segunda-feira, 8 de dezembro de 2025

HOMILIA PARA O DIA 01 DE FEVEREIRO DE 2026 - 4º DOMINGO DO TEMPO COMUM

 

ACOLHER  A SABEDORIA DE CRISTO

A sabedoria paradoxal de Deus que escolhe o que é fraco para confundir o forte, o que é simples para desautorizar o que se julga nobre, o que nada é para reduzir a nada o que se crê absoluto. A liturgia registra que a vocação cristã nasce nesse terreno de humildade: não dá grande importância aquilo que é da carne, nem muitos poderosos ou nobres, mas eleitos para que ninguém se glorie diante do Senhor. Em Cristo, Deus se tornou para a Igreja sabedoria, justiça, santificação e redenção; por isso, “quem se gloria, glorie-se no Senhor”. A comunidade é convidada a considerar a própria pequenez como espaço de graça: menos autopromoção, mais gratidão; menos vanglória, mais louvor. A grandeza que sustenta o povo santo não é a força dos números nem a sedução do prestígio, mas a presença do Crucificado-Glorificado, onde todo poder se desfaz e toda esperança se acende.

No evangelho a comunidade é convidada a subir a montanha com Jesus e ouvir a Carta Magna do Reino: as bem-aventuranças. A liturgia contempla o Mestre que se senta, abre a boca e ensina a felicidade possível neste mundo sob o sopro do Espírito: bem-aventurados os pobres em espírito, os mansos, os que choram, os que têm fome e sede de justiça, os misericordiosos, os puros de coração, os construtores da paz, os perseguidos por causa da justiça. Não é consolo barato, é promessa firme enraizada na fidelidade de Deus: dos pobres é o Reino, os que chorarem serão consolados, os mansos herdarão a terra, os famintos de justiça serão saciados, os misericordiosos alcançarão misericórdia, os puros verão a Deus, os pacificadores serão chamados filhos de Deus, aos perseguidos pertence a Reino. O olhar de Jesus inverte critérios: a felicidade não coincide com o sucesso, o poder e o acúmulo, mas com o coração disponível, a justiça desejada, a misericórdia praticada, a paz construída a duras penas.

Entre o chamado paulino à humildade e a escola de felicidade do Sermão da Montanha, a Palavra indica um caminho de conversão concreta. A Igreja aprende que sua força está no Evangelho vívido: pobreza de espírito que desapega, mansidão que desarma, lágrimas proporcionadas que se tornam intercessão, fome de justiça que move escolhas públicas, misericórdia que cura vínculos, pureza de coração que purifica interesse, paz que se constrói com diálogo e coragem, fidelidade que apoia incompreensões por amor ao Reino. A comunidade é convidada a traduzir as bem-aventuranças em práticas: economia de partilha, linguagem reconciliadora, proximidade com os que sofrem, integridade nas relações e no trabalho, educação dos pequenos para a verdade e para o bem. Ali onde o mundo enaltece o “forte” e o “vencedor”, a assembleia aponta o Cordeiro; e, ali onde as forças faltam, a graça se faz suficiente, para que ninguém se glorie senão no Senhor.

Por fim, a assembleia suplica a graça de viver estas palavras como identidade e missão. Que cada batizado reconheça, na própria pobreza, a possibilidade de acolher a sabedoria que é Cristo; que encontre, nas lágrimas, consolo; na mansidão, firmeza; na fome de justiça, perseverança; na misericórdia, cura; na pureza, visão; na paz, filiação; na perseguição, bem-aventurança. Sustentada pela Eucaristia, a Igreja pede um coração pobre e livre, capaz de ir às periferias com alegria discreta, e de permanecer fiel quando a recompensa não vem. E que, saindo deste celebração, a comunidade leve às ruas o perfume das bem-aventuranças: menos ostentação, mais serviço; menos ruído, mais escuta; menos divisão, mais paz. Então, o mundo verá que a loucura de Deus é mais sábia que os homens, e que a alegria prometida pelo Senhor já floresce no hoje de quem se gloria apenas nele.

 

HOMILIA PARA O DIA 25 DE JANEIRO DE 2026 - 3º DOMINGO DO TEMPO COMUM

 

A CRUZ É O EIXO DA COMUNHÃO

O clamor apostólico da carta de Coríntios pede unidade de pensamento e de coração no nome de Jesus Cristo. Paulo denuncia as facções que se erguem ao redor de nomes humanos — “eu sou de Paulo”, “eu de Apolo”, “eu de Cefas” — e pergunta com soa com firmeza: “Por acaso Cristo está dividido?” A liturgia confirma que a tentativa de absolutizar líderes, estilos e preferências atravessa os tempos e fere o Corpo. A cruz de Cristo, não a eloquência humana, é o eixo que sustenta a comunhão; o Evangelho não se apoia na sedução das palavras, mas na força humilde do Crucificado que reconcilia. A comunidade é chamada a purificar interessados, a renunciar aos rótulos que segregam, a buscar a unanimidade no essencial: a fé no Senhor, o amor fraterno, a missão compartilhada. Onde Cristo é o centro, as diferenças se tornam riqueza; onde o ego se impõe, a graça se perde em disputas estéreis.

No evangelho a assembleia contempla o início do ministério de Jesus na Galileia das nações, terra de sombra visitada pela grande luz. Nela se cumpre a profecia: os que habitavam a região escura veem despontar um novo dia. O anúncio é claro e urgente: “Convertei-vos, porque o Reino dos Céus está próximo.” Em seguida, à beira do lago, o Senhor chama Simão e André, Tiago e João; Eles deixam redes e barca, pai e profissão, para segui-lo. A liturgia percebe a mesma dinâmica que cura a divisão: olhar fixo em Cristo, conversão do coração, aceitação pronta ao chamado. Jesus percorre cidades e povoados, ensinando, proclamando o Evangelho do Reino e curando toda enfermidade e doença: Palavra que ilumina, Boa-Nova que transforma, misericórdia que toca as feridas. O discipulado nasceu desse encontro que reordena prioridades e faz da vida um “seguir”.

Entre o apelo paulino à unidade e a convocação de Jesus às margens do lago, a liturgia propõe um caminho concreto para a comunidade. Converter-se é deslocar o centro: do “meu grupo” para o Corpo de Cristo; do faça-se “meu jeito” para a vontade do Senhor; da competição para a colaboração. A paróquia é convidada a reconhecer e curar fraturas sutis: preferência por ministros e estilos que vira partidarismo, comparações que geram suspeitas, vaidades travestidas de zelo. A medicina é a mesma de Mateus: ouvir o chamado, deixar as redes do orgulho, segui-lo de perto, na liturgia participada, na caridade operosa. Unir mente e coração no nome de Jesus também significa alinhar práticas: conselhos que discernem juntos, ministérios que se articulam, formação comum, oração que intercede uns pelos outros. Assim, a luz que brilhou na Galileia atravessa hoje as sombras das divisões e faz nascer comunhão missionária.

Por fim, a assembleia suplica a graça de viver “um só coração e uma só alma” para anunciar o Evangelho sem vaidade de palavras, mas com a força da cruz. Que cada batizado ouça, neste Domingo, a voz que chama pelo nome e responda com prontidão: deixe as redes da autossuficiência, curvar-se à sabedoria do Crucificado, aprender o ritmo do Mestre que ensina, proclama e cura. Que a comunidade, iluminada pela Palavra, percorra também as “galileias” de hoje: periferias e centros, casas e ruas, escolas e hospitais, levando luz, reconciliação e cuidado. E que, ao escolher Cristo como único centro, possa dizer com verdade: “Não somos de Paulo, nem de Apolo, nem de Cefas; somos do Senhor.” Então, a unidade deixará de ser discurso e se tornará um sinal visível do Reino, para que muitos, atraídos pela luz, encontrem no seguimento de Jesus a alegria e a paz.

 

HOMILIA PARA O DIA 18 DE JANEIRO DE 2026 - 2º DOMINGO DO TEMPO COMUM

 

CONVOCADOS PARA  A COMUNHÃO

A saudação apostólica da Carta de São Paulo funda  a identidade e missão: chamados por Deus, santificados em Cristo Jesus, convocados à comunhão com todos os que invocam o Nome do Senhor. A liturgia confirma que a Igreja não nasce de profundezas humanas, mas do chamado eficaz que envia e consagra para servir. “Graça e paz da parte de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo” derramam-se como dom inaugural sobre a comunidade reunida: graça que cura a insuficiência, paz que reconcilia o disperso e sustenta a caminhada. A assembleia acolhe que a santidade, longe de ser rótulo de elite, é vocação comum: viver no mundo com coração cativado por Cristo, entregando-se ao Evangelho em gestos de fidelidade, mansidão e justiça. A saudação de Paulo torna-se hoje programa: receber para repartir, pertencer para testemunhar, ser povo da graça que faz nascer paz.

À luz do Evangelho de João, a Igreja contempla o Batista que aponta o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. A liturgia se detém no gesto mais simples e mais decisivo: o dedo que indica o Cristo, a palavra que diminui para que Ele cresça, a confissão que devolve a todos o centro verdadeiro. O Cordeiro não é símbolo frágil, mas a força mansa do amor que vence o pecado não esmagando, e sim carregando-o; sua missão é tirar o peso que curva a humanidade, abrir passagem onde a culpa fecha, reconciliar onde a violência divide. O testemunho do Batista é também epifania do Espírito: ele vê o Espírito descer e permanecer sobre Jesus, e por isso sabe que é Ele quem batiza no Espírito Santo. A assembleia aprende que a verdadeira evangelização nasce do olhar que retorna, do Espírito que permanece e da coragem de apontar Jesus sem retenções.

Entre a saudação que convoca à santidade e a indicação do Cordeiro que salva, a homilia chama a comunidade a renovar sua vocação batismal. Santificados em Cristo, os fiéis são enviados a ser “dedo que aponta” e “voz que indica”, para que muitos encontrem o Rosto que liberta: educar para a verdade num tempo de ruídos, praticar misericórdia onde impera a dureza, compartilhar pão e escuta com os que se sentem fora da mesa. A graça recebida se torna trilha de paz quando a Igreja recusa centralidades egoistas e, como João, se alegra em diminuição: ministérios exercidos como serviço, diferenças integradas na caridade, conflitos tratados com paciência e firmeza. O pecado do mundo não se tira com acusações, mas com a oferta do Cordeiro; por isso, a comunidade prefere caminhos de cura: reconciliação nas famílias, justiça no trabalho, cuidado dos pequenos, palavras que saram, presença junto aos feridos.

Por fim, a assembleia suplica viver sob a unção do Espírito que permanece: olhar limpo para reflexão o Cordeiro, coração humilde para apontá-lo, mãos abertas para repartir sua paz. Que a saudação de Paulo — graça e paz — desça sobre cada casa e reordene os começos deste tempo: agendas purificadas, prioridades ajustadas, vínculos fortalecidos. Que, como o Batista, a Igreja saiba dizer: “Eu vi e dou testemunho”, fazendo da liturgia fonte de missão e da missão prolongamento do culto. E que, nutrida pela Palavra e pelo Pão, ela saia deste Domingo com passo leve e firme, para que muitos, ao encontrarem o Cordeiro de Deus no testemunho dos santos de hoje, experimentem a alegria da santidade possível e a paz que só o Senhor pode dar.

 

HOMILIA PARA O DIA 11 DE JANEIRO DE 2026 - BATISMO DO SENHOR

 

JESUS O FILHO AMADO DO PAI!

A confissão de Pedro diante da casa de Cornélio é clara: Deus não faz distinção de pessoas, mas acolhe quem o respeita e pratica a justiça, em qualquer nação. A liturgia contempla a boa-nova da paz por meio de Jesus Cristo — Ele é o Senhor de todos —, cuja história começa na Galileia, após o batismo pregado por João. Ungido por Deus com o Espírito Santo e com poder, Ele passou fazendo o bem e curando todos os oprimidos pelo diabo, porque Deus estava com Ele. A Igreja encontra nesse texto a raiz da sua missão: não fazer distinção, mas abrir-se a todos; não ideologia, mas unção; não triunfalismo, mas serviço que cura. A palavra do Apóstolo registra que o Evangelho é evento: um Deus próximo, um Cristo ungido, um povo enviado, para que a paz alcance casas, ruas e  ultrapasse fronteiras.

No Evangelho a comunidade contempla o Senhor que se aproxima do Jordão e, na fila dos pecadores, pede a João o batismo. O Justo se solidariza com os injustos; o Santo desce às águas dos que buscam conversão; a conformidade do Filho realiza “toda justiça”. Ao sair da água, os céus se abrem, o Espírito desce como pomba sobre Ele, e a voz do Pai declara: “Este é o meu Filho amado, em quem tenho a minha alegria.” A liturgia confirma aqui a epifania trinitária que inaugura publicamente a missão de Jesus e traça a fisionomia da Igreja: povo que vive a partir do céu aberto, caminha sob a unção do Espírito e escuta, acima de todas as vozes, a voz do Pai. O batismo do Senhor revela que a salvação nasce da humildade que desce para erguer, e da obediência que escuta para servir.

Entre a proclamação de Pedro e a manifestação no Jordão, a homilia aponta a vocação batismal da comunidade. Pelo batismo, cada fiel é mergulhado no Cristo e ungido pelo mesmo Espírito, para participar de sua missão de “passar fazendo o bem”: reconciliações que se iniciam, feridas que se tratam, injustiças que se enfrentam, pequenos que se levantam. A Igreja aprende a descer às águas das dores do povo sem medo de se molhar: presença junto aos pobres, proximidade aos enfermos, acolhida aos que chegam, escuta aos que não têm voz. Céus abertos significam esperança ativa; Espírito que significa docilidade que discerne; voz do Pai significa identidade recebida, não fabricada. Assim, a comunidade renova o compromisso de ser sinal de paz sem fronteiras e de justiça que não discrimina, deixando-se conduzir pela unção que cura e liberta.

Por fim, a assembleia suplica a graça de viver sob o selo da Palavra: “Tu és meu Filho amado.” Que cada batizado, lembrando sua pia batismal, reencontre a alegria da filiação e a coragem do serviço; que os ministérios se exercitem com humildade e ardor; que a missão atravesse as periferias geográficas e existenciais. Inspirada pelo testemunho de Pedro e guiada pelo gesto de Jesus, a Igreja pede céus continuamente abertos sobre a cidade: políticas que promovam vida e dignidade, relações pacificadas, trabalho justo, cuidado da criação. E que, nutrida pela Eucaristia, ela saia como Jesus da margem do Jordão para o cotidiano do mundo, levando a unção do Espírito, fazendo o bem, curando os oprimidos, para que muitos escutem, em seu próprio coração, a voz do Pai que chama à paz e à vida nova.

 

HOMILIA PARA O DIA 04 DE JANEIRO DE 2026 - FESTA DA EPIFANIA - REIS MAGOS

 

CAMINHAR COM OS MAGOS

POR ESTRADAS MAIS SEGURAS

Na primeira leitura Isaias descreve a cidade vestida de luz que se ergue ao amanhecer de Deus: “Levanta-te, resplandece, porque chegou a tua luz”. Ao mesmo que as trevas cobrem a terra e a escuridão dos povos, o Senhor desponta sobre os seus com glória que atrai os distantes. Filhos e filhas chegam de longe, corações se dilatam, caravanas atravessam os desertos trazendo ouro e incenso, proclamando os louvores do Senhor. Essa visão não é fuga poética, mas convocação: levantar-se é ato de fé, resplandecer é decisão cotidiana. A comunidade é chamada a começar o ano novo sob este imperativo pascal do Advento cumprido no Natal: erguer-se de quedas, reacender a esperança, abrir as portas para acolher e compartilhar. Onde a luz de Deus é acolhida, o medo perde o domínio e a coragem renasce como serviço, paciência e constância no bem.

No Evangelho a comunidade segue o caminho dos magos, buscadores de Deus que leem os sinais do céu e se põem a caminho, apesar das incertezas e dos Herodes que tentam manipular o sentido. A estrela não elimina a noite, mas orienta passos; Jerusalém oferece caminhos que esclarecem a direção; Belém, a pequena, guarda o Rei grande. Ao verem de novo a estrela, os magos experimentam “imensa alegria”; ao entrar em casa, prostram-se e ao abrirem seus cofres, oferecem o que tem de mais precioso. Na peregrinação ao encontro do Senhor aprendem na escola da coragem: discernem sem engenhosidade, caminham sem paralisar, adoram sem reservas, oferecem sem cálculo. E, avisados ​​em sonho, retornam por outro caminho: a fé que adora gera criatividade e prudência, livrando o ciclo da violência e do medo.

Entre a profecia da luz e a peregrinação dos magos, cada cristão é convidado a renovar a coragem para todos os dias do ano que começa. Coragem não é medo; é docilidade à estrela, fidelidade à Palavra e prontidão para mudar de rota quando Deus indicar. A comunidade é chamada a praticar a coragem mansa que sustenta as pequenas fidelidades: retomar a oração quando tudo distrair, recomeçar a reconciliação quando as feridas latejam, insistir na honestidade quando a tentação da vantagem se apresenta, cuidar dos frágeis quando o cansaço pesa. É coragem para buscar conselhos sábios, para dizer “não” ao que obscurece, para caminhar em comunhão e não à solitária maneira dos próprios caprichos. Como Isaías, a Igreja proclama: levante-se; como os magos, a Igreja se levanta e parte; e como Maria e José, acolhe e guarda o Mistério que dá sentido aos passos.

Por fim, a assembleia suplica que a estrela do Evangelho não se apague diante das contradições do tempo, e que a luz do Senhor cubra os dias do ano novo com discernimento e paz. Que cada família, como casa de Belém, ofereça espaço ao Menino: silêncio, ternura, partilha; e que cada fiel traga seu “ouro, incenso e mirra”: o melhor do trabalho, a oração que sobe, as dores entregues para serem redimidas. Inspirada pelos magos, a comunidade aprende a voltar por “outro caminho”: linguagem reconciliada, escolhas éticas, proximidade com os pobres, cuidado da criação, fraternidade no cotidiano. Assim, a profecia de Isaías se cumpre no hoje: povos atraídos pela luz, corações dilatados pela alegria, louvores que se elevam em gesto e verdade. E a Igreja, começando o ano, caminha com coragem esperançosa, guiada pela estrela do Cristo, até que todos vejam sua glória.

 

HOMILIA PARA O DIA 01 DE JANEIRO DE 2026 - ANO NOVO - DIA MUNDIAL DA PAZ

 

POR UMA PAZ DESARMADA E DESARMANTE

Acolhendo a Palavra neste primeiro dia do ano compreendemos a vitória que o próprio Deus coloca nos lábios de Aarão para proteger sobre o seu povo: “O Senhor lhe abençoe e guarda; o Senhor faça brilhar sua face sobre você e lhe seja favorável; o Senhor volte para o seu rosto e lhe conceda a paz.” Essa tríplice invocação de bênção é um gesto de aliança: Deus se inclina, ilumina, protege e comunica, paz plena que envolve corpo, alma e história. No início de um novo ano, a comunidade recebe o Nome do Senhor sobre ela como identidade e missão: ser povo abençoado e que abençoa, rosto visitado pela luz que reflete luz, coração guardado que se torna guarda para os vulneráveis. A vitória não é fórmula mágica, é compromisso: deixa-se gravar por Deus e passa a escrever, com escolhas concretas, a gramática da paz. Assim, a Igreja começa o tempo que se abre sob o sinal do rosto de Deus que brilha e pacifica.

À luz de Lucas a assembleia se aproxima de Belém com os pastores, encontra Maria e José e o Menino deitado na manjedoura, e aprende a adorar a paz feita gente. O Evangelho mostra a pressa da busca, a simplicidade do sinal, o estudo da Palavra que se cumpre, e, por fim, o oitavo dia em que o Menino é circuncidado e recebe o Nome de Jesus, “Deus salva”. Maria guarda e medita, os pastores glorificam e louvam: ambos ensinam que a paz nasce da contemplação e se espalha pelo anúncio. A circuncisão inscreve no corpo a pertença à Aliança; o Nome revela a missão do Filho: trazer salvação que reconcilia Deus e a humanidade, quebrando inimizades. A liturgia contempla que, com Jesus, a vitória anunciada no livro dos Números ganha rosto: a face que brilha é a do Emmanuel; o favor é sua misericórdia; a paz é sua presença que desarma a violência a partir do coração.

Entre a vitória sacerdotal e o Nome de Jesus, se conecta a mensagem do Papa para o Dia Mundial da Paz, ecoando o apelo a uma paz que não seja apenas ausência de guerra, mas trabalho paciente de justiça, cuidado da casa comum, cultura do encontro, regulação ética das tecnologias e tutela dos mais frágeis. A comunidade é chamada a traduzir a vitória obtida em responsabilidade social: promover o diálogo onde há polarização, tecer alianças intergeracionais, defender a dignidade de cada vida desde a concepção até o fim natural, acolher migrantes com prudência e caridade, educar para a verdade num tempo de desinformação. A luz do rosto de Deus convida a iluminar zonas de sombra: violência doméstica, racismo, fome, corrupção, tráfico de pessoas. O Nome de Jesus inspira a cura das linguagens: abençoar em vez de amaldiçoar, ouvir antes de responder, perdoar como quem foi perdoado. Assim, a comunidade torna-se sinal de uma paz aprendida no presépio e praticada nas ruas.

Por fim, a assembleia suplica: que a vitória de Números desça sobre famílias, governantes e povos, e que o Nome de Jesus seja refúgio e programa de vida. A liturgia pede a graça de uma espiritualidade de Belém: pressa para buscar o Senhor, fidelidade para guardar a Palavra, coragem para testemunhar a boa-nova. Inspirada pelo Papa, a Igreja assume passos concretos de paz: educação para a fraternidade, economia com rosto humano, cuidado dos pobres e da criação, presença reconciliadora nas feridas do bairro e do mundo. Que o Senhor levante sobre o seu povo o seu rosto e conceda paz que cura memórias, repara injustiças, pacifica relações, reconcilia com a própria história. E que, saindo deste Domingo, a comunidade caminhe como os pastores: glorificando e louvando a Deus por tudo o que pegou e viu, tornando-se, no ano que começa, vitória para muitos.

 

HOMILIA PARA O DIA 28 DE DEZEMBRO DE 2025 - FESTA DA SAGRADA FAMÍLIA

 

QUE O SENHOR ABENÇOE E GUARDE

A leitura do livro do Eclesiástico declara que a sabedoria brota do temor do Senhor e se derrama na vida familiar como culto agradável a Deus. Recorda também que honrar pai e mãe é caminho de santidade, tesouro de vitórias, promessa de longevidade e alegria; não se trata de formalidade, mas de atitude que guarda a memória, cura feridas e sustenta o presente. A ternura com os mais velhos, especialmente quando fraquejam as forças, sobe a Deus como incenso, misericórdia para os filhos. A comunidade é chamada a acolher a humildade do discípulo: servir sem humilhar, obedecer sem servilismo, dialogar com respeito, cuidar com paciência. Onde a honra é viva, a casa se torna altar; onde a ingratidão governa, multiplicam-se as ruínas. A Igreja aprende desta leitura que a fé floresce primeiro no território das relações, e que o culto verdadeiro começa no lar.

O Salmo 127(128) faz a assembleia cantar a bem-aventurança dos que respeitam o Senhor e andam em seus caminhos. A liturgia põe nos lábios do povo a promessa de uma vida simples e plena: o trabalho que alimenta, o pão ganho com honestidade, a esposa como videira fecunda, os filhos como rebentos de oliveira ao redor da mesa. Não é um idealismo romântico, mas uma visão bíblica da casa que se deixa ordenar pela Palavra e se abre ao dom. A benção que desce de Sião alcança o cotidiano, visita as relações, fortalece a cidade, gera paz para Israel. A comunidade aprende a ver a mesa como lugar de aliança, o trabalho como participação na obra do Criador, a fecundidade como serviço à vida e à esperança. Quem teme o Senhor não escapa da luta, mas encontra sentido, justiça e alegria no meio dela.

Entre a sabedoria do Eclesiástico e o canto do Salmo, a Palavra convida a reerguer a vocação da família como santuário da vida e escola de comunhão. Honrar pai e mãe, hoje, significa também cuidar de suas vulnerabilidades, ouvir suas histórias, reconciliar memórias feridas, agradecer o legado recebido; e, para os pais, significa educar com firmeza e doçura, sem provocação, cultivando presença e exemplo. A mesa compartilhada torna-se exercício de justiça: repartir o pão, o tempo, a atenção, o perdão; proteger os pequenos, acolher quem chega, integrar os que estão à margem. A comunidade é enviada para sustentar casais em dificuldade, acompanhar idosos e doentes, fortalecer vínculos dilacerados pela pressão e pela economia do compromisso. Assim, a casa se torna a primeira paróquia, e a paróquia, casa ampla onde cada família encontra apoio, sentido e missão.

Por fim, a assembleia suplica a graça de viver a humildade que o Eclesiástico recomenda: “Quanto crescido você for, mais será capaz de compreender a humilhação, e encontrará graça diante do Senhor”. Que cada lar aprenda a linguagem do louvor e do pedido de perdão, e que o respeito ao Senhor ordene escolhas, palavras e afetos. A liturgia pede vitória sobre o trabalho de cada mão, serenidade para as provas, paciência para os processos, fecundidade para o amor. Que o Senhor, de Sião, abençoe a cidade e conceda ver a paz enquanto durarem os dias; que cada família, sustentada pela Eucaristia e pela Palavra, seja sinal da bem-aventurança cantada no Salmo e da sabedoria vivida em casa. E que, saindo deste Domingo, a Igreja leve ao mundo o perfume de lares que honram, servem e edificam, para que muitos encontrem no temor do Senhor a alegria de viver.