quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Textos para a Escola Diaconal 2010

1 – ASSEMBLEIA CELEBRANTE


18 Por esse motivo, no próprio dia de Pentecostes, no qual a Igreja se manifestou ao mundo, “os que receberam a palavra” de Pedro “foram batizados”. E “perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comum fração do pão e na oração… louvando a Deus e sendo bem vistos por todo o povo” (At 2,41-47). Desde então, a Igreja jamais deixou de reunir-se para celebrar o mistério pascal: lendo “tudo quanto nas Escrituras a ele se referia” (Lc 24,27), celebrando a eucaristia na qual “se representa a vitória e o triunfo de sua morte”19 e, ao mesmo tempo, dando graças “a Deus pelo seu dom inefável” (2Cor 9,15) em Cristo Jesus, “para louvor de sua glória” (Ef 1,12) por virtude do Espírito Santo.


1.1 Reunião do povo de Deus

A assembleia litúrgica é um grupo humano que se reúne em vista de uma atividade religiosa. Por isso mesmo é importante que seus membros sintam-se reconhecidos e aceitos como membros da comunidade.

Reunir-se em assembleia não é um privilégio dos cristãos. No Antigo Testamento podemos encontrar diversas situações nas quais os líderes do povo organizaram distintas assembleias com finalidade litúrgica. Citamos apenas um dos diversos textos: “Reúna esse povo na minha presença para que escutem o que vou dizer, a fim de que aprendam a temer-me a vida inteira e ensinem os seus filhos”(Dt. 4,10). Mas podemos fazer outras referências Josué 24 – Assembleia de Siquem; Jeremias 31,33; Oséias 2, 25; Ezequiel 34,11; Exôdo 19,24; Neemias 8,9.

No Novo Testamento a Imagem da assembleia coincide com a reunião dos irmãos vindos das diversas partes, da sua dispersão missionária, da sua presença no meio do mundo. Algumas citações estão em João 7,35; 11,52; (motivo da morte de Jesus). Tiago 1,1 (saudação ao povo espalhado). 1Pedro 1,1 (saudação aos dispersos). Logo no inicio da Igreja encontramos o texto de São Justino: "Nós depois de ter batizado aquele que tem fé e se incorporou a nós, o levamos aos chamados irmãos onde estão reunidos. Fazemos orações comuns por nós mesmos, pelo que foi iluminado e por todos os outros que há por toda a parte, para que sejamos dignos de ser chamados perfeitos conhecedores da verdade pelas boas obras, cidadãos e cumpridores dos mandamentos, de sorte que consigamos a salvação eterna. Acabadas as preces, saudamo-nos com o ósculo. Em seguida se apresenta ao que preside sobre os irmãos pão e um cálice de água e vinho misturados. Ao receber estes dons, eleva ao Pai de todas as coisas louvor e glória pelo nome do Filho e do Espírito Santo e faz uma grande ação de graças, porque por ele fomos feitos dignos destas coisas. Tendo ele terminado as orações e a ação de graças, todo o povo presente aclama dizendo: amém. Amém significa, em hebraico, assim seja. Quando o presidente deu graças e todo o povo aclamou, os que entre nós se chamam diáconos dão aça um dos presentes participar do pão e do vinho e da água eucaristizados, que também levam aos ausentes. Os ricos que querem, cada um segundo a sua vontade , dão o que lhes parece, e o que se arrecada é colocado a disposição do que preside e ele socorre os órfãos e as viúvas e os que por enfermidade ou qualquer outra causa se encontram abandonados, e os encarcerados e os peregrinos: numa palavra, ele cuida dos que padecem necessidades. E celebramos esta reunião no dia chamado do sol, por ser o primeiro dia, em que Deus, transformando as trevas e a matéria, fez o mundo, e também o dia em que Jesus Cristo, nosso Salvador ressuscitou dentre os mortos" (Cf. cap. 65 e 67).

Desde muito cedo a reunião dos irmãos recebeu o nome de ekklesía, conforme lemos em Lumen gentium 26: “O bispo, revestido da plenitude do sacramento da ordem, é o administrador da graça do sumo sacerdócio,48 especialmente na eucaristia que ele mesmo oferece ou manda oferecer,49 e pela qual a Igreja vive e cresce continuamente. Esta Igreja de Cristo está verdadeiramente presente em todas as legítimas assembléias locais de fiéis, que, unidas aos seus pastores, recebem, elas também, no Novo Testamento, o nome de igrejas”.

Essa convocação tem, como outrora, sua origem em Deus, ele quem tomou a iniciativa de escolher um povo para fazê-lo sua propriedade e neste povo reunir todos os povos da terra, fato que veio se concretizar na pessoa do Filho.

A primeira verdade a ser admitida por nossas assembleias consiste em compreender que sua concretização se dá na pregação do Evangelho. A Igreja se solidifica e se torna santa na proclamaçaõ da Palavra, conforme lemos na Introdução ao lecionário: “A igreja cresce e se constroi ao escutar a Palavra de Deus...Deus, por sua vez, vale-se da comunidade dos fiéis que celebra a liturgia, para que sua palavra se propague e seja conehcida, e seu nome seha louvado por todas as nações”(OLM 7).

De São João Crisóstomo temos a seguinte visão da assembleia: “Embora a cinquentena tenha terminado, a festa não terminou. Toda assembleia é uma festa. Provam-na as palavras de Cristo que dizem: onde dois ou tres estiverem reunidos eu estou alí no meio deles. Temos a maior prova de que se trata de uma festa nessa presença de Cristo em meio a seus fiéis reunidos.”(Sermón quinto sobre Ana I).

A Sacrossanto Concilio número 7 define a reunião dos irmãos como sinal da Igreja, e o faz com as seguintes palavras: “Realmente, nesta grandiosa obra, pela qual Deus é perfeitamente glorificado e os homens são santificados, Cristo sempre associa a si a Igreja, sua amadíssima esposa, que invoca seu Senhor, e por ele presta culto ao eterno Pai.”

Deste modo também se compreende a assembleia reunida para a liturgia das horas: “84. O ofício divino, segundo a antiga tradição cristã, destina-se a consagrar, pelo louvor a Deus, o curso diurno e noturno do tempo. E quando são os sacerdotes que cantam esse admirável cântico de louvor, ou outros para tal deputados pela Igreja, ou os fiéis quando rezam juntamente com o sacerdote segundo as formas aprovadas, então é verdadeiramente a voz da esposa que fala com o esposo ou, melhor, é a oração que Cristo unido ao seu corpo eleva ao Pai.”

Deste modo mais facilmente podemos compreender a celebração litúrgica como obra de Cristo total de cuja assembleia Ele é a cabeça. Assim nos texto patrísticos não faltam admoestações que visam garantir a realização das reuniões: “Quando ensinares, exortarás o povo a ser fiel à assembleia da Igreja. Que não falte, mas, muito pelo contrário, que seja fiel a reunir-se em assembleia. Que ninguem diominua a Igreja por não assistir a ela e que, assim, não diminua e um membro o Corpo de Cristo” (Didascália 13).
Mais uma vez fica claro que a assembleia liturgia se realiza na condição de comunidade com caráter sacerdotal por conta da sua condição de esposa do cordeiro, sua visibilização e realização se dá na comunidade dos batizados. Conforme lemos em Lumen Gentium 10 “Cristo Senhor, Pontífice tomado de entre os homens (cf. Hb 5,1-5), fez do novo povo “um reino de sacerdotes para Deus, seu Pai” (cf. Ap 1,6; cf. 5,9-10). Com efeito, pela regeneração e unção do Espírito Santo, os batizados são consagrados para serem edifício espiritual e sacerdócio santo, a fim de, por todas as obras do cristão, oferecerem sacrifícios espirituais e proclamarem as grandezas daquele que das trevas os chamou para a sua luz maravilhosa (cf. 1Pd 2,4-10). Assim, todos os discípulos de Cristo, perseverando juntos na oração e no louvor de Deus (cf. At 2,42-47), ofereçam-se a si mesmos como hóstia viva, santa, agradável a Deus (cf. Rm 12,1); dêem testemunho de Cristo em toda a parte; e, àqueles que por isso se interessarem, falem da esperança, que está neles, da vida eterna (cf. 1Pd 3,15).”

Estas assembleias são dirigidas por aqueles, por meio de quem Cristo desejou ser representado como cabeça e santificador: “O mesmo Senhor, porém, para que os fiéis formassem um só corpo, no qual “nem todos os membros têm a mesma função” (Rm 12,4), constituiu, entre eles, alguns ministros que, na sociedade dos fiéis, possuíssem o sagrado poder de Ordem para oferecer o sacrifício e perdoar os pecados,6 e desempenhassem publicamente o ofício sacerdotal em nome de Cristo a favor dos homens. E assim, enviando os apóstolos, assim como ele tinha sido enviado pelo Pai,7 Cristo, mediante os mesmos apóstolos, tornou participantes da sua consagração e missão os sucessores deles, os bispos8 cujo múnus de ministério, em grau subordinado, foi confiado aos sacerdotes,9 para que, constituídos na Ordem do presbiterato, fossem cooperadores da Ordem do Episcopado10 para o desempenho perfeito da missão apostólica confiada por Cristo”(Presbyterorum Ordinis 2).

O fato de ser representado pelos ministros ordenados em nada diminui sua presença ou valor da assembleia cujo sacerdócio comum se faz necessário para realizar o culto verdadeiro como vemos na Presbyterorum Ordinis 5: “Nela, os pastores e os fiéis são convidados a corresponderem generosamente ao dom daquele que pela sua humanidade continuamente infunde a vida divina nos membros do seu corpo.19 Procurem os presbíteros cultivar retamente a ciência e a arte litúrgica, para que, no seu ministério litúrgico, Deus, Pai e Filho e o Espírito Santo, seja louvado cada vez mais perfeitamente pelas comunidades a eles confiadas.”

A Igreja é um mistério de graça cuja realidade aparece nas reuniões locais como diz a Sacrossanto Concilio 41: “Por isso, todos devem dar a maior importância à vida litúrgica da diocese que gravita em torno do bispo, sobretudo na igreja catedral: convencidos de que a principal manifestação da Igreja se faz numa participação perfeita e ativa de todo o povo santo de Deus na mesma celebração litúrgica, especialmente na mesma eucaristia, numa única oração, num só altar a que preside o bispo rodeado pelo seu presbitério e pelos seus ministros.”

A reunião dos fiéis em nome do Senhor, num determinado lugar é um fato público que realiza a Igreja na história. É um sinal sagrado, uma manifestação da sacramentalidade da Igreja. As assembleias cristãs, desde o seu início desempenham um papel decisivo na experiência pascal que se concretiza no reconhecimento do Cristo ressuscitado. (Cf. Lucas 24 e João 20). Progressivamente estas reuniões foram ganhando o rosto de cada lugar. Assim vemos os capítulos 1 a 6 dos Atos dos apóstoloas a configuração da assembleia de Jerusalém. Ainda podemos ver as reuniões de Antioquia, Trôade e Corinto. (Cf. Atos 13, 1 -3; 20, 7 -11; 1Conríntios 11,14). É verdade também que a comunidade cristã é muito mais ampla do que a assembleia litrugica e isto se percebe nas distintas formas de reunião em uma mesma região.

1.2 Características das assembleias

Por sua vez as assembléias litúrgicas são presença do Senhor Ressuscitado como lemos em Mateus 18, 20 cuja virtude se pode ver na condição de santa, católica e apostólica conforme descreve a Lumen Gentium 26. Como resposta a essa presença a comunidade professa a sua fé cujo resultado também faz crescer a fé. Ela é reconhecida como católica por sua virtude de abertura as demais comunidades e nunca é uma reinvenção, ou algo que começa do zero. Nossas assembleias tem um passado e estão abertas ao futuro.

Outra característica é o seu caráter festivo coforme lemos em Atos 2,46. E que São João Crisóstomo expressa com as seguintes palavras: “Toda assembleia é uma festa. Qual a prova? As próprias palavras de Jesus Cristo: onde dois ou tres estiverem reunidos em meu nome, aí estarei eu no meio deles. Que maior prova quereis vos para acreditar que a assembleia é uma festa?”(Homilia sobre pentecostes).

Nem por isso ela esta imune às preocupações e tensões próprias do seu caráter específico mas é uma comunidade que supera tensões entre indivíduos e grupos, entre subjetivo e objetivo, entre particular e o que é patrimônio comum, entre o que é local e o que é universal. Ela é um centro de polarização de meios de comunicação e de sentimentos por mais contrastantes que possa parecer.

Reunida num determinado lugar e tempo é composta por um número de pessoas é também santa e pecadora razão porque nunca é dispensável uma atitude penitêncial. Faz a experiência da unidade na pluralidade conforme se lê em Galátas 3,28 não há distinção e menos ainda pode haver preferência conforme recomenda Tiago 2, 1-4. Isto não significa que pessoa não seja diferente e viva suas particularidades.

Nossas assembleias são carismáticas e hierárquicas esta última condição como serviço de caridade. (Cf. 1Coríntios 12, 4 -11; Efésios 4, 11-16). Isto significa dizer que a assembleia é conjugação de distintos ministérios e serviços cuja finalidade é o seu fortalecimento e animação os quais não são privilégios, dignidades, mas compromisso.

Por fim são assembleias missionárias: “É da própria liturgia que surge a missão. Convergem para a assembléia todos os que ouviram o chamado de Cristo. Da assembléia partem todos os que nela receberam a missão de anunciar as maravilhas de Deus. A ação missionária que não se integra à Igreja é estéril, e a assembleia que não se abre ao envio missionário é moribunda e carente de autenticidae”


1.3 – A participação litúrgica

A assembleia é o sujeito e com Cristo seu ato principal celebra ao Pai pelo Filho no Espírito Santo. Este conceito deixa mais do que claro o que o Concílio quis ao qualificar a ação litúrgica como consciente, ativa e frutuosa.

Por participação liturgia a Sacrossanto Concilio entende como a reta disposição que sintoniza corpo e alma, isto é, o indivíduo na sua totalidade, para não receber em vão a graça divina que a liturgia oferece.

Precisa ficar claro que participação ativa não consiste em todos fazer tudo. O número 28 da SC é muito expressivo neste sentido: “28. Nas celebrações litúrgicas, seja quem for, ministro ou fiel, exercendo o seu ofício, faça tudo e só aquilo que pela natureza da coisa ou pelas normas litúrgicas lhe compete.”

Todas as funções e responsabilidades exigem sincera piedade e ordem adequada, uma exigência que mais do que legal é necessidade do próprio povo de Deus reunido em nome do Senhor. Que a celebração envolve o ser todo e todo o ser a SC 11 também deixa muuito claro: “11. Para chegar a essa eficácia plena, é necessário que os fiéis se acerquem da sagrada liturgia com disposições de reta intenção, adaptem a mente às palavras, e cooperem com a graça divina para não recebê-la em vão.28 Por isso, é dever dos sagrados pastores vigiar para que, na ação litúrgica, não só se observem as leis para a válida e lícita celebração, mas que os fiéis participem dela conscientemente, ativa e frutuosamente.”

De algum modo se pode dizer que toda a assembleia e celebrante e ministerial na medida em que cada um atua de acordo com a sua função sempre na unidade do Espírito Santo. Obviamente que para isto acontecer será imprescindível uma boa formação litúrgica.

A participação não é um acessório que pode ser dispensado ou modificado ao gosto de cada assembleia, mas são intervenções do povo de Deus, de acordo com a sua condição que faz fa liturgia fonte e ápice de toda a vida da Igreja.(Cf. SC 10).

Os distintos ministérios ou serviços na assembleia precisam se compreender como estando a serviço uns dos outros, eles são um sinal da ação do Senhor que deles se serve para santificar a todos. Organizar equipes e distribuir srviços não é uma simples estratégia para funcionar bem, mas um fator essencial de comunhão e sinal de eclesialidade.





















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