BANQUETE
E TRAJE DE FESTA
Estamos nos
encaminhando para voltar a normalidade depois deste longo período de isolamento
social. A esta altura as reflexões sobre o cuidado ganham contornos menos
dramáticos e mais abrangentes. Quase todas as propostas para retomar o ritmo de
vida levam em conta a necessidade de considerar que a sociedade precisa
continuar colocando em prática alguns cuidados elementares para não provocar
uma segunda onda de contágio, ao mesmo tempo não são poucos os convites para
estar sempre alerta porque outras ameaças podem surgir a qualquer momento.
Então, consideremo-nos todos convidados para a retomada, mas não esqueçamos os “trajes
de festa”. Ora, porque o padre está falando isso de novo que está abundantemente
divulgado por todos os meios de
comunicação? Permitam-me fazer uma
relação desta situação com a liturgia da Palavra deste domingo.
Na primeira leitura o
profeta afirma: “O Senhor dos exércitos dará neste monte, para todos os povos,
um banquete de ricas iguarias, regado com vinho puro, servido de pratos
deliciosos e dos mais finos vinhos... Naquele dia, se dirá: 'Este é o nosso Deus, esperamos nele, este é o Senhor,
nele temos confiado”. Mas este não é um banquete que se pode chegar com
as mãos abanando, isso é sem se comprometer com ele. Participar deste banquete consiste
em fazer comunhão com os outros convidados e por consequência com Deus. Ir ao lugar onde Deus preparou o
banquete implica renunciar a muitas práticas que tínhamos quando ainda
estávamos longe. Consiste em dar prioridade ao amor, aos valores do Reino:
Acolhida, fraternidade, partilha, inclusão.
Na sequência deste convite lemos no Evangelho a parábola do
banquete a qual nos sugere agarrar o
convite de Deus e não permitir que o cotidiano a que estávamos habituados volte
a ocupar as nossas preocupações, ao mesmo tempo é preciso ir ao banquete “com
uma roupa de festa”, ou seja, não continuar com as mesmas práticas de outrora.
Para isso vale a exortação do Papa Francisco em relação a retomada depois da
pandemia. Diz Ele: não podemos retomar mecanicamente, é preciso recomeçar
fraternalmente! No caso do Evangelho os que não aceitaram o convite são aqueles
que deliberadamente preferem continuar tudo do mesmo jeito, como se estava construindo
até agora. Quem aceita o convite para o banquete são todos os que compreendem seus
limites, seu pecado, sua fragilidade, mas apesar disso tem um coração
disponível para Deus e para os desafios que Ele faz isso significa “vestir-se
com roupas de festa”. Ir para a festa de Deus não é um convite que se recebeu
uma vez na vida e que se responde uma única vez. Pelo contrário é um convite
que vai se repetindo diariamente e para o qual é sempre necessário uma nova
roupa de festa que significa uma coerência contínua e diária.
E coerência diária e contínua é que ensina São Paulo na
segunda leitura: “Sei viver na miséria e sei viver na abundância. Eu aprendi o segredo de viver em toda e qualquer situação, estando farto
ou passando fome, tendo de sobra ou sofrendo necessidade. Tudo posso naquele que me dá força. No entanto, fizestes bem em
compartilhar as minhas dificuldades. O meu Deus proverá esplendidamente com sua riqueza a todas as vossas necessidades, em Cristo Jesus. Ao nosso Deus e Pai, a glória pelos
séculos dos séculos. Amém”.
Numa sociedade que convida e facilita o egoísmo, a
autossuficiência, a preocupação somente com os próprios interesses somos
desafiados a aceitar o convite vestindo diariamente o traje de festa que
significa uma partilha de alegrias e solidariedade que não deixe ninguém
excluído. Neste contexto sim, podemos rezar o salmo:
O Senhor é o pastor que me conduz;*
não me falta coisa alguma.
Pelos prados e campinas verdejantes*
ele me leva a descansar.
Para as águas repousantes me encaminha,*
e restaura as minhas forças.
Ele me guia no caminho mais seguro,*
pela honra do seu nome.
Mesmo que eu passe pelo vale tenebroso,*
nenhum mal eu temerei;
estais comigo com bastão e com cajado;*
eles me dão a segurança!
Preparais à minha frente uma mesa,*
bem à vista do inimigo,
e com óleo vós ungis minha cabeça;*
o meu cálice transborda.
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