PÃO EM TODAS AS MESAS
A letra de um canto
litúrgico bastante apreciado por nossas comunidades tem as seguintes palavras: “Mesa pronta toalha limpa, flores luzes e
canções, nos olhares um sorriso, muita paz nos corações. É a ceia partilhada
nessa casa de irmãos páscoa sempre renovada recriando a comunhão”.
Esse canto nos remete à
Palavra de Deus desse domingo de modo claro e profundo. Em pleno século 21, é
inconcebível que milhões de pessoas ainda passem fome no mundo. Isso significa
que não se pode prescindir de pão em todas as mesas para que as lutas diárias
sejam enfrentadas com coragem e determinação. Simultâneo à saciedade do corpo
as pessoas precisam matar outras fomes, entre elas do sorriso, da partilha, da
comunhão e da coragem. Muitas vezes, como o profeta Elias também nós caímos sob
o peso da incompreensão, do desespero, do desânimo e da falta de fé.
Quando isso nos acontece as
palavras da primeira leitura nos ajudam perceber como Deus é sensível a todas
as fomes da humanidade. Oferecendo ao profeta Elias o pão para alimentar o
corpo sacia também a fome de coragem e devolve a determinação para continuar a
missão de profeta: “Mas o anjo
do Senhor veio pela segunda vez, tocou-o e disse: 'Levanta-te e come! Ainda tens um
caminho longo a percorrer'. Elias levantou-se, comeu e bebeu, e, com a força desse alimento, andou
quarenta dias e quarenta noites, até chegar ao Horeb, o monte de Deus”.
Nos
embates que Jesus tem com os Judeus e as diversas categorias do seu tempo fica
muito clara a dureza do coração dos judeus e sua incapacidade de “ver” em Jesus
o pão de Deus que dá vida. Enxergando apenas as suas convicções e acomodados
num sistema ritualista, instalados no seu orgulho e autossuficiência estão
seguros que sua única fome é de pão material, e que, portanto, não precisam do “pão”
de Deus.
A
expressão “carne” de Jesus não se resume ao seu aspecto corporal, mas a sua pessoa,
doutrina e mensagem. Os discípulos o reconhecem nos gestos de amor, bondade,
solicitude, misericórdia. Na condição de “pão do céu” Jesus revela a direção
certa para vida verdadeira e mostra como Deus ama as suas criaturas ao mesmo
tempo que faz um convite para fazer da sua vida um serviço fraterno e acolhedor
a exemplo do seu “pão”.
O
Evangelho nos desafia a não colocar nossa esperança apenas no pão que sacia a
fome do corpo. Reconhecer o Pão de Deus implica ser capaz de discernir entre o
que é passageiro e muitas vezes ilusório daquilo que permanece e se eterniza.
Peçamos
a graça de não nos deixar iludir por promessas fáceis e felicidade passageira,
que não nos deixemos manipular aceitando como “pão” as propostas que a opinião
pública dominante quase sempre nos oferece e facilita.
É importante que nos
perguntemos sobre nossa missão e vocação profética que muitas vezes é carregada
de incompreensões, calúnias, perseguições e sofrimento. Não tenhamos medo de
nos levantar e continuar o caminho que é longo e para o qual Deus nos renova e
fortalece todos os dias.
O Evangelho sugere que nos
perguntemos sobre o lugar que Jesus ocupa em nossa vida, em que medida
construímos nossa existência ao redor do seu projeto como “pão da vida”.
Acreditar que Jesus é “o pão vivo
descido do céu. Quem comer
deste pão viverá eternamente. E o pão que eu darei é a minha carne dada para a
vida do mundo” significa empreender uma luta
continua e coerente contra o egoísmo, a exploração, a injustiça e tudo aquilo
que denigre e causa sofrimento às pessoas e ao mundo. Na condição de batizados
estamos respondendo com coerência à fé que professamos?
Para que isso seja uma
realidade em nossa vida, será necessário retomar os conselhos de Paulo na
segunda leitura desse domingo: “Toda a
amargura, irritação, cólera, gritaria, injúrias, tudo isso deve desaparecer do meio de
vós, como toda espécie de maldade. Sede bons uns para com os outros, sede compassivos; perdoai-vos
mutuamente, como Deus vos perdoou por meio de Cristo. Sede imitadores de Deus, como filhos
que ele ama. Vivei no
amor, como Cristo nos amou”.
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