quarta-feira, 28 de julho de 2021

HOMILIA PARA O DIA 01 DE AGOSTO DE 2021 - 18º COMUM - ANO B

 

MUITO ALÉM DE ALIMENTAR O CORPO

Faz parte das expectativas humanas e sociais contemporâneas o desejo de ver grandes espetáculos e sinais extraordinários como alternativa para satisfazer a curiosidade e muitas vezes para dar credibilidade a determinados fatos. Mas é também verdade que nem sempre os sinais espetaculares provam coisas grandiosas de acordo com o que os olhos veem.

E esse foi exatamente o questionamento feito por Jesus quando as pessoas correram de novo ao seu encontro e lhe pediram sinais fazendo referência ao maná que alimentou a nação de Israel quando atravessava o deserto.

A multidão que o seguia não havia entendido a importância da partilha, da solidariedade, do cuidado, do compromisso com a saciedade. Todos esses sinais que acompanharam a multiplicação dos pães levaram Jesus a fazer um esclarecimento sobre a necessidade do alimento. Sem diminuir a importância do que é perecível Jesus faz ver que é preciso ir muito além despertando-nos para aquilo que verdadeiramente interessa e que humaniza comprometendo-nos com os demais: “Em verdade, em verdade, eu vos digo: estais me procurando não porque vistes sinais, mas porque comestes pão e ficastes satisfeitos. Esforçai-vos não pelo alimento que se perde, mas pelo alimento que permanece até a vida eterna”. Apresentando-se como verdadeira comida pede que aceitem os valores nutritivos desse novo e duradouro alimento que implica em saciar as distintas e muitas fomes que a humanidade, em todos os tempos, necessita e que podem ser descritas com as palavras: esperança, solidariedade, comunhão, fraternidade, acolhimento, justiça, paz, respeito, compaixão, cuidado e uma lista infinita de valores que dignificam a pessoa e as relações.

O valor nutritivo desse novo alimento leva as pessoas a viverem os conselhos dados por São Paulo na segunda leitura: “Eis, pois o que eu digo e atesto no Senhor: não continueis a viver como vivem os pagãos,
cuja inteligência os leva para o nada.
Renunciando à vossa existência passada, despojai-vos do homem velho, que se corrompe sob o efeito das paixões enganadoras, e renovai o vosso espírito e a vossa mentalidade. Revesti o homem novo, criado à imagem de Deus, em verdadeira justiça e santidade”
. Ir ao encontro de Jesus implica uma transformação radical na forma de encarar a vida e as relações consigo mesmo, com Deus e com as outras criaturas.

Naturalmente nossa frágil existência nos empurra com facilidade para o velho estilo de vida onde prevalece o orgulho, o pecado, o egoísmo. A graça do batismo que recebemos permite que renovemos cotidianamente nossas escolhas como um trabalho contínuo que exige renovação constante.  

Em todos os tempos, aqueles que encontram Cristo, que escutam seu convite e aceitam sua proposta vão reconstruindo sua vida sob os valores que dele aprenderam e vão deixando diariamente para trás a velha pessoa com os seus costumes e mentalidade. O batismo não pode se resumir num evento folclórico ou simplesmente ritual, mas deve ser compreendido como uma porta que se abre e um compromisso que se firma para percorrer os caminhos de Deus com coerência pela vida a fora até chegarmos a estatura da maturidade de Cristo.

Nossa breve existência terrena é sempre um caminho marcado pela procura de realização, de felicidade verdadeira, temos fome de amor, de transcendência e procuramos mil maneiras para saciar essas fomes e não poucas vezes tropeçamos em nossas próprias buscas e na finitude de nossas respostas. A única forma de saciar nossa fome e dar pleno significado à nossa vida é colocar em prática o que rezamos no salmo:

Tudo aquilo que ouvimos e aprendemos,
e transmitiram para nós os nossos pais,
não haveremos de ocultar a nossos filhos,
mas à nova geração nós contaremos:
As grandezas do Senhor e seu poder.


sábado, 24 de julho de 2021

HOMILIA PARA O DIA 25 DE JULHO DE 2021 - 17º COMUM - ANO B

 

REPARTIR A SACIAR AS NECESSIDADES DE TODOS

A primeira leitura desse domingo tem como pano de fundo a situação em que vivia o povo no tempo do profeta Eliseu cerca de 850 anos antes do nascimento de Jesus. Em nome de relações comerciais, econômicas, políticas e militares os reis de Israel colocaram a sua população exposta a vulnerabilidade multiplicando as injustiças contra os mais fracos e pobres, levando também a multiplicação das infidelidades contra Deus e a aliança. Essa situação se repetiu com muita frequência entre o povo de Israel, sendo uma constante no tempo de Jesus. Convenhamos que também na atualidade em nome da economia, das relações comerciais, da manutenção de algum regime político grandes multidões se tornam vítimas da exploração em que alguns poucos e privilegiados levam vantagem em detrimento do sofrimento de outros e da exclusão de muitos.

Em ambos os casos e em todos os tempos aqueles que são fiéis a Deus e reconhecem sua ação no mundo são chamados a “levantar os olhos para enxergar a multidão que pede para ser saciada das muitas fomes”.

O profeta Eliseu recebeu os pães da oferenda e ordenou sua distribuição: “E Eliseu disse: 'Dá ao povo para que coma'. Mas o seu servo respondeu-lhe: 'Como vou distribuir tão pouco para cem pessoas?' Eliseu disse outra vez: 'Dá ao povo para que coma; pois assim diz o Senhor: 'Comerão e ainda sobrará. O homem distribuiu e ainda sobrou, conforme a palavra do Senhor”. A distribuição ordenada pelo profeta é uma maneira de mostrar a vontade de Deus que sugere erguer os olhos e ir ao encontro das pessoas com gestos de partilha, de comunhão e de generosidade.

A mesma atitude é repetida por Jesus: Estava próxima a Páscoa, a festa dos judeus. Levantando os olhos, e vendo que uma grande multidão estava vindo ao seu encontro. Jesus disse a Filipe: 'Onde vamos comprar pão para que eles possam comer? Disse isso para pô-lo à prova, pois ele mesmo sabia muito bem o que ia fazer”.

A lógica de Jesus é a mesma do profeta: enxergar o sofrimento, ir ao encontro, modificar os conceitos de propriedade e responsabilidade. Fazendo todos se sentar, Jesus sugere a ação de graças por aquilo que possuem e convida todos a partilha. Quando se substitui a ideia de acumular e guardar tudo pensando apenas em si mesmo, e se reconhece as necessidades  de todos o resultado é surpreendente: “Quando todos ficaram satisfeitos, Recolheram os pedaços e encheram doze cestos com as sobras dos cinco pães, deixadas pelos que haviam comido. Vendo o sinal que Jesus tinha realizado, aqueles homens exclamavam: 'Este é verdadeiramente o Profeta, aquele que deve vir ao mundo”.

A provocação que Jesus faz aos discípulos é repetida hoje a nós: todos somos convidados a libertar as pessoas das misérias e necessidades contemporâneas, a nos despirmos do egoísmo e assumir a lógica do serviço que facilite às pessoas passar da escravidão para a liberdade e faça nascer novas relações humanas e sociais.

Jesus nos propõe enxergar oportunidades em meio às crises, nos cinco pães e dois peixes na mão de um menino somos chamados a reconhecer a totalidade das oportunidades quando as pequenas forças de cada um são colocadas a disposição de todos.

E isso só vai acontecer quando formos capazes de seguir o conselho de São Paulo: “Com toda a humildade e mansidão, suportai-vos uns aos outros com paciência, no amor. Aplicai-vos a guardar a unidade do espírito pelo vínculo da paz. Há um só Corpo e um só Espírito, como também é uma só a esperança à qual fostes chamados. Há um só Senhor, uma só fé, um só batismo, um só Deus e Pai de todos, que reina sobre todos,
age por meio de todos e permanece em todos”.

Peçamos a graça de aprender e pautar a nossa vida conforme rezamos no salmo: “Todos os olhos, ó Senhor, em vós esperam e vós lhes dais no tempo certo o alimento; vós abris a vossa mão prodigamente e saciais todo ser vivo com fartura”.

quarta-feira, 14 de julho de 2021

HOMILIA PARA O DIA 18 DE JULHO DE 2021 - 16º COMUM - ANO B

 

ANDAR NA PRESENÇA DO SENHOR

Não bastasse os riscos e perigos que as circunstâncias nos oferecem, são também incontáveis as situações nas quais nos vemos totalmente desamparados e traídos em nossa confiança. São amigos e familiares que causam desilusão e desnorteiam nossas relações; são colegas de trabalho e superiores nas nossas relações profissionais que agem praticando a política de levar vantagem; com muita frequência líderes religiosos a quem damos crédito como se fossem mensageiros do Deus vivo e de repente nos vemos enganados por eles; isso para não falar nas maracutaias de muitos políticos de todos os tempos e em quase todas as instâncias de poder. Todos de alguma forma deixam a desejar quando se trata da “pedagogia do cuidado”.

Pois ora, qualquer semelhança com o povo no tempo do profeta Jeremias não é mera coincidência. Os pastores de outrora perderam, dispersaram, maltrataram as ovelhas que não lhes pertencia. Em vez de agir como pastores não passaram de aventureiros que levaram em conta mais os interesses próprios dando margens a jogadas políticas. O profeta começa dando uma sentença: Ai dos pastores que deixam perder-se e dispersar-se o rebanho de minha  pastagem, diz o Senhor! Vós dispersastes o meu rebanho, e o afugentastes e não cuidastes dele”.

No evangelho que é a continuação do último domingo Jesus reúne os discípulos depois de uma primeira atividade missionária para a qual eles tinham sido enviados a anunciar para expulsar demônios e curar doentes. Para a reunião de balanço o Evangelho Jesus lhes disse: 'Vinde sozinhos para um lugar deserto, e descansai um pouco”. Não parece se tratar de um lugar geográfico, mas de estar na proximidade do mestre, ou seja, a missão precisa ser desenvolvida tendo sempre como referência a pessoa e a doutrina de Jesus. Próximos de Jesus eles recebem, mais uma vez o testemunho do  seu coração compassivo em relação ao seu rebanho: “Jesus viu uma numerosa multidão e teve compaixão, porque eram como ovelhas sem pastor. Começou, pois, a ensinar-lhes muitas coisas”.

A missão dos discípulos e, portanto, também a nossa, não pode ser diferente daquela de Jesus. Reunir-se frequentemente em torno d’Ele, dialogar com Ele escutar os seus ensinamentos e confrontar a sua doutrina com a nossa ação de cotidiana. Longe de Jesus facilmente estaremos sujeitos a apresentar soluções parciais e que geram dependência e escravidão. Muitas vezes até somos funcionários eficientes, mas que continuamos a oferecer soluções pontuais. Longe de Jesus não são poucos os que se cansam e abandonam a atividade e o dinamismo da missão. Não nos esqueçamos, se perdermos a referência ao mestre perdemos também o sentido da missão.

E isto é o que garante São Paulo para os cristãos de Éfeso e por extensão também a nós: “Agora, em Jesus Cristo, vós que outrora estáveis longe, vos tornastes próximos, pelo sangue de Cristo. Ele, de fato, é a nossa paz: do que era dividido, ele fez uma unidade. Ele veio anunciar a paz a vós que estáveis longe, e a paz aos que estavam próximos. É graças a ele que uns e outros, em um só Espírito, temos acesso junto ao Pai”.

Nós sabemos que somos uma grande família, um corpo com uma grande diversidade de membros. A globalização aproxima as pessoas e permite partilhar muitas coisas nesta grande casa comum, entretanto ainda persistem muros construídos e em construção que impedem a fraternidade e a comunhão. Nós como discípulos de Jesus temos o dever de dar testemunho da paz e da unidade e lutar contra todas as barreiras que nos dividem. Que seja nossa regra de vida a oração da missa deste domingo: “para que repletos de fé esperança e caridade guardemos fielmente os vossos mandamentos”.

E conforme cantamos na Campanha da Fraternidade desse ano:


Venham todos, vocês, venham todos
Reunidos num só coração, (cf. At 4, 32)
De mãos dadas formando a aliança
Confirmados na mesma missão. (bis)

Em nome de Cristo, que é a nossa paz!
Em nome de Cristo, que a vida nos traz
Do que estava dividido
Unidade ele faz!
Do que estava dividido
Unidade ele faz! (cf. Ef 2, 14a)

Venham todos, vocês, testemunhas
Construamos a plena unidade
No diálogo comprometido
Com a paz e a fraternidade. (bis)


.

 

quinta-feira, 8 de julho de 2021

HOMILIA PARA O DIA 11 DE JULHO DE 2021 - 15º COMUM - ANO B

 

A VERDADE E O AMOR SE ENCONTRARÃO

A oração que nos introduz na liturgia da Palavra desse domingo é uma espécie de síntese dos três textos que foram proclamados: “Ó Deus, que mostrais a luz da verdade aos que erram para retomarem o bom caminho, dai a todos os que professam a fé rejeitar o que não convém ao cristão, e abraçar tudo o que é digno desse nome”.

Ora o que significa ver a luz da verdade senão compreender a Palavra de Deus com suas promessas e indicações para a vida. O profeta Amós, por volta de 700 anos antes de Cristo já provou a incompreensão daqueles que preferiam andar e manter as pessoas nas trevas do erro, Ele, no entanto, declarou com segurança para que veio e por que veio: “não sou profeta nem sou filho de profeta; sou pastor de gado e cultivo sicômoros. O Senhor chamou-me, quando eu tangia o rebanho, e o Senhor me disse: 'Vai profetizar para Israel, meu povo”. Convicto do chamado que havia recebido e da missão que lhe fora pedida agiu com a liberdade e a firmeza de profeta não se deixando amordaçar nem pelos interesses e vantagens pessoais que poderia usufruir se tivesse negado a responsabilidade.

São Paulo, descreve aos efésios a ação de Deus em favor das pessoas: “Bendito seja Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. Ele nos abençoou com toda a bênção do seu Espírito em virtude de nossa união com Cristo, no céu. Ele nos predestinou para sermos seus filhos adotivos… Pelo seu sangue, nós somos libertados. Nele também vós ouvistes a palavra da verdade, o evangelho que vos salva”. Aceitar e colocar Cristo como centro de nossas vidas implica manter a liberdade inclusive dos nossos interesses mesquinhos e da política de “levar vantagem”.

No evangelho Jesus é muito objetivo no mandato que dá aos discípulos quando se trata de rejeitar tudo o que não convém ao cristão: “Jesus chamou os doze, e começou a enviá-los dois a dois, dando-lhes poder sobre os espíritos impuros. Recomendou-lhes que não levassem nada para o caminho, a não ser um cajado; nem pão, nem sacola, nem dinheiro na cintura. Mandou que andassem de sandálias e que não levassem duas túnicas”. Estes objetos que aparentemente são insignificantes, na verdade são mecanismos de escravidão que nos impedem de abraçar tudo o que é digno da condição de seguidores d’Ele. O seguidor de Jesus oferece sua vida testemunhando sobriedade, pobreza, servindo na alegria e na caridade. O verdadeiro discípulo não faz imposições antes faz proposições chamando a todos para a responsabilidade.

A missão não é reservada a um grupo de especialistas e iluminados os doze significam a totalidade daqueles que creem e são chamados a viver na luz da verdade e no caminho da liberdade, para dar conta dessa tarefa nós rezamos cantando: Mostrai-nos, ó Senhor, vossa bondade, e a vossa salvação nos concedei”.

 

quinta-feira, 1 de julho de 2021

HOMILIA PARA O DIA 04 DE JULHO DE 2021 - COMBATI O BOM COMBATE DA FÉ. SÃO PEDRO E SÃO PAULO. ANO B

 

ACREDITAR COM OS FATOS

Isaac Newton foi um físico, matemático, astrônomo, teólogo que viveu no século XVIII, é dele a frase: “Se cheguei até aqui foi porque me apoiei nos ombros de gigantes”. Esta citação é regularmente repetida por pessoas que querem justificar o sucesso dos seus empreendimentos atribuindo os méritos a terceiros que participaram como anônimos das conquistas que estão sendo celebradas.

Hoje celebramos São Pedro e São Paulo a quem denominamos colunas da Igreja. O Papa Francisco na homilia para essa solenidade falou: Queridos irmãos e irmãs, a Igreja olha para estes dois gigantes da fé e vê dois Apóstolos que transmitiram a força do Evangelho ao mundo, porque antes foram libertados pelo encontro com Cristo”. Na celebração do dia de São Pedro e São Paulo, Francisco recordou diversos momentos nos quais Pedro experimentou o sabor da derrota. O mesmo aconteceu com Paulo que experimentou a própria libertação depois de ter caído do cavalo e de vivenciar com frequência um espinho na carne.

Nos dois casos Jesus os amou desinteressadamente, apostou neles, os encorajou a não desistir e dar a vida pelos irmãos. E de fato ambos fizeram isso Pedro não fez discurso sobre ser missionário; ele agiu como missionário, Paulo não foi um brilhante escritor, antes enviou cartas que permitiam vivenciar e testemunhar aquilo que acreditava.

Nós também, ao longo da vida somos libertados de muitas amarras e sempre temos a necessidade de nos sentir libertos de todo medo que paralisa e nos torna inseguros e fechados em nós mesmos. Sempre e de novo precisamos ser libertos para não ficar paralisados quando nossas atividades e empreendimentos forem mal sucedidos.

Precisamos nos libertar das nossas falsas seguranças, da hipocrisia da nossa exterioridade, da tentação de impor sempre as nossas ideias. Precisamos nos libertar de uma observância religiosa que nos torna rígidos e inflexíveis. Também a nós Jesus da uma missão como a de Pedro: Chaves para abrir portas e construir pontes que nos levem a ligar e desatar os nós e as correntes de nossas vidas.

Ao longo da história, nós e a Igreja vivenciamos de sobra experiências nas quais temos vontade  de desistir de tudo, porém somos convidados a perceber que se chegamos até aqui é porque nos apoiamos em ombros de gigantes, que nesse caso são as colunas da Igreja.

Não sem razão a Igreja reza no início da missa: “Concedei à vossa Igreja seguir em tudo os ensinamentos dos apóstolos que nos deram as primícias da fé".

quinta-feira, 24 de junho de 2021

HOMILIA PARA O DIA 27 DE JUNHO DE 2021 - 13º COMUM - ANO B

 

SER MISSIONÁRIO NAS PERIFERIAS DO MUNDO

Que São Paulo foi o missionário por excelência no início do cristianismo ninguém dúvida. Suas viagens para levar a boa notícia de Jesus fundando comunidades e depois sustentando-as por meio de cartas e deixando algum responsável para continuar a obra que ele havia começado garantiu o crescimento da Igreja nascente.

O texto deste domingo se aplica para os desafios da atualidade e em muito se parece com o nosso cotidiano: “Irmãos: Como tendes tudo em abundância - fé, eloquência, ciência, zelo para tudo, e a caridade de que vos demos o exemplo - assim também procurai ser abundantes nesta obra de generosidade. Na verdade, conheceis a generosidade de nosso Senhor Jesus Cristo: de rico que era, tornou-se pobre por causa de vós, para que vos torneis ricos, por sua pobreza. Não se trata de vos colocar numa situação aflitiva para aliviar os outros; o que se deseja é que haja igualdade”.

Estas palavras de Paulo têm tudo a ver com a insistência do Papa Francisco para que nós também sejamos uma Igreja em saída, capaz de ir ao encontro das periferias do mundo levando daquilo que temos e nos fazendo semelhantes em tudo. Essa inspiração não é outra coisa senão agir do jeito de Jesus, como se vê nos dois casos do Evangelho.

Jesus estava cercado por uma multidão, aproveitava a ocasião para transmitir seu ensinamento, poderia bem ter continuado ali: “Jesus atravessou de novo, numa barca, para a outra margem. Uma numerosa multidão se reuniu junto dele, e Jesus ficou na praia”. Entretanto interpelado pelo pedido de Jairo e enquanto caminhava pela mulher que lhe tocou o manto tomou atitudes decisivas e corajosas contrariando as expectativas da multidão e sendo até ridicularizado por alguns que não acreditavam na força da sua palavra: Ele estava ainda falando, quando chegaram alguns da casa do chefe da sinagoga, e disseram a Jairo: 'Tua filha morreu. Por que ainda incomodar o mestre?' Jesus ouviu a notícia e disse ao chefe da sinagoga: 'Não tenhas medo. Basta ter fé!'  Quando chegaram à casa do chefe da sinagoga, Jesus viu a confusão e como estavam chorando e gritando. Então, ele entrou e disse: 'Por que essa confusão e esse choro? A criança não morreu, mas está dormindo'. Começaram então a caçoar dele. Mas, ele mandou que todos saíssem, menos o pai e a mãe da menina, e os três discípulos que o acompanhavam. Depois entraram no quarto onde estava a criança. Jesus pegou na mão da menina e disse: 'Talitá cum' - que quer dizer: 'Menina, levanta-te!”

A ação de Jesus confirma a sabedoria da primeira leitura: Deus não fez a morte, nem tem prazer com a destruição dos vivos. Ele criou todas as coisas para existirem, e as criaturas do mundo são saudáveis: nelas não há nenhum veneno de morte, nem é a morte que reina sobre a terra: pois a justiça é imortal. Deus criou o homem para a imortalidade e o fez à imagem de sua própria natureza”.

Ontem como hoje, Jesus continua nos convidando a segui-lo indo ao encontro de todos os que não tem coragem de ficar de pé, ou excluídos sem coragem de se expor ou identificar-se, tomando-os pela mão e lhes dando de comer. Como a comunidade de Corinto nós também podemos ter a certeza que: “Assim haverá igualdade, como está escrito: Quem recolheu muito não teve de sobra e quem recolheu pouco não teve falta”.

Esta convicção nos faz rezar com o salmista:

R. Eu vos exalto, ó Senhor, pois me livrastes
e preservastes minha vida da morte.!

2Eu vos exalto, ó Senhor, pois me livrastes,*
e não deixastes rir de mim meus inimigos!
4Vós tirastes minha alma dos abismos*
e me salvastes, quando estava já morrendo!

5Cantai salmos ao Senhor, povo fiel,*
dai-lhe graças e invocai seu santo nome!
6Pois sua ira dura apenas um momento,*
mas sua bondade permanece a vida inteira;
se à tarde vem o pranto visitar-nos,*
de manhã vem saudar-nos a alegria.

11Escutai-me, Senhor Deus, tende piedade!*
Sede, Senhor, o meu abrigo protetor!
12Transformastes o meu pranto em uma festa,*
13Senhor meu Deus, eternamente hei de louvar-vos!

terça-feira, 15 de junho de 2021

HOMILIA PARA O DIA 20 DE JUNHO DE 2021 - 12º COMUM - ANO B

 SENHOR AUMENTA A NOSSA FÉ!

No dia 27 de março de 2020, no auge do isolamento social e da primeira grande onda da COVID 19, 0 Papa Francisco rezou sozinho na Praça de São Pedro e comentou o texto do Evangelho que a liturgia propõe para esse 12º domingo do tempo comum. Na ocasião disse o Papa: “À semelhança dos discípulos do Evangelho, fomos surpreendidos por uma tempestade inesperada e furibunda. Nos demos conta de estar no mesmo barco, todos frágeis e desorientados, mas chamados a remar juntos e necessitados de encorajamento mútuo”.

De uma coisa é certa nossa vida é frequentemente agitada por gigantescas ondas que desnudam nossas falsas seguranças e expõe a fragilidade das nossas seguranças. À medida que cai a maquiagem das nossas seguranças e certezas somos desafiados com a pergunta de Jesus: Porque são tão medrosos? Ainda não tem suficiente fé?

As leituras deste domingo são claras a quem devemos recorrer quando não entendemos as razões das nossas provações e dificuldades. Seja a Jó, o inocente e sofredor como a cada um de nós a primeira leitura é um alento e segurança: O Senhor respondeu a Jó, do meio da tempestade, e disse: Quem fechou o mar com portas, quando ele jorrou com ímpeto do seio materno, quando eu lhe dava nuvens por vestes e névoas espessas por faixas; quando marquei seus limites e coloquei portas e trancas, e disse: 'Até aqui chegarás, e não além; aqui cessa a arrogância de tuas ondas?”.

E São Paulo anima aos coríntios cujas palavras servem também para nós: O amor de Cristo nos pressiona, De fato, Cristo morreu por todos,
para que os vivos não vivam mais para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou. Portanto, se alguém está em Cristo, é uma criatura nova. O mundo velho desapareceu”.
Isso significa dizer que se confiamos em Deus e no seu Cristo não precisamos ter medo.

A ordem que Jesus deu aos discípulos continua sendo repetida para cada um de nós: Vamos para a outra margem!” mesmo que essa travessia implique enfrentar ventanias e ondas bravias. Segundo o Papa Francisco nós e a Igreja inteira não podemos ficar trancada nas seguranças das praias calmas, antes somos desafiados a singrar os mares que nos levem aos recantos do mundo, às periferias da nossa existência. “Vamos para outra margem...” Isso significa igreja missionária, e para isso é necessário ousadia, coragem e superação do medo.

Não podemos nos deixar paralisar pelo medo dos novos horizontes, como uma pequena barca agitada e ameaçada pelos desafios do mundo que se traduzem em violência, doenças, desemprego, corrupção, autoritarismo, populismo e uma infinita lista de tempestades não podemos esquecer-nos daquele a “quem até o vento e o mar e obedecem”. Afinal é isso que rezamos no salmo desse domingo:

R. Dai graças ao Senhor, porque ele é bom,
porque eterna é a sua misericórdia!

Os que sulcam o alto-mar com seus navios,
para ir comerciar nas grandes águas,
testemunharam os prodígios do Senhor
e as suas maravilhas no alto-mar.

Ele ordenou, e levantou-se o furacão,
arremessando grandes ondas para o alto;
aos céus subiam e desciam aos abismos,
seus corações desfaleciam de pavor.

Mas gritaram ao Senhor na aflição,
e ele os libertou daquela angústia.
Transformou a tempestade em bonança,
e as ondas do oceano se calaram.

Alegraram-se ao ver o mar tranquilo,
e ao porto desejado os conduziu.
Agradeçam ao Senhor por seu amor
e por suas maravilhas entre os homens!

quinta-feira, 10 de junho de 2021

HOMILIA PARA O DIA 13 DE JUNHO DE 2021 - 11º DOMINGO COMUM - ANO B - MEMÓRIA DE SANTO ANTÔNIO DE PÁDUA

 

COMO É BOM AGRADECER AO SENHOR

A piedade popular recorda nesse domingo Santo Antônio, cuja vida foi marcada por uma série de pequenos gestos de bondade e que mostraram como Deus age nas pessoas e na história transformando realidades que muitas vezes parecem impossíveis.

Não precisamos de longos discursos para perceber como as três leituras deste domingo revelam um Deus que não está preocupado em mostrar suas grandes obras, mas que na singeleza do cotidiano realiza maravilhas aos nossos olhos.

Na primeira leitura o profeta declara a ação de Deus: “Eu mesmo tirarei um galho da copa do cedro, do mais alto de seus ramos arrancarei um broto e o plantarei sobre um monte alto e elevado. Ele produzirá folhagem, dará frutos e se tornará um cedro majestoso”.

São Paulo escreve aos coríntios para lhes tranquilizar quanto a finitude dessa vida e a precariedade da nossa breve existência: “Estamos sempre cheios de confiança e bem lembrados de que, enquanto moramos no corpo, somos peregrinos longe do Senhor; Mas estamos cheios de confiança, essas palavras recordam que as incertezas e a transitoriedade da existência terrena em nada podem ser comparadas com o encontro definitivo com o Deus da Vida.

O Reino de Deus não se manifesta no extraordinário e no fantástico, antes: “O Reino de Deus é como quando alguém espalha a semente na terra. Ele vai dormir e acorda, noite e dia, e a semente vai germinando e crescendo, mas ele não sabe como isso acontece”. Da nossa parte resta que não percamos a esperança e a confiança. Esperança, não de quem fica de braços cruzados aguardando que as coisas aconteçam, mas no sentido de quem se põe a semear as pequenas sementes do cotidiano. São essas sementes que vão transformando e frutificando independente das nossas capacidades, limites, acertos ou fracassos. Os tempos de Deus não são os nossos tempos, façamos a nossa parte e confiemos na poderosa mão de Deus. Cultivemos a perseverança e continuemos a semear os valores do evangelho. Nos pequenos gestos de bondade, solidariedade, fraternidade e comunhão que realizamos o Reinado de Deus vai garantindo a alegria da Colheita.

Nesse sentido ganha ainda mais importância a oração do Salmo que fazemos nesse domingo.

R. Como é bom agradecermos ao Senhor.

2Como é bom agradecermos ao Senhor*
e cantar salmos de louvor ao Deus Altíssimo!
3Anunciar pela manhã vossa bondade,*
e o vosso amor fiel, a noite inteira.R.

13O justo crescerá como a palmeira,*
florirá igual ao cedro que há no Líbano;
14na casa do Senhor estão plantados,*
nos átrios de meu Deus florescerão.R.

15Mesmo no tempo da velhice darão frutos,*
cheios de seiva e de folhas verdejantes;
16e dirão: 'É justo mesmo o Senhor Deus:*
meu Rochedo, não existe nele o mal!'

sexta-feira, 28 de maio de 2021

HOMILIA PARA O DIA 03 DE JUNHO DE 2021 - CORPUS CHRISTI - ANO B

 

TODAS AS MINHAS FONTES ESTÃO EM TI

É ponto pacífico para todos que saciar a fome de pão é uma necessidade indiscutível. Não sem razão as instituições e organizações da sociedade e todas as nossas paróquias tem um serviço de assistência social para atender o cinturão de pobreza que circunda nossas casas.

Todos aqueles que organizam campanhas para diminuir os sofrimentos das pessoas tem sempre motivações maiores do que o simples gesto de dar e doar coisas. Para os cristãos as campanhas solidárias tem sua fundamentação, razão e fonte na Eucaristia.

É da força desse sacramento que se origina toda a ação dos batizados para fazer frente aos sofrimentos de cada tempo. Estamos todos convencidos que na Eucaristia está a fonte da vida e da missão da cristã.

Façam isso em minha memória! E a memória de Jesus não se restringe ao momento da instituição da Eucaristia, mas a toda sua vida e todas as suas ações. Acolher os pequenos e pobres, comer com os pecadores, cuidar dos doentes e desemparados. Adorar Jesus na Eucaristia e participar da comunhão devem incidir direta e profundamente em nossa vida diária fazendo-nos testemunhas reconhecíveis da Boa Notícia de Jesus em nosso ambiente de trabalho e em todas as nossas relações sociais.

E desta tarefa ninguém está dispensado, assim afirmou Bento XVI aos jovens reunidos na Austrália em 2008: “Só jovens corajosos, com mente e coração abertos aos ideais mais elevados e generosos poderão restituir beleza e verdade à vida e às relações humanas”.

Por sua vez São João Paulo II recordou que a Eucaristia alimenta o amor das crianças de modo que possam dizer “Jesus me ama eu o amo! E para que isso aconteça de maneira efetiva dá-nos a graça de ser inocentes, generosos, bons, obedientes e alegres, porque a alegria é a fonte da bondade”.

E Francisco recomenda a todos os que se unem a Cristo pelo sacramento que não se distanciem dos pobres, dos doentes, dos perseguidos, essa atitude conduzirá todos à perfeição. Não se esqueçam diz o Papa, todos tem o direito de receber o evangelho e um banquete apreciável.

Estas palavras de Francisco nos fazem recordar mais uma vez São João Paulo II: “Não podemos nos aproximar da Eucaristia sem nos deixar arrastar para a missão que vá ao encontro de todas as pessoas”.

Por isso mesmo nossas celebrações terminam com uma saudação de envio: “Vão em paz o Senhor seja a sua força que ele permaneça com vocês todos os dias”.