sábado, 17 de outubro de 2009

ETICA E MORAL VIII

VII - ÉTICA PESSOAL


Já foi dito anteriormente que a consequência de um comportamento ético na vida pessoal será pré-requisito para a vida pública e profissional. Neste ponto parece importante destacar alguns aspectos da ética pessoal.

Um primeiro dado se refere à sexualidade que é uma das primeiras descobertas que o ser humano faz de si mesmo. Isto é, ele se descobre um ser sexuado portador de uma energia que aponta para a comunicação com o outro. Daí que a sexualidade humana se revela, em primeiro lugar, como um símbolo que torna possível o encontro entre seres conscientes e livres e, assim, é o espaço para a conquista da personalização e da integração entre as pessoas, quer em nível afetivo, quer em nível social. Nesta perspectiva, a sexualidade se apresenta como caminho privilegiado para a relação com Deus, uma vez que seu sentido mais profundo é o amor. Quando o egoísmo comanda a sexualidade, ela nega sua orientação mais profunda e leva a pessoa a se fechar aos outros e a Deus.

A sexualidade humana é uma realidade muito rica, dotada de muitas dimensões: genética, hormonal, biológica, afetiva, social, cultural, política, religiosa... Por ser tão fundamental na vida humana, é trágico quando ela é instrumentalizada na direção da alienação. A absolutização de uma de suas dimensões, como por exemplo, a do prazer, pode ser mecanismo que fere a dignidade da pessoa afastando-a de um engajamento na solução das grandes questões que marcam a vida social. Campanhas abortivas e antinatalistas provém, às vezes, de uma concepção ideológica que reduz a problemática social à questão da fertilidade das famílias pobres.

Neste caso, a sexualidade como fato humano não pode ser reduzida à genitalidade nem desligada quer do prazer de viver quer da sociedade. Ela diz respeito à globalidade da vida pessoal e social. Somos individual e socialmente sexuados (Cf. Doc. da CNBB – Ética Pessoa e sociedade – 161 – 168).

Os bispos, em Aparecida reafirmaram a preocupação da Igreja com a mudança de época e a dissolução da concepção integral do ser humano e sua relação com Deus. A afirmação é categórica: “Quem exclui Deus de ser horizonte, falsifica o conceito de realidade e só pode terminar em caminhos equivocados e com receitas destrutivas. Surge hoje, com grande força, uma sobrevalorização da subjetividade individual. Independentemente de sua forma, a liberdade e a dignidade da pessoa não são reconhecidas. Deixa-se de lado a preocupação pelo bem comum para dar lugar à realização imediata dos desejos dos indivíduos, à criação de novos e muitas vezes arbitrários direitos individuais, aos problemas da sexualidade, da família, das enfermidades e da morte”.

Pedem igualmente, nossos pastores que a educação católica contemple as novas formas educacionais do nosso continente, que aparecem centradas prioritariamente na aquisição de conhecimentos e habilidades denotam um reducionismo antropológico, visto que propiciam a inclusão de fatores contrários à vida, à família e a uma sadia sexualidade. Dessa forma, não manifestam os melhores valores dos jovens nem seu espírito religioso; menos ainda lhes ensinam os caminhos para superar a violência e se aproximar da felicidade, nem os ajudam a levar uma vida sóbria e adquirir atitudes, virtudes e costumes que tornariam estável o lar que venham a estabelecer, e que os converteriam em construtores solidários da paz e do futuro da sociedade (Cf. Ap 44 328).

(Outros temas de ética poderiam ser incluídos na reflexão como a questão das células tronco; dos fetos com má formação cefálica; o uso da internet; a preservação do meio ambiente, as questões de saúde pública...)

Concluímos sugerindo a leitura do número 65 do documento de Aparecida que apresenta como uma indignação ética, a realidade latino americana na qual os excluídos não são somente explorados, mas supérfluos e descartáveis.

ETICA E MORAL VII

VI - ÉTICA PROFISSIONAL


Ninguém duvida que o ser humano é um ser social e que portanto sua atuação tem necessariamente uma relação muito estreita com o bem comum. Decorrente desta compreensão, o exercício de qualquer profissão deve submeter-se a normas éticas. No contexto de uma sociedade marcada pela modernidade e sempre maior valorização da competência e da técnica facilmente o ser humano corre o risco de ser descartável por conta das condições de produtividade que a sociedade exige. A formação ética precisa fazer parte de todas as etapas de formação do ser humano em todos os níveis e condições.

Neste item também o diretório nacional de catequese aponta como um das responsabilidades do catequista de quem pede que seja para a comunidade um modelo de mestre e servidor e no tocante à ética profissional pede que o catequista seja uma “pessoa que sabe ler a presença de Deus nas atividades humanas. Descobre o rosto de Deus nas pessoas, nos pobres, na comunidade, no gesto de justiça e partilha e nas realidades do mundo”.

A fé, no seu conjunto, deve enraizar-se na experiência humana, sem permanecer na pessoa como algo postiço ou isolado. O conhecimento da fé é significativo, ilumina a existência e dialoga com a cultura; a liturgia, a vida pessoal é uma oferta espiritual; a moral evangélica assume e eleva os valores humanos: a oração é aberta aos problemas pessoais e sociais (Cf. DNC 265).

Por sua vez o documento de Aparecida condena a exploração irracional que vai deixando um rastro de dilapidação, inclusive de morte por toda a nossa região. Atribui esta situação ao atual modelo econômico que privilegia o afã pela riqueza acima da vida das pessoas e da natureza. E afirma que “é necessário trabalhar por uma cultura de responsabilidade em todo nível que envolva pessoas, empresas, governo e o próprio sistema internacional” (Cf. Ap 473 e 406b).

ETICA E MORAL VI


V - ÉTICA PÚBLICA


Esta esfera da ética diz respeito à condução da coisa pública a responsabilidade da coletividade e dos organismos com relação ao bem comum. Trata-se de uma responsabilidade política. Sua esfera está ligada às questões de violência e desrespeito pela vida, desvio e mau uso do dinheiro público, abuso do poder econômico, corrupção fiscal e poder dos meios de comunicação social.

Uma correta interpretação desta esfera ética exige estabelecer uma correta relação entre o que é público ou particular. Em resumo trata-se de trabalhar pelo bem da cidade ou da “res” (coisa) pública. Nesta esfera encontra-se a preocupação com a ética na política, posto que esta é atividade primeira de cuidado com os bens alheios. Uma das primeiras atitudes que se espera dos homens públicos - quer sejam eles políticos, administradores, juristas, eclesiásticos – será falarem uma linguagem acessível e compreensível por todos. Infelizmente a questão da verdade e da mentira tem sido uma constante no exercício dos cargos políticos. Outra face da ética pública se apresenta na qualidade dos serviços prestados pelos órgãos públicos, ao mesmo tempo em que se espera justa remuneração dos servidores na contrapartida pede-se qualidade dos serviços.

O documento de Aparecida trata da ética pública sob o ponto de vista da concentração de riquezas e condena toda forma de desenvolvimento que se resuma a concentração de riquezas e não leve em conta a solidariedade. Por outro lado o documento valoriza todas as iniciativas que promovam projetos geradores de melhores condições de vida e de respeito à dignidade da pessoa, do ambiente em que ela viva e se orienta para o bem comum (Cf. Ap 69 e 122). Os bispos recordam ainda as palavras do Papa João Paulo II falando sobre a opção preferencial pelos pobres: “converter-se ao Evangelho para o povo cristão que vive na América, significa revisar todos os ambientes e dimensões de sua vida, especialmente tudo o que pertence à ordem social e à obtenção do bem comum”(cf. Ap 391).

Segundo os bispos latino americanos uma das faces da ética pública é a tarefa irrenunciável do poder público e da iniciativa privada para gerar empregos dignos, facilitar a democracia, promover a aspiração a uma sociedade mais justa e uma convivência cidadã com bem estar e em paz (Cf. Ap 404).

O diretório nacional de catequese aponta como uma das tarefas da catequese iniciar os cristãos para vivenciar e assumir conscientemente o compromisso e dar as necessárias respostas para a renovação da Igreja e a transformação da realidade. Para que isso aconteça os catequistas precisam de confiança em Deus e coerência entre fé e vida e fortaleza para acolher as mudanças que são necessárias na caminhada da sociedade e na sua vida pessoal (Cf. DNC160).
Dentre as iniciativas mais significativas dos últimos tempos pela valorização da ética na política pode-se destacar o empenho da Igreja em parceria com outros organismos da sociedade pela aprovação da lei 9840 – contra a corrupção eleitoral e agora a recente campanha pela “ficha limpa”.

Os meios de comunicação social não ficam alheios da sua responsabilidade de promover o bem e a cultura da solidariedade dada a sua grande influência e credibilidade junto a todas as camadas da sociedade.

ETICA E MORAL V

IV - VALORES A SEREM CULTIVADOS COMO
CONSEQUENCIA DA CONSCIÊNCIA MORAL


Chegamos a concluir que moral e ética são valores que precisam ser construídos a partir da própria da pessoa, tendo como juiz a sua consciência. Enumeramos 10 valores que parecem ser indispensáveis para a efetivação de um comportamento moral.

1. Justiça

Aristóteles, pensador grego, afirmou que é “o hábito, segundo o qual, com constante e perfeita vontade, se dá a cada um o que lhe pertence de direito. É um hábito que vai sendo adquirido no dia a dia”. Alguns questionamentos surgem desta compreensão, tais como: O que é do outro ou o que lhe pertence? Qual a medida ou qual o critério para dar algo ao outro? Como estabelecer a igualdade para satisfazer as exigências deste “dar”?
Existem algumas maneiras superficiais de conceber a justiça. Algumas situações o tipo cumprir aquilo que é legal. Isto é básico. A forma mais profunda se estende a promover direitos fundamentais do ser humano. (vida, liberdade, segurança, verdade, felicidade, honra, dignidade, etc...). A justiça é a mãe de todas as virtudes o ser humano justo se preocupa não só com o bem dos outros, mas também com o outro como ser humano. Entre outros comportamentos morais que merecem ser mencionados podemos destacar, por exemplo: evitar a poluição; preservar o meio ambiente; cortar boatos prejudiciais à fama e ao bom nome de alguém; promover a concórdia entre as pessoas. Sob esta ótica a justiça é o tesouro mais nobre da pessoa. Platão nos deixou a seguinte máxima: “Quem comete uma injustiça é sempre mais infeliz que o injustiçado”. E Demócrito: “se sofreu uma injustiça console-se; a verdadeira infelicidade é cometê-la”.

2. Honestidade

É a coroa imediata da justiça; é consideração pelas boas ações; é um sentimento de valorização do brio e a coragem dos deveres cumpridos alimentados por um ideal moral. A pessoa pode ser considerada honesta não porque age segundo o preceito “de todo mundo faz assim” o que pode ser caracterizado com uma “Maria vai com as outras”. É honesta a pessoa que cumpre horário porque tem consciência da importância de tal comportamento; não se deixa corromper com propinas; não invade a privacidade alheia.
Antes e acima de tudo agir com honestidade implica em garantir e respeitar a dignidade humana seja em relação a si mesmo, seja em relação aos demais. A honestidade exige uma constante luta em prol de valores nobres e elevados. Uma pessoa que age com honestidade pode perder oportunidade de enriquecimento ilícito como condição para viver na paz da consciência. Outro filósofo importante para ser recordado aqui se chama Enéas: “aprende comigo a virtude e o trabalho honesto”.

3. Liberdade

Esta pode ser entendida como a possibilidade de poder fazer ou deixar de fazer alguma coisa, ou com a capacidade de dominar a vontade. Num sentido moral como capacidade de escolher os melhores meios para a própria realização como pessoa. Liberdade não pode ser confundida como eximir-se de coisas, mas de caminhar para coisas; isto não é sinônimo de fazer o que quer, mas o que deve em função de realizar-se como ser humano. Sartre nos legou uma frase sábia: “Somos condenados a sermos livres”.
Somente com esta compreensão superamos a falsa interpretação individualista: “minha liberdade termina onde começa a do outro”. Os seres humanos não são objetos justapostos. Eu só sou livre se o outro for livre comigo; ela é uma construção coletiva; deve existir uma rede de relações que se preocupa com a realização dos demais que com ele convivem. Um filósofo francês afirmou: “a liberdade consiste em obedecer à lei da consciência”. O elenco de normas elaboradas por um indivíduo serão, efetivamente, libertadoras na medida em que todos cresçam em dignidade e em felicidade.

4. Responsabilidade

O pensador irlandês Bernard Shaw afirmou que “Liberdade significa responsabilidade; é por isso que muitos tem medo dela”. Ser responsável é responder por seus atos assumindo as consequências de suas escolhas, mesmo com dificuldades e sacrifícios: o responsável cumpre suas obrigações não porque outros estão lhe vigiando, mas porque descobriu um valor naquilo que está fazendo. Ser responsável significa repetir todos os dias aquele sim que vai construindo a liberdade à qual tem como base a coragem, a lealdade e a transparência. A responsabilidade impõe cuidados aquele que cultiva este valor procura saber o que faz e porque faz. Churchill fez a seguinte afirmação: “a responsabilidade é a ferramenta necessária para atingir a grandeza humana”.

5. Respeito

A primeira exigência que o respeito impõe é de prestar atenção ao outro como ser humano com suas demandas e características próprias, é saber admirar o que é diferente na diversidade das pessoas, por ele se estabelece a aceitação de cada pessoa evitando a coisificação. O respeito leva a valorizar a pessoa na condição que ela é, e não na condição que está. (negro, porque é negro, branco, porque é branco, católico porque é católico). Ultrapassa os rótulos como gerente, coordenador, secretário, professor, ministro, etc... O respeito enriquece as diferenças por ele, os preceitos serão percebidos como idiotices. Cultivando esta virtude a pessoa perceberá que existem coisas muito mais importantes do que a preocupação com fofocas, boatos, desprezos, indiferenças, discussões bobas, etc...
O Filósofo francês Rosseau afirmou: “O primeiro passo para fazer o bem é não fazer o mal”. E outro filósofo espanhol: “Desconfio do respeito de um homem com seu amigo e sua bandeira quando não o vejo respeitar o inimigo ou a bandeira deste”. E ainda o inglês Gardner: “Se respeitar as pessoas como elas são, você pode ser mais eficaz ajudando-as a se aperfeiçoarem”.

6. Veracidade

Esta é a expressão da verdade que brota da sinceridade que vem do interior das pessoas. Cultivar a veracidade é importante para evitar o falso testemunho e o perjúrio que contribuem ou para condenar um inocente ou inocentar um culpado, é triste este comportamento entre colegas de trabalho que estabelece uma concorrência desleal. Por esta virtude o indivíduo terá em alta estima o respeito pela reputação alheia, evita o juízo temerário que admite como verdadeiro, sem fundamento suficiente, um defeito moral do próximo. Aquele que cultiva a veracidade faz evitar a calúnia que prejudica o bom nome dos outros e dá ocasião a falsos juízos a respeito deles. A prática da veracidade exclui a bajulação, a adulação ou complacência. É muito deprimente o “puxa-saquismo”, a fanfarronice e a depreciação alheia. No que concerne a este princípio se aplica a palavra de Jesus “Seja o vosso sim, sim e o vosso não, não” (Mt 5, 37); “não julgueis para não serdes julgados” (Mt 7,1), ou as palavras do sábio “não louves alguém por sua aparência formosa e nem desprezes quem é deforme em seu exterior” (Ecl 11,2); “quem é sábio nas palavras progride na vida” (Ecl 20, 29).

7. Confiança

É a adesão ás manifestações de outro, é um ato de inteligência a mando da vontade; a pessoa do outro merece apreço, valor e dignidade. A confiança é a base do relacionamento humano. Compreender que cada indivíduo é uma fonte de conhecimentos que deve ser respeitado pelos demais a fim de que aconteça a harmonia da convivência. A confiança pode ser comparada a um salto no escuro e nisto se realiza uma beleza de extraordinária grandeza. Quem confia pode errar, quem não confia já errou, a virtude da confiança espelha humildade, revela o indivíduo que em vez de construir muros, constrói pontes com os outros à custa de gastar tempo, ouvir, tolerar, ajudar a ser ajudado. A confiança é uma atitude que aceita a lealdade, a sinceridade, a franqueza, a integridade, a bondade, a pureza e a benevolência.

8. Disciplina

Tem uma dupla dimensão, do ponto de vista pessoal interessa a cada pessoa e no tocante às relações fomenta o respeito mútuo entre as partes cujo objetivo é garantir a satisfação de todos. Se constitui num processo dinâmico que tem sua origem na própria pessoa e na sociedade. A disciplina faz parte da vida como um todo e não é algo superficial e transitório. Como afirmam os textos de Provérbios 12, 1: “aquele que ama a disciplina, ama a ciência”; 15,32: “aquele que rejeita a disciplina, despreza sua alma”, 9,12: “conserva a disciplina e ela te conservará”.

9. Solidariedade

A raiz da palavra significa “dar a quem está só”. Esta atitude implica numa relação de responsabilidade com a pessoa que se encontrando numa situação difícil não pode sair sozinha. Isto pode ser na condição de quem precisa de uma mão estendida, um ombro pra chorar, um conselho, a indicação de um caminho. Praticar a solidariedade é estabelecer uma assistência recíproca. Ela brota da percepção que o mal do outro que está só pertence à coletividade e é dever desta combatê-la. Pela prática desta virtude o indivíduo percebe que o sofrimento alheio é também seu. Neste sentido se aplica a frase do político suíço Secrétan: “O bem será doravante o de nos querermos e nos concebermos como membros da humanidade. O mal será nos querermos isoladamente, nos separarmos do corpo do qual somos membros”. A verdadeira solidariedade como valor moral consiste em ajudar a pessoa a resolver por si mesma seus problemas; assim ela sentir-se-ia mais gente, com mais dignidade e poderia participar mais da própria sociedade. Cabe ainda a expressão de Luther King: “ou nos damos as mãos ou morreremos todos como idiotas”.

10. Espiritualidade

Esta virtude consiste em acreditar que a vida humana não se explica nas realidades materiais; ela se mostra pelo desejo que o homem tem de sempre se transcender, de viver mais, de querer mais, de atingir o absoluto. Mesmo quem não aceita nenhuma resposta já dada, continua no fundo do seu ser à procura de uma luz. Existe um infinito dentro de cada um que quer fazer-se ouvir, que quer dialogar, que quer ajudar a pessoa a encontrar-se melhor consigo mesma. Espiritualidade sugere religião, mas nenhuma religião por si satisfaz plenamente o ser humano, as religiões são meios para que a pessoa se encontre melhor com Deus, consigo mesma, com os outros e com o mundo.
O ser humano enquanto trabalha com motivação cria uma espiritualidade para viver seus valores, bem como a ausência desta enfraquece a vontade. Ela consiste na capacidade de abrir-se, saindo do seu mundo pequeno e individual. O certo é que os valores deste mundo passam o que permanece é o que foi cultivado no caminho de encontrar o absoluto.
Infelizmente nossa sociedade carece de valores e comportamentos morais que transformem as relações humanas em condições de promotoras de costumes morais e de princípios éticos.
A amplitude deste tema exigiria uma reflexão mais apurada sobre os pontos acenados até aqui. Todavia, o limite de tempo e de espaço deste texto impede maior profundidade. Diante disto basta indicar alguns princípios básicos de ética e moral a partir de três esferas das relações humanas, a saber:

a) Ética pública
b) Ética profissional
c) Ética pessoal

ETICA E MORAL IV

III - A CONSCIÊNCIA CRÍTICA NAS PESSOAS
E NAS RELAÇÕES

O ser humano é um ser social. Ele produz a sociedade e nela se situa de forma crítica. Estabelece em relação a ela um processo de legitimação e de controle que é ao mesmo tempo uma terapia que pode ser melhor explicada nos seguintes tópicos.

1 – Necessidade de consciência crítica
Consciência é a presença que a pessoa tem de si mesma e das realidades que a rodeiam. Em outras palavras conhece seu texto e seu contexto. Em se tratando de ética consciência pode ser definida como capacidade de discernir entre o bem e o mal. No decorrer dos seus dias a pessoa vai formando critérios que fundamentam suas decisões éticas.
Consciência psicológica e consciência ética se completam, quanto mais a pessoa tem noção de si e das suas realidades, mais adequados serão seus juízo crítico e sua realização pessoal. Tratar da consciência crítica significa estabelecer um dinamismo constante que pode ser interpretado como peneira, purificação, limpeza. A consciência crítica não é uma estrutura abstrata, nem uma entidade teórica, mas consiste numa prática.
Cada pessoa está imersa em mecanismos que sustenta na sua base social o modo de pensar, valorizar e agir de grupos humanos. Por conta disto a pessoa pode ser levada a agir como ‘massa’. Esta é mais uma razão para estar atenta reflexivamente ao meio em que vive.
Vivemos num círculo ideológico que racionaliza e operacionaliza objetivos parciais, reduzindo, setorizando, discriminando e distorcendo a realidade; criam-se palavras-chaves, em nome das quais tudo encontra justificativa.
A consciência crítica visa quebrar estas ambiguidades a fim de cada pessoa se perceba como construtora de sua sociedade e não simples tarefeira.

2 – Condições para a consciência crítica se desenvolver

a) Abertura intelectual - que é também a capacidade de questionar se a prática não está defasada em relação à teoria. A abertura intelectual é favorecida pela experiência com o diferente, a mesma prática muitas vezes dá sensação de segurança e de ordem. É muito importante que um indivíduo tenha contato com outro de modo a conhecer formas diversas de viver a mesma realidade. Esta atitude levará necessariamente a adquirir uma nova compreensão de si mesmo.
A abertura propicia reconhecer que as verdades sofrem contínuas releituras e reinterpretações. É mais do que compreensível que como a realidade exige o sentido cumulativo em que as verdades são superadas sempre surgindo algo de novo junto com aquilo que permanece de velho. (O Reino de Deus é como um pai que tira do seu tesouro coisas novas e velhas).

b) Segurança afetiva – Cada indivíduo vai construindo sua auto-segurança assimilando dentro de si mesmo novidades e diferenças. A afetividade, de certo modo, impede a abertura da inteligência para a crítica da realidade; é o caso de pessoas que afirmam ‘já faz trinta anos que trabalhamos assim na empresa, para que mudar?”ou “em time que está ganhando não se mexe”. Aqui a lógica do convencimento esbarra contra a lógica do sentimento: por isso as pessoas que propõem mudanças devem ser percebidas como alguém que quer o bem dos outros e que suas propostas são um enriquecimento de segurança e não uma ameaça à mesma. Isto, por exemplo, pode se verificar quando é necessário transferir alguém de setor ou de função – flexibilidade.
c) Saber lidar com o imprevisto - A consciência crítica, pode nos colocar em situações que exijam ações bem diferentes para o bem do ser humano, o chamado ‘próximo’. Caso típico é a parábola do bom Samaritano. – emergência. Ora, quantas vezes não acontecem imprevistos de muito menor monta que, porém, não são levados em conta, colocando em perigo saúde, relacionamento e outros valores humanos? Por exemplo, uma pessoa sofre um ‘mal estar súbito’. Problema dela, não posso deixar o que estou fazendo. Alguém chegou atrasado para a missa – nem me interessa o problema não é meu. A vivência ética deve colocar o ser humano com sua real necessidade acima de tudo.

ÉTICA E MORAL III

ÉTICA E MORAL
(sequencia do texto três peneiras de Sócrates)

Feita esta introdução é necessário situar a questão da moral no contexto da consciência crítica e sob uma ótica mais ampla do que ela própria.
Tratar de ética em qualquer área do comportamento humano, é correr o risco de reduzi-la a normas e condutas morais, muitas casuísticas e reducionistas. Vamos tratar da questão a partir daquilo que fundamenta toda a problemática da ética no conjunto das relações humanas. A fundamentação da disciplina tem suas raízes na filosofia mãe de todos os questionamentos e procura de soluções.
Longe da filosofia a ética se torna temerosa e sem perspectiva correndo o risco de se perder no emaranhado das outras disciplinas. A filosofia nos ajuda a superar uma visão reducionista e imediatista da ética que acaba sendo até mercantilista por que reduzida a receitas comportamentais e de satisfação do mercado.
De uma coisa todos estamos absolutamente certos: não existe ética na empresa, na contabilidade, na política, nos negócios, no marketing, no trabalho, na Igreja, na família sem ética pessoal. Deste modo, falar de ética é falar da pessoa humana, que é o maior valor em qualquer relação.
Mas quem é o ser humano? Ou o que é o ser humano? O homem sendo igualmente um ser social é o que concretiza as relações. As relações se dão no homem, com ele e como ele. Por isso tratamos deste ‘ser social’ com um olhar filosófico. Para isso partimos do princípio Aristotélico: ‘A filosofia é a ciência das últimas causas’. Então nossa pergunta aqui não é aquela fundamental que todos nos fazemos: ‘Quem é o homem?’ senão ‘Quem é o ser humano na sua relação com?
Ao longo da história muitas respostas foram dadas para esta pergunta, a qual continua não satisfeita.
1.0 – Quem é o ser humano?
Bíblia – Imagem e semelhança de Deus!
Aristóteles – Animal racional; um ser social na sua própria natureza!
Protágoras – É o centro de todas as coisas!
Plotino – (205 AC Egito) – É um ser situado entre os deuses e as feras!
Escoto (Irlandes 800) – É a oficina de todas as criaturas!
Pascal - É um caniço pensante e que é além de si mesmo!
Lametre – É uma máquina!
Malreaux (escritor francês + 1976) – É um ser que sonha ser Deus!
Heidegger (Alemão + 976) – É pastor de si mesmo!
Sartre ( Filósofo francês, existencialista e materialista) – É para si mesmo tudo, mas tudo é absurdo e paixão inútil!
Goethe (Filósofo alemão do século XIX) – Quanto mais se sente homem, mais é semelhante aos deuses!
Kant – (Escocês, idealista, 1680) – É um cidadão de dois mundos!
Nietzsche (Existencialista alemão) – É um cabo entre o animal e o super homem, um campo sobre o abismo!
Hobbes – O homem nasce hostil à sociedade, é lobo do próprio homem!
Rosseau – É bom por natureza, mas a sociedade o corrompe!
Marx – Conjunto de relações sociais e econômicas. É uma construção histórica entre as forças produtivas.
2.0 - A pessoa e a outra pessoa
Na relação com o outro, o ser humano encontra-se consigo mesmo. O ‘tu’ favorece o conhecimento do ‘eu’. É muito comum quando alguém acha que é o único, insubstituível num determinado setor e aparece outro que faz a mesma tarefa. Abre-se no primeiro um fosso de questionamentos que o leva a detectar suas forças e fraquezas. Esta relação pode ser chamada de embrião de um novo ser. A preferência de estar com alguém indica a formação de uma terceira realidade. Ele passa a existir como outro.
Normalmente na companhia de outro o rendimento é diferente. Vai depender sempre da capacidade de trabalhar em equipe. Cada grupo de seres forma uma nova realidade. Colocar pessoas para trabalhar é uma decisão ética. Não se trata de um ato burocrático ou mecânico como se estivesse empilhando mesas e cadeiras. Exige conhecer a capacidade de integração que cada indivíduo traz consigo.
O ser humano tem necessidades fundamentais e uma delas é de segurança a qual ela busca também nas relações. Mesmo nas rusgas e mesquinharias do cotidiano o que está como pano de fundo é a segurança. Os enfrentamentos são buscas para construir o ser social.
O ‘frente a frente’ entre indivíduos cria uma relação de inter-subjetividade que pode criar laços de amizade com afetividade intensa que se tornam promotores da eficácia no ambiente de trabalho.

ÉTICA E MORAL II

II - AS TRÊS PENEIRAS DE SÓCRATES

Um homem foi ao encontro de Sócrates levando ao filósofo uma informação que julgava de seu interesse:
— Quero contar-te uma coisa a respeito de um amigo teu!
— Espera — disse o sábio. Antes de contar-me, quero saber se fizeste passar essa informação pelas três peneiras.
— Três peneiras? Que queres dizer?
— Devemos sempre usar as três peneiras. Se não as conheces, presta bem atenção. A primeira é a peneira da VERDADE. Tens certeza de que isso que queres dizer-me é verdade?
— Bem, foi o que ouvi outros contarem. Não sei exatamente se é verdade.
— A segunda peneira é a da BONDADE. Com certeza, deves ter passado a informação pela peneira da bondade. Ou não?
Envergonhado, o homem respondeu:
— Devo confessar que não.
— A terceira peneira é a da UTILIDADE. Pensaste bem se é útil o que vieste falar a respeito do meu amigo?
— Útil? Na verdade, não.
— Então, disse-lhe o sábio, se o que queres contar-me não é verdadeiro, nem bom, nem útil, então é melhor que o guardes apenas para ti a fim de não envenenar nem a mim nem a você.

ÉTICA E MORAL

I - ÉTICA E MORAL*

Para tratar deste tema a primeira atitude que temos de ter é atitude de Jesus. Não podemos reduzir as questões morais a casos isolados. É preciso que tomemos o tema na sua relação com a totalidade da existência do ser humano.
E para isso partimos de algumas citações da Sagrada escritura:

-“QUAL O HOMEM QUE NÃO AMA A SUA VIDA E NÃO QUER SER FELIZ TODOS OS DIAS? (Sl 34,12)

- “É PRECISO OBEDECER ANTES A DEUS DO QUE AOS HOMENS” (At 5, 29)

- “NÃO FAÇO O BEM QUE QUERO, MAS PRATICO O MAL QUE NÃO QUERO” ( Rm 7 ,19)

“TUDO O QUE QUEREIS QUE OS OUTROS OS FAÇAM FAZEI-O TAMBÉM A ELES”. (Mt 7, 12)

– “FOI PARA A LIBERDADE QUE CRISTO NOS LIBERTOU” (Gl 5,1)

E Santo Agostinho escreveu assim:

“Há dois modos de renunciar a liberdade: a submissão e alienação. Do ponto de vista ético, há frequentemente na modernidade um equívoco: o de pensar a liberdade como simples autonomia da pessoa, que não se sujeitaria a nada e a ninguém. Na realidade a pessoa humana se torna livre enquanto não está submetida a outro indivíduo humano, mas principalmente quando aceita a voz da consciência, o apelo a uma vida ética, em que são reconhecidos direitos e deveres de todos. Além disso, se é verdade que a liberdade humana é uma liberdade a ser realizada, que pode e deve crescer, ela exige o empenho permanente da libertação, a luta contra a alienação. Contra a situação de quem está impedido de realizar suas possibilidades. A liberdade se realiza plenamente no amor oblativo”.

Há uma lenda grega que fala de um anel misterioso capaz de tornar invisível aquele que virasse para dentro o engaste. Conta a lenda sobre um certo pastor de nome Giges que estava a serviço do rei, depois de ter se salvado de um abalo sísmico, retirou de um cadáver o referido anel. Percebendo que podia ficar invisível quando quisesse, nesta condição entrou no castelo e seduziu a rainha tramando com ela a morte do rei e obteve o poder.

Essa lenda nos leva a pensar sobre os motivos que estimulam ou coíbem uma ação. Por exemplo, se alguém pudesse se tornar invisível e entrar numa loja e ali praticar pequenos ou grandes roubos, isso não seria problema já que o flagrante estaria descaracterizado.

De algum modo esta é uma prática na sociedade moderna na qual facilmente as pessoas se comportam BEM para serem recompensadas, ou para parecerem justas ao olhar dos outros. É bastante normal ouvirmos as mães aconselharem seus filhos a viver e se portar bem porque os “vizinhos podem ver”, o “padre ficará bravo”, a “polícia vai te pegar”.

Mais comum ainda é abusar da velocidade, ou cometer infração de qualquer forma de lei quando a autoridade responsável não está nos vigiando. Este tipo de comportamento não pode ser entendido como atitude moral, posto que é realizada por medo e sob pressão. Há um provérbio popular que diz mais ou menos assim: “Os bons meninos vão para o céu e os maus...” Todas estas formas de pautar a vida é um modo errôneo de compreender o significado das palavras moral e ética. A pessoa age mais por medo do que por convicção.

Uma primeira condição para o comportamento moral é a questão da autonomia, à qual não pode ser confundida como individualismo, no sentido que a pessoa age como se os seus atos digam respeito exclusivamente a si próprio. Autonomia está muito além de fechar-se em si mesmo. Nenhum ser humano é uma ilha, as pessoas vivem num mundo de relações e de inter-subjetividade.

Dito isto fica fácil compreender moral como uma via de mão dupla na qual será preciso ter presente o que é bom para si e o compromisso com o outro. Este outro não necessariamente é uma pessoa. Considerando esta ótica quebramos uma barreira significativa no conceito de moral, indo muito além da compreensão de subjugação e constrangimento.

Podemos concluir esta introdução dando um conceito para o vocábulo:
“A moral responde à pergunta: o que devo fazer? É o conjunto dos meus deveres os quais reconheço como legítimos. É a lei que me imponho independente do olhar de terceiros ou de qualquer recompensa ou reprimenda”.
É mais ou menos sob está ótica que Santo Agostinho explica Deus e a sua morada. “Aquele que não é contido em nenhum lugar tem por morada a consciência dos justos”. Ou no dizer de Santo Tomás: “A consciência é a norma última do pecado”. Em resumo moral responde à pergunta: Qual a minha responsabilidade diante da vida? E não o que os outros devem fazer?



* Os textos postados sob o título Ética e Moral são tópicos tomados das seguintes obras:
Temas de Filosofia, Maria Lúcia de Arruda Aranha, são Paulo, Editora Moderna;
Ética na Empresa, Marculino Camargo, Petrópolis, Editora Vozes;
Documento de Aparecida, CELAM, Brasília, Edições CNBB;
Diretório Nacional de Catequese, CNBB, São Paulo, Edições Paulinas.

HOMILIA DO DIA 18 DE OUTUBRO 2009

HOMILIA NA FESTA DO PADROEIRO SÃO LUCAS
18 DE OUTUBRO 2009 - 29° DO TEMPO COMUM

Reunidos para celebrar a Eucaristia elevamos ações de graças por tudo o que Deus vai realizando em nosso favor. Desde a Palavra renovamos a aliança na páscoa de Jesus Cristo.

Recordamos também São Lucas, padroeiro da nossa paróquia, homem, que segundo a história foi médico, convertido a Fé, acompanhou o apóstolo Paulo em sua jornada missionária. Escreveu o Evangelho e os Atos dos Apóstolos. São de exclusivas do Evangelho de Lucas as narrativas do Bom Samaritano, do Filho pródigo, o cântico de Maria, e uma das mais bonitas saudações dos cristãos à mãe de Jesus: a Ave Maria. Todas estas passagens são exclusivas do terceiro evangelho. Isso já basta para que coloquemos Lucas entre os missionários indispensáveis para que a Igreja possa cumprir a sua missão no mundo.

Neste domingo a Igreja nos convida a rezar pelas missões e com os missionários por todo o mundo. O Papa Bento, na sua mensagem para este dia afirma:

O objetivo da missão da Igreja é iluminar com a luz do Evangelho todos os povos em seu caminhar na história rumo a Deus, pois Nele encontramos a sua plena realização. Devemos sentir o anseio e a paixão de iluminar todos os povos, com a luz de Cristo, que resplandece no rosto da Igreja, para que todos se reúnam na única família humana, sob a amável paternidade de Deus.

O evangelho que acabamos de ouvir recorda mais um diálogo no qual Jesus vai ensinando os discípulos, mostrando-lhes as belezas do Reino de Deus e indicando como alcançá-lo. Por sua vez, de novo, os discípulos estavam preocupados com detalhes e honrarias. Diante da pergunta sobre quem vai ocupar os lugares de honra ao seu lado neste reino, Jesus novamente não se resume à pequenez da preocupação dos discípulos. Indica uma vez mais que o caminho para a glória não é algo que se alcança com honrarias e sinais externos. Antes de tudo mostra as exigências e desafios: Referindo-se às provações e a sua morte, Jesus lhes provoca: Vocês serão capazes de beber o cálice que eu vou beber e ser batizados com o batismo que serei batizado? Os discípulos até respondem positivamente, então Jesus conclui: Quem está pronto para tudo isso começa com uma atitude agora: Quem quer ser o primeiro seja o último e aquele que serve a todos.

A Palavra é dirigida a nós hoje e nos pede uma mudança a cada dia. Seguir a Jesus é uma experiência radical diferente do modo de vida que orienta este mundo. As atitudes de dominação, de ganância, de busca de poder e de prestigio precisam ser substituídas pelo espírito de serviço.

Para que o anúncio do Evangelho seja realmente coerente é necessário que comecemos a praticar a palavra do Senhor. É preciso cumprir a missão seguindo os passos de Jesus, fazendo-se servidor. Vocês sabem que os chefes das nações as dominam entre vocês quem quiser ser grande seja o servo de todos.

Neste domingo das missões e à luz do Evangelista Lucas é necessário que nos perguntemos: Como estou exercendo a minha missão na Igreja. Partilho as responsabilidades, abro espaço para que outras pessoas participem do serviço missionário. Na condição de coordenador de algum movimento, serviço ou pastoral, compreendo os limites de cada pessoa ou me coloco na condição de superior rotulando os demais como cristãos descomprometidos, que nada querem com o evangelho, que não assumem o seu batismo e etc. etc. etc.

A Eucaristia que viemos repartir é o sinal mais extraordinário de Cristo servidor e o gesto mais nobre de acolhida. Peçamos que esta celebração nos ensine pela Palavra e na comunhão a ser servidores, missionários colocando nossos dons a serviço de todos e do Reino de Deus na sua Igreja.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

CATEQUESE


PEDAGOGICAMENTE CORRETO


Ao axioma Lex orandi, lex credendi (a norma da oração é a norma da fé), certamente pode-se acrescentar o verbo compreender, sem diminuir a força do provérbio e a intenção que ele quer expressar.


A propósito do ano catequético nacional e das reflexões em torno da liturgia e da catequese nunca é demais recordar que a liturgia é lugar privilegiado de educação da fé. Talvez seria ainda mais apropriado usar o termo ´celebração´ em lugar da expressão liturgia, visto que facilmente esta última acaba sendo confundida com normas, ritos e regras.


Todavia compreender aquilo que se celebra será, sem sombra de dúvida, um modo de agregar sabor àquilo que é norma de oração e norma de fé. Nossas celebrações, muitas vezes, carecem de mística e de emoção e por conta disto exigem comentários e explicações. Neste sentido perdem a ritualidade deixando de ser celebrativas para serem explicativas. Obviamente deixam de comover e atrair, são repletas de ´explicações, cantorias,e outros penduricalhos´.


O lema escolhido para o ano catequético não poderia ser mais feliz quando se trata de aproximar a catequese da liturgia. “Não ardia o nosso coração quando ele nos falava pelo caminho e explicava as escrituras?”. O Papa Bento VXI começa a Encíclica Deus Caritas Est, com a afirmação: “Nós cremos no amor de Deus. Ao inicio do ser cristão, não há uma decisão ética ou grande idéia, mas o encontro com um acontecimento, com uma pessoa que dá à um novo horizonte e, dessa forma, o rumo decisivo”. Este conceito reafirmado em Aparecida fortalece o lema do ano catequético na sua relação com a celebração.


Enquanto na catequese, mais explicitamente nos encontros de estudo, há um esforço para transmitir conteúdos e conceitos sobre Deus, se dá a iniciação para o encontro com o Pai e o Filho no dom do Espírito Santo que se realiza na liturgia. É verdade que a celebração é completa tanto no ensinamento como no encontro na medida em que entendemos os diferentes modos de comunhão real com o Senhor, ensinados no catecismo da Igreja.


Parece importante e necessário fortalecer a compreensão de catequese como condução ao mistério, iniciação à vida comunitária, à inserção na sociedades, ao seguimento de Cristo. Naturalmente o encontro e reconhecimento da pessoa de Jesus tem sua culminância na celebração da Eucaristia onde repetimos o gesto de partir o pão mediante o qual ELE foi reconhecido pelos discípulos de Emaús.


Na medida em que nossos catequizandos compreenderem a estrutura da celebração, por meio da catequese, sentirão alegria de participar da reunião com os irmãos e irmãs onde celebram o amor de Deus realizado por Jesus Cristo que se renova em cada Eucaristia.


Se perseguirmos este objetivo nossas celebrações dispensariam comentários, explicações, cantorias, penduricalhos, e mecanismos que exijam a presença dos catequizandos na celebração da missa. Como resultado de uma catequese litúrgica acontecerão celebrações marcantes e cativantes para as quais virão e delas sairão com o mesmo sentimento dos discípulos de Emaús: “Não estava nosso coração ardendo”.


Na Arquidiocese de Curitiba o álbum litúrgico catequético é uma alternativa pedagogicamente correta e muito útil para compreender a celebração e a liturgia. Aproveitemos esta riqueza que Deus nos concede por meio desta iniciativa e caminhemos para o discipulado.

EUCARISTIA III


VOLTANDO ÀS ORIGENS


Com a doutrina pós conciliar a Eucaristia recupera a sua dimensão original e Bento XVI afirma que “De fato, na Eucaristia, o Filho de Deus vem ao nosso encontro e deseja unir-se conosco; a adoração eucarística é apenas um prolongamento visível da celebração eucarística, a qual, em si mesmo, é o maior ato de adoração: receber a Eucaristia significa colocar-se em atitude de adoração daquele que comungamos. Precisamente assim é que nos tornamos um só com ele e, de algum modo, saboreamos antecipadamente a beleza da liturgia celeste”. (Cf. Sacramentum caritatis 66).


É sob esta ótica que a doutrina atual da Igreja e as orientações litúrgicas nos apresentam a celebração da Solenidade do Corpo de Cristo. “O ato de adoração fora da missa prolonga e intensifica aquilo que se fez na própria celebração litúrgica” (Cf. Sacrametum caritatis 67). Deste modo na liturgia desta solenidade está prescrita a procissão dos fiéis que seguem e adoram Cristo presente na forma de pão. A solene procissão que percorre ruas e estradas, decoradas com esmero pelos fiéis, é símbolo da Igreja peregrina, os que dela participam não estão somente juntos fisicamente, mas expressam também sua fé em Cristo que abriu o caminho para o Pai.


Em relação à decoração das ruas por onde vai passar o Santíssimo Sacramento cabe a observação de São João Crisóstomo, bispo e doutor da Igreja: “Queres honrar o Corpo de Cristo? Não permitas que seja desprezado nos seus membros, Isto é, nos pobres que não tem o que vestir, nem o honres no templo com vestes de seda, enquanto lá fora o abandonas ao frio e à nudez. Aquele que disse Isto é meu Corpo, também afirmou: Vistes-me com fome e não me destes de comer, e ainda: De que serviria, afinal, adornar a mesa de Cristo com vasos de ouro, se ele morre de fome na pessoa dos pobres? Primeiro dá de comer a quem tem fome, e depois ornamenta a sua mesa com o que sobra” (Homilias sobre o evangelho de Mateus). Esta exortação é retomada por Bento XVI com as seguintes palavras: “A espiritualidade eucarística não é apenas participação na Missa e devoção ao Santíssimo Sacramento; mas abraça a vida inteira... habilita-nos e impele-nos a um compromisso corajoso às estruturas deste mundo para lhes conferir aquela novidade de relações que tem sua fonte inexaurível no dom de Deus. O pedido que repetimos – o pão nosso de cada dia – obriga-nos a fazer todo o possível - em colaboração com todos – para que cesse ou pelo menos diminua o escândalo da fome e da subnutrição que padecem muitos milhões de pessoas...” (Cf. Sacrametum caritatis 77 e 91).

EUCARISTIA II

EUCARISTIA, MUDANÇA DE FOCO...

O modo como as primeiras comunidades cristãs celebravam a fração do pão e a compreensão que os padres da Igreja tiveram deste grande mistério perdeu sua clareza com o decorrer dos tempos. No final do primeiro milênio e por quase todo o segundo o “MISTÉRIO DA FÉ”, deixa de ser compreendido como participação na vida de Cristo para se tornar um ‘mistério para ser visto e adorado’. No final do primeiro milênio a Eucaristia já não era mais a celebração fraterna que recordava a ação de Jesus em favor de todos para ser um culto de adoração. É neste contexto que surgem uma série de relatos de milagres eucarísticos e se desenvolve a teologia da adoração à Eucaristia.

A festa do corpo de Cristo nasceu neste contexto e foi se expandindo, tornando-se obrigatória para toda a Igreja por volta do ano 1264, quando o Papa Urbano IV oficializou a solenidade para a toda a Igreja. A festa da Eucaristia se popularizou e ganhou maior solenidade com as controvérsias eucarísticas da reforma e da contra reforma. A piedade popular se encarregou de manifestar sua fé na presença real de Cristo nas espécies do pão e de vinho. Em decorrência do amor à Eucaristia e do conceito dado a Cristo como Rei surgem muitas novas formas de veneração e respeito ao Cristo Eucarístico. Pouco tempo de pois de se tornar uma festa popular surge o costume de enfeitar as ruas por onde o Santíssimo Sacramento deveria passar. Tal como aos reis terrenos, porém, com a tônica da fé os cristãos passaram a decorar as ruas com tapetes coloridos, artisticamente trabalhados indicando sua firme convicção de que por eles estaria passando o próprio Cristo Rei. Pode-se comparar a confecção dos tapetes na solenidade do Corpo de Cristo ao que fizeram os judeus quando receberam Jesus com ramos de oliveira e o proclamaram Bendito em nome do Senhor.

Rapidamente o costume dos tapetes se espalhou por todo o mundo. No Brasil o costume chegou com os portugueses e tem seu nicho nas cidades por eles fundadas ainda nos inicio dos anos 1700. Junto com os tapetes surge o vasto repertório de orações e cantos Eucarísticos que proclamam a firme convicção: Jesus está presente na hóstia consagrada. É deste tempo também o ‘OSTENSÓRIO” cuja palavra nada tem a ver com ‘HÓSTIA’ mas com o lugar onde ela é ‘OSTENTADA’, isto é, mostrada como se fosse num trono. Durante toda a idéia média e até o Concílio Vaticano II, a Eucaristia nem de longe foi compreendida como serviço, doação e compromisso. O que há de muito claro em todo este tempo é a dimensão de adoração e de ver a hóstia como algo extraordinário, fantástico e até amedrontador. De um tal modo a Eucaristia como celebração foi se distanciando das comunidades que a Igreja exigiu, por meio de um mandamento, a comunhão pelo menos uma vez cada ano.

EUCARISTIA

MISTÉRIO DA FÉ!

“Com essa exclamação pronunciada logo a seguir às palavras da consagração, o sacerdote proclama o mistério celebrado e manifesta seu enlevo diante da conversão substancial do pão e do vinho no corpo e sangue do Senhor Jesus, realidade que ultrapassa toda a compreensão humana”. Com estas palavras o Papa Bento XVI inicia a o documento Sacramentum Caritatis.
Elas nos motivam a refletir mais intensamente sobre a Eucaristia que celebramos, comungamos e adoramos. Afinal de contas, nossas atitudes em relação à Eucaristia são motivadas por quais razões e em que medida compreendemos o significado deste mistério? No contexto da missa a aclamação memorial, “EIS O MISTÉRIO DA FÉ”, quer significar que o mistério escondido agora se torna revelado e proclamado com a efusiva resposta da assembléia. Verdadeiramente a Eucaristia, enquanto ponto mais alto de toda a liturgia, é o mais excelso mistério.

Escondido na forma de alimento o Senhor se doa para que todos tenham vida. Esta convicção as primeiras comunidades cristãs experimentaram com muita propriedade e delas recebemos como herança os gestos fraternos e solidários de partilha e de fé. As narrativas que encontramos em Marcos, Mateus e Lucas que se completam na primeira carta aos Coríntios repetem as palavras de Jesus na ceia. Entretanto, os primeiros cristãos foram também compreendendo a dimensão da Eucaristia conforme a narrativa do lava-pés no evangelho de João, ou seja, não é coerente fazer memória de Jesus na ceia sem recordar sua dimensão de serviço. Sobre este aspecto o Papa João Paulo II recorda com firmeza na Encíclica Ecclesia de Eucharistia quando afirma que as palavras de Paulo aos coríntios declara indignos de comer o Corpo do Senhor aqueles que o fazem no contexto de indiferença para com os pobres e conclui dizendo que participar da Eucaristia implica em tornar-se Eucaristia. (Cf. número 20).

Celebrar a memória do Senhor até que ele venha é um imperativo para viver a caridade da mesma forma como o próprio Jesus se entregou por caridade em seu amor pelo mundo. Esta compreensão nos foi dada por Santo Tomás de Aquino na afirmação “ofereçam vocês aquilo que também eu ofereço, comam aquilo que eu dou, façam o que eu faço. Sofram por mim como eu sofro por vocês, dêem o seu corpo e o seu sangue uns pelos outros, dêem a sua vida uns pelos outros como eu dou o meu corpo e o meu sangue e por vocês dou a minha vida”. Nesta mesma direção encontramos a clássica afirmação de Santo Agostinho: “Recebam o Corpo de Cristo, sejam o Corpo de Cristo”. Deste modo podemos dizer com maior propriedade que a Eucaristia é realmente ‘MISTERIO DE FÉ’ que nos põe na estrada do serviço e do discipulado para que nossos povos tenham vida.

SACRAMENTOS...

I - O MATRIMÔNIO É UM SACRAMENTO...

O matrimônio não foi inventado pelos cristãos, a realidade do matrimônio tem manifestações diferentes em todas as culturas, mas estes o vivem de forma diferente, isto é, vivem a partir da fé. Isto sugere algumas perguntas:
a) Precisa ser sacramento para ter sentido?
b) O que o sacramento acrescenta ao matrimônio que este já não o tenha por si?
c) Onde está o caráter específico do matrimônio como sacramento?
d) Que condições se requerem nas pessoas para que possa se dizer que celebram o sacramento do matrimônio?

Ele é sacramento no sentido que atualiza, realiza o mistério pascal de Jesus Cristo. Sua vida, paixão, morte e ressurreição é o centro da celebração cristã do matrimônio entendido como sacramento pela igreja. Em outras palavras: sinal da presença real de Cristo na vida das pessoas.
O Sacramento comunica a comunhão de Deus de amor, é uma opção de fé.

Na Bíblia o ser humano é descrito como imagem e semelhança de Deus, isto é, uma criatura quase perfeita como o próprio criador. Nascemos de Deus e somos como Ele: AMOR. Reconhecer que o sacramento do matrimônio atualiza o mistério pascal significa dizer que a presença de Cristo dá um sabor de eternidade.

Certamente não existe nenhum setor da vida humana de que a maioria dos homens de nosso tempo dependa tanto, em relação à sua felicidade pessoal e à realização de sua existência, como o amor entre o homem e a mulher que assume sua forma duradoura no matrimônio e na família. É uma questão de ser feliz ou de não ser. Do mesmo modo, também não existe outro setor em que a fé e a vida estejam em contato tão imediato como no matrimônio. Pois o matrimônio pertence tanto à ordem da criação, como à ordem da salvação. Em outras palavras o matrimônio tem sua origem em Deus que criou o ser humano homem e mulher, e a Bíblia acrescenta que isto é bom, (cf. Gn 1, 27.31). Esta aliança desejada por Deus entre o homem e a mulher é ao mesmo tempo imagem e, sobretudo, atualização da aliança definitiva que Deus concretizou com o ser humano, em Jesus Cristo, uma semelhança do amor e da fidelidade de Deus para com o homem (cf. Ef 5,21-33). Assim, a realidade criatural do matrimônio entre cristãos constitui também uma realidade salvífica. É sacramental na medida que é sinal de Jesus Cristo. Repetindo é importante dizer que a fé é uma qualificação necessária.

1.0 - A DIGNIDADE SACRAMENTAL DO MATRIMÔNIO
A relação homem-mulher é tão fundamental para a Bíblia que é introduzida na determinação teológica da natureza do ser humano e até mesmo no enunciado de seu ser à imagem de Deus: "Deus criou o homem à sua imagem, à imagem de Deus ele o criou, homem e mulher ele o criou" (Gn 1,27).

2.0- INSTITUÍDO POR JESUS CRISTO?
O sacramento do matrimônio não pode ser demonstrado dizendo as palavras da instituição. O importante é a constatação de que o matrimônio está inserido de modo fundamental na obra salvífica de Jesus Cristo.
A posição de Jesus a respeito do matrimônio está configurada de modo mais claro em Mc10,2-9, em que durante uma discussão Jesus vê confrontado com a questão: é lícito a um homem repudiar sua mulher? A polêmica gira em torno da interpretação de Dt24,1, tão debatida entre os judeus. Jesus não entra na discussão casuística; transporta a questão para outro plano, referindo-se à ordem criacional das origens e conclui: "portanto, o que Deus uniu, o homem não separa". Partindo-se de uma visão superficial, daria a impressão de que está reforçando a lei. No entanto, se entendermos essa afirmação dentro do contexto global da pregação de Jesus, perceberemos que o plano da lei foi superado com vantagens. Da mesma forma que os profetas, Jesus está muito consciente da "dureza de coração" do ser humano. Somente se Deus conceder um "coração novo" (Jr31,33). Portanto, não se pode confundir a frase de Jesus a respeito do matrimônio com um preceito legal. Trata-se de uma palavra messiânico-profética, de uma promessa de salvação e de graça. Desse modo, o matrimônio, dentro da mensagem de Jesus, faz parte tanto na ordem criacional das origens, como da ordem salvífica fundamentada no predomínio do amor e da fidelidade de Deus.
O amor e a fidelidade de Deus se tornam presentes na história graças ao amor e à fidelidade existentes entre os cristãos. A Igreja é o sacramento global de Cristo, como Cristo é o sacramento de Deus.
O Vaticano II fala do matrimônio e da família como "Igreja Doméstica". Neste contexto, o casamento e a família não representam apenas uma configuração do ser da Igreja, mas, de modo muito ativo, colaboram também para edificação da Igreja. Os esposos possuem dentro da Igreja um carisma que lhes é próprio, uma vocação e a graça peculiar e um serviço singular (cf. 1Cor 7,7). Devem santificar-se mutuamente (cf. 1Cor 7,14). De modo especial pela aceitação e educação dos filhos contribuem para o crescimento interno e externo da Igreja. Com o exemplo de sua vida cristã comunitária, com sua hospitalidade e abertura de sua "casa", podem constituir células vivas dentro da Igreja.

3.0- UNIDADE E INDISSOLUBILIDADE DO MATRIMÔNIO
A unidade e a indissolubilidade do matrimônio não encontram sua razão de ser unicamente devido à sacramentalidade, mas são inerentes à natureza antropológica do matrimônio. Esta definição parte de um princípio de filosofia: “aquilo que é não pode não ser”. Se é amor não pode não ser. Assim é o amor de Cristo e da Igreja. É um sonho de Deus – sacramento – sinal daquilo que Deus é – Generosidade – entrega – serviço. Pelo batismo entramos uma vez por todas no mistério de Cristo e da Igreja, pelo matrimônio os noivos exprimem o mistério da unidade do amor de Cristo com a própria Igreja. O ato através do qual os esposos se entregam e se aceitam mutuamente possui em si mesmo uma tendência interna para o definitivo e para a exclusividade. Quem se entrega a si mesmo nas mãos de outra pessoa já não se pertence a si, mas ao outro. O vínculo da fidelidade matrimonial está, portanto, orientado em virtude de sua própria natureza interna, para a exclusividade e para o definitivo. O amor conjugal é o jeito de Deus comunicar seu amor ao mundo, sinal eficaz da graça de Deus que distribui dons abundantes de um amor que liberta, de paternidade, de filiação e de formação de um lar cristão. Se chama de sacramento da união estável. Para que o sacramento seja considerado válido é necessário que os nubentes estejam agindo em total liberdade, sem impedimentos de ordem legal, exige amor e aceitação da fidelidade. Os noivos são os ministros do sacramento e o padre representa a Igreja.

4. O MATRIMÔNIO CRISTÃO NA SOCIEDADE MODERNA
Uma relação que se faz hoje é a necessidade do casamento religioso e do casamento civil, um não pode contrapor o outro. O Direito Canônico vigente reconhece como competência do Estado a jurisprudência das conseqüências civis do matrimônio (direitos, relativos ao nome, aos bens, à herança, etc.). Não pode ser do interesse da Igreja sobrecarregar-se, nem mesmo indiretamente, com base num casamento civil facultativo. De maneira semelhante, também o Estado moderno, neutro em sua cosmovisão (por mais que reconheça determinados valores fundamentais cristãos), pode atribuir um conteúdo material suficiente para o matrimonio; tudo o que pode fazer é salvaguardá-lo e fixar as formalidades jurídicas necessárias para a sua validade civil. É aqui que a diaconia social da Igreja pode intervir. Entendido dessa maneira, o serviço da Igreja não se reduz a um "serviço" adicional, mas contribui para destacar uma dimensão essencial do casamento, de acordo com a concepção cristã; uma dimensão tão transcendental que sem ela não seria totalmente válido o matrimônio entre cristãos. Os casamentos civil e eclesiástico constituem, a partir desse ponto de vista, um todo contínuo que para o cristão atinge sua realização interna unicamente através da forma eclesial prescrita e, por isso, só então pode ser reconhecido como canonicamente válido e como sacramento.

5.0 – A liturgia do Sacramento tem alguns elementos indispensáveis:
1) Palavra e a Eucaristia
2) Aceitação
3) Juramento de amor
4) Benção das Alianças
5) Beijo nupcial
6) Bênção nupcial
7) Assinatura

ORAÇÃO EUCARÍSTICA

REFLETINDO A ORAÇÃO EUCARÍSTICA

Podemos chamar a oração eucarística de “coração da missa”, isto não significa dizer que alguma parte da missa seja mais importante. Mas a oração eucarística é o que podemos chamar de “verdadeira ação de graças”.

São Cipriano[1], falando sobre oração, se expressa do seguinte modo: “ Quando nos levantamos para a oração, devemos nos aplicar a ela de todo o coração. A alma não pense senão em rezar. É por isso mesmo que o sacerdote convida: - Corações ao alto – Somos exortados a não pensar senão no Senhor.

O diálogo introdutório também fazia parte da oração de ação de graças dos Judeus. O pai de família eleva ações de graças depois das refeições.

Em seguida o prefácio que o presidente proclama o louvor e a ação de graças pela obra de Deus. A oração sempre se dirige ao Pai e tem seu núcleo na história da salvação. (Exemplos Oração II, Oração IV e demais).

No final do primeiro século encontramos testemunhos de São Justino e de Hipólito de Roma.
De Hipólito de Roma temos o seguinte texto: “Graças te damos, ó Deus, por teu Filho bem amado Jesus Cristo, que nos últimos tempos nos enviaste como Salvador, Redentor e mensageiro do teu desígnio. Ele é teu verbo inseparável, por quem fizeste todas as coisas, e que, segundo teu agrado, enviaste do céu ao seio de uma Virgem, onde, sendo concebido, encarnou-se e revelou-se como teu Filho, nascendo do Espírito Santo e da Virgem. Ele para cumprir a tua vontade, e obter para ti um povo santo, estendeu seus braços enquanto sofria, para livrar do sofrimento aqueles que crêem em ti. Ele entregando-se voluntariamente à paixão, a fim de destruir a morte, quebrar as cadeias do demônio, esmagar os poderes do mal, iluminar os justos, estabelecer a lei e dar a conhecer a ressurreição, tomou o pão e deu graças a ti dizendo: “Tomai e comei, isto é o meu corpo que vós será imolado. Tomou igualmente o cálice, dizendo: este é o meu sangue que por vós será derramado. Quando fizerdes isso, fazei-o em minha memória.

Por isso lembrando-nos de sua morte e ressurreição, nós te oferecemos este pão e este cálice, dando-te graças porque nos fizestes dignos de estar diante de ti e servir-te.E te pedimos que envies o teu Espírito Santo sobre a oblação da santa Igreja, congregando-a na unidade. Dá a todos que participam em teus santos mistérios a plenitude do Espírito Santo, para que sejam confirmados em sua fé pela verdade, a fim de que te louvemos e glorifiquemos por teu Filho Jesus Cristo, por quem te é dada a glória e a honra com o Espírito Santo, na santa Igreja, agora e sempre, e pelos séculos dos séculos. Amem”.

E este conclui dizendo: “Não é necessário que pronuncie as mesmas palavras que propusemos, como se devesse memorizá-las, mas que um ore segundo a sua capacidade”. Já São Justino se expressa assim: “Aquele que preside, eleva segundo o poder que detém, orações e também ações de graças”.

Na atual oração eucarística, o presidente conclui o prefácio, pedindo que os fiéis da terra se unam num único coro com a assembléia dos céus: “Santo, santo, santo... (Is. 6,3 e Mt. 21,9). E reafirma o pedido para que o Espírito Santo atue na Igreja reunida: Santificai... (Ver orações eucarísticas...)

Com a repetição das palavras de Jesus na ceia com os discípulos e conclui com uma grande aclamação: MISTÉRIO DA FÉ! A expressão não se refere exclusivamente às palavras da consagração mas a toda a vida de Jesus. E quer significar que aquilo que outrora estava oculto agora foi revelado, razão por que a assembléia é convidada a fazer a grande aclamação memorial:
“ANUNCIAMOS A MORTE... PROCLAMAMOS A RESSURREIÇÃO... VINDE SENHOR JESUS...”

De posse desta adesão da assembléia aquele que preside retoma a oração com uma recordação espetacular:
I, II, III, IV, VI – Celebrando pois a memória...
V – Recordamos ó Pai neste momento... –
VII – Lembramo-nos de Jesus Cristo..
VIII – Ó Deus Pai de Misericórdia, vosso filho deixou esta prova de amor..
IX – Neste reunião fazemos o que Jesus mandou. Lembramos a morte e...
X – Por isso lembramos agora, Pai querido a morte e ressurreição...
XI – Por isso ó Pai estamos aqui diante de vós e cheios de alegria recordamos o que Jesus fez...
Tendo feito a louvação pede de novo o Espírito Santo, agora sobre a comunidade e a Igreja. (Ver as orações eucarísticas...).

É decisiva nossa atitude de súplica humilde e confiante em Deus que age. A Igreja é entendida nesta oração em toda a sua dimensão: Peregrina, com seus pastores, defuntos, santos, e todos os que cremos nesta comunhão.

Cada eucaristia é a atualização do mistério pascal de Cristo e de sua oferenda de cordeiro que carrega os pecados da humanidade e a salva. A oração se encerra com um grande louvor trinitário ao qual a assembléia responde cantando: AMÉM!

[1] Por volta do ano 250.

LITURGIA E BÍBLIA

APROFUNDANDO UM POUCO MAIS A PALAVRA DE DEUS NA LITURGIA

Assim como Cristo foi enviado pelo Pai, também enviou os apóstolos não só para serem transmissores dos ensinamentos de Jesus, mas também para levarem a efeito o que anunciavam: a obra da salvação por meio do sacrifício e dos sacramentos, sobre os quais gira toda a liturgia. Proclamando a palavra de Cristo, que lhes havia enviado, celebrando a fração do pão em memória daquilo da obra que Jesus tinhas realizado os apóstolos transmitiram aos primeiros cristãos a sua convicção que Jesus tinha ressuscitado. Aos poucos as primeiras comunidades foram assimilando também o que os apóstolos realizavam e a palavra foi ganhando terreno. Assim nós lemos num texto de São Justino, escrito aproximadamente por volta do ano 150:

“No dia chamado do Sol, nós nos reunimos todos em um mesmo lugar vindo das cidades e dos campos. Lemos as memórias dos apóstolos e dos profetas, tanto quanto o tempo permite. Aquele que preside exorta à imitação destas coisas. Depois nos levantamos todos juntos e recitamos orações. Quando terminamos de orar , apresenta-se pão, vinho e água. Aquele que preside, segundo o poder que nele existe, eleva orações e ações de graças. O povo aclama dizendo AMÉM. E cada um recebe e é feito participante das coisas eucarístizadas e aos ausentes estas coisas são levadas pelos diáconos. Os que querem segundo a sua vontade, dão o que lhes parece e aquele que preside socorre os órfãos, as viúvas e os doentes. E celebramos esta reunião geral no dia do sol, por ser o primeiro dia em que Deus transformando as trevas e a matéria, fez o mundo, e também o dia em que Jesus Cristo Ressuscitou e venceu as trevas da morte."
Infelizmente esta importância dada à Palavra de Deus no início do cristianismo não teve longa duração e aos poucos foi perdendo seu espaço e importância dando lugar à prática de devoções e outra práticas piedade. A palavra foi substituída pela história da vida dos santos os quais deixaram de ser vistos como modelos a serem imitados para se tornarem uma espécie de “quebra galho” entre o mundo necessitado e “Deus distante e quase surdo” ou que pelo menos não tinha disposição para ouvir e atender a multidão de pedintes. Neste contexto os santos foram colocados como uma espécie próxima a quem cada um se dirige segundo a sua necessidade, o santo pede pra Deus. Deus dá ao Santo que alcança ao fiel devoto.

Só com a reforma litúrgica do Vaticano II a Palavra de Deus voltou a ocupar o lugar que lhe cabe nas nossas liturgias e lá os padres conciliares escreveram: “Para que apareça claramente que na liturgia as cerimônias e as palavras estão intimamente unidas:1) Nas celebrações litúrgicas seja mais abundante, variada e bem adaptada a leitura da Sagrada Escritura”(Sacrossanto Concílio 35, 1). Já dissemos que a Palvra havia perdido seu lugar na história da Igreja e sito sedeu por diversas razões, agora o concílio insiste na sua restauração e da as devidas explicações para esta soliçitação. “Portanto, como Cristo foi enviado pelo Pai, assim também ele enviou os apóstolos, cheios do Espírito Santo, não só porque, pregando o Evangelho a todos os homens anunciassem que o Filho de Deus com a sua morte e ressurreição nos livrou do poder de satanás e da morte e nos transferiu para o reino do Pai, mas também para que levassem a efeito, por meio do sacrifício e dos sacramentos, sobre os quais gira toda a vida litúrgica, a obra de salvação que anunciavam. Assim pelo batismo os homens são inseridos no mistério pascal de Cristo: com ele mortos, sepultados, e ressuscitados; recebem o espírito de adoção de filhos, “no qual clamam: Abba, Pai ” (Rm 8,15), e se tornam assim verdadeiros adoradores que o Pai procura” ( Sacrossanto Concílio 6).

As declarações do concílio são bastante claras para fundamentar esta solicitação: “Indiquem as rubricas o momento mais apto para a pregação, que é parte da ação litúrgica, quando o rito a comporta. O ministério da palavra deve ser exercido com muita fidelidade e no modo devido. Deve a pregação, em primeiro lugar, haurir os seus temas da Sagrada Escritura e da liturgia, sendo como que o anúncio das maravilhas divinas na história da salvação, isto é, no mistério de Cristo, que está sempre presente em nós e opera, sobretudo nas celebrações litúrgicas” (Sacrossanto Concílio 35, 2).

Se a Palavra deve ocupar um lugar importante é natural que os padres concilaires também tivessem uma palavra sobre o tempo no qual se proclama a Palavra: “Para que a mesa da Palavra de Deus seja preparada, com a maior abundância, para os fiéis, abram-se largamente os tesouros da Bíblia, de modo que, dentro de certo número de anos, sejam lidas ao povo as partes mais importantes da Sagrada Escritura” (Sacrossanto Concílio 51)

Depois que os livrso litúrgicos foram revistos como pediu o Concílio n´so lemos na introdução do leiconário das missas: “A compreensão da salvação, que a palavra de Deus não cessa de recordar e prolongar, alcança seu mais pleno significado na ação litúrgica, de modo que a celebração litúrgica se converta numa contínua, plena e eficaz apresentação desta palavra de Deus. Assim, a palavra de Deus, proposta continuamente na liturgia, é sempre viva e eficaz pelo poder do Espírito Santo, e manifesta o amor ativo do Pai, que nunca deixa de ser eficaz entre as pessoas” (Introdução ao lecionário 4).

Além desta importância para a compreensão da revelação de Deus o catecismo da Igreja católica ensina que a presença real de Jesus está sim na Eucaristia e de um modo muito extraordinário, mas sua presença nã ose reduz ou se limita a isso. Diz o catecismo que Cristo está realmente presente na Palavra Proclamada, na Assembléia Reunida, na Pessoa daquele que preside e na Eucaristia. Na constituição Sacrossanto Concilio estas quatro formas estão mais claramente explicadas: “Ele está presente pela sua virtude nos sacramentos, de tal modo que, quando alguém batiza, é o próprio Cristo quem batiza. Está presente na sua palavra, pois é ele quem fala quando na Igreja se lêem as Sagradas Escrituras. Está presente, por fim, quando a Igreja ora e salmodia, ele que prometeu: “onde se acharem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles” (Mt 18,20).Realmente, nesta grandiosa obra, pela qual Deus é perfeitamente glorificado e os homens são santificados, Cristo sempre associa a si a Igreja, sua amadíssima esposa, que invoca seu Senhor, e por ele presta culto ao eterno Pai.

Com razão, portanto, a liturgia é considerada como exercício da função sacerdotal de Cristo. Ela simboliza através de sinais sensíveis e realiza em modo próprio a cada um a santificação dos homens; nela o corpo místico de Jesus Cristo, cabeça e membros, presta a Deus o culto público integral.

Por isso, toda celebração litúrgica, como obra de Cristo sacerdote e do seu corpo, que é a Igreja, é uma ação sagrada por excelência, cuja eficácia nenhuma outra ação da Igreja iguala, sob o mesmo título e grau” (Sacrossanto Concilio 7). Estaverdade estabelece entre o mundo e Deus um diálogo de comunhão com o mesmo que fez aliança com nossos pais na fé.

A igreja insistiu em afirmar que o cuidado com a Palavra de Deus não éalgo secundário ou modismo dos nossos tempos e no documento sobre a Palavra no número 21 lemos: “A Igreja sempre venerou a Sagrada Escritura da mesma forma como sempre venerou o próprio Corpo do Senhor, porque, de fato, principalmente na sagrada liturgia, não cessa de tomar e entregar aos fiéis o pão da vida, da mesa da palavra de Deus como do corpo de Cristo” Uma vez mais vamos sendo conmvidados a compreender que temos duas formas de alimento e dois modos de fazer memória de Jesus: Palavra e Eucaristia. Estas afiramnçõs da Igreja não são, como dissemos, resultados de modismos, mas uma verdadeira vontade de voltar às fontes. São muitos os textos de autores cristãos que apresentam a importância da Palavra que agora estava perdida. Vejamos algumas citações importantes: “Quanto a mim, penso que o Evangelho é o corpo do Cristo e que a Sagrada Escritura é sua doutrina. Quando o Senhor fala em comer sua carne e beber seu sangue, é certo que fala do mistério (da Eucaristia). Entretanto, seu verdadeiro corpo e seu verdadeiro sangue são (também) a palavra da Escritura e sua doutrina”(Jerônimo +419/420).
E este outro “Eu lhes pergunto, irmãos e irmãs, digam o que, na opinião de vocês, tem mais valor: a palavra de Deus ou o Corpo de Cristo? Se quiserem dar a verdadeira resposta, certamente deverão dizer que a palavra de Deus não vale menos que o Corpo de Cristo. E por isso, todo o cuidado que tomamos quando nos é dado o Corpo de Cristo, para que nenhuma parte escape de nossas mãos e caia por terra, tomemos este mesmo cuidado, para que a palavra de Deus que nos é entregue, não morra em nosso coração enquanto ficamos pensando em outras coisas ou falando de outras coisas; pois aquela pessoa que escuta de maneira negligente a palavra de Deus, não será menos culpada do que aquela que, por negligência, permitir que caia por terra o Corpo de Cristo” (Cesário de Arles)

Claro também precisa ficar para todos que a compreensão da Palavra de Deus não é resultado da nossa própria inteligênica e sabedoria, membros de um único corpo e guiados pelo mesmo Espírito é necessário “Para que a palavra de Deus realmente produza nos corações aquilo que se escuta com os ouvidos, requer-se a ação do Espírito Santo, por cuja inspiração e ajuda a palavra de Deus se converte no fundamento da ação litúrgica e em norma e ajuda de toda a vida. Assim, a atuação do Espírito Santo não só precede, acompanha e segue toda a ação litúrgica, mas também sugere ao coração de cada um tudo aquilo que, na proclamação da palavra de Deus, foi dito para toda a comunidade dos fiéis; e, ao mesmo tempo que consolida a unidade de todos, fomenta também a diversidade de carismas e a multiplicidade de atuações” (Introdução do lecionário 9).

Feitas estas considerações podemos nos aprofundar melhor na proclamação da Palavra, isto nos exercícios de meditação e proclamação da Palavra.

MISSÃO DA IGREJA


A PALAVRA DE DEUS NA VIDA E NA MISSÃO DA IGREJA

Dentre as formas humanas de expressar o pensar, o agir e o fazer humano, destaca-se a Palavra. Mas se devêssemos perguntar exatamente qual a função da palavra e sua importância nas relações sociais nem sempre saberíamos responder com precisão. Em toda e qualquer situação a palavra é o meio privilegiado e comunicação humana, mas muitas vezes por mais clara que seja a palavra ela pode ser fonte de confusão, sobretudo, se mal interpretada, mal pronunciada, mal compreendida.

Usamos o recurso da palavra para esclarecer, pedir, sugerir, informar, agradecer, etc... Quase sempre usamos a palavra estabelecendo um diálogo cuja finalidade é comunicar e formar relações. Muitas vezes damos importância diferenciada às palavras de acordo com a circunstância em que foram ditas ou por quem foram verbalizadas.

Quanto mais importante haverá de ser a Palavra de Deus. E esta Palavra é única sendo muitas e proferida de muitos modos. São Paulo, nas suas cartas, (que são Palavra de Deus), usa muitas vezes expressões que dão maior peso às suas palavras. Encontramos, por exemplo, citações mais ou menos assim: “de muitos modos deus nos falou, mas nos últimos tempos veio até nós na pessoa do seu Filho Jesus”; e ainda “a boa noticia que eu anuncio não é uma invenção humana. Eu não recebi de ninguém e ninguém o ensinou a mim, mas foi o próprio Cristo que o revelou para mim”. E São Tiago escreveu assim: “Não se enganem; não sejam apenas ouvintes dessa Palavra, mas a ponham em prática”.

Nos documentos da Igreja temos muitas referências à Palavra de Deus e ao modo como podemos conhecê-la e praticá-la. Lemos pois assim: “Na assembléia do domingo a Igreja lê aquilo que em todas as escrituras se refere a Cristo e celebra a Eucaristia como memória da morte e ressurreição do Senhor, até que Ele venha”.

Popularmente chamamos a Bíblia de Palavra de Deus, a rigor ela não é exatamente a Palavra, pois que esta é a interpretação ou a verbalização daquilo que está escrito. Em todo o caso podemos sim chamar a Bíblia de Palavra de Deus no sentido que ela não é um simples de registro de intenções. A Bíblia é o registro do diálogo realizado entre o Criador e a criatura, isto é, a concretização do desejo de Deus que se realizou com toda a plenitude na pessoa de Jesus. Deste modo podemos dizer que aquilo que está escrito na Bíblia é ao mesmo tempo Palavra e realidade. Ou seja ‘DITO E FEITO”.

Se estudamos um pouco de língua portuguesa e literatura nos deparamos que existem diversas formas de linguagem. Do mesmo modo quando vimos um filme, uma novela, um conto, etc... Conforme a intenção do autor ele usa uma figura de linguagem. Sabemos que existe a linguagem da poesia, da ficção, da narração, e muitos outros. Os compositores musicais se servem das diversas formas de compreender a palavra para dizer, por meio da música, muitas realidades que seriam mais difícil expressar com palavras as vezes duras e frias. Assim também se dá com a Bíblia. Nos textos sagrados encontramos narração, lei, profecia, sabedoria, poesia, carta, previsões.

Mas o que isso tem a ver com liturgia?

Antes de tudo é importante responder qual o significado da Palavra liturgia. De origem grega a expressão é leitourgia. Traduzido literalmente, leitourgia significa “serviço feito para o povo”, ou, “serviço diretamente prestado para o bem comum”. Com este conceito somos forçados a compreender a palavra liturgia não exclusivamente como uma palavra restrita ao uso religioso. A rigor a poderia se usar este termo para indicar todo e qualquer serviço feito por alguém em favor de outro ou de uma comunidade.

Mas é preciso ter muito claro que quem primeiro fez uma liturgia e a completou de forma perfeita foi Deus. Na obra da criação Ele realizou um maior serviço em favor de todas as criaturas. O serviço, a liturgia, de Deus teve sua forma mais perfeita no sacrifício redentor de Jesus que se deu como vítima pelos nossos pecados.

Como toda boa ação costuma ser recordada, recontada, valorizada, e muitas vezes permanece presente de geração em geração. Do mesmo modo fazemos com a liturgia que Deus realizou por nós e isto nós chamamos de CELEBRAÇÃO. Aquilo que é julgado importante acaba ficando na memória e no coração.

A liturgia recorda e prolonga a história da salvação as ações (o serviço) que Deus realizou e continua realizando em favor do seu povo. Aquilo que lemos na liturgia, não se resume como dissemos acima em uma carta de boas intenções, trata-se na realidade de palavras e fatos muito unidos entre si. A história em que Deus revela e realiza a salvação é uma história em relação com a palavra, nela a palavra se faz história e a história se faz palavra.

Ora, está mais do que claro que aquilo que se lê na liturgia é Palavra de Deus, portanto se pode dizer que é Ele mesmo quem fala pela liturgia. Logo mais veremos como é importante o papel dos leitores nas celebrações na medida em que se compreende que não são eles mesmos quem falam mas com a sua voz proclamam a Palavra de Deus a quem se pode dizer que emprestam as suas forças e dons para que sua Palavra seja conhecida.

Em outubro de 2008 o Papa convocou um grupo de Bispos do mundo inteiro para refletir sobra a Palavra de Deus e sua importância na liturgia. O encontro chamado de “Sínodo dos Bispos”, teve como objetivo procurar caminhos para que a Palavra de Deus seja melhor compreendida, esteja mais ao alcance da pessoas e mais eficazmente vivida. No documento conclusivo do “Sínodo” (encontro) se lê assim: “... A voz divina. Ela soa na origem da criação, rompendo o silêncio do nada e dando origem às maravilhas do universo. É uma voz que penetra na história ferida pelo pecado humano e envolvida no sofrimento e na morte. Ela concerne também ao Senhor, que caminha com a humanidade para oferecer-lhe sua graça, sua aliança, sua salvação. É uma voz que desce às páginas das Sagradas Escrituras, que agora podemos ler na Igreja sob a guia do Espírito Santo, dado a ela e aos seus pastores como luz da verdade” (Gianfranco Ravasi. Síntese da mensagem final do Sínodo).

Bem sabemos que Bíblia tem duas grandes partes às quais chamamos de Antigo e de Novo Testamento. Todo o Antigo Testamento é um grande canto e uma imensa narrativa das ações do Senhor em favor do povo eleito. A grande experiência religiosa do povo eleito foi precisamente a de ter pouco a pouco descoberto – foi lhe sendo revelado! – Deus como Aquele que, através de fatos, acontecimentos, pessoas, profetas, sábios etc., age na história em favor do seu povo e o salva.

As primeiras narrativas bíblicas revelam a obra (liturgia) criadora de Deus. Digamos que se tratam de narrativas cósmicas. No princípio, Deus criou o céu e a terra e tudo o que neles contém. Depois vamos observando como se desenrola a ação de Deus para garantir que nada daquilo que havia criado se perca. Vejamos por exemplo o texto do salmo 8:

“Teu nome é, Senhor, maravilhoso,
Por todo o universo conhecido;
O céu manifesta a tua glória,
Com teu resplendor, é revestido.
Olhando este céu que modelaste,
A lua e as estrelas a conter,
Que é, ó Senhor, o ser humano
Pra tanto cuidado merecer?
A um Deus semelhante o fizeste,
Coroado de glória e de valor;
De ti recebeu poder e força
De tudo vencer e ser senhor.
Dos bois, das ovelhas nos currais,
Das feras que vivem pelas matas;
Dos peixes do mar, dos passarinhos,
De tudo o que corta o ar e as águas.
A ti seja dada toda a glória
Deus, fonte de vida e verdade,
Amor maternal que rege a história,
Vem, fica pra sempre ao nosso lado”.

Num segundo momento temos conhecimento da obra (liturgia) da escola e da aliança. A Palavra de Deus se manifestou não somente na criação, mas na própria eleição e constituição do povo eleito. Primeiro Deus escolher Abraão, em seguida Moisés, chama os profetas: Deus disse a Abrão: ‘Sai da tua terra, da tua parentela e da casa do teu pai, para a terra que te mostrarei. Eu farei de ti um grande povo, eu te abençoarei, engrandecerei teu nome; sê uma bênção. (Gn 12,1ss) Para dar continuidade a obra criada e escolhida Deus chama Moisés: Deus disse: Eu vi, eu vi a miséria do meu povo que está no Egito. Ouvi o seu clamor por causa dos opressores; pois eu conheço as suas angústias. Por isso desci a fim de libertá-lo... e para fazê-lo subir daquela terra a uma terra boa e vasta, terra que mana leite e mel... Agora, o clamor dos filhos de Israel chegou até mim... Vai, pois, e que te enviarei a Faraó, para fazer sair do Egito o meu povo, os filhos de Israel”. (Ex 3,1ss). E o povo celebra cantando. Veja-se êxodo 15. A escola que Deus fez se consolida com a aliança no Sinai. Ex. 19, 5 e seguintes e confirmada em Josué 24,14- 24. A experiência do êxodo é típica e paradigmática. Deus foi sendo descoberto sempre mais intensamente, sobretudo pelos sábios e profetas, como Aquele que, fielmente e com eterna misericórdia (Sl 136), opera a salvação do povo.
Um Deus libertador, solidário, misericordioso, fiel, um Deus perdão, um Deus que ama a vida do seu povo, um Deus que tudo faz para que o povo tenha salvação, isto é, vida plena. E tanto quanto o povo percebeu a presença e aliança cantou esta certeza. (Salmo 136 – ao Senhor dos Senhores Cantai...).

A terceira parte da obra (liturgia) de Deus nós a percebemos na vocação e missão dos profetas. “...Só por um instante eu te desamparei; mas imensa compaixão volto a reunir-te. Numa explosão súbita de cólera, por um momento, escondi de ti o meu rosto, mas é com amor eterno que eu te mostro minha ternura...” (Is 54,7-9)

Os profetas são os propagadores da Palavra de Deus. Eles tem experiência pessoal desta Palavra. A Palavra de Deus é colocada na boca dos profetas. Ele se torna a boca do Senhor. A Palavra de Deus proclamada pelos profetas dirige a história, comunicando e interpretando os acontecimentos da salvação. Os profetas recebem o envio no contexto celebrativo do povo escolhido. O núcleo da liturgia antiga de Israel estava concentrado na celebração da palavra divina.

As liturgias de outrora eram compostas de alguns elementos comuns, que alias são também constitutivos das nossas liturgias. Parece importante destacar pelo menos 4 elementos muito claros das assembléias vetero-testamentárias:
• Convocação divina, por meio de seus ministros (Moisés, Josué...) – iniciativa é divina;
• Presença de Deus que fala pelos seu representante ou por outors sinais (arca, Santo dos Santos, ou livro da Lei);
• Proclamação da Palavra Divina na assembléia;
• O sacrifício – resposta do povo – encontro entre Deus e seu povo.

E finalmente como, escreve São Paulo, Quando chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher... assim o Verbo fez-se carne e habitou entre nós... (Gl 4,4; Jo 1,14). A esta fase da revelação, da aliança, da obra (liturgia) de Deus chamamos de etapa da encarnação. Em Jesus Cristo nenhuma barreira mais existe. Deus que se faz humano rompe todas as barreiras que poderiam ainda existir entre Deus e a sua criatura. O Verbo Divino feito carne se tornou a expressão pessoal de Deus Pai em forma humana. Ele é o mediador! (Hebreus 1, 1 -3). É São Paulo quem nos faz rezar reconhecendo a pessoa de Jesus com todas as qualidades e modo de se encarnar e viver a realidade humana. (Filipenses 2, 6 -11). Toda a evocação da história da salvação gira em torno dele e é a partir dele que é realizada a leitura e interpretação da Sagrada Escritura – 1º e 2º Testamento. Em Cristo tudo tem sentido, tudo fica esclarecido e tudo se orienta para ele, pois, principalmente pelo mistério pascal de sua sagrada paixão, ressurreição dos mortos e gloriosa ascensão, completou a obra da redenção humana e da perfeita glorificação de Deus.

No documento Sacrossanto Concilio, que trata da renovação da liturgia, se lê: Deus, o qual “quer salvar todos os homens e fazer com que cheguem ao conhecimento da verdade” (1Tm 2,4), “havendo outrora falado muitas vezes e de muitos modos aos pais pelos profetas” (Hb 1,1), quando veio a plenitude dos tempos, mandou o seu Filho, Verbo feito carne, ungido pelo Espírito Santo, para anunciar a boa nova aos pobres, curar os contritos de coração, “médico da carne e do espírito”, mediador entre Deus e os homens. Com efeito, sua humanidade, na unidade da pessoa do Verbo, foi o instrumento de nossa salvação. Pelo que em Cristo “deu-se o perfeito cumprimento da nossa reconciliação com Deus e nos foi comunicada a plenitude do culto divino”. Esta obra da redenção humana e da perfeita glorificação de Deus, que tem o seu prelúdio nas maravilhas divinas operadas no povo do Antigo Testamento, completou-a o Cristo Senhor, especialmente pelo mistério pascal de sua sagrada paixão, ressurreição dos mortos e gloriosa ascensão; por este mistério, Cristo “morrendo, destruiu a nossa morte e, ressurgindo, deu-nos a vida”. Pois, do lado de Cristo agonizante sobre a cruz nasceu “o admirável sacramento de toda a Igreja”.

Desta certerza nós podemos afirmar que cada vez que nos reunimos a Igreja celebra o mistério pascal, isto é a vida toda de Jesus, sua paixão, morte, ressurreição e ascenção ao céu. Isto deixa mais claro ainda a afirmação que o Concílio Vaticano II faz: “A obra de Cristo continua na Igreja e é coroada pela celebração litúrgica”.

Um último e sempre renovado dado da revelação, ou melhor da obra (liturgia) de Deus se realiza na Igreja. Este tempo nós chamamos de período eclesial.A igreja que tem sua origem na cruz e se estendeu pela experiência da comunidade primitiva pode ser chama de A CASA DA PALAVRA a qual, como sugere Lucas (At 2,42) se ergue sobre quatro colunas idealizadas. Em primeiro lugar, o “ensinamento”, ou seja: ler e compreender a Bíblia no anúncio feito a todos, na catequese, na homilia, por meio de uma proclamação que envolve mente e coração. Em outras palavras a atualização, a memória da aliança se realiza mais plenamente na medida em que os fiéis ouvem a Palavra e a compreendem. É na igreja e por meio dela que se dá o Anúncio - a didaqué (O eco) apostólica, ou seja, a pregação da Palavra de Deus. O Apóstolo Paulo admoesta-nos que «a fé provém da escuta, e a escuta diz respeito à Palavra de Cristo» (Rm 10, 17). O Papa Bento XVI insiste que a fé não é resultado de explicações racionais mas de um encontro pessoal com Jesus. Este naturalmente se dá quando o crente ouve a Palavra e a comrpreende como sendo Palavra do próprio Cristo ou Ele mesmo quem continua falando. É da Igreja que sai a voz do pregador, que a todos propõe o querigma, ou seja, o anúncio primário e fundamental que o próprio Jesus proclamara no início do seu ministério público: «O tempo já se cumpriu, e o Reino de Deus está próximo. Convertei-vos e acreditai no Evangelho»(Mc 1, 15) A liturgia e a catequese tem uma finalidade muito clara: aprofundar no vida do fiel o conhecimento e a experiênica do mistério de Cristo a fim de que todos sejam iluminados e naturalmente guiados pela Palavra.

O que já dissemos até aqui deixa mais do que claro a importância e a necessidade da proclamação da Palavra de Deus nas nossas assembléias litúrgicas. E atenção que estamos falando de proclamação e não simplesmente leitura. É claro que para que isto aconteça serão necessárias algumas condições a fim de não continuar repetindo as mesmas práticas que pouco ou nada ajudam quando se trata de proclamar a Palavra e não simplesmente de ler.

Seguida da proclamação outro ponto fundamental na liturgia é a homilia, que ainda hoje para muitos cristãos é o momento principal do encontro com a Povo de Deus. Neste gesto, o ministro deveria transformar-se também em profeta. De fato, com uma linguagem nítida, incisiva e substanciosa, e não apenas com autoridade, ele deve «anunciar as obras admiráveis de Deus na história da salvação» (SC 35) – oferecidas primeiro através de uma clarividente e viva leitura do texto bíblico proposto pela liturgia – mas deve também atualizá-las nos tempos e nos momentos vividos pelos ouvintes, e fazer desabrochar no seu coração a exigência da conversão e do compromisso vital: «O que temos que fazer?» (At 2, 37).

Na pregação cumpre-se, deste modo, um dúplice movimento. Com o primeiro, remonta-se à raiz dos textos sagrados, dos acontecimentos e dos ditos geradores da história da salvação, para os compreender no seu significado e na sua mensagem.

Com o segundo movimento, volta-se a descer até ao presente, ao hoje vivido por aqueles que ouvem e lêem, sempre à luz de Cristo que é o fio luminoso destinado a unir as Sagradas Escrituras. Foi precisamente isto que o próprio Jesus fez – como já se disse – no itinerário de Jerusalém para Emaús, em companhia de dois dos seus discípulos. E também o fará o diácono Filipe, no caminho de Jerusalém para Gaza quando, com o funcionário etíope, empreenderá um diálogo emblemático: «Entendes o que estás a ler? (...) E como poderia eu compreender, sem alguém que me oriente?» (At 8, 30-31). E a meta será o encontro completo com Jesus Cristo no sacramento. Assim, apresenta-se a segunda coluna que sustém a Igreja, casa da palavra divina.
Se estas duas condições forem realmente convincentes as assembléias cristãs poderão repetir como os discípulos de Emaús – não estava nosso coração ardendo quando nos explicava as escrituras. Nossas assembléias serão locais da partilha onde pelo gesto litúrgico do partir do pão os participantes, de modo muito vivo, reconhecerão o Cristo ressuscitado e por este reconhecimento sentir-se hão habilitados para anunciá-lo como verdadeiros discípulos missionários.

Celebrar a Eucaristia é o momento do diálogo íntimo de Deus com o seu povo, é o ato da nova aliança selada no sangue de Deus (cf. Lc 22, 20), é a obra suprema do Verbo que se oferece como alimento no seu corpo imolado, é a fonte e o ápice da vida e da missão da Igreja.

O terceiro pilar, dos quais estamos falando e, que serviram de sustentação para as primeiras comunidades cristãs é a oração entrelaçada – como recordava São Paulo – por «salmos, hinos e cânticos espirituais» (Cl 3, 16). Um lugar privilegiado é ocupado, naturalmente, pela Liturgia das Horas, a oração da Igreja por excelência, destinada a cadenciar os dias e os tempos do ano cristão, oferecendo sobretudo mediante o Saltério o alimento espiritual quotidiano aos fiéis. Juntamente com ela e com as CELEBRAÇÕES COMUNITÁRIAS DA PALAVRA, a tradição introduziu a prática da leitura orante no Espírito Santo, capaz de abrir aos fiéis o tesouro da Palavra de Deus, mas também de criar o encontro com Jesus Cristo, palavra divina viva.

Finalmente e não menos importante a “comunhão fraterna”, pois para sermos verdadeiros cristãos não basta sermos “os que ouvem a Palavra de Deus”, mas devemos ser “os que a põem em prática” no amor eficaz (Lc 8,21).