quinta-feira, 5 de agosto de 2021

HOMILIA PARA O DIA 08 DE AGOSTO DE 2021 - 19º COMUM - ANO B

 

PÃO EM TODAS AS MESAS

A letra de um canto litúrgico bastante apreciado por nossas comunidades tem as seguintes palavras: “Mesa pronta toalha limpa, flores luzes e canções, nos olhares um sorriso, muita paz nos corações. É a ceia partilhada nessa casa de irmãos páscoa sempre renovada recriando a comunhão”.

Esse canto nos remete à Palavra de Deus desse domingo de modo claro e profundo. Em pleno século 21, é inconcebível que milhões de pessoas ainda passem fome no mundo. Isso significa que não se pode prescindir de pão em todas as mesas para que as lutas diárias sejam enfrentadas com coragem e determinação. Simultâneo à saciedade do corpo as pessoas precisam matar outras fomes, entre elas do sorriso, da partilha, da comunhão e da coragem. Muitas vezes, como o profeta Elias também nós caímos sob o peso da incompreensão, do desespero, do desânimo e da falta de fé.

Quando isso nos acontece as palavras da primeira leitura nos ajudam perceber como Deus é sensível a todas as fomes da humanidade. Oferecendo ao profeta Elias o pão para alimentar o corpo sacia também a fome de coragem e devolve a determinação para continuar a missão de profeta: “Mas o anjo do Senhor veio pela segunda vez, tocou-o e disse: 'Levanta-te e come! Ainda tens um caminho longo a percorrer'. Elias levantou-se, comeu e bebeu, e, com a força desse alimento, andou quarenta dias e quarenta noites, até chegar ao Horeb, o monte de Deus”.

Nos embates que Jesus tem com os Judeus e as diversas categorias do seu tempo fica muito clara a dureza do coração dos judeus e sua incapacidade de “ver” em Jesus o pão de Deus que dá vida. Enxergando apenas as suas convicções e acomodados num sistema ritualista, instalados no seu orgulho e autossuficiência estão seguros que sua única fome é de pão material, e que, portanto, não precisam do “pão” de Deus.

A expressão “carne” de Jesus não se resume ao seu aspecto corporal, mas a sua pessoa, doutrina e mensagem. Os discípulos o reconhecem nos gestos de amor, bondade, solicitude, misericórdia. Na condição de “pão do céu” Jesus revela a direção certa para vida verdadeira e mostra como Deus ama as suas criaturas ao mesmo tempo que faz um convite para fazer da sua vida um serviço fraterno e acolhedor a exemplo do seu “pão”.

O Evangelho nos desafia a não colocar nossa esperança apenas no pão que sacia a fome do corpo. Reconhecer o Pão de Deus implica ser capaz de discernir entre o que é passageiro e muitas vezes ilusório daquilo que permanece e se eterniza.

Peçamos a graça de não nos deixar iludir por promessas fáceis e felicidade passageira, que não nos deixemos manipular aceitando como “pão” as propostas que a opinião pública dominante quase sempre nos oferece e facilita.

É importante que nos perguntemos sobre nossa missão e vocação profética que muitas vezes é carregada de incompreensões, calúnias, perseguições e sofrimento. Não tenhamos medo de nos levantar e continuar o caminho que é longo e para o qual Deus nos renova e fortalece todos os dias.

O Evangelho sugere que nos perguntemos sobre o lugar que Jesus ocupa em nossa vida, em que medida construímos nossa existência ao redor do seu projeto como “pão da vida”. Acreditar que Jesus é “o pão vivo descido do céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão que eu darei é a minha carne dada para a vida do mundo” significa empreender uma luta continua e coerente contra o egoísmo, a exploração, a injustiça e tudo aquilo que denigre e causa sofrimento às pessoas e ao mundo. Na condição de batizados estamos respondendo com coerência à fé que professamos?

Para que isso seja uma realidade em nossa vida, será necessário retomar os conselhos de Paulo na segunda leitura desse domingo: “Toda a amargura, irritação, cólera, gritaria, injúrias, tudo isso deve desaparecer do meio de vós, como toda espécie de maldade. Sede bons uns para com os outros, sede compassivos; perdoai-vos mutuamente, como Deus vos perdoou por meio de Cristo. Sede imitadores de Deus, como filhos que ele ama. Vivei no amor, como Cristo nos amou”.

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