quarta-feira, 24 de julho de 2024

HOMILIA PARA O DIA 28 DE JULHO DE 2024 - 17º DOMINGO COMUM - ANO B

 

LIÇÕES DE GENEROSIDADE

Dentre os provérbios populares bastante conhecidos um deles diz mais ou menos assim: “Pouco com Deus é bastante”. É essa a lição que Palavra de Deus deste domingo nos transmite com clareza. Como já dissemos outras vezes, a linguagem bíblica é simbólica e muitos relatos ensinam mais pela simbologia do que pela narrativa.

Assim na liturgia deste domingo nos deparamos com uma multidão faminta. Neste caso referindo-se a todos os povos e pessoas que ao longo do tempo colocaram suas vidas e necessidades nas mãos de Deus.

No evangelho o menino que tem os cinco pães e os dois peixes representa a simplicidade e pequenez daqueles que se dispõe a repartir da sua pobreza. Cinco pães e dois peixes, somam sete, que significa infinitos, ou seja, garantia que não faltará para ninguém.

Felipe é o tipo da pessoa a quem Jesus provoca para uma solução e que pensa resolver o problema somente sob o ponto de vista econômico e enxerga a situação somente a partir da soma dos números e valores que certamente não será também a resposta para a necessidade que estava sendo apresentada. Por sua vez André é o modelo de pessoa preocupada com os pequenos, com aqueles que teoricamente não são vistos pela sociedade baseada no dinheiro. É ele quem reconhece o menino e sua pequena contribuição.

Diz o evangelho que Jesus sabia qual era a solução para o problema da multidão faminta, a primeira ação que os discípulos são desafiados a fazer é acomodar as pessoas. Isto é, aquietar a multidão que buscava em Jesus uma resposta para todos os seus problemas.

Jesus não se furta em apresentar uma alternativa, primeiro valorizando o pouco que um “menino anônimo” teria para repartir, na sequência agradecendo a Deus pela pequena porção que está sendo colocada à disposição de todos.

No final cinco mil pessoas ficaram saciadas e ainda sobrou doze cestos, isto é, sobrou o suficiente para todos. Esse banquete é a antecipação da nova páscoa. Enquanto no Antigo Testamento a páscoa era apenas a recordação da libertação da escravidão do Egito, a nova Páscoa inaugurada por Jesus será a libertação de todas as prisões.

A lição que se pode tirar da Palavra de Deus se resume em três pontos singelos e muito significativos: Tal como um menino, todos temos alguma coisa para colocar em comum; A solução para o problema da fome e todos os outros problemas da humanidade não virá somente pelo recurso da economia e do dinheiro. Mais do que imitar a preocupação de Felipe, podemos ter a sensibilidade de André e perceber como a solidariedade, a partilha a generosidade e a comunhão são mais eficazes que a contabilidade e o dinheiro.

Por isso rezamos: “Concedei, Senhor, que usemos de tal modo os bens que passam a fim de poder abraçar aqueles que não passam”.

 

 

 

 

quinta-feira, 18 de julho de 2024

HOMILIA PARA O DIA 21 DE JULHO DE 2024 - 16º DOMINGO COMUM - ANO B

 

DEUS QUE OLHA, CUIDA E ACOLHE

A gente costuma dizer que os dedos de uma mão são como filhos e filhas, todos diferentes, mas a quem os pais cuidam com as mesmas preocupações. Como um pai e uma mãe que cuidam dos filhos independente da sua condição assim age Deus em relação às suas criaturas. É isso que ouvimos mais uma vez na liturgia desse domingo. Ao longo da existência todos experimentamos situações de desespero e de dor, mas é exatamente nessa hora que todos ocupam um lugar especial no coração de Deus. 

Na primeira leitura o profeta qualifica as pessoas como um rebanho que é cuidado por Deus. Ele mesmo se encarrega de tirar as ovelhas que haviam sido confiadas a pastores que não as cuidaram, ele mesmo vai tomar conta, na sequencia vai escolher novos pastores e finalmente promete um novo tempo e uma nova condição de vida. O que aconteceu com os conterrâneos do profeta é muito semelhante com o nosso cotidiano que bastante vezes nos damos conta de andar sem rumo, desorientados, traídos, como que abandonados diante da violência, dos fundamentalismos, da miséria, dos conflitos, dos problemas no trabalho e na família, das catástrofes ambientais e tragédias de toda sorte. A palavra do profeta ecoa em nossos ouvidos e no coração, Deus continua cuidando das nossas necessidades: “E eu reunirei o resto de minhas ovelhas de todos os países para onde forem expulsas, e as farei voltar a seus campos, e elas se reproduzirão e multiplicarão. Eis que virão dias, diz o Senhor, em que farei nascer um descendente de Davi; este é o nome com que o chamarão: 'Senhor, nossa Justiça'".

A mesma tonalidade tem as palavras de Paulo na carta aos Efésios. Ele declara que sua missão é anunciar um Deus que se preocupa e cuida de todos, independente da condição de cada pessoa. Deus quer trazer para perto de si todos os que em Jesus Cristo foram feitos irmãos e herdeiros. A vida de Jesus derrubou todas as barreiras que dividiam os povos. Deus age de modo diferente de como normalmente estamos habituados, enquanto nós inventamos alfândegas, fronteiras, barreiras, Deus abre portas, acolhe, protege, reúne e ensina a caminhar juntos. 

No Evangelho a atitude de Jesus não é diferente: “Jesus viu uma numerosa multidão e teve compaixão, porque eram como ovelhas sem pastor”. A expressão compaixão significa sofrimento com o objetivo de livrar os sofredores. Guardadas as proporções, compaixão é a atitude de uma mãe que é capaz de qualquer sacrifício para diminuir as dores e o sofrimento de um filho. O que Jesus fez é também a tarefa que Ele atribui aos discípulos, e depois os reúne para avaliar a eficácia da missão e o alcance das atividades desenvolvidas: “os apóstolos reuniram-se com Jesus e contaram tudo o que haviam feito e ensinado”. O encontro avaliativo é uma espécie de relatório detalhado do seu trabalho. Jesus os previne contra o perigo do ativismo, mas ao mesmo tempo permite que vejam quanto é volumoso o trabalho e as exigências: “Havia, de fato, tanta gente chegando e saindo que não tinham tempo nem para comer”.

As ovelhas perdidas do nosso tempo é a multidão de pessoas sem rosto e sem voz deixadas à margem da sociedade e muitas vezes das nossas igrejas que sofrem a discriminação e a exclusão, que carregam culpas por feridas abertas muitas vezes por falta de acolhimento e de perdão. Seguidores de Jesus peçamos a graça e a capacidade de aprender o que significa compaixão e cuidado, ver como Jesus e se compadecer: “para que repletos de fé, esperança e caridade guardemos fielmente os vossos mandamentos”.

quinta-feira, 11 de julho de 2024

HOMILIA PARA O DIA 14 DE JULHO DE 2024 - 15º DOMINGO COMUM - ANO B

 

Anunciar com Liberdade e Rapidez

 

Na vida de hoje, todos nós queremos liberdade e agilidade. Parece que a tecnologia nunca é rápida o suficiente para suprir nossas necessidades de autonomia e velocidade. As leituras deste domingo mostram como Deus age com prontidão e cuidado quando realiza Suas obras em favor do Seu povo.

Nos tempos do profeta Amós, a religião era cheia de festas, sacrifícios e cerimônias esplendorosas. Mas, infelizmente, essas celebrações não refletiam a vida real das pessoas. Muitos rezavam, mas adoravam um deus que não libertava nem cuidava das pessoas. O profeta Amós foi enviado para acabar com essa forma vazia de culto, afirmando que sua missão vinha de Deus: “Não sou profeta nem filho de profeta; sou pastor de gado e cultivo sicômoros. O Senhor chamou-me, quando eu cuidava do rebanho, e me disse: ‘Vai profetizar para Israel, meu povo’”. Amós foi a voz de Deus para denunciar todas as injustiças cometidas pelos falsos profetas e pelos amigos do rei.

São Paulo, na carta aos Efésios, também nos ensina que nossa existência e todas as nossas atividades devem ser para Deus, que nos criou e, em Jesus Cristo, nos fez herdeiros da Sua graça. Devemos ser verdadeiros, fiéis e radicais em nossa fé: “Bendito seja Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. Ele nos abençoou com toda a bênção espiritual, em Cristo. Em Cristo, ele nos escolheu antes da criação do mundo para sermos santos e irrepreensíveis em seu amor. Ele nos predestinou para sermos seus filhos adotivos por meio de Jesus Cristo, conforme a sua vontade, para o louvor da sua glória e graça”.

Em Jesus, temos clareza sobre os novos caminhos que Deus quer que sigamos, guiados pelo Espírito Santo. No projeto de Deus, todos têm um papel importante.

Os discípulos enviados por Jesus tinham a missão de caminhar juntos e não perder tempo com coisas de pouca importância. Eles eram chamados a viver de maneira simples, levando apenas o necessário. Doze discípulos foram enviados em duplas, representando todos os que seriam enviados e todas as pessoas que precisavam ouvir a mensagem. Ninguém é excluído da missão: uns têm a tarefa de anunciar e outros, de receber a mensagem. A missão de Jesus é comunitária e visa unir aqueles que estão dispersos.

Assim como os discípulos, também somos chamados a continuar a missão de Jesus. Não basta ter ritos bonitos e cerimônias vistosas se elas não estiverem conectadas com a vida real das pessoas. Precisamos ser livres e agir com humildade, sempre abertos às novidades que a simplicidade pode nos ensinar.

 

quarta-feira, 3 de julho de 2024

HOMILIA PARA O DIA 07 DE JULHO DE 2024 - 14º DOMINGO COMUM - ANO B

 

SANTO DE CASA NÃO FAZ MILAGRE

A Igreja católica sempre valorizou o testemunho de vida das pessoas como sinal de santidade. Sem descuidar das graças alcançadas pela intercessão daqueles que são elevados à glória dos altares, o estilo de vida e os exemplos de vida são cada vez mais valorizados quando se trata de atribuir a alguém o título de Santo. Dentre os próximos santos a serem declarados pelo Papa Francisco, um deles é jovem Carlo Acutis, que soube muito bem utilizar o campo minado da internet para anunciar a boa notícia e tornar conhecida a mensagem de Jesus Cristo. Ele, como uma série de outras pessoas ao longo do tempo são a prova que “santo de casa também faz milagre”.

As três leituras deste 14º domingo do tempo comum mostram a estratégia de Deus para se aproximar de nós e para continuar sua obra de cuidado. Para essa tarefa Deus se serve das pessoas e do testemunho cotidiano, independente das fragilidades de cada uma.

A primeira figura que aparece nos relatos de hoje é o profeta Ezequiel, chamado de “filho do homem” que significa dizer uma pessoa que vive e está no meio de todos com todas as suas virtudes e debilidades, mas que apesar de tudo realiza com maestria a tarefa de anunciar Deus e o seu projeto: “Filho do homem, eu te envio aos israelitas, A estes filhos de cabeça dura e coração de pedra, vou-te enviar, e tu lhes dirás: 'Assim diz o Senhor Deus. Quer te escutem, quer não - pois são um bando de rebeldes - ficarão sabendo que houve entre eles um profeta".

Ser profeta é uma tarefa confiada também a cada batizado que configurados a Cristo é chamado a ser no meio do mundo um sinal de Deus cuja voz deve ecoar mais pelo exemplo do que pelas palavras.

A mesma situação se repete com Paulo, é ele mesmo quem declara: “Irmãos: Para que a extraordinária grandeza das revelações não me ensoberbecesse, foi espetado na minha carne um espinho”. E continua o apóstolo: Basta-te a minha graça. Pois é na fraqueza que a força se manifesta. Por isso, de bom grado, eu me gloriarei das minhas fraquezas, para que a força de Cristo habite em mim”. Em resumo nenhuma fragilidade humana serve para como justificativa para não exercer a tarefa que Deus nos confia.

No Evangelho, desta vez, já não são os fariseus e doutores de lei que duvidam de Jesus, mas seus próprios conterrâneos. Jesus está no seu povoado de origem, todos ali o conhecem, bem como sabem da sua história de vida. Par reforçar a razão de sua incredulidade as pessoas não o chamam nem pelo nome nem pela filiação paterna, antes e referem a Ele com a expressão “não é Ele o filho de Maria”. Apesar desta falta de respeito e consideração Jesus continua a mostrar-lhes como Deus oferece o seu cuidado: “Jesus lhes dizia: "Um profeta só não é estimado em sua pátria, entre seus parentes e familiares". E ali não pôde fazer milagre algum. Apenas curou alguns doentes, impondo-lhes as mãos. E admirou-se com a falta de fé deles. Jesus percorria os povoados das redondezas, ensinando”.

Em resumo, acreditar em Deus supõe ter fé e isso significa superar preconceitos, mudar a mentalidade, ver além das aparências enxergar as pessoas como sinais e instrumentos de Deus. Em Jesus Cristo, Deus Pai continua aproximando-se de todos revelando ao mundo o rosto misericordioso do criador. Não tenhamos medo, sejamos também nós anunciadores de Deus e do seu amor generoso amor para com todos. Que se torne realidade em nós o que rezamos na prece inicial da missa: “Pela humilhação do vosso Filho, enchei todas as criaturas de santa alegria”.