AMOR: UMA MOEDA DE CARA E COROA
A
comunidade dos Tessalonicenses, para quem Paulo escreve a segunda leitura deste
domingo, tem muita semelhança com as nossas comunidades. Paulo vai à cidade e anuncia a boa notícia de
Jesus Cristo sem lhes perguntar se conheciam e estavam dispostos a seguir as
leis judaicas. Mais tarde tomando
conhecimento de como havia progredido na vivência do Evangelho, escreve e valoriza
o que eles tem de extraordinário e bonito: “Vós vos tornastes imitadores nossos, e do Senhor, acolhendo a Palavra com a
alegria do Espírito Santo... Com efeito, a partir de vós, a Palavra do Senhor não se
divulgou apenas na Macedônia e na Acaia, mas a vossa fé em Deus propagou-se por
toda parte”. E isto acontece frequentemente nas nossas comunidades
cristãs, porém, semelhante à comunidade de Tessalônica, também entre nós pipocam
dificuldades e sofrimentos: “Apesar
de tantas tribulações”. As tribulações a que Paulo se refere naquela comunidade
vinham exatamente da parte dos judeus que se consideravam melhores e mais
merecedores do que os convertidos. Ora, também neste ponto, as nossas
comunidades se parecem com a de outrora. É muito comum que nós, os cristãos de
missa dominical, de comunhão frequente e em dia com todas as leis da Igreja nos
achamos melhores e mais merecedores do Evangelho e frequentemente excluímos,
perseguimos, denegrimos a imagem daqueles que são diferentes de nós.
Aprender que não somos uma ilha de perfeitos, de santos e
privilegiados é o convite da segunda leitura deste domingo, aprender a construir
pontes em vez de muros, abrir portas em lugar de colocar cancelas, acolher em
lugar de excluir.
O que Paulo faz nessa carta se fundamenta na compreensão que
ele tem de tudo aquilo que Jesus fez e ensinou. Por sua vez a ação de Jesus na
Palestina de outrora e em Jerusalém apenas confirmava o cerne da lei de Moisés:
“Não oprimas nem maltrates o estrangeiro, pois vós fostes estrangeiros na terra do Egito. Não façais mal algum à viúva nem ao órfão. Se os maltratardes,
gritarão por mim e eu ouvirei o seu clamor...
Se clamar por mim, eu o ouvirei, porque sou misericordioso”.
A lei de Moisés é
objetiva e clara, só não a compreende quem não quer. Praticar injustiças e
desmandos contra os desprotegidos e fragilizados nas relações sociais é um
crime contra Deus e dele nos distância.
É claro que neste particular entra a questão de participar das prescrições e
orações no templo, mas o julgamento não vem por causa dessas práticas, pelo
contrário o que no coloca na dinâmica da aliança não é a quantidade das nossas
orações, mas como a oração é colocada em prática no nosso dia a dia.
Os fariseus, que entendiam tudo sobre a lei de Moisés, já
tinham decidido que deveriam matar Jesus. Porém ainda não dispunham de um
motivo que lhes desse amparo legal para a sua decisão. Nos últimos domingos
estamos ouvindo trechos do Evangelho nos quais eles procuram uma razão para justificar
sua decisão. Hoje ouvimos de novo: “Então eles se
reuniram em grupo, e um deles perguntou a Jesus,
para experimentá-lo...” O objetivo da pergunta não era esclarecer uma dúvida,
mas pegar Jesus em alguma contradição.
E de novo Jesus mostra
a clareza e a compreensão que ele tem de todos os preceitos legais. Em outras
palavras: É impossível amar a Deus sem amar aos irmãos. Não se pode dizer que
amamos a Deus se não nos comprometemos com a promoção dos irmãos e das irmãs.
Jesus não faz distinção sobre quem são os que merecem nossa solidariedade e
partilha. É neste contexto que se aplica a Encíclica do Papa Francisco:
Fratelli Tutti! E recomenda que tenhamos a coragem de ser uma Igreja
Samaritana, isto é, que se preocupe menos com a lei, com as normas, com as
regras, mas que tenha a coragem de se aproximar dos feridos, excluídos,
afastados de nossas Igrejas e
comunidades. Igrejas e comunidades são convidadas a criar uma cultura do
encontro e fazer acontecer a fraternidade. É por isso que nós rezamos: Aumentai
em nós a fé, a esperança e a Caridade. E que os sacramentos que recebemos
produzam em nós aquilo que significam. Em resumo, o maior de todos os
mandamentos é uma moeda de duas faces: Acolher as pessoas e nelas acolher a
Deus!
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