NÃO
JULGUEM E NÃO SERÃO JULGADOS
Não
é necessário muito esforço para perceber como as relações sociais são marcadas
pela violência e intolerância. Perde-se a paciência com facilidade e por causa
de situações cotidianas muito banais. A falha de um motorista no trânsito, uma
palavra ouvida de forma equivocada, o cansaço depois de um dia de trabalho, a
falta de dinheiro para pagamento de algum compromisso assumido, e por aí afora
se estende uma lista interminável de ocasiões e situações nas quais a
capacidade de amar e perdoar estão distantes das pessoas.
Como
que na contramão destas situações, ou para iluminar e estimular outras atitudes
a Palavra de Deus deste domingo sugere a todos a capacidade de amar
incondicionalmente sem fazer distinção de pessoas ou de situações. As leituras
são um convite a deixar de lado todas as oportunidades de violência e
intolerância com a devida substituição pela lógica do amor.
O
relato do encontro de Davi com as tropas de Saul é o que se pode chamar de “estar
com a faca e o queijo na mão”. Encontrando o inimigo com suas tropas abatidos
pelo cansaço, Davi poderia ter feito a vingança e se livrado de vez do
infortúnio adversário seguindo o conselho do seu companheiro: “Então Abisaí disse a David: Deus entregou-te
hoje nas mãos o teu inimigo. Deixa que de um só golpe eu o crave na
terra com a sua lança e não terei de o atingir segunda vez”. Davi,
por sua vez, escolheu eliminar os mecanismos capazes de gerar violência: “David
levou da cabeceira de Saul a lança e o cantil e os dois foram-se embora”.
O texto é um convite a refletir sobre as formas de lidar com a aquilo que
atinge e provoca mal-estar. Querer “pagar com a mesma moeda” ou seguindo outra
lógica substituir a agressão pelo perdão, dando um basta a espiral que só faz
crescer a intolerância.
O Evangelho segue a mesma lógica do perdão e da misericórdia.
Jesus supera de longe as práticas legais do Antigo Testamento. Quando se trata
de amor ao próximo ele supera todos os limites praticados por seus conterrâneos:
“Amai os vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam; abençoai
os que vos amaldiçoam, orai por aqueles que vos injuriam. A quem te
bater numa face, apresenta-lhe também a outra; e a quem te levar a capa,
deixa-lhe também a túnica. Dá a todo aquele que te pedir e ao que
levar o que é teu, não os reclames. Como quereis que os outros vos façam
fazei-lhe vós também. Se amais aqueles que vos amam, que
agradecimento mereceis? Também os pecadores amam aqueles que os amam”.
Declarar-se seguidor de Jesus significa empreender todos os
esforços para inverter as práticas de violência e orgulho que ferem e magoam
muitas vezes causando dor até na alma. O cristão não recorre à nenhuma forma de
“fazer justiça com as próprias mãos”, pelo contrário é capaz de pedir ao Pai
perdão para os seus algozes.
Isto não é sinônimo de ser conivente com as injustiças e as
arbitrariedades, mas acima de tudo estar sempre disposto a dar o primeiro passo
para reencontrar e perdoar. Isso não significa necessariamente esquecer as
falhas, mas ter um coração aberto para o perdão.
A Palavra de Deus convida a rezar com o salmista: “O Senhor é
clemente e cheio de compaixão. O Senhor é clemente e compassivo, paciente
e cheio de bondade; não nos tratou segundo os nossos pecados, nem
nos castigou segundo as nossas culpas”.
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