, mas muitos fecham apressados suas janelas, "com medo de que a velha se resfrie... Ainda que pareça silenciosa, muda e surda, no fundo escuta uma voz interior que lhe sussurra palavras de vida eterna. Quando nos parece cega, na realidade tem os olhos voltados para dentro, para o Senhor, seu Esposo que lhe dá força, dá-lhe seu Espírito para que nunca se desanime, não decaia, não perca a esperança, para aprender a viver novos tempos".

E Maria Clara Lucchetti Bingemer , escreve a partir das denuncias de pedofilia, sem deixar de fazer entender a amplitude da crise ética:

"Manter-se alerta e vigilante para agir de modo digno da vocação a que foi chamado é obrigação sua. Zelar para que tenha as condições objetivas de fazê-lo, não o expondo, nem à comunidade, a situações escandalosas é obrigação de seus superiores. Em situações como esta, impõe-se usar da mais total transparência, sem medo algum da verdade. Esta é a verdadeira caridade, que liberta o agressor no sentido de que faz apelo à sua consciência e preserva a comunidade de escândalos que só podem dividi-la e debilitá-la"

A proporção dos escândalos na Igreja é muito maior do que os noticiados referentes à pedofilia e exploração sexual de menores. Embora a imprensa não tenha tido acesso a essas informações elas merecem e algumas vezes são trabalhadas no interior da Igreja no sentido de serem corrigidas e coibidas. Todavia é isso que se denomina crise ética. São casos de improbidade administrativa como as que vez por outra é publicado  envolvendo dioceses e altas instâncias da Igreja, situações que colocam as dioceses à beira da falência, outras que não recolhem encargos sociais dos seus funcionários, enriquecimento ilícito, disputa de poder entre bispos, e no meio do clero; inveja e até falsidade ideológica. Todos esses casos preocupam e merecem ser tratados pelas instituições eclesiásticas.

Sobre as questões que envolvem inveja e disputa de poder na Igreja o Papa se pronunciou em suas alocuções no Vaticano e fora dele. Na audiência pública da quarta feira 03 de março 2010 Bento XVI falou sobre as virtudes de São Boaventura de Bagnoreggio recriminou  a inveja na Igreja dizendo: 

"Naqueles anos, em Paris, a cidade adotiva de Boaventura, começou uma violenta polêmica contra os Frades Menores de São Francisco de Assis e os Frades Pregadores de São Domingos de Gusmão. Discutia-se seu direito de lecionar na Universidade e se duvidava inclusive da autenticidade da sua vida consagrada. Certamente, as mudanças introduzidas pelas Ordens Mendicantes na forma de entender a vida religiosa, das quais falei nas catequeses anteriores, eram tão inovadoras que nem todos chegavam a compreendê-las. Acrescentavam-se também, como às vezes acontece entre pessoas sinceramente religiosas, motivos de fraqueza humana, como a inveja e o ciúme".

Segundo a AFP , em cerimônia de ordenação de novos presbíteros para a Diocese de Roma, realizada no Vaticano no dia 20 de junho 2010 o Papa Bento XVI se expressou assim:

"O sacerdócio jamais pode representar um meio para alcançar uma segurança ou conquistar uma posição social, afirmou Bento XVI, que parecia tenso e cansado para os jornalistas que assistiram a missa celebrada na Basílica de São Pedro. "Quem aspira o sacerdócio para aumentar seu prestígio pessoal e seu próprio poder interpreta equivocadamente o sentido de seu ministério".

Estas situações, na medida em que não recebem providências adequadas podem levar à sociedade fazer afirmações do tipo: “Deus é um delírio”, na medida em que também estes confundem a instituição religiosa como se estas fossem as criadoras ou proprietárias de Deus. É neste sentido que se pode aplicar o conceito de morte de Deus atribuído a Nietzsche : 

"Não ouviram falar daquele homem louco que em plena manhã acendeu uma lanterna e acorreu ao mercado, e se  pôs a gritar incessantemente: “procuro Deus! Procuro Deus”? E como lá se encontrassem muitos daqueles que não criam em Deus, ele despertou com isso uma grande gargalhada. Então ele está perdido? Perguntou um deles. Ele se perdeu como uma criança? disse outro. Está se escondendo? Ele tem medo de nós? Embarcou num navio? Emigrou? Gritavam e riam uns para os outros. O homem louco se lançou para o meio deles e trespassou-os com seu olhar. “Para onde foi Deus?, gritou ele, “já lhes direi! Nós o matamos – vocês e eu. Somos todos seus assassinos! Mas como fizemos isso? Como conseguimos beber inteiramente o mar? Quem nos deu a esponja para apagar o horizonte? Que fizemos nós ao desatar a terra do seu sol? Para onde se move ela agora? Para onde nos movemos nós? Para longe de todos os sóis? Não caímos continuamente? Para trás, para os lados, para frente em todas as direções? Existem ainda em cima e embaixo? Não vagamos como que através de um nada e infinito? Não sentimos na pele o sopro do vácuo? Não se tornou ele mais frio? Não anoitece eternamente? Não temos que acender lanternas de manhã? Não ouvimos o barulho dos coveiros a enterrar Deus? Não sentimos o cheiro da putrefação divina? Também os deuses apodrecem! Deus está morto! Deus continua morto! E nós o matamos! Como nos consolar a nós assassinos entre os assassinos?".

Como se disse a crise ética que assola a Igreja precisa ser tratada em outros  aspectos sob pena de ter a imagem de ícone da ética quebrada de modo irreparável. Esta imagem pode ser parafraseada à que faz Miguel Arroyo  referindo-se à figura do professor:

"As figuras dos professores(as) (leia-se dos ministros e da Igreja)  aparecem para além de uma docência (serviço neutro) neutra, Não dá para separar a imagem docente (de ministro) da imagem humana. Nem como separar os saberes apreendidos dos valores, dos comportamentos, das condutas e dos hábitos, da ética, da auto estima, do orgulho, ou da humilhação, do estímulo de do preconceito (ARROYO 2009, p.242).

Não sem razão escreveu Dr. Antônio Moser como resposta para os escândalos de pedofilia, o texto que aplicamos para toda a crise ética a que se está referindo:

"Este é, sem dúvida, um momento doloroso para a Igreja. Contudo, este não é só um momento de dor e de sofrimento purificador. É também um momento privilegiado para assumir novas atitudes e abrir novos caminhos. Se é a “verdade que nos liberta”, estamos livres da inconsciência. Sabemos dos fatos, da doença, o que nos possibilita o inicio de um processo de cura. Agora que os segredos foram “proclamados sobre os telhados”, é o momento privilegiado para a busca comunitária de soluções, não só para os problemas da Igreja, mas também para os da sociedade" (REB, 278, abril 2010, p.434).

Os últimos tempos foram muito promissores no campo de revelar e até punir políticos e empreiteiros que agiram de má fé nos diversos “mensalões” que a mídia apontou em quase todas as instâncias políticas, sociais e unidades da federação. Não será hora da Igreja também aproveitar este momento para ir a luta responsabilizando também os cúmplices por outras violações éticas que atingem duramente a imagem da instituição sob o ponto de vista da ética e da moral social?

sexta-feira, 16 de março de 2012

HOMILIA PARA O DIA 18 DE MARÇO 2012


4º DOMINGO DA QUARESMA

Leituras:  2Cr 36,14-16.19-23;  Sl 136,1-2.3.4-5.6 (R. 6a); Ef 2,4-10;  Jo 3,14-21

O concílio Vaticano II, recorda com firmeza uma das mais importantes tarefas  da Igreja quando diz: “As alegrias e as tristezas, as angústias e as esperanças dos homens de hoje são também as alegrias e as tristezas dos discípulos de Cristo”.

Nos dias de hoje, em quase todos os segmentos da sociedade,  vive-se tempos de medo, de preocupação e de insegurança. Facilmente corre-se o risco de ser pessimista e acreditar que nada mais tem solução, que nada tem jeito, que as pessoas são más, que a sociedade está perdida e assim por diante.

É verdade que são muitos os sinais de morte e de desencanto, mas é maior ainda a certeza de que Deus está presente e que o agir de Deus é muito diferente dos atos humanos. Longe de que castigar, vingar, destruir, amedrontar, Deus acolhe, anima, recolhe, esclarece, dá novas oportunidades.

É isso o que se tem nas leituras deste domingo.  No texto do livro das Crônicas  se lê que enquanto o povo multiplicou a infidelidade, O Senhor, Deus do céu, deu-me todos os reinos da terra, e encarregou-me de lhe construir um templo em Jerusalém, que está no país de Judá. Quem dentre vós todos, pertence ao seu povo? Que o Senhor, seu Deus, esteja com ele, e que se ponha a caminho”.

No mesmo sentido São Paulo fala aos Efésios: “Deus é rico em misericórdia. Por causa do grande amor com que nos amou, quando estávamos mortos por causa das nossas faltas, ele nos deu a vida com Cristo. É por graça que vós sois salvos!”.

E Jesus se apresenta como o enviado do Pai para salvar e dar nova oportunidade a todos. Não importa a condição do pecador. O que conta, segundo o evangelho deste domingo, é acreditar na pessoa e na missão do Filho de Deus: “De fato, Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele. Quem nele crê, não é condenado”.

Desta forma a quaresma se constituí num tempo de graça extraordinária. Preparando a páscoa a Igreja e todas as pessoas são convidadas a reconhecer que o Filho Deus aponta para um novo tempo e distribui graças sobre graça longe de condenar, amedrontar e destruir.

Neste sentido aqueles que creem podem proclamar como São Paulo: “Pois é ele quem nos fez; nós fomos criados em Jesus Cristo para as obras boas”.

terça-feira, 13 de março de 2012

QUEM É A MÃE DE VITÓRIA?





Os números dos institutos de pesquisa são, neste caso, instrumento valioso para ajudar a perceber o alcance desta pergunta no imenso universo dos telespectadores da TV brasileira.

Prefiro começar a reflexão refrescando a memória reportando a uma das fantásticas histórias bíblicas narradas no Antigo Testamento. Trata-se dos provérbios de Salomão, para quem foi apresentada uma criança cuja maternidade era disputada por duas mulheres, ambas apresentando-se como progenitoras.

Depois de ordenar que a criança fosse partida ao meio e que cada uma recebesse uma parte do que seria seu filho, Salomão entregou a criança para a que julgou ser a verdadeira mãe, a qual abdicou do seu direito em nome da vida do recém nascido.

Esta clássica história permite-nos colocar a temática da tele dramaturgia brasileira à luz da Campanha da Fraternidade de 2012. Para muito além do que decidir se no caso da Vitória houve violação do código de ética médica, se a verdadeira maternidade deve ser atribuída a Ester, que, em outros tempos se chamou de barrida de aluguel, ou se a maternidade tem estreitas e confiáveis comprovações biológicas por conta da doação feita pela Bia afim de que o sobrinho da Dra. pudesse ter um irmão.

A imprensa fecundou o imaginário popular sobre a questão da maternidade/paternidade apimentando com a já polêmica permissão da adoção por casais homo afetivos ou o direito de registrar os filhos com o nome de duas mães e dois pais.

Todas estas questões tem sim sua importância e todos os envolvidos merecem respeito, admiração e decisão legal sobre a progenitura dos que foram gerados.

Todavia, à luz do Tema da Campanha da Fraternidade 2012 – Saúde e Fraternidade e com o lema: “Que a saúde se difunda sobre a terra”, prefiro fazer um questionamento ético que, a meu ver, é muito anterior à geração ou reconhecimento de paternidade.

Embora os noticiários tenham silenciado sobre o assunto, ainda está bem presente na memória nacional o caso dos pais paranaenses que depois de uma fecundação artificial geraram 3 três filhos e insistiram na possibilidade de reconhecer apenas 2 deles.

Neste sentido desejo propor uma reflexão a partir do direito constitucional brasileiro de que a saúde é um direito de todos.

a) Considerando que o SUS é um programa abrangente de saúde pública ao alcance de todos;

b) A ciência e a medicina estão a serviço da vida e da qualidade de vida;

c) Os profissionais da saúde, e os pesquisadores brasileiros merecem ser qualificados entre os melhores do mundo.

d) Considerando que o número de casais impossibilitados de gerar filhos é bastante significativo na sociedade brasileira;

e) Considerando que os procedimentos clínicos para que se dê uma gestação assistida servindo-se dos recursos da ciência e da medicina são procedimentos de alto custo.

A pergunta mais sábia, prudente e ética não será questionar-se sobre o verdadeiro alcance da Saúde Pública no Brasil? Dito em outras palavras a serviço de quem estão os avanços da medicina? ou quem tem poder aquisitivo para beneficiar-se das novas tecnologias e da qualidade de vida que deveria estar ao alcance de todos?

Não parece ser muito mais cristão, e porque não dizer Salomônico, em lugar de legislar sobre a divisão dos filhos gerados. Em lugar de cortá-los pelo meio, literalmente em filhos biológicos e filhos do coração (e tantas outras nomenclaturas que tem aparecido em tempos recentes) utilizar todos os recursos para que os benefícios da ciência estejam ao alcance de muitos em detrimento daqueles cujo poder aquisitivo permite tais disputas?

Não parece ser mais cristão, e porque não dizer Salomônico, em lugar de dispender recursos para julgar casos de paternidade/maternidade biológica, facilitar e estimular a adoção de crianças em situação de risco e vulnerabilidade social?

Sinceramente desejaria que a penitência, a oração, o jejum, a esmola e a conversão desta quaresma estivessem inebriados do clamor erguido pela Campanha da Fraternidade 2012: “Que a saúde se difunda sobre a terra”.

sábado, 3 de março de 2012

HOMILIA PARA O DIA 04 DE MARÇO DE 2012






Que a saúde se difunda sobre a terra! Com este lema a Igreja convida todos para um decidido empenho na melhoria das condições de vida para todos em todos os lugares. Entretanto, como compreender isso diante de noticias alarmantes que continuam sendo veiculados diariamente: “O Brasil é o segundo maior mercado de cocaína das Américas; O Crack pode tirar a vida de, pelo menos, 25 mil jovens por ano no Brasil; Uma nova e devastodara droga conhecida pelo nome de Oxi  tem uma rápida difusão e baixo custo para acesso e com conseqüências ainda mais danosas que o temível crack”.

SEGUNDO DOMINGO DA QUARESMA

Leituras: Genesis 22,1-2.9a.10-13.15-18; Salmo - 115,10 15.16-17.18-19 (R. Sl 114,9);
Romanos 8,31b-34; Marcos 9,2-10






Esta realidade é comparável ao que se lê na primeira leitura de hoje: “Toma teu filho único,  Isaac, a quem tanto amas, dirije-te à terra de Moriá, e oferece-o ali em holocausto sobre um monte que eu te indicar”.  Inúmeras vezes as pessoas e as famílias se vêem em situação quase sem escolha: ou sacrificar sua própria existência ou sentir-se excluída do mundo e da convivência habitual em que está inserida.
Tal como para Abrãao, Deus continua apontando outros caminhos e apresentando novas e extraordinárias alternativas: “'Não estendas a mão contra teu filho e não lhe faças nenhum mal! Agora sei que temes a Deus, pois não me recusaste teu filho único'. Abraão, erguendo os olhos, viu um carneiro preso num espinheiro pelos chifres; foi buscá-lo e ofereceu-o em holocausto no lugar do seu filho”.
É assim que podem ser compreendidas as palavras de Paulo: “Irmãos: Se Deus é por nós, quem será contra nós?”. Ou seja, no contexto da multidão de pecados, Deus está aí para perdoar, livrar e redimir. Ninguém condena, nem mesmo Deus.
Esta experiência é vivida pelos amigos de Jesus, no alto do monte, eles entram na intimidade de Jesus e de Deus seu Pai. São convidados a não permanecer naquele lugar, mas voltar para a realidade do pecado e da provação e lá ouvirem de novo aquilo que já sabiam, mas não tinha ainda compreendido: “'Este é o meu Filho amado. Escutai o que ele diz!”.
Sob  esta ótica é possível cantar com o salmista: “Andarei na presença de Deus. Vou cumprir minhas promessas ao Senhor na presença de seu povo reunido; nos átrios da casa do Senhor, em teu meio, ó cidade de Sião!”.
Neste sentido a celebração de cada domingo, a Palavra que se ouve e a Eucaristia que se partilha são sinais extraordinários de que “Jesus Cristo, que morreu, mais ainda, que ressuscitou, e está, à direita de Deus, intercedendo por nós?” e que um mundo novo e muito melhor pode ser construído e que com a ajuda de todos “A saúde se difunda sobre a terra”.

sábado, 25 de fevereiro de 2012

HOMILIA PARA O DIA 26 DE FEVEREIRO DE 2012

PRIMEIRO DOMINGO DA QUARESMA

Leituras:  Gênesis 9,8-15;  Salmo - 24,4bc-5ab.6-7bc.8-9 (R. cf. 10);
 1Pedro 3,18-22;  Marcos  1,12-15.

Dentre as matérias que ocuparam grande parte do tempo nos telejornais desta semana, chamou a atenção o destaque dado para o acidente com um trem na  Argentina. As hipóteses sobres as causas do acidente, a necessidade de responsabilizar alguém pelo ocorrido, as explicações dos especialistas, tudo serviu para chamar a atenção sobre os riscos e perigos que cada pessoa e a sociedade está sujeita o tempo todo.
Diante de casos como o do acidente em referência surgem as perguntas e buscas de respostas sobre o sofrimento, a angústia e as lágrimas que a vida proporciona a todos.  Na mesma dimensão merece  ser considerada a esperança, a alegria, e  a vida nova que brota depois de cada dor e sofrimento.


Para fazer um paralelo com as leituras bíblicas  sugeridas para as celebrações deste domingo parece importante considerar o texto que se conclui com a aliança selada por Deus com o seu povo. O que aparece reforçado na leitura não é exatamente a culpa, o pecado, o risco e o perigo que o dilúvio representou para os conterrâneos de  Noé. Pelo contrário, o texto se alonga afirmando: “Estabeleço convosco a minha aliança: nenhuma criatura será mais exterminada  pelas águas do dilúvio, e não haverá mais dilúvio para devastar a terra”. Em outras palavras é possível compreender que a vontade de Deus, conforme afirmou Santo Irineu: “é o ser humano vivo”.
É neste sentido que o Cristo, desceu à mansão dos mortos e da lá saiu vivo  e glorioso, sob está ótica se lê também o evangelho deste domingo. Jesus foi provado no Deserto e venceu as tentações do demônio:  “O Espírito levou Jesus para o deserto. E ele ficou no deserto durante quarenta dias, e ali foi tentado por Satanás. Depois Jesus foi para a Galileia, pregando o Evangelho de Deus e dizendo: 'O tempo já se completou e o Reino de Deus está próximo.
Convertei-vos e crede no Evangelho!”
Pedro, na segunda leitura faz uma comparação extraordinária. Ao dizer que a “Arca corresponde ao batismo”,  assim ajuda  compreender que simultâneo a todo e qualquer sofrimento e provação está uma âncora de salvação, um sinal de ajuda e redenção.
Neste sentido é importante perceber que nenhum sofrimento, nenhuma provação, nada está fora do alcance da misericórdia de Deus. Ele mesmo acompanha e conduz os seres humanos para uma vida nova e uma condição diferente daquela em que se deu o pecado, a dor a tristeza e a própria morte.
Iniciando o tempo da quaresma a comunidade dos cristãos é convidada a se reconhecer como que saindo da Arca, vencendo as tentações do deserto, experimentando a morte pelo batismo, mas, sobretudo encontrando a vida nova que Deus concede pela Páscoa de Jesus cuja celebração se vai preparando com penitência, Jejum, oração  e esmola.
É um bom recurso o tema da Campanha da fraternidade de cada ano, que nesta quaresma convida a trabalhar para que a Saúde se difunda sobre a terra!

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

HOMILIA PARA O DIA 19 DE FEVEREIRO DE 2012


7® DOMINGO DO TEMPO COMUM

Leituras: Isaias 43,18-19.21-22.24b-25; Salmo 40,2-3.4-5.13-14 (R. 5b);
 2Coríntios 1,18-22; Marcos 2,1-12

O ser humano é em sua natureza curioso. Basta ouvir falar, ou enxergar qualquer coisa que lhe pareça diferente do cotidiano e imediatamente se formam verdadeiros amontoados com o intuito de inteirar-se, de conhecer melhor ou mesmo de saciar a curiosidade. Nos dias atuais são muitas as situações que aguçam a curiosidade e fazem acorrer multidões. Promessas de curas e milagres estão entre as mais significativas, bastantes vezes estas situações não passam de promessa  e de promoção de pessoas ou grupos.
No tempo de Jesus, pouca diferença existia em relação a estas curiosidades e expectativas. À parte que os judeus aguardavam a vinda do Messias, a presença de Jesus no meio deles despertou grande curiosidade e desconfiança.
Nos últimos domingos estão sendo proclamados textos do Evangelho de Marcos. Todos apontam para a ação de Jesus que cura, perdoa e devolve a dignidade às pessoas. O Evangelho deste domingo, mais uma vez, mostra Jesus cercado por grande multidão que lhe procura com o objetivo de ser acolhida e curada.
O que Jesus  faz não é, senão, o cumprimento da profecia de Isaias: Sou eu, eu mesmo, que cancelo tuas culpas por minha causa e já não me lembrarei de teus pecados”.  Mediante esta realidade  não é estranha a reação: “E ficaram todos admirados e louvavam a Deus, dizendo: 'Nunca vimos uma coisa assim.” O que Jesus realiza faz com que Ele seja reconhecido desde o ponto de vista da missão para a qual foi enviado: “Foi o Senhor que mandou anunciar boas notícias”.
A presença de Jesus desestabiliza os doutores  e os escribas que sempre serviram-se da lei em benefício próprio. Esses ficam incomodados com a nova situação e tudo fazem com a intenção de desacreditar Jesus e impedir que se realize a missão. Entretanto a missão de Jesus se concretiza exatamente porque ele é fiel à Vontade de Deus, conforme fala  São Paulo:Com efeito, é nele que todas as promessas de Deus têm o seu 'sim' garantido. Por isso também, é por ele que dizemos 'amém' a Deus, para a sua glória”.
A oração da Igreja reunida, neste domingo predispõe os cristãos, tal como aconteceu com Jesus, para abrir-se à vontade de Deus e realizar aquilo que é desejo de todos: A vida plena, o perdão e a misericórdia.
Por isso mesmo a Igreja acredita e proclama que em Cristo todas as coisas são para a glória de Deus Pai.

sábado, 11 de fevereiro de 2012

HOMILIA PARA O DIA 12 DE FEVEREIRO 2012

6° DOMINGO DO TEMPO COMUM

Leituras: Levítico 13,1-2.44-46; Salmo - 31,1-2.5.11 (R.7);
1Coríntios 10,31-11,1; Marcos 1,40-45

Nesta semana foi manchete nos grandes meios de comunicação do Brasil um noticia pelo menos inusitada: “Morador de rua é condenado à prisão domiciliar”. No caso específico um paradoxo inexplicável e que leva em conta simplesmente a pena, a punição, a lei, a regra, a norma, a autoridade. Este fato serve para iluminar a reflexão que se pode fazer a partir da leitura da Palavra de Deus sugerida para o sexto domingo do tempo comum.
O Texto do Levítico escrito no contexto da lei mosaica, e num tempo em que as doenças não tinham possibilidade de ser diagnosticada, impõe a imediata exclusão do portador de qualquer doença considerada mais sob o ponto de vista religioso do que fisiológico.
Na mesma condição vivia a sociedade judaica conterrânea de Jesus, embora vivendo cerca de mil anos depois da prescrição de Moisés a lei ainda era aplicada com o mesmo rigor e condição para todos. Nos dois casos é possível estabelecer um paralelo com o episódio do “morador de rua condenado à prisão domiciliar”.
Os Judeus não se haviam dado conta que Jesus “é um grande profeta” e que neste outro contexto o encontro com Ele favorece novas formas de relacionamento e compreensão das pessoas e do mundo.
Mediante o pedido de socorro, a resposta de Jesus não poderia ser outra: “Um leproso chegou perto de Jesus, e de joelhos pediu: 'Se queres tens o poder de curar-me'. Jesus, cheio de compaixão, estendeu a mão, tocou nele, e disse: 'Eu quero: fica curado!”.
As comunidades de hoje são convidadas a reconhecer os erros e limites pessoais, das instituições, e da sociedade em geral, mas ao mesmo tempo repetir como se faz no salmo de resposta:  “Eu confessei, afinal, meu pecado, e minha falta vos fiz conhecer. Disse: 'Eu irei confessar meu pecado!' E perdoastes, Senhor, minha falta”.
Para os cristãos do nosso tempo se aplica o convite que São Paulo faz aos Coríntios: “Fazei como eu, que procuro agradar a todos, em tudo, não buscando o que é vantajoso para mim mesmo, mas o que é vantajoso para todos, a fim de que sejam salvos.  Sede meus imitadores,
como também eu o sou de Cristo”.
A lepra, na atualidade é muito maior do que as doenças físicas e falta de acesso aos serviços públicos e gratuitos de saúde. As doenças de hoje são também morais, sociais, econômicas, etc.
A Igreja que reza, que ouve a Palavra e que participa da Eucaristia precisa estar mais bem preparada e mais aberta para acolher a todos conforme se reza na última oração da missa: “daí-nos desejar sempre o alimento que nos traz a verdadeira vida”.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2012

A Campanha da fratenidade terá inicio com a quarta feira de cinzas, neste ano 22 de fevereiro. Todos somos chamados à conversão sobre o tema que ela nos sugere. Minha participação aparece neste blog no ícone "Diocese de Caçador".

HOMILIA PARA O DIA 05 DE FEVEREIRO 2012

5° DOMINGO DO TEMPO COMUM

Leituras: 1ª Leitura - Jó 7,1-4.6-7; Salmo  146,1-2.3-4.5-6 (R. Cf. 3a);
2ª Leitura - 1Coríntios 9,16 -19 22-23; Evangelho - Marcos 1,29-39.


Há uma canção folclórica sobre a vida dos descendentes italianos no sul do Brasil em que o autor canta, em dialeto Vêneto, todas as desventuras de uma família no decorrer do ano e repete insistentemente no refrão: “Caro Bepe qua semo contente, gaiansa no Ghe e va tudo bien, grazie a Dio lauremo felicce gavemo salute e va tuto  bien”, que traduzido significa: “Caro José, aqui estamos contentes, riqueza não temos, mas vai tudo bem. Graças a Deus trabalhamos felizes, temos saúde e vai tudo bem”.  É possível interpretar a intenção do autor, no momento quando ele diz: “Graças a Deus estamos felizes”. 
Pois é isso que se pode compreender também neste domingo a partir da leitura da Palavra de Deus proclamada na liturgia. Jó faz uma penosa narrativa com todos os sofrimentos a que está sujeito o ser humano: “Não é acaso uma luta a vida do homem sobre a terra? Como um escravo suspira pela sombra. Meus dias correm mais rápido do que a lançadeira do tear e se consomem sem esperança”.
Como uma resposta a comunidade é chamada a rezar com o salmo cantando as maravilhas de Deus: “Louvai a Deus, porque ele é bom e conforta os corações. Ele conforta os corações despedaçados, ele enfaixa suas feridas e as cura”.
E São Paulo se apresenta como um enviado de Deus. Seu trabalho não é uma escolha pessoal, pelo contrário, ele o faz na certeza de que anuncia algo muito maior do que palavras e intenções humanas: “Se eu exercesse minha função de pregador por iniciativa própria, eu teria direito a salário. Mas, como a iniciativa não é minha, trata-se de um encargo que me foi confiado”.  E por isso mesmo conclui: “Fiz-me tudo, para certamente salvar alguns. Por causa do evangelho eu faço tudo, para ter parte nele”.
A descrição desta situação narrada na primeira e na segunda leitura não é mais do que a experiência da comunidade da Galiléia com a presença de Jesus no meio deles. O que sê lê no evangelho de hoje é uma continuação dos evangelhos proclamados nos dois domingos precedentes. Hoje Jesus parte do ambiente familiar. Ele está na casa de Pedro, neste lugar modifica a condição de muitas pessoas, curando muitos doentes e expulsando demônios, depois disto continua sua missão fazendo o convite aos discípulos: “Vamos a outros lugares, às aldeias da redondeza! Devo pregar também ali, pois foi para isso que eu vim”.
Para cada pessoa em particular, para a Igreja e para a assembleia reunida em oração se aplica hoje o convite feito pelo Concílio Vaticano II que é uma extensão da Palavra de Deus: “As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos os que sofrem, são também as alegrias e as esperanças dos discípulos de Cristo”.
Os cristãos que se Reúnem em Oração, que ouvem a Palavra e que participam da Mesa Eucarística, mais do que todos são chamados a proclamar como São Paulo: “Ai de mim, se eu não pregar o Evangelho”. E anunciar implica em repetir o que se reza no salmo: “Louvai a Deus, porque ele é bom e conforta os corações”.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

HOMILIA PARA O DIA 29 DE JANEIRO 2012

4º DOMINGO DO TEMPO COMUM

1ª Leitura - Dt 18,15-20; Salmo - Sl 94,1-2.6-7.8-9 (R. 8);
 2ª Leitura - 1Cor 7,32-35; Evangelho - Mc 1,21-28

Na atualidade os institutos de pesquisa se constituem instrumentos importantes para a aceitação, ou não aceitação de uma determinada atitude ou comportamento, da credibilidade ou não credibilidade daqueles que ocupam alguma posição de direção e comando das instituições, das empresas, dos governos e etc. À medida que os indicativos apontam índices maiores de aprovação a pessoa, ou a instituição que foi colocada sob a égide avaliativa pode se considerar traquila em relação às suas ações, palavras e comportamentos. Por outro lado, quando os índices se apresentam abaixo dos parâmetros desejados há que se propor uma correção nos rumos, nas palavras e nos modos de se apresentar.
A leitura de Deuteronômio, neste domingo, indica a credibilidade da Palavra, dada por alguém que foi enviado com a finalidade específica, isto é, fazer compreender a voz de Deus no meio do povo. O texto começa assim: “Moisés falou ao povo dizendo: O Senhor teu Deus fará surgir para ti, da tua nação e do meio de teus irmãos, um profeta como eu: a ele deverás escutar”. É claro que uma tão extraordinária afirmação pede também uma atitude coerente. Na sequência o texto afirma: “Eu mesmo pedirei contas a quem não escutar as minhas palavras que ele pronunciar em meu nome”. Ou seja, se a Palavra é dita com autoridade e verdadeira, e não resta outro comportamento que não seja aceitá-la e incorporá-la ao cotidiano dos que ouvem e a compreendem como tal.
Desta compreensão decore o convite que se reza no salmo: “Não fecheis o coração, ouví, hoje, a voz de Deus!”. À medida que se compreende a autoridade de que é constituída a Palavra, é importante colocar-se no seu devido lugar compreendendo: “Ele é o nosso Deus, nosso Pastor, e nós somos o seu povo e seu rebanho, as ovelhas que conduz com sua mão.”.
Não sem razão a Palavra de Jesus faz silenciar até os mais ferrenhos adversários do seu ensinamento. Ele se impõe não pela força da sua autoridade, mas pela convicção das suas palavras. Dirigindo-se ao demônio, que atormentava um seu conterrâneo, o texto do evangelho afirma: “Jesus o intimou: 'Cala-te e sai dele!' Então o espírito mau sacudiu o homem com violência, deu um grande grito e saiu.” A conseqüência não poderia ser outra que não a  credibilidade em sua Palavra: “E todos ficaram muito espantados e perguntavam uns aos outros: 'O que é isto? Um ensinamento novo dado com autoridade”.
A assembléia reunida no Dia do Senhor  se constitui numa espécie de medidor da credibilidade na Palavra de Deus que a ela se transmite. Aqueles que se encontram, de domingo a domingo, são sempre e de novo chamados e enviados a proclamar como tantos ao longo dos tempos: “Fazei-me Senhor instrumento da vossa Paz, onde houver erro que eu leve a verdade, onde houver desespero que eu leve a esperança”.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

HOMILIA PARA O DIA 22 DE JANEIRO 2012

3º DOMINGO DO TEMPO COMUM

Leituras:   1ª Leitura - Jonas 3,1-5.10; Salmo - 24,4ab-5ab.6-7bc.8-9 (R. 4a.5a);
2ª Leitura - 1Coríntios 7,29-31; Evangelho - Marcos 1,14-20.

Na era das novas tecnologias, algumas palavras e consequentemente  algumas atitudes são bastante usuais e facilmente aplicadas ao cotidiano do agir humano. Entre as palavras de uso comum cabe citar a expressão: “deletar” cujo tradução dispensa comentários.  Naturalmente que a conseqüência do uso desta palavra implica em “começar tudo de novo”; “fazer de um modo diferente”; “não repetir os mesmos esquemas” e assim por diante.
Esta a tônica presente na  Palavra de Deus proclamada neste domingo. A primeira leitura e o Evangelho aparecem em estreita sintonia, já a Carta aos Coríntios, reforça o convite para a conversão que São Paulo dirige aos seus destinatários e que se estende até a atualidade.
Jonas, chamado/enviado vai e anuncia uma proposta que supõe mudança de vida. Enviado por Deus, tanto aquele que envia como aqueles que recebem a noticia tomam a mesma atitude: Os Ninivitas “deletam” o seu antigo jeito de viver, em outras palavras, se convertem. Deus “deleta” o castigo, dito de outro modo: “perdoa”.
No Evangelho  Jesus, enviado do Pai, anuncia e convida: “O tempo já se completou e o Reino de Deus está próximo.  Convertei-vos e crede no Evangelho!”.  Para melhor realizar isso convida discípulos e seguidores, os quais também mudam o curso de suas vidas: “deixando imediatamente as redes, seguiram a Jesus”.
E Paulo completa a sentença, estabelecendo um tempo para que tudo aconteça:  “Eu digo, irmãos: o tempo está abreviado; a figura deste mundo passa”. O desafio consiste em viver com um olhar para muito além do que a imediata satisfação das necessidades corriqueiras.
No início do Ano litúrgico, e reconhecendo que Jesus Cristo é o enviado do Pai, todos são convidados a “deletar” antigas práticas e a viver de um modo novo, abandonar antigos esquemas a fim de participar dos bens que o Senhor concede, conforme se reza na oração depois da comunhão deste domingo: “Tendo recebido a graça de uma nova vida, sempre nos gloriemos dos vossos dons”.
Não sem razão a liturgia da Igreja sugere o Ato Penitencial como um reconhecimento das fragilidades e abertura confiante para a misericórdia de Deus que perdoa  e  que renova a vida pela Palavra, pela Eucaristia e com a ajuda da comunidade reunida em oração.


terça-feira, 17 de janeiro de 2012

CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2012






Caso lhe interesse acesse a página "Diocese de Caçador", neste blog e comente o texto: "Que a saúde se difunda sobre a terra".

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

HOMILIA PARA O DIA 15 DE JANEIRO 2012

2º  DOMINGO DO TEMPO COMUM

Leituras: 1ª Leitura - 1Samuel 3,3b-10.19; Salmo -  39,2.4ab.7-8a.8b-9.10 (R.8a.9a);
 2ª Leitura - 1Coríntios 6,13c-15a.17-20; Evangelho - João 1,35-42

É bastante comum e faz parte das primeiras palavras de familiarização com alguém que se conhece ou que se está prestes de conhecer, procurar identificar sua procedência, seu destino, seu endereço, suas habilidades e assim por diante. Em outras palavras o encontro com alguém sempre supõe abertura e capacidade para o diálogo, com respeito mútuo pela condição daqueles que se encontram.
É neste sentido  que se pode compreender melhor a Liturgia da Palavra deste domingo.  Na leitura de Samuel, o rapaz não tem tranqüilidade enquanto não identifica a voz daquele que lhe chama. Não consegue dormir sossegado, preocupado em responder com prontidão à voz que ouve sem compreender de onde vem. Somente quando o sacerdote Eli lhe ajuda a identificar o chamado então o rapaz se acalma e percebe a presença da Deus na sua vida bem como reconhece o teor da sua missão.
Neste sentido também a Igreja canta com o salmista: “Eis que venho ó Pai para fazer vossa vontade”. Isto é, compreende que a vida de todos está nas mãos de Deus, ou que antes de tudo  e de qualquer outra coisa está Deus, como princípio primeiro e  guia de tudo e de todos.
Por isso mesmo São Paulo recomenda aos cristãos de Corinto, que tenham cuidado para com a obra criada por Deus. Acima de tudo respeito para consigo mesmo e obviamente com todos os demais. São Paulo concluiu: “De fato, fostes comprados, e por preço muito alto. Então, glorificai a Deus com o vosso corpo”. Isto significa dizer não se pode fazer pouco caso daquilo que custou muito, neste caso a pessoa humana e os méritos que Jesus garantiu a todos.
E finalmente ao identificar quem é Jesus e apresentá-lo aos discípulos com a respectiva missão, João Batista, não apenas reconhece quem Ele é como também afirma porque Ele Veio.  “Eis o Cordeiro de Deus”. Os dois que se aproximam de Jesus e lhe perguntam sobre sua morada, querem muito mais do que saber dados elementares, estão interessados e fazer parte da missão e da oportunidade que a pessoa de Jesus pode lhes oferecer.
Foram e ficaram com Jesus! E o resultado dispensa outros comentários e considerações, basta apenas resumir: Suas vidas nunca mais foram as mesmas.
Neste sentido a Igreja que se reúne para ver e ouvir Jesus e o faz mediante a celebração da Palavra e da Eucaristia, igualmente não poderá se furtar à missão de igualmente mostrar Jesus ao mundo e é convidada a fazê-lo pelo seu testemunho de acolhida e de coragem para estar com ele onde quer que seja necessário.
Que a Eucaristia celebrada e a Palavra ouvida com a oração da Igreja faça de todos e de cada um fiel discípulos capaz de fazê-lo ser reconhecido por palavras e por atos.
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sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

HOMILIA PARA O DIA 08 DE JANEIRO 2012

EPIFANIA DO SENHOR


Leituras:    1ª Leitura - Isaias 60, 1-6; Salmo - 71, 1-2.7-8.10-11.12-13 (R. Cf.11); 
2ª Leitura – Efésios 3,2-3a.5-6;  Evangelho - Mateus 2,1-12


Acordar cedo para ver o “sol nascer”, ou apreciar o “por do sol” ao cair da tarde, é uma fantasia apreciável ao olhar humano, mas é também espetacular observar a luz que brilha distante onde os olhos quase não alcançam. Na verdade o olhar humano é relativamente pequeno diante da grandiosidade desta luz, que se deixa ver exatamente por sua imensidão e nisto é possível extasiar-se com tão extraordinária beleza.
Parafraseando as narrativas da Palavra de Deus neste domingo, é também o que se pode dizer em relação ao mistério que Deus Pai fez revelar em Jesus Cristo. Na festa de Santo Reis, como é popularmente chamado este domingo, está narrado a extraordinária descoberta que o mundo fez, na pessoa dos magos, em relação a verdade sobre Jesus.
A profecia de Isaias tem por finalidade recuperar a esperança e consolar os abatidos que voltavam do cativeiro. Tão oprimidos estavam que nem tinham coragem de erguer os olhos, e então o profeta anuncia: “Levanta-te, acende as luzes, Jerusalém, porque chegou a tua luz, apareceu sobre ti a glória do Senhor”. É claro que uma tão grande noticia despertou em todos a expectativa de um novo tempo e de novas formas de vida.
Não sem razão o texto do Evangelho conta o episódio dos magos que viram uma grande luz, o texto os apresenta como pessoas que vieram de muito longe:  “Eis que alguns magos do Oriente chegaram a Jerusalém”. Guiados por tão clara luz, nada os impede de ir até o lugar onde seus olhos alcançam a fim de reconhecer o motivo de tanta luminosidade.  Reconhecendo a razão da sua busca outra não poderia ser a sua atitude senão a que se lê no evangelho: “Ao verem de novo a estrela, os magos sentiram uma alegria muito grande. Quando entraram na casa, viram o menino com Maria, sua mãe. Ajoelharam-se diante dele, e o adoraram”. Hoje a Igreja repete com a mesma convicção proclamando no salmo que se reza: “As nações de toda a terra, hão de adorar-vos ó Senhor!”.
Para a Igreja reunida em oração abre-se, uma vez mais, a perspectiva que São Paulo apresenta aos Romanos: “Este mistério, Deus não o fez conhecer aos homens das gerações passadas mas acaba de o revelar agora, pelo Espírito, aos seus santos apóstolos e profetas”.
À medida que o mundo vive uma diversidade enorme de avanços e dificuldades. Nações inteiras progridem, ao lado de outras que perdem a esperança e a coragem; sociedades, famílias, comunidades, instituições vivem cotidianamente a contradição de elevar os olhos ou de baixar a cabeça. É precisamente neste contexto que os Cristãos e de modo particular aqueles que se reúnem dominicalmente em assembleia celebrante, são convidados a repetir a atitude dos magos que encontraram o Messias: Retornar para a sua terra seguindo por outro caminho! Dito de outra maneira, voltar para o cotidiano das suas ações e trabalhos, com a convicção de poder também hoje, mostrar Jesus ao mundo, e “acolher com fé e viver com amor o mistério que agora é celebrado”.