terça-feira, 28 de novembro de 2023

HOMILIA PARA O DIA 03 DE DEZEMBRO DE 2023 - PRIMEIRO DOMINGO DO ADVENTO - ANO B

 

Ó Pastor de Israel, vinde logo nos trazer a salvação!

Nada mais certo do que as dores de parto para uma mulher grávida. Com todos os recursos que um bom acompanhamento pré-natal exige a pessoa grávida vive meses de expectativa e de alegre esperança de que algo muito bom vai acontecer. Pois este é o sentido do advento que se inicia neste domingo e que a Palavra de Deus nos ensina como se preparar para a chegada do messias.

O profeta Isaias descreve a condição de um povo que fez de conta ter esquecido e não precisar de Deus, uma nação que não vivia os compromissos assumidos tendo endurecido a cabeça e o coração. De algum modo o retrato descrito pelo profeta se assemelha com o comportamento da sociedade contemporânea: “Senhor, tu és nosso Pai, nosso redentor; eterno é o teu nome. Como nos deixaste andar longe de teus caminhos e endureceste nossos corações”.

A palavra do profeta é um convite a reconhecer nossa incapacidade de superar as dificuldades e nos sugere confiar inteiramente em Deus que é amor, justiça e perdão e que está sempre disposto a nos oferecer de modo incondicional sua ajuda e proteção: “Nunca se ouviu dizer nem chegou aos ouvidos de ninguém, jamais olhos viram que um Deus, exceto tu, tenha feito tanto pelos que nele esperam. Vens ao encontro de quem pratica a justiça com alegria, de quem se lembra de ti em teus caminhos”.

Para a comunidade de Corinto, Paulo esclarece que Deus os cumulou de dons e carismas preparando-os para o grande dia em que todos viverão o encontro definitivo com Jesus Cristo: “Para vós, graça e paz, da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo. Dou graças a Deus sempre a vosso respeito, por causa da graça que Deus vos concedeu em Cristo Jesus: Nele fostes enriquecidos em tudo, Assim, não tendes falta de nenhum dom, vós que aguardais a revelação do Senhor nosso, Jesus Cristo”.

O texto de Marcos descreve de modo resumido a parábola dos talentos, e não precisa muito esforço para compreender que o dono da casa a que se refere trata-se de Jesus. Ele confia aos seus seguidores distintos talentos aqueles que os recebem não podem ficar de braços cruzados, pelo contrário, cada um a seu modo recebeu uma missão que foi confiada por Jesus, o Dono, da casa, e que independentemente das circunstâncias todos devem fazer concretizar na perspectiva da esperança: “Ficai atentos, porque não sabeis quando chegará o momento. É como um homem que, ao partir para o estrangeiro, deixou sua casa sob a responsabilidade de seus empregados, distribuindo a cada um sua tarefa. E mandou o porteiro ficar vigiando”.

Com funções diferentes todos os que receberam talentos devem ajudar-se solidariamente a discernir e fazer frutificar os valores que lhes foram confiados, isso significa comprometer-se diariamente com coragem e perseverança sendo testemunhas da paz, do amor, do perdão, da fraternidade.

Como as dores do parto para a mulher grávida, uma coisa é certa: O Senhor virá, nossa existência não é uma aventura ao encontro do nada, trata-se de uma certeza infalível e estar vigilantes significa não se furtar de nenhuma das responsabilidades que Deus nos confiou isso significa empenhar-se decididamente contra a tudo o que impede a felicidade de qualquer pessoa que caminha ao nosso lado: “O que vos digo, digo a todos: Vigiai!"

quinta-feira, 23 de novembro de 2023

HOMILIA PARA O DIA 26 DE NOVEMBRO DE 2023 - SOLENIDADE DE CRISTO REI - ANO A

 VINDE BENDITOS DE MEU PAI

Em tempos de Black Friday o que conta é levar vantagem, fazer um bom negócio, comprar e vender muito e todas essas situações revelam a situação de uma pessoa feliz e realizada. Pois a Palavra de Deus deste domingo nos sugere olhar de outra maneira as relações interpessoais e com o mundo.

O profeta Ezequiel é reconhecido por ser um homem realista, falando com o povo exilado e espoliado de todos os seus bens, da sua cultura, da sua terra e vivendo em cidades estranhas e no meio de pessoas estranhas ele não tem medo de denunciar os culpados por essa situação. Ezequiel reafirma que ao contrário dos pastores do povo que descuidaram das suas responsabilidades Deus é um pastor preocupado e capaz de cuidar com carinho do seu povo que é o seu rebanho. O profeta desfaz uma falsa esperança e transmite ao povo que Deus não os abandonou: “Assim diz o Senhor Deus: "Vede! Eu mesmo vou procurar minhas ovelhas e tomar conta delas. Como o pastor toma conta do rebanho, de dia, quando se encontra no meio das ovelhas dispersas, assim vou cuidar de minhas ovelhas e vou resgatá-las de todos os lugares em que foram dispersadas num dia de nuvens e escuridão. Eu mesmo vou apascentar as minhas ovelhas e fazê-las repousar”.

Paulo escreva aos coríntios e lhes deixa claro que eles fazem parte do rebanho reunido e cuidado por Deus e que todo tem como destino e meta final o Reino de Deus, lugar e condição onde não haverá sofrimento, tristeza, morte, naquele lugar e tempo todas as dificuldades serão vencidas pela força e poder de Cristo Salvador.

O Evangelho apresenta o critério fundamental para fazer parte da nova criação, no Reino que foi preparado. Sustentados pela força das orações, da piedade e das práticas devocionais todos serão julgados pelo amor partilhado sobretudo com os mais pobres e desamparados: “Tive fome, estava com sede, nu, doente, preso” não se trata de méritos por que são melhores ou piores, justos ou injustos, mas pelo fato de serem os mais necessitados.

No Reino de Deus não tem lugar para o egoísta, o autorreferencial, aquele que pensa somente em si mesmo, o que fazemos ou deixamos de fazer aos mais frágeis é o que conta para estar entre as ovelhas ou os cabritos.

Rezar é muito necessário, mas por si mesmos não nos garantem a participação no Reino de Deus Pai, as celebrações e adorações fazem nos aproximar de Deus na medida que praticamos as mesmas obras de Jesus.
A vigilância na espera do Reino consiste em viver a solidariedade e o cuidado com as pessoas e com toda a obra da criação.

 



sexta-feira, 17 de novembro de 2023

HOMILIA PARA O DIA 19 DE NOVEMBRO DE 2023 - 33º DOMINGO COMUM - ANO A - DIA MUNDIAL DOS POBRES

 

VIRTUDE É NÃO ENTERRAR OS TALENTOS

Parafraseando são João Bosco podemos dizer que: A vida é o talento que Deus nos confiou, o bom uso que dela fazemos é o reconhecimento por aquilo que recebemos.

A parábola do Evangelho neste domingo sugere que ser discípulo de Jesus consiste em não ficar confiando no Senhor esperando sua manifestação gloriosa enquanto estamos de braços cruzados. Pelo contrário, fazer os talentos produzir implica estar profundamente envolvido em todas as coisas e atividades do mundo.

Não existem motivos que justifiquem a preguiça, a rotina, o medo, a acomodação, pelo contrário, cada um a seu modo é desafiado a fazer frutificar aquilo que recebeu. Na lógica de Deus ninguém fica de fora quando se trata de receber dons e talentos. Numa leitura simplória podemos pensar que aquele que recebeu um talento fosse discriminado e que pouco ou nada tinha que fazer. Pelo contrário: Um talento equivale a três mil dias de trabalho, ou seja, pouco mais de oito anos. Tempo suficiente para não ficar indiferente deixando perder as oportunidades ao longo do tempo.

A parábola completa o que São Paulo tinha falado aos tessalonicenses: “Portanto, não durmamos, como os outros, mas sejamos vigilantes e sóbrios”. A hora de Deus ninguém sabe, portanto, a maneira correta de aguardar a sua vida será em atitude de vigilância e coerência. Afinal de contas o batismo nos fez diferentes e o horizonte de nossa vida tem outras dimensões na comparação com aqueles que não foram batizados.

A nossa existência está sustentada na esperança, que não decepciona! Nossa vida tem como baliza a vida e os ensinamentos de Jesus e isso nos faz confiantes e torna nossa vida mais bela e significativa.

Esta diferença o autor do livro da sabedoria escreveu no contexto da sociedade patriarcal de outrora colocando valores na figura da mulher que só um homem sábio também percebe. Não precisamos muito esforço para perceber que o texto da primeira leitura pode ser aplicado a todas as pessoas do nosso tempo.

Mulheres e homens que conduzem suas vidas na generosidade, no trabalho, no compromisso são aqueles que fazem seu talento produzir. O texto de hoje pode ser reescrito assim: “Uma pessoa forte, quem a encontrará? Ela vale muito mais do que as joias”. Isso significa dizer que não enterra nem esconde seu talento.

É nesse contexto que o Papa Francisco nos convida para celebrar nesse domingo o Dia mundial dos pobres e que para a reflexão Francisco escreveu a partir do livro de Tobias que foi um marido fiel, um pai carinhoso, um homem justo e apesar disso foi perseguido e deportado, sofreu e foi injustamente perseguido. Colocado a prova experimentou a pobreza e todo tipo de sofrimento, mas no final da vida deixa um conselho para seu filho: “Nunca afaste seu olhar de um pobre”

Peçamos nós também a coragem e a conversão do coração para não nos fazermos indiferentes diante do sofrimento alheio. Não deixemos que nosso talento seja enterrado!

terça-feira, 7 de novembro de 2023

HOMILIA PARA O DIA 12 DE NOVEMBRO DE 2023 - 32º DOMINGO COMUM - ANO A

 NO SENHOR ESTÁ O NOSSO SOCORRO!

O poeta Guimarães Rosa, em um dos seus escritos usou uma metáfora para falar dos desafios cotidianos e escreveu: “Viver (...) é muito perigoso. (...) Porque aprender-a-viver é que é o viver, mesmo. (...) Travessia perigosa, mas é a da vida” A parábola das dez virgens do Evangelho nos coloca diante da realidade e dos desafios que a vida nos impõe e tanto o comportamento das prudentes quanto das imprudentes nos ajuda compreender a urgência de viver sempre alerta. Mateus usa a festa de casamento, uma das principais celebrações do mundo judaico do seu tempo, e coloca no contexto da festa um grito no meio da noite. Esse fato que era ao mesmo tempo predito veio num momento imprevisível. Se quiséssemos falar de um grito durante nossas noites podemos mencionar quantas vezes a vida parece estar tranquila, e do nada nos sobrevêm vendaval, enchentes, doenças, pandemias, tristezas, acidentes e até a morte.

Na mesma condição das virgens insensatas, muitas vezes nos encontramos eufóricos e distraídos com tanta coisa que acontece ao nosso redor e nem percebemos que a travessia do cotidiano exige foco naquilo que é principal porque somente dessa maneira será possível continuar a travessia. A única luz que nunca se apagará de nossa vida é a centelha divina manter sempre o “azeite necessário” consiste em reforçar sempre os laços de comunhão com as pessoas de maneira que sempre irmanados uns com os outros não percamos a confiança em Deus. Dois mil anos depois dos cristãos da comunidade de Mateus nós continuamos percorrendo os mesmos caminhos de alegrias e tristezas, de vibração e de compromisso, ao mesmo tempo carregamos os medos da vida que se fazem conhecer no comodismo, na falta de empenho, no descuido com a nossa vida e a de todos e isso nos faz esquecer o que é importante e facilmente esquecemos os valores do reino representados, no “azeite de reserva para a espera do noivo”. O encontro definitivo com Deus, que certamente acontecerá e para o qual não precisamos contar o tempo, mas precisamos estar sempre preparados deve ser o horizonte da nossa vida.

A carta aos tessalonicenses é dirigida também ao nosso tempo. Cristo virá para concluir a história do mundo e desse momento ninguém ficará excluído, os que já morreram serão chamados por primeiro e um por um até chegar a nossa vez: “Irmãos: não queremos deixar-vos na incerteza a respeito dos mortos, para que não fiqueis tristes como os outros, que não têm esperança. Se Jesus morreu e ressuscitou — e esta é nossa fé — de modo semelhante Deus trará de volta, com Cristo, os que através dele entraram no sono da morte. Isto vos declaramos, segundo a palavra do Senhor: nós que formos deixados com vida para a vinda do Senhor não levaremos vantagem em relação aos que morreram”. Não pensemos em vantagem, desvantagem, medo ou segurança. A vida não é um drama absurdo, pelo contrário em meio aos transtornos da vida caminhamos confiantes na direção do mundo novo e da nova criação.

Peçamos a graça de reconhecer a sabedoria que vem de Deus e que aponta para felicidade e a vida definitiva, como escreveu o autor do livro da sabedoria: “A Sabedoria é resplandecente e sempre viçosa. Ela é facilmente contemplada por aqueles que a amam, e é encontrada por aqueles que a procuram. Ela até se antecipa, dando-se a conhecer aos que a desejam. Quem por ela madruga não se cansará, pois a encontrará sentada à sua porta”. A sabedoria de Deus é o azeite que não pode faltar em nossa lamparina!





quinta-feira, 2 de novembro de 2023

HOMILIA PARA O DIA 05 DE NOVEMBRO DE 2023 - SOLENIDADE DE TODOS OS SANTOS - ANO A

 

ALEGREM-SE E EXUTEM!

Se tem uma coisa que alegra um pai e uma mãe é poder dizer que os filhos são ‘a cara do pai’, que tem os traços de fisionomia da mãe e assim por diante. E não precisa muito esforço para descobrir traços comuns no semblante de uma mesma família. E até quem não tem laços biológicos comuns, mas partilha a vida juntos acabam por se parecer até fisicamente.

Pois ora, nós cristãos acreditamos que fazemos parte da mesma e única família de Deus e partilhamos do mesmo destino, isso significa dizer compartilhamos da mesma felicidade e trazemos em nós os traços da santidade que marcaram a história da Igreja e do mundo pelo testemunho de “uma multidão imensa de gente de todas as nações, tribos, povos e línguas, e que ninguém podia contar. Estavam de pé diante do trono e do Cordeiro; trajavam vestes brancas e traziam palmas na mão”

A primeira leitura retrata a situação das primeiras comunidades cristãs que experimentaram dias sombrios e de muito sofrimento e perseguição, mas nem por isso perderam a esperança: “Todos proclamavam com voz forte: A salvação pertence ao nosso Deus, que está sentado no trono, e ao Cordeiro. E adoravam a Deus, dizendo: Amém. O louvor, a glória e a sabedoria, a ação de graças, a honra, o poder e a força”.

São João escreve: “Caríssimos, vede que grande presente de amor o Pai nos deu:
de sermos chamados filhos de Deus! E nós o somos
”. O texto é uma mensagem de esperança, é uma resposta lógica: Deus nos fez seus filhos e filhas, não nos abandonará em nenhuma hipótese. A nossa convivência com os santos e santas nos fará semelhantes a eles nos traços e no semblante.

Uma visão equivocada de santidade nos impõe traços de tristeza, entretanto, o Evangelho faz um convite estupendo: não tenham medo de enfrentar as adversidades da vida o olhar amoroso de Deus lhes servirá de alegria e consolo: “Bem-aventurados os pobres em espírito, Bem-aventurados os aflitos, Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça. Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus".

Francisco usa a expressão “Santidade ao pé da porta” para nos apresentar modelos e condições para alcançar a santidade: “Gosto de ver a santidade nos pais e mães e família que criam os filhos com amor, gosto de ver a santidade no trabalhador que se esforça para trazer o pão para a família, gosto de ver a santidade nos doentes e idosos que ainda sabem sorrir”. Este modelo de santidade é o mesmo descrito por São João Paulo II: “A santidade de muitas pessoas acontece pela conversão ao Evangelho, muitos deles não foram proclamados oficialmente pela Igreja, mas no seu dia a dia deram testemunho da fidelidade a Cristo”

Para alcançar a santidade muitas vezes precisamos caminhar contra a corrente e isto foi o que disse Jesus outrora e que chega aos nossos ouvidos: “Sois do mundo, e ao mesmo tempo não sois do mundo… Vós não sois do mundo do cada um para si, do consumo, da violência, da vingança, do comprometimento… E face a este mundo deveis dizer: não estou de acordo! Sereis felizes, porque fareis ver onde está a verdadeira felicidade. Chamar-vos-ão santos”.

Em outras palavras o perfil de santidade vai sendo construído a cada dia quando fazemos pequenos gestos, imitando a multidão de testemunhas que lavou suas vestes no sangue do Cordeiro: “Bem-aventurados os mansos, Bem-aventurados os misericordiosos, Bem-aventurados os que promovem a paz, Alegrai-vos e exultai”!

Buscar a santidade consiste em ser pessoas ativas e corajosas, apaixonadas pelo Evangelho se tivermos essa coragem nosso semblante será semelhante ao de tantas pessoas reconhecidas como rezamos na oração eucarística: “que souberam amar Cristo e seus irmãos”.

É assim a geração dos que procuram o Senhor!

sexta-feira, 27 de outubro de 2023

HOMILIA PARA O DIA 29 DE OUTUBRO DE 2023 - 30º DOMINGO COMUM - ANO A

NO SENHOR ESTÁ NOSSA FORÇA E SEGURANÇA

Dentre as experiências desagradáveis na convivência social estão as infinitas regras que exageram a disciplina quando se trata do bom funcionamento das relações humanas. Ninguém duvida que são necessárias algumas balizas para disciplinar o comportamento das pessoas, mas quando as regras são exageradas visam esconder a desordem que está enraizada no comportamento da sociedade.

No tempo de Jesus a convivência entre as pessoas era regulada por mais de 600 preceitos, 350 proibições, 240 mandamentos, isso tornava a convivência e as relações humanas impraticáveis. No Evangelho de hoje mais uma vez os fariseus queriam desqualificar Jesus: “e se reuniram em grupo, e um deles perguntou a Jesus, para experimentá-lo”. Eles não estavam interessados em esclarecer nenhuma dúvida sobre algo importante no convívio humano. E de novo Jesus lhes responde não a partir dos detalhes da lei, mas do fundamento para a todas as leis: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento!' E Amarás ao teu próximo como a ti mesmo”. Jesus desmonta as convicções farisaicas deixando claro que todo o conjunto de regras e leis que foram se estabelecendo ao longo do tempo são apenas comentários ao que realmente interessa. Jesus coloca os dois mandamentos em estreita sintonia e permite a qualquer pessoa compreender que um não se sustenta sem o outro.

E distinguir os dois mandamentos é o que já nos ajuda o texto do livro do Êxodo deixando claro que as situações de opressão, de arbitrariedade, de desrespeito pela dignidade dos mais fracos não está de acordo com nenhum mandamento e obviamente com o primeiro e principal deles. O texto nomina estrangeiros, órfãos e viúvas, os quais entre nós precisam ser atualizados pelas muitas pessoas que vivem em situação de vulnerabilidade humana e social, excluídas e discriminadas do bem-estar social que a sociedade consumista insiste em cultivar. A primeira leitura deixa claro que todo o sofrimento praticado contra a dignidade de qualquer pessoa fere também a comunhão com Deus.

São Paulo valoriza o comportamento da comunidade de Tessalônica: Assim vos tornastes modelo para todos os fiéis da Macedônia e da Acaia. Com efeito, a partir de vós, a Palavra do Senhor não se divulgou apenas na Macedônia e na Acaia, mas a vossa fé em Deus propagou-se por toda parte”. Isso não significa dizer que não existam contrariedades e dificuldades para que esta situação aconteça, os tessalonicenses souberam bem equilibrar a alegria e a dor fazendo crescer a família de irmãos e irmãs inspirados no Evangelho que Paulo anunciou.

O convite de Paulo se estende para cada cristão do nosso tempo a ter coragem de oferecer a própria vida, como fez Jesus, para que a proposta do Reino seja conhecida por toda a humanidade.

Frequentemente entendemos a fé como um privilégio e uma propriedade privada, uma espécie de link direto com Deus, pelo contrário, a fé precisa ser vivida e compreendida como uma grande rede que nos compromete com a imensa família espalhada pelo mundo inteiro.

Aceitar o Evangelho consiste em abrir o coração para Deus e para os irmãos, deixar que produza frutos. Como cristãos somos sempre convidados a cuidar uns dos outros, mas preferencialmente dos mais fragilizados e desassistidos.  Que a alegria que nos vem do Espírito Santo nos inspire ao cuidado de todos em todas as circunstâncias, então sim podemos rezar como salmista:

Eu vos amo, ó Senhor, sois minha força e salvação.


sexta-feira, 20 de outubro de 2023

HOMILIA PARA O DIA 22 DE OUTUBRO DE 2023 - 29º DOMINGO COMUM - ANO A

 

TODOS SOMOS IRMÃOS AMADOS E ESCOLHIDOS POR DEUS

Corações ardentes e pés a caminho! Esta frase foi ouvida muitas vezes ao longo desse ano nas atividades da Igreja. Hoje mais uma vez ela se presta para ajudar compreender a Palavra de Deus que ouvimos nas três leituras. Em poucas palavras a expressão significa não ter medo de enfrentar os desafios do cotidiano e colocar sempre em Deus toda a confiança pois é Ele a única e absoluta segurança quando se trata de empreender todos os esforços para que as relações cotidianas sejam fraternas, justas e responsáveis.

O profeta Isaias confirma as ações de Deus quando se trata de mostrar os caminhos por onde é preciso andar: “Isto diz o Senhor sobre Ciro, seu Ungido: "Tomei-o pela mão. Por causa de meu servo Jacó, e de meu eleito Israel, chamei-te pelo nome; Eu sou o Senhor, não existe outro”. As palavras são aplicadas a Ciro Rei da Pérsia, a escolha que Deus faz por ele não tem o objetivo de lhe engrandecer e cumular de poder para que fosse reconhecido como tal, pelo contrário a ação de Deus tem um objetivo bem claro: “Fiz tudo isso por causa do meu servo e do meu povo”! A autoridade confiada ao Rei só se justifica à medida que é colocada a serviço da felicidade e do bem-estar do povo! Ontem, como hoje, Deus atua no mundo com simplicidade e discrição, chama quem e do jeito que Ele quer, mas sempre vista da missão.

Paulo escreve aos tessalonicenses elogiando sua seriedade e compromisso com tudo o que dele tinham recebido. Apesar das dificuldades as pessoas daquela comunidade foram testemunhas corajosas de tudo o que Deus lhes tinha mostrado por meio de Paulo: “Damos graças a Deus por todos vós, lembrando-vos sempre em nossas orações. Diante de Deus, nosso Pai, recordamos sem cessar a atuação da vossa fé, o esforço da vossa caridade e a firmeza da vossa esperança em nosso Senhor Jesus Cristo”.

 Mais uma vez os fariseus se apresentam com perguntas embaraçosas cujo objetivo é armar uma cilada: “Os fariseus fizeram um plano para apanhar Jesus em alguma palavra”. Como das outras vezes Jesus não se deixa envolver pelas intrigas dos seus adversários e lhes devolve o questionamento com outra pergunta: “De quem é a figura e a inscrição desta moeda?" Obrigados a dar uma resposta de acordo com o sistema que eles apoiavam os fariseus não tiveram outra alternativa que não confirmar as suas reais intenções. Então Jesus faz a necessária distinção entre os compromissos sociais, políticos e econômicos e a pertença a Deus de toda a existência humana: “Dai, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus".

Enquanto na moeda do império está gravada a imagem do imperador, no coração humano está gravada a imagem de Deus. Portanto, vivendo no mundo a pessoa tem a responsabilidade de cumprir todas as obrigações inerentes às relações de pertença e de colaboração com o bom êxito de todas as atividades realizadas no seu cotidiano. Mas, como propriedade marcada por Deus deve ao mesmo tempo relativizar todas as coisas e confiar toda a sua existência nas mãos de Deus.

Também para os cristãos dos nossos tempos a referência fundamental precisa ser Deus com todas as suas implicações e responsabilidade, ao mesmo tempo não se pode viver à margem do mundo sendo omisso diante das responsabilidades na construção de um mundo bom e fraterno, um mundo onde caibam todos e todos sejam respeitados e valorizados na sua individualidade.

Como seguidores de Jesus somos desafiados a viver com entusiasmo a fé, a esperança e a caridade, não nos deixem insensíveis as coisas bonitas, mas não permita que nos silenciemos diante da morte e da dor que muitas vezes tomam conta das relações cotidianas.

Concede-nos de proclamar e reconhecer o que rezamos no salmo:

Adorai-o no esplendor da santidade, *
terra inteira, estremecei diante dele!

Publicai entre as nações: "Reina o Senhor!" *

pois os povos ele julga com justiça.

 

sábado, 14 de outubro de 2023

HOMILIA PARA O DIA 15 DE OUTUBRO DE 2023 - 28º DOMINGO COMUM - ANO A

 

FELICIDADE E TODO BEM HÃO DE SEGUIR-ME

A liturgia do 28º Domingo do Tempo Comum utiliza a imagem do “banquete” para descrever um mundo de felicidade, de amor e de alegria sem fim que Deus quer oferecer a todos os seus filhos. Estas questões são para todas as relações humanas uma necessidade imperiosa e da qual não se pode abrir mão.

A certeza de que Deus ama seu povo de verdade é o tema central que está perpassando todas as leituras dos últimos domingos. Hoje, mais uma vez o pano de fundo é a bondade de Deus que acolhe e perdoa todos.

No texto do profeta Isaias é Deus mesmo quem prepara e serve o banquete, o qual é muito mais do que abundância de comida e bebida. A verdadeira festa de Deus é a destruição da morte para sempre: “O Senhor Deus eliminará para sempre a morte e enxugará as lágrimas de todas as faces e acabará com a desonra do seu povo em toda a terra, disse o Senhor”.

Isaías anuncia o “banquete” que um dia Deus, vai oferecer a todos os Povos na sua própria casa.  Acolher o convite de Deus e participar nesse “banquete” é aceitar viver em comunhão. Dessa comunhão resultará, para o homem, a felicidade total, a vida em abundância.

Uma tal imagem de Deus só pode merecer confiança total e ação de graças por sua ação extraordinária: “O Senhor é o pastor que me conduz; não me falta coisa alguma. Pelos prados e campinas verdejantes ele me leva a descansar. Para as águas repousantes me encaminha, e restaura as minhas forças. Preparais à minha frente uma mesa, felicidade e todo bem hão de seguir-me”.

São Paulo está fazendo uma espécie de testamento, a carta aos filipenses foi escrita na prisão. É neste contexto que Paulo deixa bem claro para aquela comunidade que Deus é providente e previdente: “O meu Deus proverá esplendidamente com sua riqueza a todas as vossas necessidades, em Cristo Jesus”. Paulo manifesta a convicção que Deus não o abandonou, nem mesmo na hora do martírio e pede que os amigos tenham o mesmo espírito que ele convidando-os a uma confiança extraordinária: “Tudo posso naquele que me dá força. O meu Deus proverá esplendidamente com sua riqueza”.

Um “apóstolo” que se preocupa, antes de mais, com a sua comodidade ou com o seu bem-estar torna-se escravo das coisas materiais, passa a ser um “funcionário do Reino” com horário limitado e com trabalho limitado e rapidamente perde o sentido da sua entrega e do seu empenhamento.

Na história da festa de casamento fica mais do que claro que Deus quer acolher a todos, e que de cada um ele espera, não muita coisa, apenas que sejam chamados para um novo tempo.

O Evangelho sugere que é preciso “agarrar” o convite de Deus. Os interesses e as conquistas deste mundo não podem distrair-nos dos desafios de Deus. A opção que fizemos no dia do nosso batismo não é “conversa fiada”; mas é um compromisso sério, que deve ser vivido de forma coerente.

O sentido da parábola é óbvio… Deus é o rei que convidou Israel para o “banquete” do encontro, da comunhão, da chegada dos tempos messiânicos (as bodas do “filho”). Os sacerdotes, os escribas, os doutores da Lei recusaram o convite e preferiram continuar agarrados aos seus esquemas, aos seus preconceitos, aos seus sistemas de auto salvação. Então, Deus convidou para o “banquete” do Messias esses pecadores e desclassificados que, na perspectiva da teologia oficial, estavam excluídos da comunhão com Deus e do Reino. Esta parábola explicita bem o cenário em que o próprio Jesus se move… Ele aparece, com frequência, a participar em “banquetes” ao lado de gente duvidosa e desclassificada, ao ponto de os seus inimigos o acusarem de “comilão e bebedor de vinho, amigo de publicanos e de pecadores” (Mt 11,19; Lc 7,34). Porque é que Jesus participa nesses “banquetes”, correndo o risco de adquirir uma fama tão desagradável? Porque no Antigo Testamento – como vimos na primeira leitura – os tempos messiânicos são descritos com a imagem de um “banquete” que Deus prepara para todos os povos. 

Não há o que temer diante das ameaças e suposta violência contra as pessoas também na atualidade. Deus leva cada pessoa em particular a fazer sua parte e a reconhecer em Jesus uma pessoa capaz de agir em favor do povo.

Todos os cristãos destes tempos são chamados a serem missionários do banquete de Deus agindo solidariamente com todos os demais. Que o Senhor nos ajude pela Eucaristia e pela oração de todos. 

terça-feira, 26 de setembro de 2023

HOMILIA PARA O DIA 08 DE OUTUBRO DE 2023 - 27º DOMINGO COMUM - ANO A

QUE O DEUS DA PAZ ESTEJA COM TODOS!

 

Dentre as frustrações e desilusões que afetam a nossa vida algumas delas dizem respeito às grandes apostas e investimentos que fazemos em ações, situações e pessoas e o resultado acaba não sendo o esperado. Nestas ocasiões nos sentimos desiludidos e arrasados, muitas vezes perdemos a vontade de lutar. Numa linguagem figurada se diz que é necessário resiliência, isto é, desenvolver a capacidade de se adaptar às novas situações sem perder a esperança e coragem de lutar. Pois a Palavra de Deus que ouvimos nesse domingo nos apresenta como Deus retoma seus propósitos, se readapta às novas condições e retoma sua disposição de colaborar com a criatura humana para que esta produza frutos de acordo com sua condição.

O profeta Isaias usa a figura da vinha e do cuidado que o proprietário tem com a plantação fazendo uma comparação com o cuidado que Deus tem para com a comunidade de Israel. Tal como uma lavoura bem cuidada, um povo amado por Deus deveria corresponder a tudo o que recebe produzindo bons frutos. A profecia se conclui com umas poucas palavras sobre o resultado esperado e o que de fato aconteceu: “Pois bem, a vinha do Senhor dos exércitos é a casa de Israel, e o povo de Judá, sua dileta plantação; eu esperava deles frutos de justiça — e eis injustiça; esperava obras de bondade — e eis iniquidade”. Ontem como hoje todos pertencemos e somos cuidados pela mão amorosa de Deus, em resposta somos convidados a ir muito além do que aparências, não bastam abundantes práticas de piedade, procissões, romarias e rezas, tudo isso é útil e necessário, mas devem culminar num amor que transforme a si e aos outros.

A segunda leitura é a continuação da carta de Paulo aos amigos da cidade de Filipos. Sem fazer alusão a vinha e a nenhuma figura de linguagem o apóstolo recomenda: “ocupai-vos com tudo o que é verdadeiro, respeitável, justo, puro, amável, honroso, tudo o que é virtude ou de qualquer modo mereça louvor”. Esse convite de Paulo é dirigido a cada um de nós no sentido que todo podemos aproveitar as muitas e boas oportunidades que o mundo oferece para produzir bons frutos que tenham sabor de honestidade, coerência e responsabilidade.

No Evangelho Jesus conta uma história que tem como pano de fundo a imagem da vinha descrita pelo profeta. A intenção de Jesus deixa claro que está se referindo às autoridades do seu tempo, que tiveram muitas oportunidades para fazer o bem e cuidar do seu povo. Entretanto: “Quando chegou o tempo da colheita, o proprietário mandou seus empregados aos vinhateiros para receber seus frutos. Os vinhateiros, porém, agarraram os empregados, espancaram a um, mataram a outro, e ao terceiro apedrejaram e ao verem o filho, disseram entre si: 'Este é o herdeiro. Vinde, vamos matá-lo e tomar posse da sua herança!' Então agarraram o filho, jogaram-no para fora da vinha e o mataram”.

Essas atitudes são detestáveis e o resultado não poderia ser outro: “Por isso, eu vos digo: o Reino de Deus vos será tirado e será entregue a um povo que produzirá frutos".

Os destinatários do Evangelho de Mateus tinham perdido o entusiasmo e alegria de produzir frutos para o Reino, o autor tem por objetivo reacender a esperança e lhes propor um novo ardor para que a vinha do Senhor não fique saqueada e depredada. Mateus sugere aos seus leitores que saiam do comodismo e que produzindo frutos correspondam a tudo o que receberam de Deus na pessoa de Jesus o Filho amado do Pai.

Também para nós se trata de um convite a coerência entre aquilo que acreditamos e aquilo que vivemos. Uma vinha bem cuidada não pode relegar a segundo plano o amor, o serviço, a doação, a partilha. Para quem conhece e acredita em Jesus Cristo o desafio consiste em dar frutos que estejam a altura dos investimentos que foram aplicados ao longo do tempo.
Sem negligenciar a oração somos convidados pelo salmista a pedir:

Voltai-vos para nós, Deus do universo! †
Olhai dos altos céus e observai.*
Visitai a vossa vinha e protegei-a!

Foi a vossa mão direita que a plantou; *
protegei-a, e ao rebento que firmastes

 



 

segunda-feira, 25 de setembro de 2023

HOMILIA PARA O DIA 01 DE OUTUBRO DE 2023 - 26º DOMINGO COMUM - ANO A

 MOSTRAI-ME Ó SENHOR VOSSOS CAMINHOS

Dentre as muitas falas atribuídas a São Francisco de Assis, uma delas diz assim: “Pregue o Evangelho todo o tempo, se necessário use palavras”. O Papa Francisco numa de suas falas faz uma advertência aos cristãos “Iludidos pela mundanidade espiritual que rezam como papagaios, sem qualquer entusiasmo pelo Evangelho”.

Essa mesma crítica fez o profeta Ezequiel no texto que ouvimos na primeira leitura fazendo um convite aos seus conterrâneos todos são desafiados a viver com coerência a aliança que fizeram com Javé. Tal como os israelitas também nós somos convidados a um compromisso sério e sem rodeios. Quando se trata de viver na perspectiva do Reino não servem meias palavras.

Paulo escreve aos cristãos da cidade de Filipos sugerindo seguir o exemplo de Cristo: “Jesus Cristo, existindo em condição divina, não fez do ser igual a Deus uma usurpação, mas esvaziou-se a si mesmo”. Cristo tendo aceitado se fazer igual a todos deixou para o mundo a maior lição de amor. A recomendação de Paulo também serve para nós, trata-se de praticar a solidariedade e a comunhão não somente com palavras bonitas. Paulo conclui seu texto com a comparação entre Adão e Jesus o primeiro foi desobediente o segundo obediente. O resultado de um de outro não permite meias palavras.

No Evangelho Jesus apresenta mais um exemplo de coerência e de falta de coerência. Com a parábola dos dois filhos Jesus deixa claro que não bastam palavras bonitas e boas intenções. Mais do que responder com prontidão trata-se de cumprir o que se promete. O texto vem na continuação do último domingo, dizer sim implica em não se fazer indiferente quando se trata de colocar em prática aquilo que se acredita. Falando aos entendidos em leis e conhecedores da escritura e dos profetas Jesus garante que muitos dos que disseram não e se arrependeram são mais merecedores do que os que se julgam bons e perfeitos mas fazem somente com palavras bonitas e não entenderam nada da dinâmica do Reino.

A lição que Jesus dá aos fariseus se aplica a cada de nós que muitas vezes dissemos sim e agimos como quem disse não, outras vezes dizemos não e voltamos atrás agindo com lealdade superando a indiferença indo além de declarações teóricas e de boas intenções. O Verdadeiro cristão não é aquele que passa uma boa impressão, que finge respeitar as regras e tem um comportamento de fachada. O verdadeiro discípulo de Jesus e que faz como o Mestre é aquele que cumpre a vontade do Pai. Em resumo, ninguém está dispensado de colaborar na construção de uma sociedade mais fraterna, inclusiva e humana. Não serve, no dizer do Papa Francisco Cristãos papagaios. É mais importante e necessário o que diz Francisco de Assis: Prega o Evangelho sempre, se necessário use palavras.



quinta-feira, 21 de setembro de 2023

HOMILIA PARA O DIA 24 DE SETEMBRO DE 2023 - 25º DOMINGO COMUM - ANO A

 

 MISERICÓRDIA E PIEDADE É O SENHOR

  

Uma das situações que aborrece qualquer pessoa é a falta de seriedade em relação aquilo que promete. Por exemplo, você agenda uma visita fica esperando e a pessoa não aparece; você compra um produto e no dia marcado o produto não chega; você faz um orçamento e na execução do serviço lhe apresentam outro valor. Em todas essas situações o que está em jogo é a seriedade e lealdade nas palavras. A Bíblia é o livro que contém a Palavra de Deus, e precisamente se dia A PALAVRA, porque Deus não é uma pessoa de muitas palavras.

A fala do profeta Isaias neste domingo não poderia ser mais animadora e cheia de ternura: Meus pensamentos não são como os vossos pensamentos e vossos caminhos não são como os meus caminhos, diz o Senhor”. Tudo o que está nas mãos de Deus supera infinitamente todas as capacidades humanas. A palavra do profeta se resume: “Fidelidade, lealdade, coerência”.

Por isso mesmo a Igreja inteira reza, respondendo à Palavra do profeta: “Misericórdia e piedade é o Senhor, ele é amor, é paciência, é compaixão. O Senhor é muito bom para com todos, sua ternura abraça toda criatura”.

São Paulo, preso e apenas esperando sua execução, faz um balanço de toda a sua vida e de todas as suas ações e conclui com um convite que merece ser aplicado ao dia a dia de todas as pessoas: “Só uma coisa importa: vivei à altura do Evangelho de Cristo”.

Como em outras ocasiões, na parábola do bom patrão Jesus mostra como sua vida está em sintonia com as preocupações do seu tempo e do seu povo. Ele tinha clareza da falta de trabalho e oportunidade que deixava muitas pessoas à margem da sociedade. A prática do patrão não se limita a partir do certo e do errado a da concordância com a lei. O evangelho confirma o que disse o profeta: “meus pensamentos não são como os vossos pensamentos...” A pessoa justa, segundo a medida do coração de Jesus não se acomoda enquanto todos não estiverem incluídos no seu projeto e mais importante do que pagar com justiça aos trabalhadores é pagar o suficiente para que todos tenham o necessário para sua sobrevivência e a dignidade da sua família.

Jesus desmonta a ideia de direitos e méritos, ele identifica a inveja daqueles que se acham melhores que os demais. Na dinâmica do reino não tem espaço para disputas mesquinhas sobre quanto alguém faz supostamente pelo outro. Jesus de novo propõe a qualidade da ação mais do que a quantidade. O pagamento de uma diária igual, mais do que um valor numérico é uma maneira que Jesus tem para dizer: Deus não faz diferença entre as pessoas.

Reunidos em Assembleia de oração em súplica e ação de graças todos os que cremo no Cristo. Reunidos rezamos a elevamos louvores e agradecimentos pedindo por todos e com todos que a justiça de Deus aconteça em todos os lugares e com a colaboração de todos.

A liturgia convida a todos e a cada pessoa em particular a se deixar moldar pela Palavra de Deus de modo que pela prática dos conselhos evangélicos seja possível a construção de uma sociedade sempre mais autêntica, humana e fraterna. 

 

quinta-feira, 14 de setembro de 2023

HOMILIA PARA O DIA 17 DE SETEMBRO DE 2023 - 24º DOMINGO COMUM - ANO A

 

O SENHOR É BONDOSO E COMPASSIVO!

Dentre as atitudes extraordinárias e que servem de lições para todos, estão os gestos de fraternidade e comunhão entre as crianças. Na simplicidade das suas relações muitas vezes disputam o mesmo brinquedo, o colo da mesma pessoa, os mesmos espaços e isto costuma causar algum tipo de desavença e até de choro, que parece ser muito dolorido. Entretanto, passados poucos minutos tudo volta ao normal a alegria toma conta e entre eles não há tristeza e rancor. Esses comportamentos merecem apreendidos por todos em todas as circunstâncias e tempos.

São Paulo, na segunda leitura desse domingo fala aos cristãos de Roma, chamando a atenção para uma verdade que nós conhecemos e nem sempre vivemos de acordo com o que acreditamos: “Ninguém dentre nós vive para si mesmo ou morre para si mesmo. Se estamos vivos, é para o Senhor que vivemos; se morremos, é para o Senhor que morremos”. Esta constatação é absolutamente clara quando consideramos a brevidade da nossa vida, apesar disso muitas vezes gastamos tempo, forças e inteligência acumulando raiva, rancor, vingança, sofrimento, vaidade e assim por diante. O Convite do apóstolo está numa palavra que usamos com muita frequência: “Manter o foco”. Ou seja, vamos voltar nosso olhar e nossas preocupações naquilo que é essencial: Jesus Cristo que morreu e ressuscitou por todos. Logo, somos chamados a aprender com Ele o que significa viver como família com a simplicidade das crianças.

O ensinamento que a vida e a Palavra de Jesus nos transmitem não é outra coisa senão o que a sabedoria antiga já recomendava para a comunidade de Israel: “O rancor e a raiva são coisas detestáveis; até o pecador procura dominá-las. Perdoa a injustiça cometida por teu próximo: assim, quando orares, teus pecados serão perdoados”. Uma lição simples de ser entendida: nada mais cabe num recipiente que já está cheio. Ora, se nossa vida está repleta de raiva, rancor, vingança, e outros sentimentos que fazem sofrer obviamente não caberá nela a misericórdia e o perdão. Todavia, enquanto a misericórdia e o perdão produzem gratidão e felicidade, a raiva e o rancor produzem tristeza e sofrimento. A escolha é livre e de cada um.

Na mesma direção está a lição que Jesus dá a Pedro: “Pedro aproximou-se de Jesus e perguntou: Senhor, quantas vezes devo perdoar, se meu irmão pecar contra mim? Até sete vezes?  Jesus respondeu: Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete”. Depois de dizer isso Jesus exemplifica com a parábola do patrão e do empregado. Num coração endurecido pela vingança não cabe mais nada e o resultado não poderia ser outro. Mais uma vez somos chamados a exercitar o que se chama “gentileza, gera gentileza”. Gente que sabe cultivar a reconciliação e o perdão não se paralisa no ódio e no rancor, na tristeza e na vingança. Um coração endurecido somente enxerga a força bruta como resposta possível a todo e qualquer erro alheio, ao contrário, uma alma generosa sabe separar as rosas dos espinhos, como bem sabemos cantar: Fica sempre um pouco de perfume!

Daí sim faz sentido cantar o salmo previsto para a liturgia desse domingo:

O Senhor é bondoso, compassivo e carinhoso.

Pois ele te perdoa toda culpa, *
e cura toda a tua enfermidade;

da sepultura ele salva a tua vida *
e te cerca de carinho e compaixão. R.

 

Não fica sempre repetindo as suas queixas, *
nem guarda eternamente o seu rancor.

Não nos trata como exigem nossas faltas, *
nem nos pune em proporção às nossas culpas. 

 

sábado, 9 de setembro de 2023

HOMILIA PARA O DIA 10 DE SETEMBRO DE 2023 - 23º DOMINGO COMUM - ANO A

 

QUEM AMA SE COMPROMETE COM A PESSOA AMADA

Uma das exigências contemporâneas consiste em superar a indiferença e cuidar do próximo. Tanto a primeira leitura quanto o evangelho apresentam uma maneira de prestar atenção e de cuidar das pessoas.

Realizando qualquer tipo de consulta à população em geral, ou acompanhando os noticiários de rádio e TV, não é difícil perceber como as pessoas tem necessidade de ajuda e de solidariedade diante das dificuldades e provações que experimentam a cada dia.

As pessoas necessitam de perdão, de acolhida, de amparo de uma palavra amiga. Em resumo precisam ser amadas e reconhecidas.

As três leituras e o salmo desse domingo são uma resposta para essa necessidade: “Não feche hoje o seu coração, antes esteja aberto para a voz do Senhor”. É claro que a voz de Deus não vem do nada, ou do vento. A voz do Senhor poderá ser reconhecida naquele que pede e naquele que se dispõe falar e ouvir.

A figura descrita na primeira leitura não se trata de uma pessoa que está vigiando a vida alheia. Pelo contrário, o profeta, faz uma analogia com a responsabilidade das forças de segurança numa cidade cuja finalidade é perceber e cuidar para que nada ali aconteça em dissonância com os projetos de Deus e com o aviltamento da dignidade das pessoas. Ou seja, diante do sofrimento e das ameaças contra a vida aquele que ama não pode ficar indiferente.

A prática da correção e a orientação em vista de uma vida melhor e mais santa tem por finalidade trazer de volta aqueles que por qualquer motivo estão longe dos caminhos do Senhor. Não se trata de julgamentos para a condenação, mas de acolhida e carinho de modo que ninguém fique excluído ou se perca por falta de cuidado.

São Paulo proclama na liturgia deste domingo dizendo: “O amor não faz nenhum mal contra o próximo. Portanto, o amor é o cumprimento perfeito da Lei”. Esta afirmação é a consequência dos mandamentos dos quais ele faz uma releitura ao longo do texto.  

A orientação dada por Paulo é o cumprimento das Palavras que foram ditas por Jesus: “Onde dois ou três vivem em comunhão, Deus aí está”.

De modo que a grande e primeira lição da Palavra de Deus neste domingo consiste em viver a comunhão e a fraternidade.

Neste sentido um momento importante e indispensável para todos os que querem provar o sabor do evangelho, reside no encontro de oração que a Igreja convida a cada domingo e que esta assembleia proporciona.

Reunidos na oração e na escuta os cristãos também participam da Eucaristia e partilham a palavra e a oração de tal modo que se realiza o que é rezado no Salmo: “Vinde Adoremos o Deus que nos criou. Ele é nosso Deus, nosso Pastor e nós somos o seu povo e seu rebanho”.

Na mesma direção Jesus insiste no Evangelho na missão que todos temos para estabelecer um diálogo fraterno e acolhedor que não condene o pecador, mas que facilite sua reinserção na sociedade por meio do amor misericordioso e compassivo. É nisto que se resumem todos os mandamentos e que São Paulo afirma ser a única dívida realmente importante e que devemos tratar de saldá-la sem demora: Não fiqueis devendo nada a ninguém, a não ser o amor mútuo, - pois quem ama o próximo está cumprindo a Lei”.

Peçamos a graça de transformar nossas famílias, nossas comunidades, e todas as nossas relações em oportunidades para que se possam ver as marcas do amor. De tal modo que todos proclamem: “Vejam como eles se amam”.

Reunidos nesta assembleia santa somos alimentados pela Palavra, pela Eucaristia e pela Oração comunitária e solidária. Juntos vamos construindo um lugar onde as pessoas seguem Jesus Cristo superam seus erros e fraquezas ganhando sempre mais irmãos ao longo do caminho e de cada circunstância. Então sim podemos cantar de novo:

Vinde, exultemos de alegria no Senhor,
aclamemos o Rochedo que nos salva!
Ao seu encontro caminhemos com louvores,
e com cantos de alegria o celebremos.

 

quarta-feira, 23 de agosto de 2023

HOMILIA PARA O DIA 03 DE SETEBMRO DE 2023 - 22º DOMINGO COMUM - ANO A

 

A MINHA ALMA TEM SEDE DE DEUS!

Conta a história que o rei Dom João V, teria estabelecido o preço de seis vinténs para uma saca de açúcar. Valor que foi considerado irrisório pelos produtores da época que nessas circunstâncias preferiram consumir o açúcar em vez de comercializar. Neste contexto surgiu o provérbio: “Mais vale um gosto do que seis vinténs”. Pois é sobre o prazer de fazer alguma atividade, a alegria e a determinação para realizar tarefas e projetos que trata a Palavra de Deus que ouvimos nesse domingo.

De outra maneira se pode dizer que a liturgia faz um convite para experimentar a loucura da cruz, cujo resultado será sempre a sensação de dever cumprido e de uma vida realizada no amor e por amor.

Na primeira leitura Jeremias faz um desabafo referindo-se ao fato de ter sido incompreendido na função de profeta. Se dependesse dos resultados e da aceitação tudo teria sido em vão. Ele se apresenta inicialmente como alguém revoltado contra Deus e disposto a abandonar tudo. Porém, o seu comprometimento e a certeza que ele tem de não estar trabalhando em vão não lhe permitem “jogar a toalha”, ou “pendurar a chuteira” como se diz hoje: “Todas as vezes que falo, levanto a voz, clamando contra a maldade; a palavra do Senhor tornou-se para mim fonte de vergonha e de chacota o dia inteiro. Tornei-me alvo de riso o dia inteiro. Não quero mais lembrar-me disso nem falar mais em nome dele". Entretanto suas convicções são muito maiores que a revolta: “Seduziste-me, Senhor, e deixei-me seduzir; foste mais forte, tiveste mais poder”. Esta pode ser também na atualidade a certeza daqueles que aceitam a proposta e o convite de Deus vivendo com determinação e coragem os valores do Reino. Para quem se compromete com a Palavra de Deus verá que o coração arde de paixão pela causa e não se amedronta de colocar os pés na estrada. Não são as dificuldades que devem nos abater, mas a coragem que deve nos sustentar quando se trata de superar os percalços que a vida nos oferece.

Na mesma direção São Paulo recorda aos cristãos de Roma que entregar-se sem reservas nas mãos de Deus é a melhor e mais agradável oferenda que uma pessoa pode oferecer àquele que nos chamou para sair das trevas em direção a uma luz admirável: “Não vos conformeis com o mundo, mas transformai-vos, renovando vossa maneira de pensar e de julgar, para que possais distinguir o que é da vontade de Deus”. Viver em Deus e para Deus é muito mais do que milhões em ouro e prata, sem ser jocoso: “Mais vale um gosto do que seis vinténs”!

No Evangelho Jesus dialoga com os discípulos na mesma direção do profeta e de Paulo: “Jesus começou a mostrar a seus discípulos que devia ir a Jerusalém e sofrer muito...” Pedro, que sempre falava em nome de todos, não tinha entendido o anuncio do mestre e nesse texto age como o demônio descrito em outra passagem sempre querendo desviar Jesus da missão que havia assumido. Com firmeza Jesus repreende Pedro e estende o convite a todos: “Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga. Pois, quem quiser salvar a sua vida vai perdê-la; e quem perder a sua vida por causa de mim, vai encontrá-la. De fato, que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro, mas perder a sua vida”. Ontem, como hoje aceitar a proposta do Evangelho consiste mais em sair de si mesmo, das suas verdades e possibilidades de sucesso para transformar a sua vida em doação e serviço generoso aos irmãos e irmãs. Como palavra de conclusão a liturgia de hoje nos faz repetir com Jeremias: “Seduziste-me Senhor e eu me deixei seduzir”. Ou então vale muito mais fazer aquilo que nos traz realização pessoal do que abocanhar e acumular muito dinheiro, patrimônio, riquezas e viver em função de cuidar das coisas em lugar da gente.

 Não tenhamos medo de rezar com o salmista:

A minh'alma tem sede de vós,
como a terra sedenta, ó meu Deus
!