ALEGRAI-VOS E EXULTAI
Alguns provérbios populares são frequentemente
repetidos e muitas vezes nem nos damos canta do alcance que eles podem ter à
medida que colocados em prática. Por exemplo: “Violência gera Violência”, ou o
contrário “Gentileza gera gentileza”. As instituições públicas e particulares,
associações e grupos organizados repetidamente organizam campanhas pela paz em
todos os níveis e ambientes. Nas Escolas públicas de Santa Catarina é
obrigatório a organização do Núcleo de Prevenção, atenção e atendimento às
violências na Escola.
Estas e outras iniciativas pela
harmonização das relações entre as pessoas, nada tem a ver com a prática de alguma
religião e na maior parte delas se quer tem alguma referência ou fundamento na
Palavra Deus. Mas a liturgia da Palavra desse domingo, além de insistir nas
relações de fraternidade entre as pessoas aponta essa prática como condição
para a santidade, ou seja, a construção de um mundo novo e muito melhor começa
pelas práticas cotidianas de bem querer e de respeito.
As três leituras deixam claro que Deus é
misericordioso e não nos trata segundo nossos merecimentos, nem tampouco
segundo nossas falhas, mas na proporção da sua infinita misericórdia. Para quem
se declara cristão está aí uma resposta necessária que significa ter atitudes
concretas em favor da paz e da comunhão com todos.
Usando o convite para a santidade a
Palavra de Deus sugere que a perfeição é um caminho nunca acabado, mas que pede
sempre e de novo compromisso sério e radicalidade generosa que se concretize
numa sociedade onde todos vivam como irmãos.
O Papa Francisco quando fala da
santidade afirma que existe um único caminho para a santidade e este implica na
vivência das bem-aventuranças. No documento sobre a santidade no mundo
contemporâneo o Papa declara textualmente que a santidade está ao alcance de
todos os que vivem as suas obrigações com responsabilidade. O caminho da
santidade diz Francisco exige ousadia e ardor o que em outras palavras
significa dizer que neste caminho não tem espaço para a tristeza e o desânimo.
A primeira leitura começa com um desafio
que sai da boca do próprio Deus: “Sejam
santos porque eu, seu Deus sou santo”. E ser santo não significa andar de
cabeça inclinada o tempo todo olhando para o céu esquecendo-se do amor e do
compromisso com as pessoas com quem convivemos. A santidade passa pela
construção de relações fraternas nas quais não tenha lugar a agressividade, a
vingança, o rancor, pelo contrário, implica determinação na construção da
felicidade ao alcance de todos. Em resumo santidade não é um projeto para se
construir sozinho e na indiferença com os demais.
Na segunda leitura São Paulo sugere reconhecer que nada nesse mundo é
maior do que Deus e o seu amor pela humanidade e se tem alguma atitude que deve
nortear a nossa existência significa permitir que Deus faça morada em nós: “Acaso
não sabeis que sois santuário de Deus e que o Espírito de Deus mora em
vós? Tudo é vosso, mas vós sois de
Cristo, e Cristo é de Deus”. São Paulo não está negando os valores e a
sabedoria humana, mas deixa claro que antes de tudo o que é humano está Deus e
a sua sabedoria.
As leis têm por objetivo evitar que a violência se torne a medida de
retribuição das ofensas e injúrias recebidas. Jesus, porém, vai muito além e
não se dá por realizado com a estrita prática da lei. Ele propõe acabar com a
espiral de violência. A proposta de Jesus implica numa revolução da mentalidade
em vigor na sua época: “Vós ouvistes o que foi dito: 'Amarás o teu próximo
e odiarás o teu inimigo!' Eu, porém, vos digo: Amai os vossos inimigos e rezai
por aqueles que vos perseguem! Assim, vos tornareis filhos do vosso Pai que
está nos céus, porque ele faz nascer o sol sobre maus e bons, e faz cair a
chuva sobre justos e injustos. Porque, se amais somente aqueles que vos amam, que
recompensa tereis”?
Para os
seguidores de outrora e para cada cristão da atualidade o desafio é o mesmo:
Superar o restrito cumprimento da lei e multiplicar as oportunidades de
comunhão que segundo o Papa Francisco implica viver: “O amor fraterno que multiplica a nossa capacidade de alegria porque nos
torna capazes de rejubilar com o bem dos outros”.
É isso que rezamos no salmo:
O Senhor é indulgente, é favorável,*
é paciente, é bondoso e compassivo.
Não nos trata como exigem nossas faltas,*
nem nos pune em proporção às nossas culpas.
quanto dista o nascente do poente,*
tanto afasta para longe nossos crimes.
Como um pai se compadece de seus filhos,*
o Senhor tem compaixão dos que o temem.