RASGAR
OS CORAÇÕES E NÃO SOMENTE AS VESTES
Nos
últimos tempos multiplicaram-se as “oficinas do corpo” cuja preocupação
primeira é transformar as pessoas em padrões de beleza. Essas práticas incluem
atividades físicas, dietas, cirurgias e uma série de outros padrões exibidos
pelas mídias sociais. Apesar disso existe uma preocupação de saúde pública que
é a obesidade e sedentarismo. Todas essas práticas não deixam de ter o seu
valor e suas justas preocupações, mas elas perdem sua verdadeira importância à
medida que são vistas apenas como satisfação pessoal e valorização dos próprios
interesses e necessidades.
Muito
anterior que tudo isso está a prescrição judaica do jejum e da abstinência, e
que está longe de se assemelhar com os objetivos contemporâneos. Já o profeta
Joel, cuja leitura ouvimos nesse domingo, amplia o sentido e a importância das
práticas legais sugerindo ir muito além: “rasgai
o coração, e não as vestes; e voltai para o Senhor, vosso Deus. Tocai
trombeta em Sião, prescrevei o jejum sagrado, convocai a assembleia; congregai
o povo essa prática toca o coração de Deus que se compadece do seu povo”.
A mesma coisa diz São Paulo aos coríntios: “Irmãos, somos embaixadores de Cristo, e é
Deus mesmo que exorta através de nós. Em nome de Cristo, nós vos suplicamos: deixai-vos
reconciliar com Deus. Como colaboradores de Cristo, nós vos exortamos a
não receberdes em vão a graça de Deus”.
E Jesus recorda aos seus conterrâneos o equívoco do
exibicionismo, que de alguma maneira é o que norteia as práticas de “culto ao
corpo” na atualidade: “Ficai
atentos para não praticar a vossa justiça na frente dos homens, só
para serdes vistos por eles”.
O
desafio de Jesus consiste em evitar a autopropaganda de quem contra vantagens
em relação às próprias obras. O que conta mesmo é a conversão a Deus e aos
irmãos. Na quarta-feira de cinzas a Igreja no Brasil faz a abertura da Campanha
da Fraternidade. A cada ano nos propõe uma situação bem particular e concreta
para a qual pede a nossa conversão que se dá por meio das práticas do Jejum, da
abstinência, da oração e de gestos concretos.
Nesse
ano a preocupação com a fome das multidões faz ressoar em nossos ouvidos o
desafio que Jesus propôs aos discípulos: “Dai-lhes
vós mesmos de comer”. Isso significa nenhuma das nossas práticas de culto
ao corpo, de abstinência e de jejum religioso tem nenhum sentido se realizados
apenas quando olhamos para os nossos próprios interesses e nos fazendo
indiferentes com o sofrimento alheio.
Nesta quaresma somos convidados a
rezar com o salmista:
Misericórdia, ó Senhor, pois pecamos.
Criai em mim um coração que seja puro,
*
dai-me de novo um espírito decidido.
Dai-me de novo a alegria de ser salvo
*
e confirmai-me com espírito generoso!
Abri meus lábios, ó Senhor, para
cantar, *
e minha boca anunciará vosso louvor!
Nenhum comentário:
Postar um comentário