REPARTIR
A SACIAR AS NECESSIDADES DE TODOS
A
primeira leitura desse domingo tem como pano de fundo a situação em que vivia o
povo no tempo do profeta Eliseu cerca de 850 anos antes do nascimento de Jesus.
Em nome de relações comerciais, econômicas, políticas e militares os reis de
Israel colocaram a sua população exposta a vulnerabilidade multiplicando as
injustiças contra os mais fracos e pobres, levando também a multiplicação das infidelidades
contra Deus e a aliança. Essa situação se repetiu com muita frequência entre o
povo de Israel, sendo uma constante no tempo de Jesus. Convenhamos que também
na atualidade em nome da economia, das relações comerciais, da manutenção de
algum regime político grandes multidões se tornam vítimas da exploração em que
alguns poucos e privilegiados levam vantagem em detrimento do sofrimento de
outros e da exclusão de muitos.
Em
ambos os casos e em todos os tempos aqueles que são fiéis a Deus e reconhecem
sua ação no mundo são chamados a “levantar os olhos para enxergar a multidão
que pede para ser saciada das muitas fomes”.
O
profeta Eliseu recebeu os pães da oferenda e ordenou sua distribuição: “E Eliseu disse: 'Dá ao povo para que coma'. Mas o seu servo respondeu-lhe: 'Como vou
distribuir tão pouco para cem pessoas?' Eliseu disse outra vez: 'Dá ao povo
para que coma; pois assim diz o Senhor: 'Comerão e ainda sobrará. O homem distribuiu e ainda sobrou, conforme a palavra do Senhor”.
A distribuição ordenada pelo profeta é uma maneira de mostrar a vontade de Deus
que sugere erguer os olhos e ir ao encontro das pessoas com gestos de partilha,
de comunhão e de generosidade.
A mesma atitude é repetida por
Jesus: “Estava
próxima a Páscoa, a festa dos judeus. Levantando os olhos, e vendo que uma grande multidão estava vindo ao seu encontro. Jesus
disse a Filipe: 'Onde vamos comprar pão para que eles possam comer? Disse
isso para pô-lo à prova, pois ele mesmo
sabia muito bem o que ia fazer”.
A lógica de Jesus é a mesma do
profeta: enxergar o sofrimento, ir ao encontro, modificar os conceitos de
propriedade e responsabilidade. Fazendo todos se sentar, Jesus sugere a ação de
graças por aquilo que possuem e convida todos a partilha. Quando se substitui a
ideia de acumular e guardar tudo pensando apenas em si mesmo, e se reconhece as
necessidades de todos o resultado é
surpreendente: “Quando todos ficaram satisfeitos, Recolheram
os pedaços e encheram doze cestos com as sobras
dos cinco pães, deixadas pelos que haviam comido. Vendo
o sinal que Jesus tinha realizado, aqueles homens exclamavam:
'Este é verdadeiramente o Profeta, aquele que deve vir ao mundo”.
A provocação que Jesus faz aos
discípulos é repetida hoje a nós: todos somos convidados a libertar as pessoas
das misérias e necessidades contemporâneas, a nos despirmos do egoísmo e assumir
a lógica do serviço que facilite às pessoas passar da escravidão para a
liberdade e faça nascer novas relações humanas e sociais.
Jesus nos propõe enxergar
oportunidades em meio às crises, nos cinco pães e dois peixes na mão de um
menino somos chamados a reconhecer a totalidade das oportunidades quando as pequenas
forças de cada um são colocadas a disposição de todos.
E isso só vai acontecer
quando formos capazes de seguir o conselho de São Paulo: “Com toda a humildade e mansidão, suportai-vos uns aos outros com paciência,
no amor. Aplicai-vos
a guardar a unidade do espírito pelo vínculo da paz. Há um só Corpo e um só Espírito, como também é uma só a esperança à
qual fostes chamados. Há um só Senhor, uma só fé, um só batismo, um só Deus e Pai de todos, que reina sobre todos,
age por meio de todos e permanece em todos”.
Peçamos a graça de aprender e
pautar a nossa vida conforme rezamos no salmo: “Todos os olhos, ó Senhor, em vós esperam e vós lhes dais no tempo certo o
alimento; vós
abris a vossa mão prodigamente e saciais todo ser vivo com fartura”.
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