ACOLHER
OS ESTROPIADOS
Não
é difícil perceber como na sociedade contemporânea somos interpelados pelos “cegos
Bartimeus”. São inúmeros os que gritam por socorro que não lhes chega de
nenhuma parte e que pedem misericórdia e piedade. Frequentemente também os
discípulos de Jesus na atualidade mandam silenciar os gritos incômodos de
tantos deixados à margem da sociedade e das comunidades cristãs. Com outras
palavras os excluídos gritam: “Filho de Davi tem piedade de mim”!
A
voz do cego Bartimeu chegou aos ouvidos de Jesus com a mesma intensidade que o
clamor do povo de Israel narrado pelo profeta Jeremias. Diante do sofrimento
daquela comunidade o profeta responde anunciando a atitude de Deus: “Isto diz o Senhor: Exultai de alegria por Jacó, aclamai
a primeira das nações; tocai, cantai e dizei: 'Salva, Senhor, teu povo, o resto
de Israel. Eles
chegarão entre lágrimas e eu os receberei entre preces; eu os conduzirei por
torrentes d'água, por um caminho reto onde não tropeçarão, pois tornei-me um
pai para Israel”. O profeta anuncia a disposição de Deus que age com misericórdia
ante aqueles que foram marginalizados.
A carta aos Hebreus fala
de um profeta: “instituído em favor dos homens nas coisas que se referem a Deus”.
Daquele que foi colocado para estar a serviço de todos a leitura pede apenas
uma coisa: “Sabe ter
compaixão dos que
estão na ignorância e no erro, porque ele mesmo está cercado de fraqueza”.
A carta aos Hebreus é a
forma mais clara de reconhecer que o único e verdadeiro sacerdote é Jesus, o
mesmo que ouviu o grito do cego. Na contramão dos seus conterrâneos e
discípulos Jesus se detém e manda chamar o cego. Ele não resolve o problema daquele
que queria ver, mas aponta um caminho e mostra uma possibilidade: “Jesus lhe perguntou: 'O que queres que eu te faça?' O cego respondeu: 'Mestre, que
eu veja!' Jesus
disse: 'Vai, a tua fé te curou”.
A cura do cego aponta uma
luz no fim do túnel. Ou seja, diante de todas as vozes que clamam por uma
oportunidade de enxergar e sair da marginalidade é importante que os cristãos
sejam capazes de ajudá-los a se aproximar do mestre, encorajar todos e cada um
a jogar o seu manto e ir ao encontro do mestre que pode modificar a sua
realidade.
Viver a fé que recebemos
no batismo consiste em se colocar, de modo corajoso e responsável diante de
todos os fatalismos, fanatismos e egoísmos facilitando que os cegos e
marginalizados encontrem seu caminho e sua luz. De modo que todos possam cantar
com o salmista: “Maravilhas fez conosco o Senhor, exultemos de alegria!
Quando o Senhor
reconduziu nossos cativos, parecíamos sonhar; encheu-se de sorriso nossa boca, nossos lábios, de canções”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário