CHAMADO
À SANTIDADE
Todos são chamados à
santidade, o que muitas vezes acontece é a falta de coragem para compreender o
chamado (Hebreus – 12, 1- 2) – Entre as testemunhas podem estar a nossa mãe,
uma avó, outra pessoa próxima de nós – “Lembro
de sua fé sincera, a mesma que sua vó Loide e sua mãe Eunice e tenho a certeza
que é a mesma fé que você tem” (2Tm 1, 5). A sua vida pode não ter sido
sempre perfeita, mas continuaram a caminhar e agradaram ao Senhor.
É este sentido que tem a
luta pela santidade e que Bento XVI já manifestou no início do seu pontificado:
“Não devo carregar sozinho, nunca poderia
carregar sozinho. Os numerosos santos de Deus me protegem, amparam e me guiam”. Quando a Igreja declara que uma pessoa pode
ser considerada santa leva em conta a prática das virtudes.
Não pensemos apenas nos
santos reconhecidos pela Igreja, mas em todos aqueles que o Espírito Santo
derrama a santidade: “Aprouve a Deus
salvar e santificar todas as pessoas, não individualmente, mas constituindo-se
em um povo que O Conhecesse na verdade e o servisse na santidade” (Lumen
Gentinum 9). Resumindo a salvação não é um privilégio particular, mas uma
conquista comunitária assim se expressa um provérbio popular: “Um santo faz outro santo”.
Segundo Francisco a
santidade não é um desafio inalcançável, pelo contrário afirma o Papa: “Gosto de ver a santidade no povo paciente
de Deus: nos pais que criam os seus filhos com tanto amor, nos homens e nas
mulheres que trabalham a fim de trazer o pão para casa, nos doentes, nas
consagradas idosas que continuam a sorrir. Nesta constância de continuar a
caminhar dia após dia, vejo a santidade da Igreja militante. Esta é muitas
vezes a santidade “ao pé da porta”, daqueles que vivem perto de nós e são um
reflexo da presença de Deus, um reflexo da “classe média da santidade”.
Que nosso peregrinar para
a santidade seja alimentado pelos sinais perceptíveis nas pessoas mais simples.
Neste particular Francisco recorda a vida de Edith Stein – (Judia convertida
depois de ter lido as obras de Santa Teresa D’Avila. Mártir no campo de
concentração Auschwitz, foi canonizada
por João Paulo II com o nome de Santa Teresa Benedita da Cruz). Nos diários
desta santa se lê: “Na noite mais escura,
surgem os maiores profetas e os santos. Todavia, a corrente vivificante da vida
mística permanece invisível. Certamente, os eventos decisivos da história do
mundo foram essencialmente influenciados por almas sobre as quais nada se diz
nos livros de história. E saber quais sejam as almas a quem devemos agradecer
os acontecimentos decisivos da nossa vida pessoal é algo que só conheceremos no
dia em que tudo o que está oculto for revelado”. (Obras completas).
A santidade é o rosto
mais belo da Igreja e ela não está necessariamente na Igreja. Disse São João
Paulo II. O Espírito suscita “sinais da
sua presença, que ajudam os próprios discípulos de Cristo”(Novo Milênio). O
Sangue de Cristo derramado é um patrimônio comum para os cristãos.
Ninguém está excluído do
chamado à santidade: “Eu sou o Senhor que
os trouxe do Egito a fim de ser o Deus de Vocês. Portanto sejam santos, pois eu
sou santo” (Lv 11,45). A Lumen Gentium é categórica: “Munidos de tantos e tão grandes meios de salvação, todos os fiéis, seja
qual for a sua condição são chamados pelo Senhor à perfeição do Pai, cada um
por seu caminho”(11).
O fato de alguns exemplos
de santidade parecer alto demais não é motivo para desânimo, todos eles oferecem
testemunhos para estimular, não para copiar, São João da Cruz afirma no seu
Cântico Espiritual: “cada um aproveite a
seu modo pois a vida divina comunica-se a uns de uma maneira e a outros de
outra”.
Além de grandes nomes da
Igreja, afirma Francisco, “interessa-me
lembrar tantas mulheres desconhecidas ou esquecidas que sustentaram e
transformaram, cada uma a seu modo, famílias e comunidades com a força do seu
testemunho”. Obviamente que isso implica em dar o melhor de si para
realizar aquilo que Deus pensou desde sempre para cada pessoa: “Antes de formar-te no seio de tua mãe, eu
já te conhecia; antes de saíres do ventre de tua mãe eu te consagrei”(Jr 1,
5).
É ilusão pensar que a
santidade seja reservada apenas àqueles que tem possibilidade de se afastar das
ocupações comuns. Não é assim. Todos somos chamados a ser santos, vivendo com
amor e oferecendo o próprio testemunho nas ocupações de cada dia, onde cada um
se encontra. Procura a santidade vivendo com alegria a tua doação. Estás
casado? Cuida das suas responsabilidades com aqueles que estão próximo de ti,
como Cristo faz com a Igreja. És um trabalhador? Cumpra com honestidade e
competência sua responsabilidade e por meio do trabalho santifique seus irmãos.
É Pai, mãe, avô, avó? Ensina as crianças a seguirem Jesus. Tens alguma
responsabilidade no exercício de autoridade? Luta pelo bem comum e renuncia aos
interesses pessoais.
Permita que o batismo
frutifique em você. Quando sua vida se voltar para a fragilidade ergue os olhos
para o crucificado e admite: “Senhor, sou
um miserável! Mas vós podeis realizar o milagre em de me tornar um pouco melhor”.
A igreja é santa e pecadora e sempre oferece uma possibilidade para ser melhor:
“Nós nos alegramos e cantaremos um hino
de louvor por causa daquilo que o Senhor nosso Deus, fez. Ele nos vestiu com a
roupa da salvação e com a capa da vitória. Somos como um noivo que põe um
turbante de festa na cabeça, como uma noiva enfeitada com joias”(Is 61,
10).
A santidade é feita de
Pontos Concretos de Esforço... “Não falar
mal dos outros, ouvir o filho que se lamenta, conversar com um pobre que ‘não
merece’ nossa atenção.”. Quem ensina isso é o Cardeal Vietnamita François
Van Thuan, preso pelo regime comunista durante 13 anos, 9 dos quais em absoluto
isolamento: “aproveito as ocasiões que
vão surgindo cada dia para realizar ações ordinárias de modo extraordinário”(Livro
cinco pães e dois peixes).
Para um cristão não
existe outro caminho neste peregrinar senão compreendê-lo como caminho de
santidade, pois para isso foi moldado: “O
que Deus que de vocês é isto: que sejam completamente dedicados a ele. Que cada
um saiba viver com sua esposa de um modo que agrade a Deus, com todo o
respeito”(1 Ts 4, 3- 4).
Perseguir a santidade não
é importante fixar-se em detalhes, porque naturalmente sempre haverá quedas, o
que se deve buscar é o conjunto da vida, o caminho inteiro, o desejo de
encontrar a Cristo no todo da vida das pessoas. Não existe uma receita para a
santidade, existe uma abertura ao Espírito Santo. Pedir que o mesmo Espírito
mostre sempre o que Jesus espera de tua vida e quais as escolhas que você deve
fazer discernindo sempre a sua missão. Que você seja um reflexo da vida de
Jesus no mundo contemporâneo.
Identificar-se com Cristo
implica compreender os compromissos relativos a construção de um Reino de amor
e de justiça para todos. É o mesmo Jesus que vem ao teu encontro para viver
contigo todos os esforços e garantir a fecundidade deles garantido que sempre
estás dando o melhor de você nos compromissos que assumiu.
Fazer-se santo exige uma
sintonia entre silêncio e encontro; oração, repouso e atividade. Ser capaz de
contemplar estando ao mesmo tempo em ação é o exercício mais generoso de quem
busca a santidade. O Espírito não é contraditório, ele não iria enviar alguém
em missão e pedir que faça um processo de fuga. É ilusão uma paz interior que
não seja comprometida. Em resumo, a vida é uma missão!
As exigências de
santidade implicam em doação evangélica que nos seus escritos o Papa chama de
Espiritualidade da missão (EG); Espiritualidade ecológica (Laudato Si); Espiritualidade familiar (AL). Tal forma de
espiritualidade não exclui o que se chama quietude e solidão diante do silêncio
de Deus. Ser santo não é sinônimo de uma corrida frenética para “fazer coisas”
é a garantia de um espaço dialogal com Deus. Aceitar um encontro com Deus,
deixar-se invadir por ele, muitas vezes só acontece quando a pessoa se percebe
a beira do abismo, no precipício do próprio abandono ou no mais alto da solidão
radical.
Não raro, a frenesi do
mundo contemporâneo, com todas as oportunidades e ofertas de distração leva a
absolutizar o tempo livre com prazeres passageiros. Há que se cultivar um
espírito de Santidade que compartilhe solidão e serviço, contemplação e ação.
Em resumo, não ter medo
de ser santo, esta realidade não nos torna menos humanos, pelo contrário, ela
se potencializa pelo encontro entre a fragilidade e a força da graça. Leon Bloy
– escritor, poeta e ensaísta francês que viveu até o início do século passado,
afirmou em seu livro “A mulher pobre”: “Existe apenas uma tristeza: a de não
ser santo”.
(Pense
em momentos nos quais você não perseguiu a santidade e enumere para sua vida
pessoal e familiar, fazer o dever-se de sentar-se como busca para o caminho da
santidade)
DOIS
INIMIGOS DA SANTIDADE
2ª
MEDITAÇÃO
No início do cristianismo
duas correntes de pensamento ameaçaram a doutrina que estava nascendo. A
primeira delas denominado gnosticismo tinha como premissa o conceito que tudo o
que é matéria fosse necessariamente má e que só o que é espiritual seria bom. A
outra doutrina foi conhecida como pelagianismo e segundo esta corrente de
pensamento a pessoa humana é a única responsável pela sua salvação ou
condenação.
Francisco afirma que
estas duas correntes estão muito presentes nos cristãos da atualidade e elas se
manifestam todas as vezes que algumas pessoas se colocam num patamar elevado de
perfeição, uma espécie de elite do cristianismo que em vez de evangelizar
julgam e analisam os demais. Em lugar de facilitar a graça consomem-se em
controlar os demais. Para estes a pessoa de Jesus deixa de ser importante e
necessária e na esteira desta compreensão todos as demais criaturas.
As pessoas que pensam
assim na atualidade cultivam uma fé fechada para quem só interessa uma
determinada experiência, um determinado raciocínio, uma única forma de ver e
compreender o mundo, em outras palavras “consideram-se a última bolacha do
pacote”. Estas pessoas vivem como se estivessem enclausuradas dentro das
próprias verdades e sentimentos.
Ao longo da história da
Igreja não foi assim e sempre ficou muito claro que não se mede a perfeição das
pessoas porque elas não têm pecado. Faço questão de citar as palavras do Bispo
no dia da minha ordenação: “Do que se trata ordenar um sacerdote e que acho que
impressiona a todos nós aqui e é só isso que vou acenar. É que se trata do
aspecto da generosidade de um moço que aos 26,27 ou 28 anos ele assume
entregar-se com todas as suas qualidades, como é o caso do Élcio, e também com
suas limitações como aqui foi dito. Agora o que impressiona não é a perfeição
da pessoa, o que impressiona é a generosidade da pessoa, isso certamente
impressiona a mim, a todos vocês e a toda a humanidade até o fim do mundo.
Sempre haverá de ser
impressionante ver um homem que aos vinte e oito anos, a partir da fé ele se
põe a serviço do povo de Deus para fazer crescer a fé. Isto é o que se trata
aqui irmãos e imãs. Esta é a grande coisa estupenda que está acontecendo entre
nós neste momento. É isto que nós queremos acolher com carinho, e nós queremos
acolher com alegria imensa, porque esse testemunho de generosidade faz bem a
todos nós. Faz bem a vocês pais de família que sem serem generosos a família de
vocês não irá bem nunca, faz bem a vocês mães de família que são aquela coisa
incomparável dentro da nossa casa, porque vocês são sempre a pessoa mais
generosa dentro da nossa casa. Faz bem a vocês jovens que sem aprenderem desde
cedo a grande lição da generosidade, desculpem, vocês não irão a nada. Jovens
vocês não chegarão a nada sem a generosidade. Faz bem às crianças que mal
entendem esse tipo de coisa. Que não mal entendem, que muito bem entendem todo
gesto de generosidade que se faz com as crianças, podem não entender as
palavras, mas o gesto de generosidade que você faz com uma criança eles
entendem sempre, então está aí é o que está aqui, é o grande segredo nosso dos
padres nós não temos a pretensão, graças a Deus, de nos apresentar como gente
perfeita, ninguém de nós.
E se tem uma insistência
que eu faço para mim, e se tem uma insistência que eu faço para os nossos
padres é que não tenham a pretensão de serem perfeitos, mas que tenham sim a
pretensão sempre de serem generosos” (Dom Luiz Colussi, 03/11/90).
Os perfeitos, melhores
que os demais, são incapazes de tocar a “carne sofredora de Cristo”, preferem
um Deus sem Cristo, um Cristo sem cruz e uma Igreja sem povo. Os gnósticos
contemporâneos pensam explicar e compreender todas as coisas e até todo o
evangelho a partir da sua própria sabedoria e perfeição. Absolutizam tudo e
exigem que todos estejam debaixo dos seus raciocínios. Certamente esta maneira
de ver a vida e de viver a fé é uma das piores artimanhas atuais. Esta doutrina
aparece disfarçada de espiritualidade, mas é desencarnada, tem a pretensão de
“domesticar o mistério”.
Quando uma pessoa tem
respostas para todas as situações começa a evidenciar que não está no bom
caminho, nestes casos, frequentemente ele busca “engaiolar Deus” dentro das
suas próprias verdades e muitas vezes em seu próprio benefício pretende dominar
a transcendência de Deus. A mais antiga formulação de doutrina definia Deus
como “um espírito perfeitíssimo criador do céu e da terra” e quando perguntado
onde estava Deus, a resposta era também pronta: “Deus está no céu e na terra e
em todo lugar”. Esta verdade, dita de outra maneira, continua sendo a única
possível para definir a transcendência e a onipotência de Deus.
Deus está misteriosamente
presente na vida de todas as pessoas e está de uma maneira que só ele poderia
explicar e entender. Mesmo quando a vida de alguém tiver sido um desastre,
mesmo que o vejamos destruído pelos vícios ou pela dependência, Deus está
presente na sua vida. Reconhecer a presença de Deus implica deixar-se guiar
pelo Espírito Santo, mais do que pelos conhecimentos e pela sabedoria
acumulada. “Eu te louvo Pai, Senhor do
céu e da terra, porque escondestes estas coisas aos sábios e entendidos e as
revelastes aos pequeninos”, disse Jesus. O gnosticismo tem a pretensão de
exercer o controle rigoroso sobre a vida dos outros e facilmente substituem a
simplicidade concreta do Evangelho por uma Unidade alheia à nossa história.
Todo o ensinamento da Igreja
não pode ser entendido como um sistema fechado que não admita perguntas e
respostas diferentes para cada circunstância. A fé no verdadeiro Deus exige
compreender e aceitar as perguntas, dúvidas, questões, angústias, batalhas,
sonhos e preocupações do cotidiano e das pessoas. As dificuldades do povo
servem também para nos questionar e nos tirar da zona de conforto produzida
pelo gnóstico que mora em nós. Não raro os membros da Igreja, participantes de
movimentos e serviços pastorais julgam que são capazes de explicar tudo a
partir da sua sabedoria e perfeição. Não se pode subestimar a razão, mas ao
mesmo tempo não se pode absolutizar e pretender explicar tudo de maneira a
exercer um controle rigoroso sobre a vida de todos. Por conta desta pretensa
“santidade” cultivar sentimentos de superioridade em relação ao “comum dos
fiéis”, o verdadeiro cristão precisa aprender sempre que o binômio “razão e
santidade” são inseparáveis.
São Francisco escreveu
para Santo Antônio: “Alegra-me que você
explique aos demais as doutrinas da Igreja, mas tome cuidado para que isso não
apague neles a simplicidade do Evangelho que se manifesta na oração e na
devoção”. São Boaventura, seguidor de Francisco, e que viveu na Itália nos
anos 1200 fez uma advertência que se aplica perfeitamente às pessoas contemporâneas:
“A maior sabedoria que pode existir
consiste em dispensar frutuosamente o que se possui e que lhe foi dado
precisamente para ser distribuído. Por isso como a misericórdia é amiga da
sabedoria, a avareza é sua inimiga”.
O segundo perigo da
atualidade é o pelagianismo, este por sua vez acredita que toda a perfeição
reside na capacidade da própria pessoa que com seu esforço é capaz de alcançar
a perfeição. Os pelagianos desconsideram que a escolha de Deus não depende das
vontades humanas, mas que foi Ele que nos escolheu com a sua misericórdia e nos
amou primeiro: “Nós amamos porque Deus
nos amou primeiro. Se alguém diz: Eu amo a Deus, mas odeia o seu irmão, é
mentiroso. Pois ninguém pode amar a Deus a quem não vê, se não amar o seu
irmão, a quem vê” (1Jo 4,19 -20).
Quem vive de acordo com a
compreensão pelagiana faz bonitos discursos, porém na prática “só confia nas suas próprias forças e
sente-se superior aos outros por cumprir determinadas normas ou por ser
irredutivelmente fiel a certo estilo católico” (EG 94). Contra essa
mentalidade cabe o convite de Santo Agostinho: “Faça tudo o que você pode e peça o que você não pode”, em outras
palavras: “Que eu alcance aquilo que por
vós foi ordenado e disponha ao meu alcance aquilo que seja da sua vontade”
(Confissões, X, 29). A superação do pelagianismo implica um reconhecimento
sincero dos próprios limites e a abertura para que a graça atue na pessoa.
Acreditar na graça significa compreender que por ela a pessoa não se torna um
“super-homem”.
Reconhecer a realidade
concreta e limitada permite perceber o que Deus pede a cada momento, afinal é
Ele quem faz a pessoa ser idônea e habilitada para os seus dons: “Deus não escolhe os capacitados, mas
capacita os escolhidos”. A perfeição implica viver na presença de Deus e
compreender que ela só pode nos fazer bem. Deixar-se moldar como vasos de
argila, ter convicção daquilo que se reza: “Ao
Senhor peço apenas uma coisa, e só isto que eu desejo: habitar no santuário do
Senhor por toda a minha vida; saborear a suavidade do Senhor e contemplá-lo no
seu templo” (Salmo 26/27). “É melhor
passar um dia no teu Templo do que mil dias em qualquer outro lugar” (Salmo
84,11).
São João Crisóstomo já
antecipava a doutrina da Igreja quando diz: “antes de termos entrado no
combate” Deus nos preenche com seus dons. São Basílio Magno (anos 330 na
Turquia) afirma que a confiança em Deus é a condição para experimentar a
verdadeira justiça. Esta certeza continua sendo doutrina da Igreja como se lê
no catecismo quando afirma que a graça: “ultrapassa
as capacidades da Inteligência e as forças da vontade humana” (CIC
1998). Tão mais longe estão os meus
pensamentos dos seus pensamentos, como está distante a terra do céu, reza o
salmista, neste sentido diz o Papa Francisco: “A sua amizade supera-nos infinitamente, não pode ser comparada por nós
com as nossas obras e só pode ser um dom da sua iniciativa de amor”.
Santa Teresa de Liseux
declarou: “Ao anoitecer desta vida,
aparecerei diante de vós com as mãos vazias, pois não vos peço, Senhor, que
conteis minhas obras. Toda a nossa justiça tem mancha diante dos teus olhos
Senhor”. Lucio Gera, sacerdote argentino, declarou que a pessoa precisa: “Reconhecer alegremente que a própria
realidade é fruto de um dom, e aceitar também a liberdade como graça. Isto é
muito difícil para o mundo contemporâneo que julga possuir as coisas por si
mesmo, como fruto da própria originalidade e liberdade”. Somente se reconhecendo como pertencendo
a Deus a pessoa é capaz de oferecer-se a si próprio, de acordo com São Paulo: “Eu lhes exorto, irmãos, pela misericórdia
de Deus, a oferecerdes seus próprios corpos em sacrifício vivo, santo e
agradável a Deus” (Rm 12,1) e ainda “Se eu não tivesse a caridade de nada
adiantaria” (1Cor 13,2).
Embora tudo isso seja
suficientemente esclarecido, não faltam aqueles cristãos que insistem em seguir
outra estrada que consiste na justificação pelas suas próprias forças. A
Obsessão pela lei, o fascínio pelas conquistas sociais e políticas, a
ostentação no cuidado com a liturgia, da doutrina e o prestígio da Igreja, a
vanglória ligada à gestão de assuntos práticos, a atração pelas dinâmicas de
autoajuda a realização auto referencial são, frequentemente, ocupações de
alguns cristãos que consomem todas as suas energias e seu tempo para garantir
estas coisas e esquecem de se deixar guiar pelo Espírito no caminho do amor,
esquecem-se de se apaixonar pela Alegria do Evangelho e não saem a procurar os
afastados nessas imensas multidões sedentas de Cristo.
Sem dificuldade é
possível perceber com a vida da Igreja com facilidade se torna uma peça de
museu ou uma propriedade de poucos. Essa situação é facilmente perceptível
quando alguns grupos de cristãos dão maior importância para a observação de
normas, costumes, regras e estilos de vida. Tal situação despoja o evangelho da
sua simplicidade e o torna como sal insosso. Facilmente se observa tal
realidade em grupos, movimentos, pastorais, serviços e comunidades que começam
com uma vida intensa e aos poucos vão se fossilizando e corrompendo.
Sem se dar conta, por
causa da compreensão pelagiana, complicam o evangelho e escravizam e tornam-se
escravos de esquemas por onde não passa a graça. Para estes cabe a recomendação
de São Tomás de Aquino quando afirma que se deve exigir com moderação, os
preceitos acrescentados ao Evangelho: “para
não tornar a vida pesada aos fiéis, porque assim se transformaria a nossa
religião numa escravidão” (Summa
Theologiae, I – II q, 107, art. 4). De novo vai se encontrar São Paulo: “Não fiquem devendo nada a ninguém. A única
dívida que vocês devem ter é a de amar uns aos outros. Quem ama os outros está
obedecendo a lei. Quem ama os outros não faz mal a eles. Porque, amar é
obedecer a toda a lei” (Rm 13, 8 e 10).
Muitas vezes a preservação
das instituições empurra as pessoas para uma densa selva de preceitos, como
ocorreu com os judeus. E no meio daquele emaranhado de prescrições, proibições
e permissões Jesus abre uma brecha para vislumbrar o rosto do Pai e dos irmãos. Diante da pergunta, qual o maior dos
mandamentos: “Jesus lhe disse: Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de
toda a tua alma, e de todo o teu entendimento. Este é o maior e
o primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás ao
teu próximo como a ti mesmo. Estes dois mandamentos contêm
toda a lei e os profetas” (Mateus, 12 34-40).
À guisa
de conclusão, somente duas riquezas não desaparecem: O Senhor e o próximo! Como
exercício de “dever de sentar-se” proponho: Questionar e discernir quais são os
pontos concretos de esforço que eu devo realizar na minha vida para que Deus
possa se manifestar no cotidiano.
(Rever o nosso Ponto concreto de Esforço à luz destes dois
inimigos da Santidade. Estou pensando em Deus...)
À LUZ DO MESTRE
As
palavras de Jesus foram sempre direcionadas para o objetivo da sua vinda ao
mundo, isto é, para ajudar a perceber a essência da santidade. Certamente a
melhor explicação para isso se encontra na simplicidade das bem-aventuranças
(Mt 5, 3 – 12; Lc 6, 20-23). Compreendendo isso não resta dificuldade para
enxergar o caminho sobre como ser um bom cristão. Cada qual a seu modo, colocar
em prática o sermão da montanha. Sem dificuldade pode-se entender como sinônimo
as palavras: “Feliz, bem-aventurado e santo”.
Que elas
são bonitas e soam bem ao ouvido ninguém dúvida, mas que estão na contramão do
que é habitual também não há dúvida. Colocar em prática os conselhos de Jesus
implica abrir-se ao Espírito Santo e se deixar encharcar com toda a sua força e
nos libertar da fraqueza, do egoísmo, da preguiça e do orgulho, todos eles
frutos do pelagianismo contemporâneo.
1 - FELIZES OS POBRES EM ESPÍRITO PORQUE DELES
É O REINO DO
CÉU...
A
facilidade que oferece a posse dos bens dificulta perceber a carência que as
posses significam. Aquele que tem certas garantias somente percebe sua
fragilidade quando as seguranças humanas desmoronam e só nesta ocasião procura
outro sentido para vida. Note-se que Jesus também conta a parábola do rico
insensato – não pensava que iria morrer no mesmo dia – (Lc 12, 16-21). Quando o
coração se sente rico, fica tão satisfeito de si mesmo que nele não tem espaço
para a Palavra de Deus. Por isso Jesus chama de Felizes os pobres em espírito,
que tem coração pobre, onde pode entrar o Senhor com sua novidade.
Santo
Inácio de Loyola afirmou que a santidade está ligada à capacidade da
indiferença. Dizia que a santidade se encontra à medida que a pessoa é capaz de
não colocar em primeiro plano a satisfação a partir das coisas criadas, e
considera que elas existem como se não existissem.
Lucas já
apresenta as bem-aventuranças, sem alcançar o adjetivo “em espírito”. Isso é um
convite para uma pobreza austera, ser feliz nesse caso é cultivar a capacidade
de compartilhar o que se tem com aqueles que mais precisam. Em outras palavras
é um processo de “configuração” a Cristo que sendo “Rico se tornou pobre” (2
Cor 8, 9).
2 - FELIZES OS MANSOS PORQUE POSSUIRÃO A TERRA
Que o nosso cotidiano é marcado pela
violência, intolerância e incompreensão é um fato inegável. Com frequência vê
se reinar o orgulho, a vaidade, a prepotência. No meio desta realidade Jesus
sugere outro estilo: “a mansidão”. Ele mesmo praticava essa virtude com seus
discípulos: “aí vem o teu Rei, ao teu encontro,
manso e montado num jumentinho (Mt 21, 5; cf. Zc 9, 9).
E ainda: “Aprendei de Mim, porque sou
manso e humilde de coração e encontrareis descanso para o vosso espírito”
(Mt 11, 29).
Olhar as pessoas com quem convivemos e compreender que
seus limites e defeitos não são oportunidades para nos sentirmos superiores ou
melhores. Não olhar os outros com sentimento de superioridade, mas estendendo a
mão para acolher evitamos de gastar energias em lamentações. Para Santa Teresa
de Lisieux, «a caridade perfeita consiste
em suportar os defeitos dos outros, em não se escandalizar com as suas
fraquezas».
São Paulo já havia recomendado a correção fraterna
entre aqueles que se amam, porém, não com grosseria e superioridade, pelo
contrário com mansidão: “O espírito de
Deus produz o amor, a alegria, a paz, a paciência, a delicadeza, a bondade e a
fidelidade a humildade e o domínio próprio. E contra essas coisas não existe
lei. As pessoas que pertencem a Cristo Jesus crucificaram a Natureza humana
delas, junto com todas as paixões e desejos dessa natureza. Que o Espírito de
deus que nos deu a vida controle também a nossa vida! Nós não devemos ser
orgulhosos, nem provocar ninguém, nem ter inveja dos outros” (Gl 5, 22-
25). E se por acaso as más ações de algum irmão seja causa de escândalo
procurar corrigir com “mansidão”: “Meus
irmãos se alguém for apanhado em alguma falta, vocês que são espirituais devem
ajudar essa pessoa a se corrigir. Mas façam isso com humildade e mansidão”
(Gl 6, 1ss). Não poucas vezes na Igreja erramos mais por julgar enquanto
deveríamos mais acolher.
É claro que mansidão não é sinônimo de um “bobo
alegre” A Palavra “anawin” é usada na
Sagrada Escritura e significa “pobres e mansos”. Estes dois adjetivos não podem
ser entendidos como alguém insensato, estúpido ou frágil, pelo contrário são aqueles
que esperam no Senhor na mesma proporção como o Senhor confia neles: “é nos humildes de coração contrito que os
meus olhos se fixam, pois escutam a minha palavra com respeito” (Is 66, 2).
3
- FELIZES OS QUE CHORAM PORQUE SERÃO
CONSOLADOS
O mundo contemporâneo, o advento das Novas Tecnologias
de Informação e Comunicação trazem muito facilmente a ideia de que precisamos
estar sempre ocupados. Mal nos sentamos em qualquer lugar. Paramos no semáforo,
ou em qualquer outro lugar, precisamos estar conectados com o mundo. O
entretenimento, o prazer, a diversão é que torna a vida boa. “O mundano ignora, olha para o lado, quando
há problemas de doença ou aflição na família ou ao seu redor. O mundo não quer
chorar: prefere ignorar as situações dolorosas, cobri-las, escondê-las.
Gastam-se muitas energias para escapar das situações onde está presente o
sofrimento, julgando que é possível dissimular a realidade, onde nunca, nunca,
pode faltar a cruz”.
A oração para pedir o dom das lágrimas, rezada pelos
padres da Igreja para pedir o arrependimento do coração: “Ó Deus onipotente e mansíssimo, que fizeste surgir da rocha uma fonte
de água viva para o povo sedento, fazei brotar da dura natureza do nosso
coração lágrimas de arrependimento, para podermos chorar os nossos pecados e
obter por vossa misericórdia a sua remissão” (Missal Romano edição típica
1962) Pensemos nas lágrimas de Santa Mônica que garantiram a conversão de Santo
Agostinho: A pessoa que, vendo as coisas
como realmente estão, se deixa trespassar pela aflição e chora no seu coração,
é capaz de alcançar as profundezas da vida e ser autenticamente feliz. Assim
pode ter a coragem de compartilhar o sofrimento alheio, e deixa de fugir das
situações dolorosas. Esta pessoa sente que o outro é carne da sua carne, não
teme aproximar-se até tocar a sua ferida, compadece-se até sentir que as
distâncias são superadas. Assim, é possível acolher aquela exortação de São
Paulo: «Chorai com os que choram» (Rm 12, 15).
Saber chorar com os outros isso é santidade!
4
- FELIZES OS QUE TÊM FOME E SEDE DE JUSTIÇA, PORQUE SERÃO SACIADOS
Fome e sede são
necessidades primárias e tem a ver com sobrevivência, mas estes sentimentos têm
a ver também com a justiça e a estes Jesus garante que a saciedade de Deus
chegará. A justiça de Deus não é interesseira, nem tampouco manchada por
interesses mesquinhos, corporativistas, manipulada segundo as vantagens que
pode oferecer a este ou aquele grupo. Não é raro que muitas vezes fiquemos
assistindo impotentes diante das injustiças e nas situações em que alguns
repartem a seu bel prazer o “bolo da vida”.
Jesus recomenda que a busca da justiça de Deus vá se
tornando realidade na vida de cada pessoa e daí se estenda aos mais pobres e
vulneráveis: “justiça com os indefesos: «procurai
o que é justo, socorrei os oprimidos, fazei justiça aos órfãos, defendei as
viúvas” (Is 1, 17).
Buscar a justiça com sede e fome isso é santidade!
5 - FELIZES OS MISERICORDIOSOS, PORQUE
ALCANÇARÃO MISERICÓRDIA
Misericórdia é uma atitude de reciprocidade: Mateus
resume-o numa regra de ouro: “o que
quiserdes que vos façam os homens, fazei-o também a eles” (7, 12). Esta
atitude precisa ser praticada em todas as situações especialmente quando o
assunto entra no campo do juízo moral.
Fazer a experiência da reciprocidade é se aproxima da
perfeição de Deus: “Lucas, já não encontramos «sede perfeitos» (Mt 5, 48), mas «sede misericordiosos como o vosso Pai é misericordioso. Não julgueis e
não sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados; perdoai e sereis
perdoados. Dai e ser-vos-á dado» (6, 36-38). E depois Lucas acrescenta algo
que não deveríamos transcurar: «a medida
que usardes com os outros será usada convosco» (6, 38).
A felicidade não está prometida a
quem planeja vingança, pelo contrário oferece a alegria a quem é capaz de
perdoar até setenta vezes sete. Isso não porque alguém é mais perfeito que o
outro, mas porque todos temos uma multidão de pecados e somos uma multidão de
perdoados. “Não devias tu também ter
compaixão do teu companheiro como eu tive de você” (Mt 18,33).
Olhar e agir com misericórdia: isso é
santidade!
6 - FELIZES OS PUROS DE CORAÇÃO, PORQUE VERÃO
A DEUS
Na bíblia o “coração” é o lugar onde se tomam todas as
decisões e onde moram todas as intenções: “a
pessoa humana vê as aparências, o Senhor vê o coração” (1Samuel 16,7). É
por isso que Deus falar ao coração e se propõe repetidamente a nos dar um “um coração novo” (Ez 36,26). Guardar as
coisas no coração com cuidado é um pedido insistente desde o Antigo Testamento,
Provérbios, 4, 23. “O Pai vê o que está
escondido” (Mateus 6, 6). O Filho também sabe o que há em cada pessoa
humana: “E ninguém precisava falar com
ele sobre qualquer pessoa, pois ele sabia o que cada pessoa pensava” (João
2,25).
É verdade que não há amor sem obras de amor, mas esta
bem-aventurança lembra-nos que o Senhor espera uma dedicação ao irmão que brote
do coração, pois «ainda que eu distribua
todos os meus bens e entregue o meu corpo para ser queimado, se não tiver amor,
de nada me vale» (1 Cor 13, 3). O que torna a pessoa impura é o que sai da
boca vindo do coração (Cf. Mt 15,18). A verdadeira intenção tem mão dupla: ama
a Deus e ao próximo, isso é muito mais do que palavras vazias isso São Paulo
também canta no chamado hino da caridade: “Agora
vemos num espelho confusamente, mas o veremos tal como ele é”(1Cor 13, 12).
E para isso é importante não deixar manchar o coração pela falta de caridade.
Manter o coração limpo isso é santidade!
7 - FELIZES OS PACIFICADORES, PORQUE SERÃO
CHAMADOS FILHOS DE DEUS
Se fizermos uma olhada para o nosso interior e nas
relações de proximidade com outras pessoas e mesmo com as criaturas em geral,
não é difícil perceber como estamos cercados de conflitos, de guerras, de
incompreensões. Muitas vezes é chamado pecado da língua. Quando levamos
intrigas e fofocas para outras pessoas e outros ambientes – em dialeto italiano
– “porta Schiti”. Somos, frequentemente envolvidos no mundo das murmurações e
que não poucas vezes tem por objetivo destruir e não construir a paz.
Pelo contrário, os pacificadores vivem semeando a paz
e a estes disse Jesus: “Serão chamados
filhos de Deus” (Mt 5,9). Não sem razão Jesus enviou os discípulos com esta
recomendação: “Chegando em uma casa,
digam primeiro: A paz a esta casa!” (Lc 10,5). Paz e justiça se abraçarão
já rezava o salmista: “A verdade e o amor se encontrarão, a justiça e a paz
se abraçarão; da terra brotará a fidelidade, e a justiça olhará dos altos céus.
— O Senhor nos dará tudo o que é bom, e a nossa terra nos dará suas colheitas;
a justiça andará na sua frente e a salvação há de seguir os passos seus”. (Salmo 85).
Buscar a paz é um convite e um
desafio feito a todos pois: “pois a
bondade é a colheita produzida pelas sementes que forma plantadas pelos que
trabalham em favor da paz” (Tg 3,18).
Construir a paz evangélica não é uma
tarefa fácil, pois ela não é excludente, ou um projeto para poucos. Trata-se de
ser artesãos da paz, porque construir a paz é uma arte que requer serenidade,
criatividade, sensibilidade e destreza.
Semear a paz ao nosso redor: Isso é
santidade!
8 - FELIZES OS QUE SOFREM PERSEGUIÇÃO POR CAUSA
DA JUSTIÇA, PORQUE DELES É O REINO DO CÉU
Colocar a vida num caminho que vai contra a corrente
habitual da sociedade transforma as pessoas em incômodo. Não são poucos os
perseguidos por esta causa, porém, não há outro caminho: “Quem quiser salvar a sua vida vai perde-la, mas quem gastar a sua vida
por minha causa e pelo evangelho esse vai ganhar”.
É óbvio que nem tudo a nossa volta gira sempre em nosso
favor, seja porque não cooperamos, seja porque as ambições e interesses
mundanos jogam contra nós. São João Paulo II já declarou: “alienada a sociedade que, nas suas formas de organização social, de
produção e de consumo, torna mais difícil a realização [do] dom [de si mesmo] e
a constituição [da] solidariedade inter-humana”.
“A
cruz, especialmente as fadigas e os sofrimentos que suportamos para viver o
mandamento do amor e o caminho da justiça, é fonte de amadurecimento e
santificação”. Pensemos na afirmação dos Atos: “Os apóstolos saíram do conselho muito
alegres porque Deus havia achado que eles eram dignos de serem insultados por
serem seguidores de Jesus” (At 5,41). E São Paulo: “Pois ele tem a dado a vocês o privilégio de servir a Cristo, não
somente crendo nele, mas também sofrendo por ele”. (Filipenses 1, 29).
É importante te claro também que não faltam
perseguições provocadas por nossos próprios erros e por maneiras erradas de
tratar os outros. Ser apóstolo de Cristo hoje implica espelhar-se no modelo das
primeiras testemunhas: “Louvavam a Deus
por tudo e eram estimados por todos e a cada dia Deus o Senhor juntava ao grupo
as pessoas que iam sendo salvas”.
Não ter medo das incompreensões e perseguições: “vocês serão felizes se mentindo disserem todo
o mal contra vocês por causa de mim” (Mt 5,11).
Aceitar os problemas e perseguições do cotidiano,
mesmo que isso nos acarrete problemas: isso é santidade.
O
GRANDE CRITÉRIO DE SALVAÇÃO
O final do Evangelho de Mateus apresenta como
acontecerá os fins dos tempos e põe na boca de Jesus alguns critérios. Entre
eles a prudência – na parábola das dez virgens. Mas o grande critério está
entre no capítulo 25, 35 - 46 conhecido como o juízo final.
A compreensão destas máximas de Jesus deixa mais do
que claro santidade não se resume “revirar
os olhos em suposto êxtase”. São João Paulo II já havia afirmado: “Se
verdadeiramente partimos da contemplação de Cristo, devemos saber vê-Lo
sobretudo no rosto daqueles com quem Ele mesmo quis se identificar”. No documento sobre a
Eucaristia o mesmo Santo toma as palavras de São João Crisóstomo: “Queres honrar o corpo de Cristo com vestes
de seda e vasos de ouro, fazes bem. Mas não esqueça que o mesmo Jesus que disse
isso é meu e isso é meu sangue também disse: tudo o que fizer ao menor dos meus
irmãos foi a mim que você fez. Portanto vai antes vestir quem está nú e dar de
comer a quem tem fome e só depois com aquilo que sobra venha adorar o corpo de
Cristo”. (Vinde ó irmãos adorar...) O juízo final é muito mais do que um
convite a caridade mas projeta luz sobre todo o mistério da vida de Cristo”.
(Chegada do Novo Milênio e a Eucaristia faz a Igreja).
“Sem
comentários, especulações e desculpas que lhes tirem força. O Senhor deixou-nos
bem claro que a santidade não se pode compreender nem viver prescindindo destas
suas exigências, porque a misericórdia é o coração pulsante do Evangelho”.
Claro deve ficar que temos o dever de fazer caridade
assistencial, mas temos o compromisso de colaborar para o estabelecimento de
sistemas econômicos e justos onde a exclusão não tenha lugar.
Obviamente que estas exigências não estão
desconectadas de um relacionamento pessoal com o Senhor, se assim fosse a
Igreja não passaria de uma ONG. A igreja está repleta de uma nuvem de
testemunhas que foram capazes de linkar estas duas realidades. Apenas para
recordar pensemos em São Francisco de Assis, São Vicente de Paulo, Santa Teresa
de Calcutá, Dom Helder Câmara, Dom Luciano Mendes de Almeida. Esses e tantos
outros muito bem souberam conectar: oração, amor a Deus, leitura do Evangelho,
paixão e eficácia no serviço aos pobres.
Algumas ações são indispensáveis, mas em cada região e
em cada tempo as exigências e as escolhas dão um norte para a ação da caridade
(PCE). Vale recordar: O direito de nascer; A dignidade dos que já nasceram; os
feridos pelo narcotráfico; as feridas da eutanásia; os doentes desassistidos,
as diversas formas de escravatura, os jovens fora da escola, a exploração do
trabalho infantil, todas as formas de intolerância, a exploração sexual... Essa
situação foi levantada pelos bispos latino americanos na Conferência de
Aparecida que afirmaram que a pessoa humana: “É sempre sagrada, desde a concepção, em todas as etapas da vida da
existência, até sua morte natural e depois da morte e que a vida deve ser
cuidada em todos os tempos” (Ap 464).
Nenhum ideal de santidade será alcançado se formos
indiferentes nas questões de justiça. Enquanto alguns gastam folgadamente a
reduzem suas vidas às novidades do consumo outros continuam sendo os pobres
lázaros do Evangelho (Lucas 16, 19-31). E os cristãos felizes expectadores
dessa escandalosa cena de exclusão social.
Outras questões emergentes merecem a atenção dos
cristãos: Migrantes e refugiados; Questões de bioética; Cuidados com o meio
ambiente.
Especificamente em relação aos migrantes e refugiados
já advertiu Moisés aos judeus: Algo de semelhante propõe o Antigo Testamento,
quando diz: «não usarás de violência
contra o estrangeiro residente nem o oprimirás, porque foste estrangeiro
residente na terra do Egito» (Ex 22, 20). «O estrangeiro que reside convosco será tratado como um dos vossos
compatriotas e amá-lo-ás como a ti mesmo, porque fostes estrangeiros na terra
do Egito» (Lv 19, 34). Por isso, não se trata da invenção de um Papa nem
dum delírio passageiro. Também nós, no contexto atual, somos chamados a viver o
caminho de iluminação espiritual que nos apresentava o profeta Isaías quando,
interrogando-se sobre o que agrada a Deus, respondia: é «repartir o teu pão com os esfomeados, dar abrigo aos infelizes sem
casa, atender e vestir os nus e não desprezar o teu irmão. Então, a tua luz
surgirá como a aurora» (58, 7-8).
O que mais agrada a Deus: “Poder-se-ia pensar que damos glória a Deus só com o culto e a oração,
ou apenas observando algumas normas éticas (é verdade que o primado pertence à
relação com Deus), mas esquecemos que o critério de avaliação da nossa vida é,
antes de mais nada, o que fizemos pelos outros. A oração é preciosa, se
alimenta uma doação diária de amor. O nosso culto agrada a Deus, quando levamos
lá os propósitos de viver com generosidade e quando deixamos que o dom lá
recebido se manifeste na dedicação aos irmãos”.
“Pela
mesma razão, o melhor modo para discernir se o nosso caminho de oração é
autêntico será ver em que medida a nossa vida se vai transformando à luz da
misericórdia. Com efeito, «a misericórdia não é apenas o agir do Pai, mas
torna-se o critério para individuar quem são os seus verdadeiros filhos». [88]
É «a arquitrave que suporta avida da Igreja». [89] Quero assinalar mais uma vez
que, embora a misericórdia não exclua a justiça e a verdade, «antes de tudo,
temos de dizer que a misericórdia é a plenitude da justiça e a manifestação
mais luminosa da verdade de Deus». [90] A misericórdia «é a chave do Céu”.
Isso já afirmou Santo Tomás de Aquino: “mais do que os atos de culto, são as
obras de misericórdia para com o próximo: [92] «não praticamos o culto a Deus
com sacrifícios e com ofertas exteriores para proveito d’Ele, mas para
benefício nosso e do próximo: de fato Ele não precisa dos nossos sacrifícios,
mas quer que Lhes ofereçamos para nossa devoção e para utilidade do próximo.
Por isso a misericórdia, pela qual socorremos as carências alheias, ao
favorecer mais diretamente a utilidade do próximo, é o sacrifício que mais lhe
agrada». [Summa Theoligiae 93].
Se uma pessoa deseja realmente dar glória a Deus: “é chamado a obstinar-se, gastar-se e
cansar-se procurando viver as obras de misericórdia. Muito bem o entendera
Santa Teresa de Calcutá: «sim, tenho muitas fraquezas humanas, muitas misérias
humanas. (...), Mas Ele abaixa-Se e serve-Se de nós, de ti e de mim, para
sermos o seu amor e a sua compaixão no mundo, apesar dos nossos pecados, apesar
das nossas misérias e defeitos. Se nos ocupamos demais de nós mesmos, não
teremos tempo para os outros” (Cristo nos pobres).
Outro engano da modernidade é o consumo hedonista que
se alimenta dos desejos de diversão e de centrar-se sobre si mesmo. Um dos pecados
da modernidade é o “consumo de
informações superficiais as formas rápidas de comunicação virtual podem ser um
fator estonteante que ocupa todo o nosso tempo e nos afasta da carne sofredora
dos irmãos”
Em síntese: o testemunho dos santos consiste em viver
a regra do comportamento do Juízo final.
(Escuta da Palavra
de Deus... duplas de casal)
IV MEDITAÇÃO
ALGUMAS
CARATERÍSTICAS DA SANTIDADE NO MUNDO ATUAL
Uma das ações muito
valorizadas nas relações humanas e na consecução de objetivos em todos os
setores da sociedade se chama “foco”. E o Papa Francisco nos aponta cinco
grandes manifestações para as quais devemos ter “foco” quando se trata de viver
as bem-aventuranças e o Juízo final.
São elas:
1)
Tolerância, paciência e mansidão
Firmeza interior, permanecer
centrado e firme em Deus que sustenta e que ama: “Com
base em tal solidez interior, o testemunho de santidade, no nosso mundo
acelerado, volúvel e agressivo, é feito de paciência e constância no bem. É a
fidelidade (pistis) do amor, pois quem se apoia em Deus também pode ser fiel
(pistós) aos irmãos, não os abandonando nos momentos difíceis, nem se deixando
levar pela própria ansiedade, mas mantendo-se ao lado dos outros mesmo quando
isso não lhe proporcione qualquer satisfação imediata”.
Esta máxima foi defendida por São Paulo “não paguem a ninguém o mal com o mal.
Procurem agir de tal maneira que vocês recebam a aprovação dos outros. No que
depender de vocês façam todo o possível para viver em paz com todas as pessoas.
Meus queridos irmãos, nunca se viguem de ninguém; pelo contrário, deixem que
seja Deus quem dê o castigo” (Rm 12,17 – 19).
Não
pensemos que isso seja sinal de fraqueza Deus é lento para ira e muito poderoso
para o perdão: “O SENHOR é misericordioso e clemente, lento para a cólera, mas
paciente e generoso em seu amor”
(Salmo 103, 8). E São Paulo pede aos
efésios o que pode ser dirigido a nós: “Abandonem
toda amargura, todo ódio e toda raiva. Nada de gritarias, insultos e maldades.
Não se ponha o sol sobre vossa ira. ” (Ef. 4,31).
Tenham
certeza, “A paz de Deus que supera todo
entendimento guardará seus corações e seus pensamentos em Cristo Jesus” (Fl
4, 6- 7).
Um
dos perigos da intolerância reside no mau uso das mídias e muitas vezes até
católicas em que se ultrapassa os limites e se propaga a difamação e a calunia
que não respeita da fama alheia. Este pecado é a potencialização da reprovação
feita por São Tiago: “A língua é um fogo.
Ela é um mundo de maldades, ocupa o seu lugar em nosso corpo e espalha o mal em
todo o nosso ser. Como o fogo que vem do próprio inferno ela põe toda a nossa
em chamas. O ser humano é capaz de dominar até os animais que se arrastam pelo
chão, mas não é capaz de controlar a própria língua” (Tg 3, 6- 8).
Se
alguém quer ser santo deve-se ocupar menos dos erros alheios, não gastar energias,
mas guardar silêncio sobre os defeitos dos outros isso evita a violência verbal
que destrói e maltrata, porque não se julga digno de ser duro com os outros,
mas os considera superiores a si próprio (Cf. Fl 2, 3).
São
João Crisóstomo bem entendeu as palavras de Jesus: “Mostra-se sempre mais inclinado a aprender com os outros do que querer
ensinar”. E aconselhava a quem queria afastar-se do demônio: alegrando-se
com o bem dos outros como se fosse teu e procurando sinceramente que estes seja
preferido a ti em todas as coisas. Exercite essas coisas sobre tudo em relação
aqueles que te são menos simpáticos.
“A
humildade só se pode enraizar no coração através das humilhações. Sem elas, não
há humildade nem santidade. Se não fores capaz de suportar e oferecer a Deus
algumas humilhações, não és humilde nem estás no caminho da santidade”.
A virtude da humildade foi praticada primeiro por Deus
que amou primeiro e que aceitou que se humilhando caminhou com seu povo
superando todas as suas infidelidades e murmurações. Entregou seu Filho para a
humilhação da cruz.
E se trata mesmo de humilhações cotidianas, como
recomenda São Pedro: “Pois se vocês fazem
o mal e são castigados qual é o merecimento de suportarem com paciência o
castigo? Mas se vocês sofrem por terem feito o bem e suportam esse sofrimento
com paciência, Deus os abençoara por causa disso, pois foi para isso que ele
nos chamou” (1Pd 2,20 -21). Isso não é sinônimo de andar com a cabeça
inclinada, fala pouco, esconder-se da sociedade. Libertar-se do egocentrismo
implica ter a coragem de reclamar justiça e defender os fracos diante dos
poderosos (Violência contra a mulher).
Sem sombra de dúvida humilhação não é algo agradável,
mas é uma virtude que pressupõe um coração pacificado por Cristo que ensinou: “Deixo-lhes a paz, e lhes dou a minha paz.
Não é uma paz como a do mundo” (Jo 14,27).
2
– Alegria e sentido de humor
Ser tolerante, paciente e manso não é necessariamente
cultivar um espírito retraído, melancólico, amargo, tristonho, sumido, sem
energia. O santo é capaz de viver com alegria e sentido de humor. Não perde o
realismo, ilumina os outros com um espírito positivo e rico de esperança. Ser
cristão é alegria no Espírito Santo. A caridade se concretiza na Alegria. É
preciso deixar que Deus nos arranque de nossa concha e mude a nossa vida, de
modo a se realizar em nós o que pedia São Paulo: alegrem-se sempre no Senhor!
(É preferível um triste santo do que um santo triste).
A vinda do messias foi anunciada pelos profetas no
meio da desolação e de toda sorte de sofrimento, que em muito se assemelha às
condições atuais, mas apesar disso eles diziam: “Moradores de Sião, alegrem-se e louvem a Deus, pois o Santo e poderoso
de Israel mora no meio do seu povo” (Is 12, 6); Cantem ó céus e alegre-se ó terra! Montes gritem de alegria! Pois o
Senhor consolou o seu povo; ele teve pena dos que estavam sofrendo” (Is 49
13). E Neemias recomenda: “Não é dia de
luto, pois a alegria do Senhor será a vossa força” (8,10). Tudo isso foi
experimentado por todos os que tiveram oportunidade de compreender a missão de
Jesus: “Então Maria Cantou: A minha alma
se alegra no Senhor” (Lc 1,47); Por onde ele passava a multidão se alegrava
(Lc 13, 17); onde chegavam os discípulos depois da humilhação da cruz, havia
grande alegria (At 8,8). A santidade compreende a palavra de Jesus “Ficarão tristes, mas sua tristeza se
transformará em alegria... e eu lhes disse para que a minha alegria esteja em
vocês e sua alegria seja completa”( Cf. João 15 e 16).
Não há dúvida que existam momentos difíceis e tempos
de cruz, mas nada pode tirar a alegria sobrenatural que “se adapta e se transforma, mas sempre permanece, como um feixe de luz
que nasce da certeza pessoal de que, apesar de tudo, somos infinitamente
amados” (EG 6).
A alegria é acompanhada pelo sentido de bom humor que
viveram São Tomás Moro, São Vicente de Paulo, São Felipe Néri. O mau humor não
é sinal de Santidade, pelo contrário: “Tira
a angústia do seu coração e afasta o mal do teu corpo” (Ecl 11,10). E Timóteo,
“Mas você que é de Deus, fuja de tudo
isso. Viva uma vida correta, de dedicação, de fé, de amor, de perseverança e de
respeito pelos outros. Corra a boa corrida da fé” (1Tm 11,12). Em resumo, é
tanto o que se recebe do Senhor que as vezes a tristeza tem a ver com a
ingratidão, com estar fechados em nós mesmos que nos tornamos incapazes de
reconhecer os dons de Deus (São Tomás Moro).
A santidade com a alegria e sentido de humor tem a ver
com adaptação a todas as circunstâncias: “Sou
uma pessoa livrem não sou escravo de ninguém. Mas eu me fiz escravo de todos a
fim de ganhar para Cristo o maior número possível de pessoas. Quando trabalho
entre os judeus, vivo como judeu, vivo como judeu a fim de ganhá-los para
Cristo. Não estou debaixo da Lei de Moisés, mas, vivo como se estivesse sujeito
a essa lei. Assim também quando estou entre os não judeus, vivo fora da lei de
Moisés a fim de ganhar os não-judeus para Cristo. Isso não quer dizer que eu não
obedeça a lei. Quando estou entre os fracos na fé, eu me torno fraco também a
fim de ganhá-los para Cristo. Assim em tornei tudo em todos a fim de ganhar
alguns a qualquer custo e faço isso por causa do Evangelho” (1Cor 9,11-23).
3)
Ousadia
e ardor
Por sua vez santidade tem
a ver com ousadia, ou seja, algo que deixa marca neste mundo. É preciso
reconhecer que o próprio Jesus caminha ao nosso encontro e continua repetindo:
“Não tenham medo” (Mc 6, 50); Eis que estou com vocês todos os dias até o
fim dos tempos” (Mt 28,20). Reconhecer estas palavras de Jesus nos faz
partir com aquela atitude cheia de coragem que o Espirito Santo suscitava nos
Apóstolos, impelindo-os a anunciar Jesus Cristo. Já havia falado Paulo VI: “O mundo moderno aceita com mais bom grado as
testemunhas do que os mestres e se aceita os mestres é porque eles também são
testemunhas” (Evangelii Nuntiandi). Como é importante pedir sempre a graça
concedida a São Paulo: “Ai de mim se eu
não anunciar o Evangelho” (1Cor 9,16).
Jesus foi uma pessoa empurrada
pela compaixão, dele saia uma força que lhe fazia ir em missão para curar e
libertar. Reconheçamos que também nós somos frágeis portadores de um tesouro em
vasos de argila.
Precisamos
deixar que o Espirito nos impulsione para não nos deixar paralisados pelo medo
e o calculismo, para nos habituarmos a caminhar só dentro de confins seguros. O
que fica fechado cheira mofo e cria ambiente doentio. Os Atos são um testemunho
de vencer o medo e o perigo “Agora,
Senhor, olha as ameaças que fazem, e concede que os teus servos anunciem
corajosamente a tua Palavra... Quando terminaram a oração, tremeu o lugar onde
estavam reunidos. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e anunciavam
corajosamente a Palavra de Deus” (4, 29 – 31).
Sem dúvida muitas vezes podemos nos sentir como Jonas
com vontade de fugir para lugares seguros, que se pode identificar com “individualismo, espiritualismo, confinamento
em mundos pequenos, dependência, instalação, repetição de esquemas
preestabelecidos, dogmatismo, nostalgia, pessimismo, refúgio nas normas”.
Porém, estas mesmas dificuldades podem nos fazer voltar para este Deus que é
ternura e nos quer levar a uma itinerância constante e renovadora. Deus é
sempre novidade, que nos impele a partir sem cessar e a mover-nos para ir mais além
do conhecido, rumo às periferias e aos confins. Deus não tem medo! Jesus
antecipa-Se nos no coração daquele irmão, na sua carne ferida, na sua vida
oprimida, na sua alma sombria. Ele já está lá é verdade precisamos abrir a
porta a Jesus Cristo, porque ele bate e chama (Ap. 3,20). Pensando sob outra
ótica, muitas vezes em nossa autorreferencialidade, pergunto-me se às vezes
Jesus não estará já dentro de nós, batendo para que O deixemos sair.
Outro desafio para a ousadia é o comodismo. Está muito
seguro da maneira como tudo está acontecendo “Já não temos coragem de enfrentar o mal e permitimos que as coisas
‘continuem como estão’ ou como alguns decidiram que estejam. Desafiemos a
habituação, abramos bem os olhos, os ouvidos e sobretudo o coração, para nos
deixarmos mover pelo que acontece ao nosso redor e pelo clamor da Palavra viva
e eficaz do Ressuscitado”.
O mundo e a Igreja estão cercados de uma - nuvem de testemunhas
- “O seu testemunho lembra-nos que a
Igreja não precisa de muitos burocratas e funcionários, mas de missionários
apaixonados, devorados pelo entusiasmo de comunicar a verdadeira vida. Os
santos surpreendem, desinstalam, porque a sua vida nos chama a sair da
mediocridade tranquila e anestesiadora”.
Peçamos ao Senhor a graça de não hesitar quando o
Espírito nos exige que demos um passo à frente.
4
– Em comunidade
“Separados a
gente perde, juntos a gente encontra”. José e Maria podem ser nossos
mestres quando se trata de fazer a experiência da comunhão. Fieis seguidores da
lei de Moisés, cumpriram em relação ao Filho o que estava prescrito: “Quando o menino completou 12 anos, subiram
a Jerusalém para a festa da Páscoa. Terminados os dias de festa voltaram para
casa. Caminharam durante três um pensando que o menino estivesse com o outro.
Quando se deram conta o haviam perdido. Juntos retornaram a Jerusalém e
encontraram o menino no Templo com os doutores...”
É muito difícil lutar contra as próprias fraquezas se
estivermos isolados. Daí uma resposta contemporânea dos grupos de autoajuda, da
literatura de autoajuda. Também no que se refere à santificação ela é um
caminho para se fazer em comunidade. Na história da Igreja não são poucos os
santos canonizados com seus companheiros. “De
igual modo, há muitos casais santos, onde cada cônjuge foi um instrumento para
a santificação do outro. Viver e trabalhar com outros é, sem dúvida, um caminho
de crescimento espiritual. São João da Cruz dizia a um discípulo: estás a viver
com outros «para que te trabalhem e exercitem na virtude”.
“A comunidade é
chamada a criar aquele «espaço teologal onde se pode experimentar a presença
mística do Senhor ressuscitado». [105] Partilhar
a Palavra e celebrar juntos a Eucaristia torna-nos mais irmãos e vai nos
transformando pouco a pouco em comunidade santa e missionária”.
Pensemos no “encontro” narrado por Santo Agostinho
quando conta o dia da partida da sua mãe “próximo
já do dia em que ela ia sair desta vida – dia que Vós conhecíeis e nós
ignorávamos – sucedeu, segundo creio, por disposição dos vossos secretos
desígnios, que nos encontrássemos sozinhos, ela e eu, apoiados a uma janela
cuja vista dava para o jardim interior da casa onde morávamos (…). Os lábios do
nosso coração abriam-se ansiosos para a corrente celeste da vossa fonte, a
fonte da Vida, que está em Vós (...). Enquanto assim falávamos, anelantes pela
Sabedoria, atingimo-la momentaneamente num ímpeto completo do nosso coração
(...) E se a vida eterna fosse semelhante a este vislumbre intuitivo?”
A santidade não é necessariamente de feitos
grandiosos, a vida comunitária, na família, na paróquia, compõe-se de pequenos
detalhes diários. Imaginemos alguns detalhes de Jesus com seus discípulos:
- Vinho que acaba na festa e com a festa;
- A ovelha que estava perdida;
- As duas moedinhas da viúva pobre;
- Reserva de azeite para as lamparinas;
- Um menino com cinco pães e dois peixes;
- Peixe e pão na brasa para a chegada dos discípulos.
Quem é capaz de guardar os pequenos detalhes do amor (Palavras
mágicas que se aprende no primeiro ano de escola) e por meio dos quais os
membros cuidam uns dos outros abre espaço para a santidade. Contra o
individualismo contemporâneo vale de novo a oração de Jesus: “Que todos sejam um só, como tu, Pai, estás
em mim, e eu em ti” (Jo 17,21).
5
– Em oração constante
O santo tem necessidade de se comunicar, e isso tem a
ver com oração, o Santo tem necessidade de se comunicar com Deus. Não acredito
em santidade sem oração, embora não se trate necessariamente de longos períodos
ou de sentimentos intensos.
São João da Cruz falava de andar sempre na presença de
Deus, seja ela real, imaginada ou unitiva, conforme permitiam as obras que
estamos realizando: “procura que a tua
oração seja contínua e, no meio dos exercícios corporais, não a deixes. Quando
comes, bebes, conversas com outros, ou em qualquer outra coisa que faças,
sempre deseja a Deus e prende a Ele o teu coração”.
Obviamente que isso não dispensa algum tempo seu
dedicado a sós com Deus: “Quando orardes entra no teu quarto e fecha a
porta e teu pai que vê o que está oculto te recompensará”.
A oração confiante é uma resposta do coração que se
abre a Deus face a face, onde estão silenciados todos os rumores para escutar a
voz suave do Senhor que ressoa no silêncio – Colocar o coração de molho no
coração de Deus!
Para todo discípulo, é indispensável estar com o
Mestre, escutá-lo, aprender dele, aprender sempre. Se não escutarmos todas as
nossas palavras serão apenas rumores que não servem para nada. Contemplar a
face sem vida de Jesus é uma forma de recompor a nossa humanidade. Tens
momentos em que te colocas em silêncio na presença e permaneces com ele sem
pressa?
Não pensemos no silêncio como evasão do mundo que nos
rodeia, no silêncio não pode desaparecer a própria história. Se deixamos Deus
entrar na história a oração é tecida de recordações da própria vida. Santo
Inácio de Loyola afirmava: “quando nos
pede para trazer à memória todos os benefícios que recebemos do Senhor.
Contempla a tua história quando rezas e, nela, encontrarás tanta misericórdia.
Ao mesmo tempo, isto alimentará a tua consciência com a certeza de que o Senhor
te conserva na sua memória e nunca te esquece. Consequentemente tem sentido
pedir-lhe que ilumine até mesmo os pequenos detalhes da tua existência, que não
Lhe passam despercebidos”.
Dentre as formas de oração que precisamos ter em alta
estima está a oração de petição que muitas vezes tranquiliza o coração e ajuda
a continuar lutando com esperança. A intercessão comunitária expressa o
compromisso fraterno com os outros, quando somos capazes de incorporar nela a
vida deles, as suas angústias mais inquietantes e os seus melhores sonhos. O
encontro com Jesus nas Escrituras nos conduz à Eucaristia, e quando o recebemos
na comunhão, renovamos a nossa aliança com Ele e consentimos que ele realize em
nós sua obra transformadora – AMÉM!
(Como tenho praticado momentos de oração silenciosa
diante do Senhor...)
V MEDITAÇÃO
LUTA, VIGILÂNCIA E DISCERNIMENTO
A vida cristã é uma luta
permanente, é como entrar em campo para uma nova partida todos os dias. Esse
jogo é magnífico porque nos permite cantar vitorias todas as vezes que o Senhor
triunfa em nossa vida. Ele mesmo fez a experiência do triunfo no sucesso dos
discípulos. Quando chegaram contando tudo o que realizaram exultou: “Eu vi Satanás cair do céu, com um relâmpago”
(Lc 10, 17 – 18).
Nos tempos de Jesus muito
facilmente se confundia qualquer doença com possessão demoníaca. Hoje isso
ficou para traz, mas não se pode achar que o demônio não existe. Ele existe
sim, é mais feio do que você pinta, mas também não podemos somatizar seu poder.
Se rezamos o Pai Nosso entendendo o que dissemos, veremos que não é toa que
Jesus fez o pedido: “Livra-nos do maligno”. Ele é um ser, um ente, que não precisa
necessariamente se manifestar em uma pessoa, mas pode nos envenenar com o ódio,
a tristeza, a inveja, os vícios: “anda ao
redor de nós como um leão que ruge, procurando a quem devorar” (1Pd 5 – 8
-11).
Somos convidados a resistir
às ciladas do diabo e apagar todas as flechas incendiadas pelo maligno (Cf. Ef
6, 16). O nosso caminho para a santidade é uma luta que se faz com as armas
mais poderosas que o Senhor nos dá: A fé que se expressa na oração, a meditação
da Palavra, a Missa, a adoração eucarística, as OBRAS DE CARIDADE E A VIDA
COMUNITÁRIA.
Neste caminho, o progresso no bem, o amadurecimento
espiritual e o crescimento do amor são o melhor contrapeso ao mal. Ninguém
resiste, se escolhe arrastar-se em ponto morto, se se contenta com pouco, se
deixa de sonhar com a oferta de maior dedicação ao Senhor; e, menos ainda, se
cai num sentido de derrota, porque quem começa sem confiança, perdeu de antemão
metade da batalha e enterra os seus talentos. (…) O triunfo cristão é sempre
uma cruz, mas cruz que é, simultaneamente, estandarte de vitória, que se
empunha com ternura batalhadora contra as investidas do mal.
O caminho da santidade pede a prudência das pombas e a
esperteza das serpentes e o azeite das lamparinas. Ter o cuidado de não se
considerar melhor do que ninguém e nem tampouco livre dos pecados. Quem acha
que nunca errou vai criando uma espécie de entorpecimento e sonolência e sua
vida espiritual vai se corrompendo.
A corrupção espiritual é pior que a queda de um
pecador, porque a primeira causa cegueira e tudo parece ser licito. A pessoa se
torna autorreferencial quase se disfarça de anjo da luz: “E isso não é de se admirar, pois até Satanás pode se disfarçar e ficar
parecendo um anjo de luz” (2Cor 11,14). No evangelho Jesus fala de uma
pessoa que pensava estar limpa e quando se deu conta estava possuída por outros
setes espíritos malignos (Cf. Lc 11, 24-26).
A busca da santidade exige discernimento o qual deve
ser pedido constantemente ao Espírito Santo, sem o Espírito Santo nos tornamos
facilmente marionetes das tendências de ocasião. (Perca de tempo na Internet).
O discernimento é um instrumento de luta. (Pontos
concretos de esforço) – Trata-se de não colocar limites para o máximo, ao
melhor, ao mais belo, mas também de não pensar pequeno e ficar sempre nos
compromissos de hoje. (Não dar o passo maior que a perna, mas também não se
julgar incapaz de mover os pés).
O discernimento é um dom sobrenatural que não exclui a
sabedoria humana ou as normas da Igreja. Não está em jogo apenas um bem
espiritual, nem a satisfação em realizar algo útil, ou o desejo de ter a
consciência tranquila. Está em jogo o sentido da minha vida. O discernimento
exige predisposição para ouvir: o Senhor, os outros, a realidade que sempre nos
interpelam de uma maneira nova e diferente.
Não se trata de aplicar receitas do passado, nenhuma
solução é válida em todas as circunstâncias e o que foi útil num determinado
contexto pode não ser em outro.
A lógica do dom é a cruz, condição para avançar no
discernimento é educar-se para a paciência de Deus e os seus tempos que nunca
são os nossos. Nenhuma missão supera a que recebemos no batismo até mesmo as
repetidas renuncias que somos obrigados a fazer em cada nova circunstância.
Quando podemos perceber a presença de Deus não há
caminho ou espaço que fique excluído. O discernimento não é uma autoanálise
presunçosa, mas uma verdadeira saída de nós mesmos para o mistério de Deus que
nos chama para o bem de todos.
E na caminhada da santidade Maria é a figura que mais
do que ninguém viveu as bem-aventuranças. Estremecia de Júbilo na presença de
Deus, conservava todas essas coisas no coração que se deixou atravessar pela
espada.
Animeno-nos uns aos outros nesse propósito...
Imaculada....
( Renovação das
promessas matrimonias...)
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