MUITO ALÉM DA SAUDADE,
CELEBRAMOS A
ESPERANÇA
Hoje, celebramos o Dia de Finados,
uma data marcada pela saudade e pela lembrança dos nossos entes queridos que já
partiram. Entre as tantas belezas da natureza humana, talvez uma das mais
profundas seja essa capacidade de lembrar, de manter viva a memória daqueles
com quem convivemos. E, em nossa língua, temos uma palavra única para expressar
essa emoção: saudade. Ela expressa não apenas a ausência física, mas o desejo
de reencontro, o carinho que permanece.
A saudade, no entanto, no contexto da
nossa fé cristã, vai além da lembrança do passado. Como as leituras de hoje nos
mostram, ela também aponta para o futuro. No livro de Jó (19,1.23-27a),
encontramos a expressão de uma pessoa que, em meio à dor e ao sofrimento,
mantém viva a esperança. Jó clama por um redentor e, em meio à sua tribulação,
profetiza a sua confiança na ressurreição: "Eu sei que o meu redentor está
vivo e, por fim, se levantará sobre a terra". Essa certeza de Jó ecoa no
coração de cada cristão. Sabemos que a morte não é o fim, mas o início de uma
transformação, como rezamos na liturgia: "Para os que creem em Cristo, a
vida não é tirada, mas transformada."
O Salmo 23 também nos convida a essa
esperança, lembrando-nos que somos peregrinos. "Quem subirá ao monte do
Senhor?" Só aqueles de mãos limpas e coração puro. Vivemos na expectativa
de encontrar a face de Deus, de nos unirmos a Ele em sua glória. E é essa
expectativa que nos mantém vigilantes, como nos exorta o Evangelho de Lucas
(12,35-40), quando Jesus nos pede para estarmos sempre prontos, de lâmpadas
acesas, esperando a chegada do Senhor. Ele virá, e nosso encontro será de vida
plena.
Na segunda leitura, São Paulo,
escrevendo aos Coríntios (1Cor 15,20-28), nos recorda da centralidade da ressurreição
em nossa fé. Jesus Cristo ressuscitou, e por meio dele, todos seremos
vivificados. Essa é a nossa esperança e a razão pela qual, hoje, rezamos pelos
nossos entes queridos. Não rezamos apenas por saudade, mas com a certeza de que
eles já estão inseridos nesse mistério de vida nova, de vida eterna.
Assim, queridos irmãos e irmãs, ao
celebrarmos este dia de Finados, lembremo-nos de que a nossa saudade é cheia de
esperança. Não é uma saudade de desesperança, mas de confiança em Deus, que nos
prepara para a vida eterna. Como diz a oração eucarística: "Para os que
creem no Cristo, a vida não é tirada, mas transformada, e desfeita essa morada
terrena, nos é dada uma eterna mansão no céu."
Que esta seja a nossa fé, a fé da
Igreja, que nos sustenta hoje e nos faz caminhar em comunhão com nossos
queridos falecidos, sempre na esperança de um dia nos reencontrarmos na vida
eterna. Amém.
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