sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

HOMILIA PARA O DIA 24 DE FEVEREIRO DE 2019 - 7º COMUM - ANO C


NÃO JULGUEM E NÃO SERÃO JULGADOS

Não é necessário muito esforço para perceber como as relações sociais são marcadas pela violência e intolerância. Perde-se a paciência com facilidade e por causa de situações cotidianas muito banais. A falha de um motorista no trânsito, uma palavra ouvida de forma equivocada, o cansaço depois de um dia de trabalho, a falta de dinheiro para pagamento de algum compromisso assumido, e por aí afora se estende uma lista interminável de ocasiões e situações nas quais a capacidade de amar e perdoar estão distantes das pessoas.
Como que na contramão destas situações, ou para iluminar e estimular outras atitudes a Palavra de Deus deste domingo sugere a todos a capacidade de amar incondicionalmente sem fazer distinção de pessoas ou de situações. As leituras são um convite a deixar de lado todas as oportunidades de violência e intolerância com a devida substituição pela lógica do amor.
O relato do encontro de Davi com as tropas de Saul é o que se pode chamar de “estar com a faca e o queijo na mão”. Encontrando o inimigo com suas tropas abatidos pelo cansaço, Davi poderia ter feito a vingança e se livrado de vez do infortúnio adversário seguindo o conselho do seu companheiro: “Então Abisaí disse a David: Deus entregou-te hoje nas mãos o teu inimigo. Deixa que de um só golpe eu o crave na terra com a sua lança e não terei de o atingir segunda vez”. Davi, por sua vez, escolheu eliminar os mecanismos capazes de gerar violência: “David levou da cabeceira de Saul a lança e o cantil e os dois foram-se embora”. O texto é um convite a refletir sobre as formas de lidar com a aquilo que atinge e provoca mal-estar. Querer “pagar com a mesma moeda” ou seguindo outra lógica substituir a agressão pelo perdão, dando um basta a espiral que só faz crescer a intolerância.
O Evangelho segue a mesma lógica do perdão e da misericórdia. Jesus supera de longe as práticas legais do Antigo Testamento. Quando se trata de amor ao próximo ele supera todos os limites praticados por seus conterrâneos: “Amai os vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam; abençoai os que vos amaldiçoam, orai por aqueles que vos injuriam. A quem te bater numa face, apresenta-lhe também a outra; e a quem te levar a capa, deixa-lhe também a túnica. Dá a todo aquele que te pedir e ao que levar o que é teu, não os reclames. Como quereis que os outros vos façam fazei-lhe vós também. Se amais aqueles que vos amam, que agradecimento mereceis? Também os pecadores amam aqueles que os amam”.
Declarar-se seguidor de Jesus significa empreender todos os esforços para inverter as práticas de violência e orgulho que ferem e magoam muitas vezes causando dor até na alma. O cristão não recorre à nenhuma forma de “fazer justiça com as próprias mãos”, pelo contrário é capaz de pedir ao Pai perdão para os seus algozes.
Isto não é sinônimo de ser conivente com as injustiças e as arbitrariedades, mas acima de tudo estar sempre disposto a dar o primeiro passo para reencontrar e perdoar. Isso não significa necessariamente esquecer as falhas, mas ter um coração aberto para o perdão.
A Palavra de Deus convida a rezar com o salmista: “O Senhor é clemente e cheio de compaixão. O Senhor é clemente e compassivo, paciente e cheio de bondade; não nos tratou segundo os nossos pecados, nem nos castigou segundo as nossas culpas”.

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