MUITO
ALÉM DE ALIMENTAR O CORPO
Faz
parte das expectativas humanas e sociais contemporâneas o desejo de ver grandes
espetáculos e sinais extraordinários como alternativa para satisfazer a curiosidade
e muitas vezes para dar credibilidade a determinados fatos. Mas é também
verdade que nem sempre os sinais espetaculares provam coisas grandiosas de
acordo com o que os olhos veem.
E
esse foi exatamente o questionamento feito por Jesus quando as pessoas correram
de novo ao seu encontro e lhe pediram sinais fazendo referência ao maná que
alimentou a nação de Israel quando atravessava o deserto.
A
multidão que o seguia não havia entendido a importância da partilha, da solidariedade,
do cuidado, do compromisso com a saciedade. Todos esses sinais que acompanharam
a multiplicação dos pães levaram Jesus a fazer um esclarecimento sobre a necessidade
do alimento. Sem diminuir a importância do que é perecível Jesus faz ver que é preciso
ir muito além despertando-nos para aquilo que verdadeiramente interessa e que
humaniza comprometendo-nos com os demais: “Em verdade,
em verdade, eu vos digo: estais me procurando não porque vistes sinais, mas
porque comestes pão e ficastes satisfeitos. Esforçai-vos não pelo alimento que se perde, mas pelo alimento que permanece até a vida eterna”. Apresentando-se como verdadeira comida pede que
aceitem os valores nutritivos desse novo e duradouro alimento que implica em
saciar as distintas e muitas fomes que a humanidade, em todos os tempos,
necessita e que podem ser descritas com as palavras: esperança, solidariedade, comunhão,
fraternidade, acolhimento, justiça, paz, respeito, compaixão, cuidado e uma
lista infinita de valores que dignificam a pessoa e as relações.
O valor nutritivo desse novo
alimento leva as pessoas a viverem os conselhos dados por São Paulo na segunda
leitura: “Eis, pois o que eu digo e atesto no Senhor: não continueis a viver como vivem os pagãos,
cuja inteligência os leva para o nada. Renunciando à vossa existência passada, despojai-vos do homem velho, que se corrompe sob o efeito das
paixões enganadoras, e renovai o vosso espírito e a
vossa mentalidade. Revesti o homem novo, criado à
imagem de Deus, em verdadeira justiça e santidade”. Ir ao encontro de Jesus
implica uma transformação radical na forma de encarar a vida e as relações consigo
mesmo, com Deus e com as outras criaturas.
Naturalmente nossa frágil
existência nos empurra com facilidade para o velho estilo de vida onde
prevalece o orgulho, o pecado, o egoísmo. A graça do batismo que recebemos
permite que renovemos cotidianamente nossas escolhas como um trabalho contínuo
que exige renovação constante.
Em todos os tempos, aqueles
que encontram Cristo, que escutam seu convite e aceitam sua proposta vão
reconstruindo sua vida sob os valores que dele aprenderam e vão deixando diariamente
para trás a velha pessoa com os seus costumes e mentalidade. O batismo não pode
se resumir num evento folclórico ou simplesmente ritual, mas deve ser compreendido
como uma porta que se abre e um compromisso que se firma para percorrer os
caminhos de Deus com coerência pela vida a fora até chegarmos a estatura da
maturidade de Cristo.
Nossa breve existência terrena
é sempre um caminho marcado pela procura de realização, de felicidade
verdadeira, temos fome de amor, de transcendência e procuramos mil maneiras
para saciar essas fomes e não poucas vezes tropeçamos em nossas próprias buscas
e na finitude de nossas respostas. A única forma de saciar nossa fome e dar
pleno significado à nossa vida é colocar em prática o que rezamos no salmo:
Tudo aquilo que
ouvimos e aprendemos,
e transmitiram para nós os nossos pais,
não haveremos de ocultar a nossos filhos,
mas à nova geração nós contaremos:
As grandezas do Senhor e seu poder.
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