terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

VAMOS JUNTOS CONSTRUIR...

MINISTÉRIOS E SERVIÇOS – UMA IGREJA EM AÇÃO


Constituição Dogmática Lumen Gentium - Natureza e missão dos leigos

31. Por leigos entende-se aqui o conjunto dos fiéis, com exceção daqueles que receberam uma ordem sacra ou abraçaram o estado religioso aprovado pela Igreja, isto é, os fiéis que, por haverem sido incorporados em Cristo pelo batismo e constituídos em povo de Deus, e por participarem a seu modo do múnus sacerdotal, profético e real de Cristo, realizam na Igreja e no mundo, na parte que lhes compete, a missão de todo o povo cristão.
A índole secular é própria e peculiar dos leigos. Na verdade, os que receberam ordens sacras, embora possam algumas vezes ocupar-se das coisas seculares, exercendo até uma profissão secular, em virtude da sua vocação são destinados principal e explicitamente ao sagrado ministério, ao passo que os religiosos, pelo seu estado, testemunham, de modo luminoso e exímio, que o mundo não pode transfigurar-se e oferecer-se a Deus sem o espírito das bem-aventuranças. Aos leigos compete, por vocação própria, buscar o reino de Deus, ocupando-se das coisas temporais e ordenando-as segundo Deus. Vivem no mundo, isto é, no meio de todas e cada uma das atividades e profissões, e nas circunstâncias ordinárias da vida familiar e social, as quais como que tecem a sua existência. Aí os chama Deus a contribuírem, do interior, à maneira de fermento, para a santificação do mundo, através de sua própria função; e, guiados pelo espírito evangélico e desta forma, a manifestarem Cristo aos outros, principalmente com o testemunho da vida e o fulgor da sua fé, esperança e caridade. A eles, portanto, compete muito especialmente esclarecer e ordenar todas as coisas temporais, com as quais estão intimamente comprometidos, de tal maneira que sempre se realizem segundo o espírito de Cristo, se desenvolvam e louvem o Criador e o Redentor.

Feita esta primeira consideração que, não é nova e nem nosssa, é palavra da Igreja que vive, celebra e serve ao mistério da salvação. Compreendemos todos e cada pessoa em particular a serviço do Reino de Deus, cujo sinal é a Igreja. A palavra chave nisso tudo é SERVIÇO. E não serviço ao padre, como uma espécie de favor ou de licença que o padre nos dá. Serviço a Deus e a seu projeto.

È Preciso deixar muito claro que a missão exige uma inteira participação na vida da Igreja e na vida do mundo. Para estar na Igreja não é necessário sair do mundo, para ir ao mundo nem menos é necessário sair da Igreja. Existem dons, ministérios e distintas tarefas, cada uma com sua particularidade e característica mas todas em perfeita sintonia.

Um lugar para expressar nosso modo de ser sinal do Reino é a participação consciente, ativa e frutuosa na liturgia. Isto é saber o que se está celebrando, pariticpar com todo o empenho e sair para o mundo com o objetivo de ser fermento. Enquanto na liturgia se canta as maravilhas de Deus no serviço ao mundo elas são realizadas. E cada cristão é enviado como sinal de Jesus Cristo – Sacerdote, profeta e pastor.

São pequenos sinais que mostram a clareza da missão e a compreensão do sentido de ser Cristão. Parece importante recordar a frase de Santo Agostinho: “Atemoriza-me o que sou para vós; consola-me o que sou convosco. Pois para vós sou bispo, convosco sou cristão. Aquilo é um dever, isto uma graça. O primeiro é um perigo o segundo salvação”. (Citado no Doc. 62 nota 185)

O fato de assumir este ou aquele serviço na Igreja não deveria levar o cristão a ocupar uma posição de superioridade em relação aos demais. É preocupante quando determinados ministérios por força de um sinal ministerial que nada mais é do que um sinal externo, parecem ocupar um lugar privilegiado nas comunidades.

Ministérios e serviços não deveriam se limitar a serviços internos na Igreja e muito menos se considerar mais importantes uns dos outros. O Documento 62 da CNBB diz assim: “Os ministros da sagrada comunhão, por exemplo, não são mais ministros que os catequistas ou que os agentes da pastoral da criança ou de outra pastoral”. (DOC. 62 número 91)

Todo ministério, qualquer que seja a função ou serviço que desempenha é uma ação eclesial. O mesmo documento 62 da CNBB reafirma que independente de qualquer autorização, o primeiro e irrenunciável mandato está no batismo: “Não se necessita designação ou reconhecimento algum para testemunhar a fé no mundo, para estar a serviço uns dos outros na Igreja, ou para um grande número de tarefas que contribuem para o anúncio do Evangelho e para a cosntrução do Corpo de Cristo”(DOC. 62 número 91).

Mesmo recebendo um envio, um mandato, uma carteirinha, qualquer que seja o sinal externo o que conta é o Batismo, como sinal eficaz da missão. Graça santificante, que faz a pessoa participante da herança do Filho. Depois vieram os outros sacramentos e os mandatos e os convites etc..., mas o fundamento está lá: no batismo.

A denominação “leigo” não parece ser a mais feliz, muitas vezes ela ganha uma conotação pejorativa no sentido de alguém que desconhece um determinado assunto ou nada tem a ver com uma situação em particular. Parece que a denominação mais prudente seria “cristão” que por força desta condição exerce alguma tarefa na instituição Igreja.

O Concílio Vaticano II, descreveu com muita propriedade a condição de todos dentro da Igreja e colocou no nível da adoção todos os batizados e que cada um desempenhe com competência aquilo que lhe diz respeito. Tendo presente que são todas tarefas e não dignidades.

É vivendo sua vida segundo Deus que o cristão procura o Reino, infelizmente vivemos num tempo em que o divórcio entre a vida e a fé professada toma proporções assustadoras. Isso vale para os membros da clero, como para os demais cristãos. Entre os exemplos que tomaram a mídia nacional está o caso recente dos políticos de Brasília.

Descuidar-se dos deveres temporais é o mesmo que descuidar-se do próprio Deus e consequentemente colocar em perigo a própria salvação. Um autentico ministro de qualquer serviço não pode furtar-se do empenho solidário para que todos vivam com dignidade e que os bens comuns sejam garantidos. Aqui entra toda a preocupação com a ética do bem comum, preocupação da Campanha da Fraternidade de 2010.

O texto base da CF deste ano cita uma frase de PIO XII “Bem comum é o conjunto de confições sociais que permitem e favorecem às pessoas o desenvlvimento integral da personalidade. A riqueza de uma nação não se mede por critérios quantitativos, mas pelo bem estar de um povo”. (Texto Base Cf 2010 número 4) O empenho para que esta situação aconteça encontra sustentação na fé que professamos.

E poderíamos elencar um sem número de responsabilidades que decorrem desta condição de ser cristãos, tais como o respeito pelos bens da natureza; o zelo pelo bem público; a ética nos negócios; o comportamento pessoal; a promoção da pessoa a valorização do sujeito independente da sua condição social; o acesso a educação e aos bens necessários para a vida. Etc...

A palavra economia, que tem sua origem num termo grego, significa cuidado com a casa e pede uma Igreja coerente com ministérios e serviços que se fundamentam no evangelho antes de se preocupar com os sinais de autoridade e poder haverá de buscar o exemplo nos discípulos de Jesus. A convivência fraterna e solidária das primeiras comunidades fazia o diferencial no império romano fundamentado na política fiscal. Nos atos dos apóstolos lemos: “A multidão daqueles que tinham abraçado a fé era um só coração e uma só alma e ninguém considerava como propriedade sua algum bem seu; pelo contrário punham tudo em comum”(At. 4,32)

Muitas vezes a Igreja dos nossos sonhos privatiza até o mandato que recebemos para o bem de todos. Rezamos o Pai nosso e participamos da reunião dos irmãos com ar de superioridade e soberba por conta de um distintivo ministerial. A igreja dos nossos sonhos foi descrita por diversos homens e mulheres em todas as épocas. A CF deste ano, que é também ecumênica, nos dá a seguinte lição:

“As pessoas de fé oram a Deus e voltam seu pensamento e sua ação para as condições dos pobres e desprotegidos, daqueles que são negligenciados ou maltratados pelos poderes dominantes na sociedade. Ambrósio, bispo de Milão, revoltado pela crescente concentração de terras, pregava que a terra pertence a todos e não apenas aos ricos. Basílio bispo de Cesareia , exortando a não acumular bens supérfluos, concluía; „quem acumula mais do que o necessário pratica o crime” (Basílio, séc. IV, comentário a Mateus 25, 31-46) (Citado no texto base da CF 2010 número 95).

Como compreender isso se até nos serviços da Igreja nós praticamos a exclusão e acumulação de responsabilidades e serviços sobrepondo-se aos demais. O documento de Aparecida apresenta esta preocupação na Igreja com a expressão:

“Lamentamos, seja algumas tentativas de voltar a um certo tipo de eclesiologia e espiritualidade contrárias à renovação do Concílio Vaticano II, seja algumas leituras a aplicações reducionistas da renovação conciliar; lamentamos a ausência de uma autêntica obediência e do exercício evangélico da autoridade, das infidelidades á doutrina, á moral e à comunhão, nossas débeis vivências da opção preferencial pelos pobres, não poucas recaídas secularizantes na vida consagrada influenciada por uma antropologia meramente sociológica e não evangélica. Tal como se manifestou o Santo Padre no discurso inaugural de nossa conferência: percebe-se um certo enfraquecimento da vida cristã no conjunto da sociedade e da própria pertença á Igreja Católica”(Doc. Ap 100b).

A título de conclusão citamos a parábola que nos traz o texto base da CF 2010:
“Um príncipe foi salvo da morte por dois camponeses de aldeias próximas. Agradecido, deu a cada camponês um saco de sementes especiais, quase mágicas, que garantiriam grande produção. Muitos anos depois, já coroado rei, voltou às aldeias para ver o resultado de sua oferta. O primeiro camponês era agora rico, dono de uma grande fazenda, mas viva assustado, cercado de arame farpado e guardas, numa aldeia sem recursos, no meio da miséria dos vizinhos. A segunda aldeia ele quase não reconheceu. Era agora uma comunidade maravilhosa com boas escolas, estradas para escoar a produção, hospital, saneamento... uma beleza! É que o segundo camponês optou por partilhar com os vizinhos as magníficas sementes que recebera”(Texto Base CF 2010 126).

Estas duas aldeias muitas vezes são nossas Igrejas com seus serviços e ministérios!

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