quinta-feira, 22 de outubro de 2020

HOMILIA PARA O DIA 25 DE OUTUBRO DE 2020 - 30º COMUM - ANO A

 

AMOR: UMA MOEDA DE CARA E COROA

A comunidade dos Tessalonicenses, para quem Paulo escreve a segunda leitura deste domingo, tem muita semelhança com as nossas comunidades.  Paulo vai à cidade e anuncia a boa notícia de Jesus Cristo sem lhes perguntar se conheciam e estavam dispostos a seguir as leis  judaicas. Mais tarde tomando conhecimento de como havia progredido na vivência do Evangelho, escreve e valoriza o que eles tem de extraordinário e bonito: “Vós vos tornastes imitadores nossos, e do Senhor, acolhendo a Palavra com a alegria do Espírito Santo... Com efeito, a partir de vós, a Palavra do Senhor não se divulgou apenas na Macedônia e na Acaia, mas a vossa fé em Deus propagou-se por toda parte”. E isto acontece frequentemente nas nossas comunidades cristãs, porém, semelhante à comunidade de Tessalônica, também entre nós pipocam dificuldades e sofrimentos: “Apesar de tantas tribulações”. As tribulações a que Paulo se refere naquela comunidade vinham exatamente da parte dos judeus que se consideravam melhores e mais merecedores do que os convertidos. Ora, também neste ponto, as nossas comunidades se parecem com a de outrora. É muito comum que nós, os cristãos de missa dominical, de comunhão frequente e em dia com todas as leis da Igreja nos achamos melhores e mais merecedores do Evangelho e frequentemente excluímos, perseguimos, denegrimos a imagem daqueles que são diferentes de nós.

Aprender que não somos uma ilha de perfeitos, de santos e privilegiados é o convite da segunda leitura deste domingo, aprender a construir pontes em vez de muros, abrir portas em lugar de colocar cancelas, acolher em lugar de excluir.

O que Paulo faz nessa carta se fundamenta na compreensão que ele tem de tudo aquilo que Jesus fez e ensinou. Por sua vez a ação de Jesus na Palestina de outrora e em Jerusalém apenas confirmava o cerne da lei de Moisés: “Não oprimas nem maltrates o estrangeiro, pois vós fostes estrangeiros na terra do Egito. Não façais mal algum à viúva nem ao órfão. Se os maltratardes, gritarão por mim e eu ouvirei o seu clamor... Se clamar por mim, eu o ouvirei, porque sou misericordioso”.

A lei de Moisés é objetiva e clara, só não a compreende quem não quer. Praticar injustiças e desmandos contra os desprotegidos e fragilizados nas relações sociais é um crime contra Deus e dele nos  distância. É claro que neste particular entra a questão de participar das prescrições e orações no templo, mas o julgamento não vem por causa dessas práticas, pelo contrário o que no coloca na dinâmica da aliança não é a quantidade das nossas orações, mas como a oração é colocada em prática no nosso dia a dia.

Os fariseus, que entendiam tudo sobre a lei de Moisés, já tinham decidido que deveriam matar Jesus. Porém ainda não dispunham de um motivo que lhes desse amparo legal para a sua decisão. Nos últimos domingos estamos ouvindo trechos do Evangelho nos quais eles procuram uma razão para justificar sua decisão. Hoje ouvimos de novo: “Então eles se reuniram em grupo, e um deles perguntou a Jesus, para experimentá-lo...” O objetivo da pergunta não era esclarecer uma dúvida, mas pegar Jesus em alguma contradição.

E de novo Jesus mostra a clareza e a compreensão que ele tem de todos os preceitos legais. Em outras palavras: É impossível amar a Deus sem amar aos irmãos. Não se pode dizer que amamos a Deus se não nos comprometemos com a promoção dos irmãos e das irmãs. Jesus não faz distinção sobre quem são os que merecem nossa solidariedade e partilha. É neste contexto que se aplica a Encíclica do Papa Francisco: Fratelli Tutti! E recomenda que tenhamos a coragem de ser uma Igreja Samaritana, isto é, que se preocupe menos com a lei, com as normas, com as regras, mas que tenha a coragem de se aproximar dos feridos, excluídos, afastados  de nossas Igrejas e comunidades. Igrejas e comunidades são convidadas a criar uma cultura do encontro e fazer acontecer a fraternidade. É por isso que nós rezamos: Aumentai em nós a fé, a esperança e a Caridade. E que os sacramentos que recebemos produzam em nós aquilo que significam. Em resumo, o maior de todos os mandamentos é uma moeda de duas faces: Acolher as pessoas e nelas acolher a Deus!

 

 

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