quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023

HOMILIA PARA O DIA 22 DE FEVEREIRO DE 2023 - QUARTA FEIRA DE CINZAS - ANO A

 

RASGAR OS CORAÇÕES E NÃO SOMENTE AS VESTES

Nos últimos tempos multiplicaram-se as “oficinas do corpo” cuja preocupação primeira é transformar as pessoas em padrões de beleza. Essas práticas incluem atividades físicas, dietas, cirurgias e uma série de outros padrões exibidos pelas mídias sociais. Apesar disso existe uma preocupação de saúde pública que é a obesidade e sedentarismo. Todas essas práticas não deixam de ter o seu valor e suas justas preocupações, mas elas perdem sua verdadeira importância à medida que são vistas apenas como satisfação pessoal e valorização dos próprios interesses e necessidades.

Muito anterior que tudo isso está a prescrição judaica do jejum e da abstinência, e que está longe de se assemelhar com os objetivos contemporâneos. Já o profeta Joel, cuja leitura ouvimos nesse domingo, amplia o sentido e a importância das práticas legais sugerindo ir muito além: “rasgai o coração, e não as vestes; e voltai para o Senhor, vosso Deus. Tocai trombeta em Sião, prescrevei o jejum sagrado, convocai a assembleia; congregai o povo essa prática toca o coração de Deus que se compadece do seu povo”.

A mesma coisa diz São Paulo aos coríntios: “Irmãos, somos embaixadores de Cristo, e é Deus mesmo que exorta através de nós. Em nome de Cristo, nós vos suplicamos: deixai-vos reconciliar com Deus. Como colaboradores de Cristo, nós vos exortamos a não receberdes em vão a graça de Deus”.

E Jesus recorda aos seus conterrâneos o equívoco do exibicionismo, que de alguma maneira é o que norteia as práticas de “culto ao corpo” na atualidade: “Ficai atentos para não praticar a vossa justiça na frente dos homens, só para serdes vistos por eles”.

O desafio de Jesus consiste em evitar a autopropaganda de quem contra vantagens em relação às próprias obras. O que conta mesmo é a conversão a Deus e aos irmãos. Na quarta-feira de cinzas a Igreja no Brasil faz a abertura da Campanha da Fraternidade. A cada ano nos propõe uma situação bem particular e concreta para a qual pede a nossa conversão que se dá por meio das práticas do Jejum, da abstinência, da oração e de gestos concretos.

Nesse ano a preocupação com a fome das multidões faz ressoar em nossos ouvidos o desafio que Jesus propôs aos discípulos: “Dai-lhes vós mesmos de comer”. Isso significa nenhuma das nossas práticas de culto ao corpo, de abstinência e de jejum religioso tem nenhum sentido se realizados apenas quando olhamos para os nossos próprios interesses e nos fazendo indiferentes com o sofrimento alheio.

Nesta quaresma somos convidados a rezar com o salmista:

Misericórdia, ó Senhor, pois pecamos.

Criai em mim um coração que seja puro, *
dai-me de novo um espírito decidido.

Dai-me de novo a alegria de ser salvo *
e confirmai-me com espírito generoso!

 

Abri meus lábios, ó Senhor, para cantar, *
e minha boca anunciará vosso louvor! 

 

 

 

 

 

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